Leonardo Rocha: “Sempre que me deram regularidade e confiança, fiz a diferença”

leonardorocha(A estreia a marcar de Leonardo Rocha na atual temporada, valeu a vitória ao Radomiak na receção ao Warta, por 3-2, a contar para a 5ª Jornada da Liga Polaca.)

Ainda à espera de ser titular pela primeira vez esta época, Leonardo Rocha já começou a decidir para o Radomiak: lançado aos 82 minutos na receção ao Warta, com o jogo empatado a duas bolas, o ponta de lança assinou o golo da vitória aos 90’+6, permitindo assim à sua equipa somar o 3º triunfo em 5 jornadas na principal Liga da Polónia.
Contratado pelo emblema de Radom em Janeiro deste ano, o gigante futebolista luso-brasileiro (2 metros de altura) apontou 6 tentos em 13 jogos pelos polacos no que faltava da temporada 22/23, ele que tem um percurso curioso ao nível da formação, destacando-se a passagem pelo Mónaco, onde ganhou uma Taça na equipa B ao lado de Mbappé – antes dos franceses, vestiu as camisolas de Belenenses, Vitória FC e Boavista.
Atualmente com 26 anos, Leonardo Rocha, que como sénior já representou os espanhóis do Leganés ou os belgas do Lierse, afirma nesta entrevista que um avançado, caso marque muitos golos, não tem limites em termos de carreira e revela que tem o sonho de ouvir pelo menos uma vez o hino da Liga dos Campeões dentro de campo:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Este golo foi uma definição perfeita do que és enquanto jogador? Um verdadeiro ponta de lança?
Leonardo Rocha: Sim, foi ali aquele instinto rápido. O cruzamento tinha sido bom, mas eu não consegui chegar, estava ali na luta com o defesa, e o guarda-redes atrapalhou um pouco, mas quando a bola voltou foi ali o instinto para tocar na bola. Ali é tudo muito rápido, só depois no vídeo é que vi que foram dois defesas tentar fazer o carrinho em cima da linha para tirar a bola! Quando a bola está na área temos de estar sempre atentos, porque tudo pode acontecer, como ali aquele presente (risos)! Se tivesse virado as costas ao lance, já não via a bola e eles tiravam.

Foste titular em todos os jogos que fizeste pelo Radomiak na época passada, agora ainda não. Tens mais concorrência este ano?
Claro que quero jogar como titular, como qualquer jogador. Chegou o Pedro Henrique, um avançado de quem gosto muito e com quem tenho boa relação, mas penso que podemos jogar com dois avançados, ou pelo menos tentar encontrar uma solução para ambos estarem felizes e jogarem, seja juntos ou ir rodando. Temos jogado em 4x3x3, em certos jogos podemos passar para 4x4x2 quando é preciso atacar mais. Mas pronto, temos de ser pacientes e esperar o momento certo.

Quais os objectivos para a época? Individuais e colectivos?
Em termos colectivos, o clube quer ficar acima da classificação do ano passado [10º lugar], e também por isso trouxe mais jogadores este ano, para ter mais qualidade no plantel. Até que ponto vamos conseguir, isso só o tempo dirá. O meu objectivo individual é tentar marcar o máximo de golos possível, mas para isso um avançado precisa de minutos, precisa de confiança e de jogar.

leonardorocha(Em meia época ao serviço do Lierse, o ponta de lança fez 12 golos em 19 partidas na II Liga da Bélgica.)

Que balanço fazes desta passagem até agora? O que gostas mais no país e no clube?
Eu não conhecia nada da Polónia, mas é um país muito bom para viver, muito desenvolvido. Estamos perto de Varsóvia, a capital, não é muito caro e é muito tranquilo.

Como é o clima, a comida, a comunicação, as pessoas?
O clima é um pouco como a Bélgica: frio, chuva, neve. Já estou habituado. A nível de comida, há aqui uma comida especial que é o pieroge [pastel de massa cozido], que é muito bom, mas aparte disso é mais a minha mulher que cozinha, por isso como mais comida típica de Portugal e do Brasil. Os polacos gostam muito de futebol, são loucos pela equipa. Falam inglês, não tanto em Radom mas em Varsóvia sim.

E já falas alguma coisa de polaco, ou nem por isso?
Só aquelas coisas de ‘bom dia’, ‘obrigado’, ‘boa noite’, ‘boa tarde’. Uma frase mais composta já fica mais difícil (risos)! Na equipa fala-se muito português, mas com os polacos falamos inglês. A comunicação no clube é fácil. O segredo deste clube é que somos muito unidos, e o facto de termos ali não sei quantos portugueses e brasileiros é um espectáculo, é brincadeira o dia todo! É muito positivo.

Como descreves o futebol na Polónia? Surpreendeu-te de alguma forma?
Aqui na Polónia eles dizem que existe dois campeonatos: o campeonato até Dezembro e outro depois de Janeiro até Maio. Agora tens equipas que estão mais preocupadas com as competições europeias e é importante começar bem, porque é um campeonato muito físico, mas até Dezembro consegues jogar num estilo de futebol; a partir de Janeiro, muda, porque quando começa a neve, campos congelados… É totalmente diferente, já não podes jogar futebol, tens de ir para a guerra em cada jogo!

LeonardoMolenbeek(Na temporada 20/21, o luso-brasileiro representou os belgas do Molenbeek também no segundo escalão.)

E adaptaste-te bem?
Sim. Como eu sou aquele atacante alto, que tem muitos duelos com os defesas, já estou habituado a isso, na Bélgica também era assim. Mas há clubes com estruturas muito boas: o Legia, o Lech Poznan, o Raków, até o Pogon. Muito bons estádios, mais de 20 mil pessoas por jogo.

Tens algumas histórias engraçadas ou curiosas que já tenham acontecido aí?
O que me surpreendeu mais foi logo no primeiro jogo, no estádio do Legnica, um estádio pequeno mas que parecia ter mais de 10 mil ou 15 mil pessoas a cantar. Todo o estádio a cantar! Não é só a claque organizada, eles começam a cantar e depois toda a gente acompanha. Por exemplo neste jogo em que jogámos em casa e marquei, só me lembro de fazer o golo e o estádio a explodir! É incrível, são mesmo apaixonados por futebol.

Já tinhas sentido esses ambientes noutros países?
Na Bélgica não muito. O Lierse tinha muito apoio, mas o Eupen nada, tinha 1500 pessoas ou assim por jogo. Em Espanha sim, quando estive no Leganés vi que os fãs também são muito assim.

O que te levou a aceitar o convite do Radomiak? Qual foi a motivação? Naquele momento lideravas a tabela de melhor marcador da II Liga belga!
Já tinha jogado muito tempo na II Liga da Bélgica e acho que já não tinha mais nada a provar. O objectivo era jogar numa I divisão europeia. Infelizmente na Bélgica muitas equipas ficaram com receio por causa da minha passagem pelo Eupen, onde jogava 5 ou 10 minutos durante 2 anos. Por isso preferi sair do país. Se puseres um atacante a jogar e lhe deres confiança, a qualquer momento ele pode começar a marcar. Tinha equipas interessadas na Bélgica, mas preferi sair e conhecer outras coisas. E acho que foi uma decisão boa nesse sentido, para aparecer, porque em 6 meses já consegui aparecer muito mais do que em todo o tempo que estive na Bélgica.

leonardomonaco(Foi no Mónaco, clube que representou durante cerca de duas épocas e meia, que Leonardo Rocha completou a sua formação.)

Tens um percurso curioso a nível de formação, desde o Amora e Colégio Guadalupe ao Novara, depois Brasil, depois novamente Amora… e Monaco! Como aconteceram todas essas etapas?
Fomos para o Brasil na altura em que se deu a grande crise em Portugal, porque os meus pais e toda a minha família são brasileiros, eu é que nasci em Portugal, eles já viviam lá há muitos anos. Mas antes disso eu tinha ido para o Pescara, aos 14 anos, onde assinei um contrato de 4 anos que depois passaria para profissional. O problema é que a FIFA não me deixou jogar até aos 16 anos, por isso fomos para o Brasil e fiquei lá até aos 16 anos para poder voltar para a Europa outra vez. Estive a fazer testes em alguns clubes e acabei por assinar pelo Mónaco. No Amora tinha jogado em pequeno e depois tive de fazer lá uma inscrição nessa altura para poder jogar no Mónaco, porque tinha de passar pela Europa depois de ter estado no Brasil.

E como se deu a ida para Espanha? Ainda foste com contrato com o Mónaco, ou já como jogador livre?
No Mónaco joguei com o Kylian [Mbappé], ganhámos a Taça e tudo [sub-18], foi um ano muito bom, joguei muito e marquei muitos golos, e tinha muitas equipas interessadas para me dar contrato profissional. O Mónaco nesse momento ainda não queria, queria dar-me um de transição e se jogasse bem na equipa B, aí davam-me contrato profissional. Então eu disse que preferia ir embora e jogar como profissional num contexto de equipa sénior. Eles não me deixaram sair, exigiam direitos de formação, então aceitei o que me estavam a oferecer no Mónaco… e depois durante 6 meses só treinei, não pude jogar mais. Depois desses 6 meses deixaram-me sair livre e aí assinei com o Leganés.

Como correu a passagem por Espanha? Foi curta, mas ainda foste ao banco da equipa principal na La Liga…
Fui ao banco duas vezes. Mas aí há outra história, a minha carreira é cheia de histórias (risos)! Eu jogava na equipa B mas estava sempre com a equipa principal, e nessa altura em que fui convocado, havia equipas da II Liga interessadas em me ter por empréstimo. Eu tinha 20 anos e queria jogar, mas não me deixaram sair; depois nos últimos dias do mercado contrataram 2 atacantes, o Amrabat e o Beauvue, e disseram-me que tinha de ir para a equipa B. Naquela altura a equipa B era muito complicado, estava na quarta divisão, treinava de noite, não tinha fisioterapia… Era horrível. Depois de 6 meses, deixaram-me ir para o Ontinyent, para jogar até ao final da época. Ainda marquei uns golinhos, não era titular mas entrava sempre. Depois o clube começou a ter problemas de dinheiro, acho que até foi à falência, e foi aí que fui para a Bélgica.

leonardopntinyent(Na segunda metade de 17/18, o avançado representou os espanhóis do Ontinyent por empréstimo do Leganés.)

E como surge a Bélgica? Por essa altura estavas um pouco “desaparecido” na III Divisão espanhola…
O Lommel precisava de um avançado e, através de um empresário que o meu pai conhecia, fui fazer testes, porque tinha 21 anos e ainda não tinha começado verdadeiramente a jogar futebol profissional. Fui, treinei 10 dias, fizemos jogos amigáveis e fiquei. Imagina se não tenho aceitado ficar à experiência? Mas eu sou cristão e sei que Deus faz as coisas correctas. Poucas pessoas sabem que eu fui fazer testes inicialmente, não fui contratado. Foi assim que começou toda a história! E o Lommel ainda ganhou 500 mil euros com a minha venda, também fiquei feliz porque pude ajudar o clube, que naquela altura tinha um orçamento muito pequeno, o objectivo era mesmo sobreviver na II Liga. O Scott Bitsindou, um dos meus melhores amigos lá na Bélgica, também foi fazer testes, assinámos os dois juntos, e fomos as revelações do campeonato e do clube. Muitas vezes os clubes perdem boas oportunidades e não sabem o que pode acontecer, aliás até com as maiores estrelas às vezes se fala de que certo clube o rejeitou porque achava que não iria ter nível ou assim. Não conseguem avaliar o potencial do jogador.

E o que falhou no Eupen?
Eu escolhi ir para lá porque ia jogar. Se fosse só para ir para a I Liga da Bélgica, eu tinha clubes grandes que me queriam, mas o meu objectivo era jogar ali um ano, marcar os meus golos na I Liga e depois ser vendido para um clube grande já com outro estatuto. Quando cheguei, o treinador trouxe um atacante que já tinha trabalhado com ele e eu não liguei, mas depois eu só jogava 5, 10 minutos. Depois de 6 semanas de eu ter assinado e já com o mercado fechado, ele chamou-me e disse que iam trazer um avançado emprestado, o Bolingi, e que eu não ia jogar mais, nem sequer ser convocado. Até Dezembro só treinei. Passas de ser o melhor marcador da II Liga a nem convocado num clube pequeno da I, é complicado.

Entretanto sofreste uma lesão grave e depois voltaste para a II Liga, onde mais uma vez marcaste muitos golos!
Sim, infelizmente lesionei-me num joelho e acabou a temporada. Depois quando voltei, ainda estava o mesmo treinador e decidi ir para o Molenbeek, onde voltei a jogar, a ganhar confiança e a marcar golos.

Onde é que gostaste mais de jogar em termos de futebol jogado? Qual se adequou mais às tuas características?
O campeonato belga é bom para avançados do meu estilo, mas tens de estar na equipa certa, que jogue nesse estilo. Os clubes onde tive mais prazer de jogar foram o Lierse e o Lommel, foi onde marquei mais golos e tive o mesmo treinador, o Tom Van Imschoot. Tinha uma muito boa relação com ele e foi onde passei os melhores momentos. E aqui na Polónia também é um futebol muito bom para atacantes como eu, de área. Saem daqui muitos jogadores para a Alemanha com esse perfil.

leonardoeupen(A estreia de Leonardo numa I Divisão europeia aconteceu na época 19/20, em representação dos belgas do Eupen, mas a experiência no clube esteve longe de lhe correr de feição.)

Para quem nunca te viu jogar, como te descreves enquanto jogador? Quais os teus principais atributos e também onde consideras que ainda podes evoluir?
Quando era mais novo, queria correr para todo o lado, sair da área, ir buscar a bola. O meu pai, que também jogou futebol, dizia-me sempre: “Fica na área, é lá que vais fazer golos”. Agora, começo a entender que me tenho de focar muito mais nesse objectivo. Também gosto de jogar, de participar no jogo, mas tudo depende de como o treinador joga: se for mais pelas laterais, vou participar menos e aparecer mais na finalização; se tivermos um estilo mais por dentro, vou descer mais e participar mais. Para me descrever… sou um atacante muito grande e onde sou mais perigoso é dentro da área, claro. Há uns anos, quando o Guardiola surgiu no Barcelona, as pessoas começaram a olhar só para os atacantes pequenos e o avançado de área ficou meio rejeitado; agora, nos últimos anos, voltaram a haver os atacantes altos, fortes, que ficam mais na área como o Haaland, que não pegam na bola no meio-campo e saem a driblar. Fazem o simples no meio-campo e quando é para finalizar é que fazem a diferença. E isso é muito bom para mim. Ser grande é uma característica a mais para mim; claro que não vou ter a mobilidade e a velocidade de um Aguero, mas cada bola na área é perigosa. Mas também sei jogar, depende do estilo de jogo da equipa, se domina ou não. Se for uma equipa que tem muita posse de bola, vais aproveitar muito mais, vais tocar muito mais na bola. No Radomiak ou no Lierse tínhamos muito pouca posse, e aí tinha de guardar a energia mais para finalizar, era mais bolas na frente. Mas quando usaram esse estilo comigo, deu certo. Tens de saber usar as armas que tens.

Quem são os teus ídolos de infância, ou em quem te revias/revês mais na tua posição?
O meu jogador preferido era o Ronaldo Fenómeno, por ser atacante, via os vídeos dele. E depois quando comecei a crescer, comecei a ver que ia ser um atacante muito alto, comecei a olhar mais para outros perfis e gostava muito do Zlatan. Era um gajo alto com qualidade técnica de Neymar. Por isso foi dos melhores.

Que treinador mais te marcou?
Com certeza o Tom Van Imschoot, sobretudo porque foi ele que me deu a oportunidade para aparecer no mundo do futebol, e foi ele que meu deu a oportunidade de me voltar a lançar após um ano praticamente sem jogar, quando saí do Eupen. Tenho muito respeito por ele nesse sentido e também como treinador, porque fez muitas coisas incríveis com o pouco que lhe deram. Esteve sempre em equipas com o orçamento mais baixo e no Lommel, salvámo-nos, e agora no Lierse terminou nos seis primeiros num clube ainda em reconstrução e sem grandes condições.

leonardoleganes(Apesar de ter sido suplente não utilizado em dois jogos da La Liga, o atleta nascido em Almada apenas conseguiu jogar pela equipa B do Leganés.) 

O que ainda esperas atingir na carreira?
O futuro só Deus sabe. Tudo pode acontecer muito rápido, seja para cima seja para baixo, e falo por experiência própria. Não há limites, especialmente um atacante: se começar a jogar e a marcar muitos golos, pode chegar a qualquer lado. Claro que todos sonham jogar na Liga dos Campeões ou algo assim, eu também. Escutar aquela música pelo menos uma vez, jogar numa competição europeia… Seria muito bom.

Sentes-te mais português ou mais brasileiro?
É ali 50-50. A minha infância toda foi passada em Portugal, mas a minha cultura é brasileira, sou o único português da minha família. Se um dia acontecesse estar perto de jogar numa selecção, veríamos; por enquanto ainda estou longe.

Há uns tempos, quando estavas a marcar com muita regularidade, o teu pai escreveu que eras o melhor ponta de lança português da actualidade. O que achas em relação a isso?
É verdade que não há muitos atacantes assim muito altos. Portugueses então, de 2 metros deve haver poucos. Mas claro que para um pai, o filho é sempre o melhor (risos)! Em todos os lados por onde passei, quando me deram regularidade e confiança, sempre consegui fazer a diferença, fiz golos, fui dos melhores marcadores.

Leonardo Rocha: o gigante português voltou a aterrorizar a II Liga Belga

leonardorocha

Leonardo Rocha, ponta de lança que representa os belgas do Lierse, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Três jogos, cinco golos. Este é o pecúlio incrível de Leonardo Rocha neste início de temporada na II Liga belga, para onde o gigante avançado natural de Almada (2 metros certos) regressou esta época após passagem pouco feliz pelo escalão principal. Após o golo na primeira jornada diante da equipa secundária do Genk, que acabou por se revelar insuficiente para evitar o pesado desaire do Lierse (1-4), Leonardo Rocha bisou na segunda ronda, frente aos sub-23 do Club Brugge, revelando-se decisivo para a primeira vitória da sua equipa na prova (3-1), e nesta jornada 3 repetiu a dose na visita ao reduto do Beerschot com duas cabeçadas fulminantes, revelando-se mais uma vez fulcral para o triunfo (no caso por 3-2) e subida à liderança do campeonato (ainda que partilhada com o Lommel).

Curiosamente, o Lommel foi a primeira equipa do ponta-de-lança português na Bélgica – e aquele onde foi melhor sucedido. Em 2018/19, com apenas 21 anos e na segunda época de sénior, Leonardo Rocha apontou 21 golos (16 no segundo escalão do futebol belga, sagrando-se melhor marcador do campeonato) e fez quatro assistências, contribuindo decisivamente para a permanência da equipa. Foram esses números que levaram o primodivisionário Eupen a avançar para a sua contratação, oferecendo-lhe um contrato de três anos; o azar, todavia, acabaria por bater à porta do avançado luso logo em Setembro de 2019, sofrendo uma lesão gravíssima num joelho que fez com que realizasse apenas sete jogos nessa primeira temporada, todos como suplente utilizado (zero golos).

Em 2020/21 nem sequer viria a actuar pelo Eupen, sendo cedido no início da temporada ao secundário Molenbeek, onde registou uma entrada de rompante: sete golos nos primeiros cinco jogos (ainda que três deles tenham sido marcados logo na estreia perante os amadores do Union Rochefort, na primeira eliminatória da Taça, com a sua equipa a vencer por claros 8-1). Após três meses sem marcar, facturou em três jogos consecutivos no fim de Fevereiro e início de Março, mas uma apendicite viria a tirá-lo dos relvados no último mês de competição, acabando assim a época com 15 jogos e 10 golos (mais duas assistências).

O Eupen decidiu então dar-lhe nova oportunidade no escalão principal em 2021/22, mas mais uma vez não seria uma experiência bem sucedida: Leonardo Rocha foi utilizado em 15 partidas (só duas vezes titular, ambas na Taça), num total de apenas 302 minutos de jogo, e não conseguiu marcar qualquer golo. Desse modo, e dado o fim da ligação contratual com o clube primodivisionário, o avançado ficou livre para decidir o seu futuro e resolveu aceitar o convite do Lierse Kempenzonen, o clube que assumiu o lugar do Lierse após a bancarrota do histórico emblema em 2018, numa decisão que para já vai dando frutos.

Nascido em Almada a 23 de Maio de 1997, filho de pais brasileiros, Leonardo Rocha tem traçado um percurso muito curioso no futebol, nomeadamente na sua formação. Depois de dividir os primeiros anos de federado por Amora, Colégio Guadalupe, Belenenses, Vitória de Setúbal e Boavista, rumou com 14 anos para Itália a convite do Pescara; passou depois pelos brasileiros do Ituano e Barra, antes do regresso ao Amora no primeiro ano de júnior. Depois… surgiu o surpreendente contrato profissional com o Mónaco, por quem assinou com 17 anos e onde se iniciou no futebol sénior (ainda que pela equipa B, pela qual fez um jogo na quarta divisão francesa em 2016/17); pouco antes de completar 20 anos desvinculou-se do conjunto monegasco e assinou pelos italianos do Vicenza, mas apenas duas semanas (e zero jogos) depois viajou para Espanha, juntando-se ao Leganés, onde foi suplente não utilizado em duas ocasiões na Liga espanhola – acabaria por fazer 3 golos em 13 jogos no Ontinyent (II Divisão B), para onde foi cedido na segunda metade da temporada, rumando depois à Bélgica e ao Lommel.

Aos 25 anos, Leonardo Rocha está assim a tentar recuperar o tempo perdido, nomeadamente nas últimas três temporadas, de modo a conseguir vir ainda a afirmar-se como um dos bons avançados portugueses da actualidade. O talento existe, bem como a especificidade das suas características: além da valia óbvia nas bolas paradas e jogo aéreo, possui ainda uma assinalável capacidade técnica (muito longe do estereótipo dos altos e toscos do passado); resta esperar para ver se irá manter a veia goleadora ao longo da temporada (porventura conseguindo sagrar-se melhor marcador da II Liga belga pela segunda vez na carreira) e assim voltar a patamares mais altos, quiçá até com o próprio Lierse, candidato declarado à subida e com o qual assinou até ao fim de 2023/24.