As alcunhas do futebol português

MacacoCanelas(Macaco explicou ao Conversas Redondas a origem da sua alcunha.)

Existem, por este País fora, centenas de jogadores que têm alcunhas curiosas. Da I Liga aos Distritais, umas são fáceis de entender o porquê, outras nem por isso.

Como seria de esperar, temos alcunhas para todos os gostos: jogadores que adoptam os nomes dos ídolos; alcunhas que transitam de geração para geração; outras que nem os próprios sabem verdadeiramente o porquê; e até existem alcunhas inspiradas em cantores.

Já ouviu falar em Ukra, Moreno ou Macaco, certo? Mas conhece Tiririca, Ximena, Nuno Fruta, Cobra ou Pedro’s?

O Conversas Redondas decidiu “investigar” as alcunhas do futebol luso e o resultado está aqui. A lista, apesar de extensa, podia ser ainda maior.

No total, são 33 alcunhas acompanhadas pela explicação dos próprios. Divirta-se:

Bailão: João Antunes formou-se no Vitória de Setúbal, e tem feito a sua carreira entre a I Divisão Distrital de Setúbal e os campeonatos nacionais, tendo até já representado os dois históricos do Barreiro: Fabril e Barreirense.
Porém, dentro de campo, este esquerdino responde por outro nome: Bailão. Esta alcunha tem vindo a passar de geração, conforme conta o jogador:
“O meu bisavô era parecido com um Bailão, que jogou no Belenenses, penso eu. Depois, o meu avô foi jogador e ficou com o mesmo nome; o meu pai foi profissional de futebol e também usou sempre esse nome. E eu, que me lembre, sempre fui tratado por Bailão, até alguns professores e colegas de trabalho me tratam assim. Agora, até já eu trouxe dois ‘Bailõezinhos’ ao Mundo”.
Está garantida a continuidade da alcunha pelo menos por mais uma geração.

Bebé: A carreira “deste” Bebé, dividiu-se, enquanto sénior, por apenas dois clubes: União de Coimbra e Pampilhosa. Agora, aos 38 anos, o médio confessou que é altura de colocar um ponto final na carreira. No entanto, não foi só isso que Carlos Colaço, vulgo Bebé, confessou. A explicação da alcunha está aqui:
“Desde pequeno que sempre tive uma carinha de bebé e, ainda por cima, deixei o biberon muito tarde. Por causa disto, uns amigos mais velhos começaram-me a tratar sempre por Bebé e depois foi ficando”.
O ‘bebé’ cresceu, mas não se livrou da alcunha.

Bock: Bock foi um goleador de créditos firmados, que nunca teve uma oportunidade de jogar na I Liga. Em 2005/2006, ficou perto de ser o melhor marcador da II Liga, pelo Vizela, mas foi em Freamunde que se notabilizou e fez parte da sua carreira. À semelhança de outras histórias aqui relatadas, Fernando Oliveira herdou a sua alcunha do Pai, como o próprio explica:
“Essa alcunha é por causa do meu Pai. Tinha medo de saltar ao bock – aparelho de ginástica – , na escola quando era miúdo e ficou com essa alcunha. Como eu lhe segui as pisadas como jogador, também fiquei com essa alcunha”.
E Bock chegou a ser Super Bock. Agora é treinador.

Caras: Carlos Carvalho, 33 anos, natural de Olhão, defesa direito de posição, seis subidas de divisão enquanto sénior, uma delas à II Liga. Até aqui tudo bem. Porém, dentro de campo, o antigo jogador de Olhanense, Imortal e Farense, respondeu sempre pela alcunha de Caras. A razão está aqui:
“Caras já vem desde muito pequenino. Um rapaz lá da minha zona perguntou-me o meu nome todo e eu respondi: Carlos Alberto Rodrigues Assis Carvalho. Então, ele juntou a primeira letra de cada nome, menos o último, e dava Cara. Mas como eu andava sempre na palhaçada e a fazer caretas, ele pôs-me a alcunha Caras e assim ficou desde os meus 6/7 aninhos”.
Caras está afastado dos relvados desde a temporada 2013/2014.

Cau: Carlos Lopes fez a sua carreira praticamente toda entre a II Divisão B e a III Divisão, tendo mesmo atingido o número redondo de 300 jogos no campeonato que, atualmente, se designa de CNS ou CPP. Representou, entre outros clubes, os rivais de Évora, Lusitano e Juventude, o Machico e o Pinhalnovense, mas, se perguntar por Carlos Lopes, ninguém vai conhecer. Se for Cau, a história é outra. E porquê Cau? O antigo médio explica:
“A origem da minha alcunha, teve a ver com o facto do meu irmão mais velho – 15 meses de diferença -, assim que eu nasci, ao pronunciar o meu nome, Carlos, só conseguia dizer “Cau” e assim ficou até hoje.”
Nada mais simples do que isto.

Cobra: Luís Cerqueira foi um guarda-redes que saltou, em 2001, do Ginásio Figueirense, dos Distritais da Guarda, para a I Liga, recrutado pelo Beira-Mar.
Em duas épocas fez três jogos ao mais alto nível, mas, o seu “nome de guerra” tinha a particularidade de ser Cobra. Ele explica:
“Cobra foi um conjunto de coincidências ao longo da vida. Tudo começou de criança no meu bairro, em que havia o habitual futebol de rua, em que só os mais velhos é que jogavam e os mais novos, se quisessem ter a oportunidade de jogar, ou eram os donos da bola ou iam para a baliza, feita de pedras no chão. Como toda a gente tinha medo dos remates fortes ninguém ia, mas eu, como queria jogar, ia para a baliza. E, ao que parece, logo de muito pequeno, para os mais velhos, eu tinha jeito para Guarda-Redes, porque apesar de ser pequenino tinha muita agilidade, rapidez e coragem na forma como defendia. Segundo eles parecia uma serpente com a destreza como abordava os lances. Passado uns anos, eu já com dez e primeiro ano federado, infantil a jogar já com os iniciados, por culpa de uma novela, eu no balneário imitava um ator a dançar à frente de uma cobra, mantendo sempre as características que falei anteriormente. Ironia das ironias, nesse mesmo ano o meu pai ofereceu-me uma bicicleta de ciclista e a marca do assento era “Cobra” (risos). Somando tudo isto, o pessoal, na brincadeira, começou por associar a minha forma de defender a essas coisas extra-futebol que foram acontecendo, e o Cobra começou a pegar e ficou. Eu próprio achava piada porque também era uma alcunha que criava alguma curiosidade”.
Criava e continua a criar.

RaviolaFreamunde(Raviola representou o Freamunde durante cinco épocas.)

Katchana: Ricardo Felisberto é, atualmente, um alentejano radicado em Aveiro. O Beira-Mar contratou-o ao Aljustrelense a meio de 2005/2006, o médio ofensivo vestiu, depois, outras camisolas e até chegou a jogar no Chipre. Depois de representar Águeda e Anadia, esta temporada voltará a jogar pelo Beira-Mar.
E a alcunha? Katchana?! Nem o próprio tem uma explicação concreta:
“Se eu soubesse até dizia… Provavelmente, era algo que eu dizia bastante quando comecei a falar, porque desde bebé que me chamam isso”.
Deram-lhe a alcunha, mas não imaginaram que ela iria chegar tão longe.

Ladeira: Pedro Emanuel Cruz dos Santos, nascido em Aveiro, ficou Pedro Ladeira, e foi com esse nome que se estreou na I Liga pelo Beira-Mar. Os mais próximos tratam-no por Ladas, e foi um dos “resistentes” que andaram a defender a camisola da Naval na temporada transata. Então e porquê Ladeira? O médio-ofensivo explica:
“A alcunha de Ladeira vem do meu Pai, que se chama António Ladeira Neto dos Santos”.
Explicação curta e simples.

La Pierre: O nome é de sonoridade francesa, mas Paulo Pinto é bem português. Espinhense de gema, chegou a jogar na III Divisão Nacional por mais que uma vez, incluindo pelo Arouca. A alcunha, essa, veio do Pai:
“O meu Pai jogava futebol, era um bom avançado dos Leões Bairristas – equipa de futebol popular de Espinho. Numa visita a Portugal, alguns amigos que estavam em França, começaram a chamar-lhe Zé Maria La Pierre, e a alcunha passou do meu Pai para mim, ainda era eu muito jovem.”
Atualmente é treinador-adjunto e fez parte da equipa técnica que devolveu o Sp. Espinho aos Campeonatos Nacionais.

Luís Vouzela: Luís Vouzela é um nome conhecido do futebol português, ou não tivesse feito mais de 200 jogos na I Liga, vestindo as camisolas de Leiria, Santa Clara e Moreirense. Natural de… Vouzela, pois claro, Luís Tavares viu-lhe ser colocada a alcunha quando se mudou para o Académico de Viseu, precisamente o clube da sua capital de Distrito. Eis a explicação do antigo médio:
“Quando fui para o Ac. Viseu, perguntavam-me de onde era e eu respondia: ‘Sou daqui de perto, de Vouzela, a vila mais bonita de Portugal. Não conheces?’. Alguns riam-se, e assim começaram, por brincadeira, a gozar um pouco comigo por dizer isso. Entretanto, pegou moda, e como já haviam mais dois ou três jogadores chamados Luís, aos poucos já todos me chamavam de Vouzela e assim ficou”.
Atualmente com 43 anos, Luís já levou Vouzela até ao Chipre e, mais recentemente, até aos Estados Unidos.

Macaco: O líder dos Super Dragões foi o primeiro a ser questionado para explicar a origem da sua alcunha, e a resposta surgiu prontamente.
Com uma carreira feita maioritariamente no extinto Campeonato de Amadores da AF Porto, o ponta de lança vai, aos 42 anos, estrear-se no CNS ao serviço do Canelas.
Mas, afinal, Fernando Madureira ficou conhecido por Macaco, porquê? O próprio explica:
“Na Ribeira todos temos alcunha. A minha começou por ser Monchichi, por causa de uns desenhos animados da minha infância, depois evoluiu para Manky, e acabou por ficar Macaco, por ser mais fácil de pronunciar”.
Da Ribeira para o Mundo do futebol, a alcunha não mais o largou.

Mangualde: Ricardo Duarte foi, ainda criança, de Mangualde para o Sporting, e na capital fez-se jogador até chegar, inclusive, à I Liga, pela “mão” do Paços de Ferreira. Não é difícil de percebermos a origem da alcunha deste defesa-direito, mas, ainda assim, resolvi perguntar a razão de lhe colocarem o nome da terra. Eis a resposta:
“Quando cheguei ao Sporting, eu e o Santamaria tinhamos o nome quase igual: eu, Ricardo Jorge Marques Duarte, e ele, Ricardo Jorge Oliveira Duarte. E então, para nos diferenciarem, fiquei com a alcunha de Mangualde, por ter vindo de Mangualde”.
E, assim, a cidade de Mangualde ficou conhecida no Chipre.

Maniche: Na década de 80, com a chegada do dinamarquês Manniche ao Benfica, quem tinha o seu estilo, cabelos compridos e loiros, ficava, desde logo, com a sua alcunha. Além de Nuno Maniche, internacional português, Ilídio Silva herdou a alcunha de Maniche, ele que fez carreira, durante vários anos, entre a II Divisão B e a III Divisão. A explicação da alcunha é lógica, mas, mesmo assim, quis saber dela pela boca do próprio:
“Como a minha posição era Ponta de Lança e sempre usei os cabelos compridos e loiros, começaram-me a chamar Maniche. Isso foi na década de 80, portanto, colocaram-me a alcunha quando ainda jogava nas camadas jovens do Penafiel”.
Atualmente, este Maniche é barman na Suíça.

Marocas: A sonoridade do nome não engana: Marocas vem de Mário. Mário Duarte é nome de estádio, mas também é nome de ponta de lança. Do Vilafranquense, já agora. Natural de Albufeira, Marocas até já jogou na II Liga, ao serviço do Santa Clara e da Oliveirense.
Como não é difícil de percebermos a origem da alcunha, fui à procura da sua verdadeira explicação. E como estamos a falar de um algarvio, o ‘batismo’ surgiu na… praia, pois claro:
“Essa alcunha começou quando era miúdo e andava a brincar na praia dos pescadores, em Albufeira, com os meus amigos. Eles começaram a chamar-me Marocas e a alcunha ficou até hoje”.
E foi assim que Mário ficou Marocas.

CarasFarense(Caras jogou quatro épocas no Farense e subiu três vezes.)

Materazzi: Daniel Ramos dividiu a sua formação entre FC Porto e Salgueiros, fez-se defesa central, e quando chegou a sénior no emblema de Vidal Pinheiro, batizaram-no de Materazzi pelas parecenças com o central italiano, conforme conta o atleta que vai representar o Olhanense em 2017/2018:
“A alcunha surgiu quando subi a sénior, no Salgueiros, na altura, na Segunda Liga, e foi-me colocada através dos capitães de equipa, pelas parecenças físicas e por usar o cabelo comprido naquela altura”.
Palavra do Materazzi português, que já representou, entre outros e além dos emblemas já referidos, Freamunde, Tondela, Leixões e Santa Clara.

Megane: Aos 43 anos, Vítor Costa já não joga futebol federado há sete, quando terminou a carreira no Canas de Senhorim, distrital de Viseu. O antigo central representou o Penalva do Castelo durante doze temporadas e foi lá que ganhou a alcunha de Megane. E sim, tem a ver com o carro:
“Essa alcunha aconteceu no Penalva do Castelo, onde joguei durante mais de uma década, e onde existiam dois jogadores chamados Vítor. Eu como tinha, e continuo a ter um Renault Megane, fiquei com a alcunha de Megane para ser mais fácil distinguirem-nos.”
Académico de Viseu e Tondela, por exemplo, foram dois clubes que também representou.

Moreno: Aos 35 anos, Moreno vai para mais uma temporada ao serviço do Vitória de Guimarães. João Teixeira de batismo, o capitão vimaranense ganhou a alcunha quando foi, precisamente, jogar para as camadas jovens do Vitória.
Não é difícil de imaginarmos o porquê da alcunha, mas, ainda assim, decidi perguntar diretamente ao jogador. Eis a resposta:
“A minha alcunha é Moreno, pelo simples facto de ser mesmo moreno. Foi o meu primeiro treinador do Vitória, nos Infantis, o professor Ricardo, que começou a chamar e até hoje fiquei sempre conhecido por Moreno”.
A alcunha até ultrapassou fronteiras, ou não tivesse Moreno sido jogador do Leicester durante uma temporada e meia.

Murdock: Defesa central ou médio defensivo, Murdock chegou a jogar na I Liga, pelo Varzim, na temporada 1997/1998, tendo feito parte de duas subidas consecutivas dos poveiros. Depois de sair da Póvoa, fez a maior parte da sua carreira na III Divisão Nacional, em que representou, entre outros, Tirsense, Leça e Maia. E a alcunha? De onde vem? Leia a explicação de Paulo Dias, vulgo Murdock:
“Foi no tempo da escola, quando andava na escola preparatória Gomes Teixeira. Coisas de criança, já não me lembro do motivo, mas com o tempo ficou apelido de guerra, apesar de nessa altura ser uma criança franzina, algo normal da idade, era um miúdo de Bairro, um pouco duro e dinâmico, e também porque era uma criança com um misto de doçura e rebeldia. Depois, a alcunha passou para o futebol e foi pela vida fora, passando de geração para os meu filhos, mas, sinceramente, não me lembro o motivo. Certamente vai morrer comigo”.
Está explicado: Paulo Murdock não herdou a alcunha de uma personagem da saga “Rambo”, interpretada por Sylvester Stallone.

Nuno Fruta: Formado no Lourosa, Nuno Fruta subiu a sénior nos lusitanistas, e já representou outros históricos da sua região, como Paços de Brandão, Paivense, União de Lamas, Arrifanense e Canedo, por quem subiu de divisão em 2016/2017.
Mas como é que Nuno Moreira deu lugar a Nuno Fruta? O médio explica:
“Quando fui jogar para o Paços de Brandão, já lá havia um Nuno e então o mister Marques perguntou-me como queria ser tratado, para distinguir os “Nunos”. Eu disse que não sabia e o Fernando Jorge – doze épocas a jogarem juntos! -, que estava ao meu lado, disse que podia ser Fruta, visto que, na altura, trabalhava no comércio de frutas”.
E assim, desde 2006, Nuno não mais deixou de ser Fruta.

Nuno Meia: Nuno Alves dividiu a sua formação entre o Diogo Cão e o Vila Real, e foi ao serviço deste último que se lançou enquanto sénior, tendo chegado a disputar a II Divisão B, primeiro pelo Vila Meã, e depois pelo Macedo de Cavaleiros.
Dentro de campo, ficou a ser conhecido por Nuno Meia, e a explicação está aqui:
“A origem da minha alcunha é simples: a rua onde moro, aqui em Vila Real, chama-se Rua da Meia Laranja e, como tal, começaram a chamar-me “o da Meia” e assim ficou”.
Atualmente com 33 anos, não joga desde 2012/2013, quando representou Vila Real e Montalegre na mesma temporada.

Pautilha: Com uma carreira construída nos Distritais de Braga, o central Leonel Gonçalves respondeu sempre por Pautilha. Depois de representar o Guilhofrei em 2015/2016, esteve sem competir na época passada, mas a alcunha continua a suscitar curiosidade. O próprio conta a história:
“A minha alcunha já vem dos meu pais e, posteriormente, dos meus irmãos. Sou natural de Garfe, freguesia do concelho da Póvoa do Lanhoso, para a qual os meus pais vieram viver aquando do seu casamento, e, na altura, a quinta e os terrenos que eles compraram eram de uma família chamada Pautilha. Comprados os bens, os meus pais herdaram os nomes também, daí o surgimento da minha alcunha”. 
Uma boa história, sem dúvida nenhuma.

Pedras: Nome incontornável da história do Leixões, Sérgio Silva ficou Pedras por influência de uma novela brasileira. Com essa alcunha, saltou da formação do Leixões para o FC Porto, foi internacional, regressou ao Estádio do Mar, e vestiu, também, as camisolas de Aves, Marco, Tirsense, entre outros. E como é que uma novela brasileira influenciou a alcunha deste avançado? Pedras conta tudo:
“A história do meu nome, começou em 1985/86, quando numa novela brasileira – chamada Vereda Tropical -, havia um menino que se chamava Zeca Pedras e todos lhe chamavam Pedrinhas. Então, como os meus pais já tinham um café e como o meu pai me chamava Pedrinhas, os clientes começaram também a chamar. Depois fui para a escola, e o nome “pegou” entre os meus amigos. Logo de seguida, fui para o Leixões e já havia lá um jogador com o nome igual ao meu, os meus colegas de escola disseram que me tratavam por Pedras, e o Sr. Faneco disse que esse seria o meu nome e a partir daí ficou”.
Em 2016/2017, Pedras representou o Maia, estreando-se a jogar nos campeonatos distritais.

XimenaBraganca(Ximena defende, desde 2000/2001, as redes do Bragança.)

Pedro’s: Pedro Santos é um médio com história no futebol de Viseu, ou não tivesse já representado muitas equipas do Distrito de Viriato nos campeonatos Nacionais, Académico incluído. A sua alcunha é Pedro’s, o que podia, muito bem, ser a junção do seu nome e a primeira letra do último. Podia, mas não é. O próprio explica:
“Essa alcunha surgiu simplesmente porque quando cheguei a Portugal com 17 anos, vindo da Suíça, havia, na altura, um francês chamado Pedros a jogar no Nantes, e como a fisionomia era idêntica, nasceu esta alcunha”.
Aos 38 anos, acabou a temporada transata ao serviço do Oliveira de Frades.

Peruzzi: Produto da formação do Vitória de Guimarães, Hugo Rodrigues é um guarda-redes que cresceu inspirado no italiano Angelo Peruzzi, e que, por isso, adoptou a alcunha do antigo ‘portiere‘ da seleção transalpina. Para ‘abrilhantar’ esta história, só mesmo o facto do português ter conhecido o seu ídolo no Euro 2004:
“Sim, esta alcunha surgiu por eu gostar muito do Angelo Peruzzi. Jogava no Vitória SC e treinava muitas vezes com a camisola dele. Em 2004, a Itália jogou em Guimarães para o Euro, e tive a oportunidade de o conhecer e de estar com ele. Até consegui um autógrafo e tudo.”
O ‘nosso’ Peruzzi defendeu, em 2016/2017, as redes do Porto D’Ave, da Divisão Pró-Nacional da AF Braga.

Pituca: Flávio Vitorino é um médio algarvio que representou alguns dos principais clubes da sua região, como Imortal, Portimonense e Farense, mas, no futebol, responde por outro nome: Pituca. E porquê Pituca? O reforço do Silves para 2017/2018, explica:
“Nem eu sei bem, mas pelo que me contaram, foi um rapaz mais velho que leu num livro esse nome, que se referia a uma coisa pequena, não sei se a uma pessoa ou um objeto, e como eu na época era “rodas baixas” – não é que tenha crescido muito (risos) -, ele colocou-me essa alcunha e ficou até hoje”. 
Como os Homens não se medem aos palmos, a carreira de Pituca fala por si.

Raviola: André Pacheco foi, durante a sua geração, uma das figuras da formação do V. Guimarães, o que lhe valeu, até, uma mudança para o FC Porto, onde chegou a representar a equipa B dos ‘Dragões’.
Certo dia, numa pré-temporada da equipa principal do Vitória, Augusto Inácio colocou-lhe a alcunha de Raviola, algo que ficou até hoje. Eis o porquê:
“Raviola apareceu quando tinha 17 anos, ainda era júnior de primeiro ano. Estava a fazer a pré-época com a equipa principal do Vitória de Guimarães e o treinador era o Augusto Inácio. Num treino, depois de uma pelada ter ficado empatada, procedeu-se à marcação de penaltis para desempatar e, então, fui escolhido pelo Augusto Inácio para marcar o último penalti. Se marcasse, ganhávamos, e mesmo com a equipa contrária a fazer pressão para falhar, fiz golo e vencemos a pelada. Essa época coincidiu com a contratação do Saviola para o Barcelona, e então o Augusto Inácio depois de eu marcar o penalti disse: ‘o Barcelona tem o Saviola, mas nós temos o Raviola’. A partir daí fui sempre conhecido e chamado por Raviola no futebol.”
O Fafe foi o último clube que representou, em 2015/2016, ele que também representou, entre outros, Freamunde e Chaves.

Sanguedo: Defesa direito de posição, André Morais responde pelo nome da sua terra natal: Sanguedo, uma vila pertencente ao concelho de Santa Maria da Feira. A sua carreira já vai longa, com passagens por Salgueiros, U. Lamas, Lourosa, Sp. Espinho, entre outros, mas foi no FC Porto que tudo começou: não só o percurso, como também a alcunha. A explicação é simples:
“Quando cheguei às Escolas do FC Porto, só na minha equipa haviam três André’s. Então, o mister Freitas, colocou-me o apelido de Sanguedo, por ser natural de lá”.
Já agora, foi colega de equipa de Nuno Fruta, outro dos protagonistas deste artigo, durante cinco temporadas.

Sérgio Pirata: Nascido e criado em Ovar, Sérgio Pirata fez-se jogador na Ovarense, por quem se estreou, ainda júnior, na II Liga. Sérgio Oliveira de batismo, o ponta de lança que na época passada representou o Beira-Mar, ganhou a alcunha de Pirata de uma forma muito curiosa, como ele mesmo conta:
“Lembras-te quando saiu a PlayStation? Pois bem, na altura, eu era o único que já tinha centenas e centenas de jogos porque pirateava cd’s. Fui o primeiro a ter uma PlayStation ‘chipada’. Esta prática veio do meu irmão mais velho e transitou para mim. Inicialmente, ficava danado quando me chamavam “Pirata” mas, depois, começou a ser hábito, sobretudo no futebol. Até por uma questão de identificação… Sérgio’s há muitos, Pirata só há um!”.
Este Pirata não é do ar. Este Pirata faz golos.

Tiago Botich: Tiago Silva é um médio ofensivo açoriano, de 33 anos, que herdou a alcunha de Botich de uma forma muito curiosa.
As parecenças com o croata Boksic, antigo jogador da Juventus e da Lázio, resultaram na atribuição de Botich. Conheça a história contada pelo próprio:
“Essa alcunha foi fruto duma situação quando jogava nos iniciados do Clube União Micaelense. O pessoal da equipa dizia que tinha parecenças com o Alen Boksic e, antes de um treino, estavam a falar nesse jogador, mas eu, quando cheguei ao pé deles, percebi Botich em vez de Boksic e perguntei logo quem era o jogador Botich. De imediato, eles começaram-se todos a rir e, a partir daí, fiquei com a alcunha de Botich, porque toda a gente me começou a tratar assim”. 
Com grande parte da carreira feita no Micaelense, Tiago Botich também já representou Santiago, Ideal e Capelense.

Tiririca: Internacional Sub-16 por Portugal e antiga promessa da formação do Sp. Braga, João Ferreira é um extremo que cumpriu, em 2016/2017, a terceira temporada consecutiva no GD Guisande, dos Distritais de Braga.
Dentro de campo, o jogador sempre respondeu por Tiririca. E sim, a alcunha tem a ver com o cantor brasileiro. A explicação é esta:
“Basicamente começou quando tinha nove anos. Uns primos mais velhos tinham um vídeo em cassete do Tiririca num programa da SIC, e eu gostava da música “Florentina”, porque achava aquilo engraçado, da forma como ele até se expressava e era divertido. Uma vez ia da escola para o treino a pé com o meu primo, que também jogava no Braga comigo, mas no escalão a seguir, e eu estava feliz, primeiro porque ia treinar, depois porque nós, quando somos miúdos, sentimos que estamos bem e a ter algum sucesso no futebol. Quando cheguei ao estádio do Braga, um diretor disse-me: ‘anda comigo lá cima’. Como ainda era cedo, eu disse ao meu primo para vir comigo, e o diretor começou a dizer para eu continuar assim, uma vez que em sete jogos tinha feito 31 golos, e que a instituição via com bons olhos o meu crescimento. Perguntou-me se eu tinha alguma alcunha para colocar no jornal da cidade, que ia fazer uma página comigo, a falar de mim, e, além disso, ia treinar com os seniores. Eu disse para colocar João e o diretor disse: ‘João’s há muitos, tens de ter uma alcunha de craque’ (risos). E o meu primo, farto que eu o interrompesse com a música “Florentina”, disse ao diretor: ‘Ponha Tiririca que ele não se cala com a música’. E assim ficou até hoje”.
E a alcunha até chegou à Madeira, visto que Tiririca representou o Portosantense.

Ukra: O extremo português, atualmente a jogar no Al Fateh, da Arábia Saudita, não deixa ninguém indiferente a si, primeiro pela qualidade enquanto jogador e, depois, pelo sentido de humor que o caracteriza.
Ukra, alcunha de André Monteiro, surgiu, segundo o próprio conta, quando estava no FC Porto e pelo facto dos cabelos loiros o fazerem parecer ucraniano:
“Quando era mais novo, era mais branquinho e loirinho, e, na altura que me puseram a alcunha, estava nos Iniciados do FC Porto. O meu treinador era o Rolando que dizia que eu parecia um ucraniano e, então, como ucraniano era comprido, fiquei com o diminutivo “ucra”. Mas eu dizia sempre para escreverem com “k” porque ficava melhor e mais bonito (risos)”.
Ou seja, Ukra sempre a primar pela diferença.

Ximena: Figura mítica do Bragança, Miguel Loureiro sempre se deu a conhecer ao Mundo do futebol por Ximena. O guarda-redes, que joga na equipa sénior do Bragança, de forma ininterrupta, desde a época 2000/2001, explica o porquê dessa alcunha:
“Comecei a jogar no Bragança com 12/13 anos e logo nesse primeiro ano, fui chamado à Seleção de Bragança Sub-14 que foi a Lisboa disputar o torneio Lopes da Silva. Tinhamos uma boa seleção, com o Tony, que é como um irmão para mim pela forte ligação que temos desde miúdos, com o Eduardo, que hoje está no Chelsea e até era meu suplente, e o Rui Borges, que jogou no Trofense e no Moreirense, por exemplo. Naquela altura, a viagem para Lisboa demorava imenso tempo, ainda por cima naquele autocarro pequenino que tinhamos (risos), e fomos a viagem toda a cantar uma música de uma novela brasileira, em que havia uma personagem chamada Ximena. Era uma música engraçada, apesar de já não me lembrar bem, e na viagem para Bragança, viemos igualmente a cantar a mesma música durante o tempo todo. Quando cá chegamos, o Tony começou-me a chamar Ximena e a alcunha pegou. A partir daí, tirando para a família e no trabalho, que me tratam por Miguel, fiquei mais Ximena que outra coisa (risos)”. 
Prestes a completar 36 anos, Ximena irá fazer, pelo menos, mais uma temporada no Bragança.

Xoura: Fábio Vilas Boas, 23 anos, é um médio defensivo à procura de voltar aos campeonatos nacionais, depois de passagens por Eléctrico e Almancilense. Com passagem pela formação do Boavista, o futuro reforço do Padroense responde, no futebol, pela alcunha de Xoura. Como é que é mesmo? Ele explica:
“Nasci numa aldeia em Vila do Conde, onde ainda hoje vivo, mas noutra casa. Na altura, cresci com os meus pais numa casa grande, antiga, de pedra, que tinha algumas particularidades: sótão, terreno de agricultura, um celeiro, umas alminhas e, a que interessa para o tema, um forno de pedra e uma chaminé enorme. A minha avó, noutros tempos, tinha por hábito fazer pão caseiro e enchidos. No meio disto, a alcunha surge para o meu irmão, mais velho que eu oito anos, e único irmão que tenho: apelidaram-no de “Xoura”, presumo que por saberem do que já falei. Em Vila do Conde, até ao quarto ano de escola, cada um estudava na sua aldeia, mas a partir do quinto ano, havia uma escola Básica maior, para onde iam as crianças das aldeias, e é aí que eu entro: quando lá cheguei, alguns conheciam o meu irmão, e, então, apelidaram-me logo de Xoura Júnior (risos). Os anos foram passando, o nome foi ficando, surgiu no futebol e fiquei a ser conhecido como Xoura, Xourinha, etc. Recentemente, quando joguei no Alentejo e, depois, no Algarve, não fiz muita questão em dar-me a conhecer por Xoura. As pessoas tratavam-me por Vilas Boas, ou, o mais habitual, Vilas. Este ano, espero que o nome volte e por boas razões, visto que no Padroense, já escolhi o número que quero e vou ter Xoura na camisola. Para concluir: nunca me importei com o apelido, mas também nunca desvendei a sua origem, não por vergonha ou outro sentimento, até porque, de certa forma, acaba por estar relacionado com as minhas origens  e com a minha avó, única viva que tenho, e que foi muito importante no meu crescimento.”
E as origens nunca se renegam.

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