Rafael Camacho: assistir a dobrar para o regresso à ribalta

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Rafael Camacho, extremo que representa os gregos do Aris de Salónica, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

A última jornada da fase regular da Liga grega teve 9 portugueses em acção, sendo Rafael Camacho o grande destaque. Ainda sem qualquer assistência na temporada até aqui, o extremo nascido em Lisboa há 22 anos fez os passes para o segundo e terceiro golos do Aris na vitória caseira diante do PAS Giannina (3-1), num resultado que permitiu ao conjunto de Salonica terminar esta fase no quinto lugar da tabela.

Este foi, na verdade, apenas o terceiro jogo de Rafael Camacho como titular no campeonato – e o primeiro desde 13 de Novembro. Daí para cá, só havia sido opção inicial nas 2 partidas dos oitavos-de-final da Taça, frente ao Levadiakos, num total de apenas 8 partidas (de 24 disputadas) efectuadas a começar de início desde o começo da temporada. O extremo até marcou logo no primeiro jogo oficial (e também já o havia feito no primeiro não oficial), na segunda eliminatória da Liga da Conferência, ante os bielorrussos do Gomel, voltando a fazer o gosto ao pé em apenas mais uma ocasião, quando fechou a confortável vitória caseira sobre o Asteras Tripolis (3-0) pouco depois de ser lançado em campo, na jornada 17, a 8 de Janeiro.

Rafael Camacho chegou à Grécia no início desta temporada, cedido pelo Sporting pela terceira época consecutiva, depois das experiências no Rio Ave em 2020/21 e na B-SAD em 2021/22 – ambas aziagas, pois terminaram com as descidas de divisão dos dois clubes. O Aris já sabe que não terá esse destino esta temporada, pois com o quinto lugar na fase regular garantiu a presença na fase de campeão da Liga grega, juntamente com Panathinaikos, AEK, Olympiacos, PAOK e Volos, com o primeiro jogo a disputar-se já este domingo num escaldante derby de Salonica com o PAOK.

Não tendo pretensões de ser campeão, o Aris corre ainda assim por um objectivo bem definido: alcançar um lugar que lhe permita jogar as competições europeias na próxima temporada – no caso a Liga da Conferência, à qual pode aceder terminando em terceiro ou quarto. Esta época, o emblema de Salonica disputou duas pré-eliminatórias da mais recente competição da UEFA, ultrapassando facilmente o Gomel apenas para cair depois diante dos israelitas do Maccabi Telaviv. O sonho de vencer a Taça também já caiu, após a eliminação nos quartos-de-final diante do Olympiacos (duas derrotas por 1-0), pelo que todas as fichas serão agora colocadas no campeonato.

Num plantel treinado pelo inglês Alan Pardew (que substituiu o argentino Germán Burgos já no decorrer da temporada) e onde se encontram nomes como Nicolas Nkoulou, Vladimír Darida, Aboubakar Kamara, Andre Gray, Gervinho ou os nossos bem conhecidos Peter Etebo (ex-Feirense) e Juan Iturbe (ex-Porto), Rafael Camacho é ainda assim um dos elementos mais sonantes. Não tanto pela carreira a nível sénior (que de resto ainda é relativamente curta), mas principalmente pelo percurso a nível formativo, dividido por Sporting, Manchester City, Real SC e Liverpool.

Na fase em que representou os Reds, Rafael Camacho entrou definitivamente no lote de grandes promessas do futebol nacional, sendo convocado pela primeira vez por Jurgen Klopp para a equipa principal ainda com 18 anos para a segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões, em Roma, em 2017/18. Acabaria por se estrear de facto apenas na época seguinte, em Janeiro de 2019, numa altura em que surgiam insistentemente notícias sobre o interesse de Sporting e Benfica nos seus serviços, e a verdade é que a sua ligação ao Liverpool viria a terminar precisamente no fim dessa temporada e depois de realizar apenas duas aparições pelo emblema de Anfield, apesar dos repetidos elogios de Klopp.

Na base da decisão do atleta em declinar a renovação de contrato com os Reds, assinando ao invés por 5 temporadas com o Sporting, esteve o desagrado por ser visto como opção de futuro no emblema de Liverpool como lateral-direito. “Não sei de quem é a ideia, mas vou provar que eles estão enganados sobre o meu futebol. Eu não sou um defesa direito, sou um avançado que marca golos. Este é meu ADN. Feliz por marcar três golos e ajudar a equipa na vitória de hoje contra o Leicester”, escreveu na sua conta de Instagram a 14 de Abril de 2019, depois de apontar um hat-trick na goleada do Liverpool em Leicester por 6-0.

A verdade é que o regresso ao clube do coração não correu da forma esperada. O extremo, que recebeu a camisola 7 (a tal da maldição…), cumpriu 26 jogos em 2019/20 (12 como titular), marcando um golo e fazendo também uma assistência, numa temporada onde trabalhou com 4 treinadores diferentes (Marcel Keizer, Leonel Pontes, Silas e Rúben Amorim). Este último acabou por não ficar impressionado, colocando-o no rol de dispensáveis para a época seguinte, e na ausência de acordo com potenciais interessados, Rafael Camacho passou a primeira metade de 2020/21 na equipa B, somando 7 jogos no Campeonato de Portugal.

Surgiu então no fim do mercado de inverno a hipótese da cedência ao Rio Ave, envolvido no negócio que fez Matheus Reis seguir o caminho inverso, e se a nível individual o registo até foi interessante (3 golos em 11 jogos, 9 dos quais como opção inicial), já colectivamente o período de empréstimo aos vila-condenses saldou-se num tremendo fracasso, dada a já referida (e absolutamente impensável) descida de divisão. Para 2021/22 novo empréstimo, aí logo no início da temporada… mas o mesmo cenário final: a despromoção ao segundo escalão, com números bem menos positivos (só 17 jogos, 10 como titular, também devido a problemas físicos, e apenas uma assistência).

Novamente excedentário para Rúben Amorim, deu-se então no passado verão a possibilidade de rumar à Grécia, num empréstimo de um ano com opção de compra bastante acessível para o Aris: apenas três milhões de euros, quase metade do que o Sporting desembolsou para o contratar ao Liverpool há 3 anos e meio. Internacional em todos os escalões jovens de Portugal desde os sub-16 aos sub-20, é notório que a carreira de Rafael Camacho estagnou nos últimos anos (que coincidiram com a passagem para sénior); cabe agora ao extremo luso mostrar que ainda pode regressar ao patamar onde figurou nas camadas jovens e voltar a cotar-se como um dos grandes talentos do futebol nacional.

André Geraldes: quase 12 anos depois, o segundo golo da carreira

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André Geraldes, lateral que representa os israelitas do Maccabi Tel Aviv, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

17 de Abril de 2011. Este havia sido o último (e único) dia em que André Geraldes pudera celebrar um golo em nome próprio… até ao último fim-de-semana: a cumprir a quarta temporada no Maccabi Tel Aviv, o lateral-direito natural da Maia subiu pelo seu flanco, recebeu a bola, entrou na área do Hapoel Beer Sheva e disparou rasteiro e cruzado para o fundo da baliza contrária, fazendo assim o golo solitário do jogo grande da ronda 23 da Liga de Israel.

Esta, já se disse, é a quarta época de André Geraldes no futebol israelita, onde chegou no verão de 2019, no que era então o quinto empréstimo consecutivo por parte do Sporting, a quem estava ligado desde 2014 mas onde raramente foi opção na equipa principal (apenas 4 jogos logo na primeira temporada). Depois de passagens por Belenenses (2 vezes), Vitória FC e Gijón, na II Liga espanhola, o defesa maiato decidiu-se por uma equipa onde pudesse lutar por troféus, algo que ainda não havia conseguido na carreira, e em boa hora o fez: no fim da temporada estava a festejar a conquista do campeonato israelita, somando 35 aparições (apenas 2 como suplente utilizado).

No início de 2020/21, e finalmente livre de vínculo com os Leões, André Geraldes assinou pelos cipriotas do APOEL e até agarrou a titularidade de imediato (10 jogos nessa condição num total de 12), mas acabaria por decidir sair em Janeiro para regressar a Israel e ao Maccabi, onde também pegou de estaca desde logo, somando 19 partidas – algumas delas a jogar como lateral-esquerdo. No fim da época, mais um título para celebrar: a Taça de Israel, com presença na final ganha por 2-1 (após prolongamento) ao rival Hapoel Tel Aviv.

A conquista de troféus não se repetiu na temporada passada, a mais preenchida a nível de jogos para o lateral-direito luso (43), mas ainda pode acontecer este ano. O Maccabi Tel Aviv ocupa neste momento o terceiro lugar na Liga israelita, a 5 pontos do líder Maccabi Haifa, quando faltam três jornadas para o fim da fase regular; segue-se depois a fase de campeão, só com os primeiros seis classificados, e está portanto tudo em aberto. Já na Taça, o emblema da capital está nos quartos-de-final e tem já pé e meio na próxima eliminatória, depois de ter goleado o secundário Maccabi Petah Tivka por 4-0 no primeiro jogo.

Razões mais que suficientes para André Geraldes acreditar no aumento de troféus para o seu palmarés, ainda para mais agora que redescobriu os dotes de goleador, quase 12 anos depois. Com formação praticamente integral no clube da sua terra (à excepção do primeiro ano de iniciado, onde jogou no Porto), foi contratado pelo Rio Ave no primeiro ano de sénior (2010/11) e imediatamente cedido ao Chaves, tendo sido aí que fez o até agora único golo da carreira, então na chamada II Divisão (hoje Campeonato de Portugal). Cedido pelos vila-condenses ao Aves, da II Liga, na temporada seguinte, rumou no verão de 2012 à Turquia para representar o Istambul BB (hoje Basaksehir), então treinado por Carlos Carvalhal e com Eduardo como dono da baliza.

Titular indiscutível na primeira temporada, altura em que recebeu a primeira chamada para as selecções jovens, no caso os sub-21, acabando todavia por nunca se chegar a estrear, deixou de ser opção em 2013/14, rumando por isso ao Belenenses no mercado de inverno. De imediato se assumiu como opção inicial e foi aí que deu nas vistas do Sporting, ainda que a passagem por Alvalade não tenha corrido como certamente esperaria. Aos 31 anos, André Geraldes acabou por fazer um percurso muito interessante no estrangeiro, que ainda se verifica e pode ganhar novos capítulos nos próximos meses – e quiçá anos, permanecendo a incógnita em relação ao seu futuro próximo, dado que acaba a ligação contratual ao Maccabi Tel Aviv no fim desta época.

Podence: faturar para novo treinador ver

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Daniel Podence, avançado que integra a “legião lusa” ao serviço do Wolverhampton, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Como já é mais que habitual nas últimas temporadas, os grandes momentos do Wolverhampton Wanderers têm contribuição directa de protagonistas portugueses. O regresso às vitórias na Premier League 7 jogos depois não fugiu à regra: houve José Sá a brilhar na baliza, Rúben Neves a impedir um golo “feito” do Everton com corte decisivo em cima da linha e Matheus Nunes com um passe em profundidade que deu início ao 2-1 final já nos descontos. O início da recuperação, porém, foi da autoria de Podence, que respondeu da melhor forma a um cruzamento sublime de João Moutinho e assim festejou o terceiro golo na temporada.

A cumprir a quarta época em Inglaterra, o avançado natural de Oeiras está finalmente a desfrutar do estatuto de titular, que tem mantido com os três treinadores que já passaram pelo banco do Wolves na temporada: começou com Bruno Lage, passou pelo interino Steve Davis e manteve-se agora na estreia de Julen Lopetegui. Apesar do começo muito atribulado, a legião lusa ainda tem tudo por disputar na presente temporada: com esta vitória, ficou a apenas um ponto das primeiras duas equipas acima da zona de despromoção na Premier League, estando ainda em competição na Taça de Inglaterra (ainda que tenha uma tarefa muito complicada pela frente, pois irá ao terreno do Liverpool logo na primeira ronda em que participa) e na Taça da Liga, onde já superou três eliminatórias e, caso vença no reduto do Nottingham Forest, chegará às meias-finais.

A nível individual, Podence até começou a temporada de forma positiva, marcando logo na primeira jornada (derrota por 2-1 em Leeds) e na sexta, na recepção ao Southampton, que valeu a primeira vitória da época para o Wolves na Premier League. Já mais recentemente, no penúltimo jogo antes da paragem para o Mundial do Qatar, tinha sido dele a assistência para o golo que garantiu o triunfo sobre o Leeds United (1-0) e consequente apuramento para os quartos-de-final da Taça da Liga.

Atualmente, o avançado é um jogador muito mais maduro e consolidado do que o menino que no verão de 2018 rumou ao Olympiacos após a saída abrupta do Sporting, emblema onde fez praticamente todo o percurso formativo (começou no Belenenses) e se iniciou no futebol sénior, na sequência do infame ataque à Academia de Alcochete – pelo meio desse percurso nos leões esteve ainda emprestado ao Moreirense. A primeira época na Grécia, sob o comando de Pedro Martins, acabou por ser a melhor da sua carreira até ao momento em termos estatísticos: 8 golos e 9 assistências em 41 partidas disputadas, que lhe valeram a eleição para a equipa ideal da prova.

O primeiro troféu, todavia, chegaria apenas em 2019/20… e numa altura em que já nem se encontrava no Olympiacos: após uma primeira metade de temporada muito positiva, com 5 golos e igual número de assistências em 27 jogos, Podence rumou ao Wolverhampton, então treinado por Nuno Espírito Santo, que pelo seu passe pagou cerca de 20 milhões de euros. No fim da época, acabaria por festejar o campeonato grego conquistado pela sua ex-equipa, o primeiro da sua carreira – no palmarés tinha até então uma Taça de Portugal, ganha em 2014/15 pelo Sporting, e duas Taças da Liga, uma pelo Moreirense em 2016/17 e outra pelos Leões na época seguinte, a sua última em Alvalade.

Essa Liga grega acabaria por ser o seu último troféu até ao momento, dado que no Wolverhampton ainda não conseguiu festejar nenhuma conquista do género. A nível individual, registou 1 golo e 1 assistência na segunda metade de 2019/20, somando 3 tentos e 2 passes para golo na época seguinte; 2021/22 foi a melhor até agora em Inglaterra, com 6 golos e 3 assistências já sob o comando de Bruno Lage, restando esperar para ver o que reserva a segunda parte da corrente temporada.

Aos 27 anos, Podence ainda tem bastante margem de crescimento – à parte a brincadeira relativa à sua baixa estatura (apenas 1,65 metros). É, ainda assim, já um dos grandes valores portugueses a competir fora de portas, continuando a “bater à porta” da Selecção Nacional, ainda para mais no quadro actual em que se espera uma óbvia renovação após a saída de Fernando Santos. Chamado pela primeira vez à Selecção A em 2019, ele que foi internacional em todos os escalões de formação e participou no Europeu de sub-21 em 2017, Podence conseguiria a primeira e única internacionalização até ao momento um ano depois, sendo lançado em campo aos 75 minutos de uma vitória caseira sobre a Suécia (3-0) para a Liga das Nações; a continuar num registo exibicional alto em Inglaterra, o irrequieto avançado oeirense pode legitimamente sonhar com um regresso a esse patamar num futuro próximo.