Leonardo Rocha: o gigante português voltou a aterrorizar a II Liga Belga

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Leonardo Rocha, ponta de lança que representa os belgas do Lierse, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Três jogos, cinco golos. Este é o pecúlio incrível de Leonardo Rocha neste início de temporada na II Liga belga, para onde o gigante avançado natural de Almada (2 metros certos) regressou esta época após passagem pouco feliz pelo escalão principal. Após o golo na primeira jornada diante da equipa secundária do Genk, que acabou por se revelar insuficiente para evitar o pesado desaire do Lierse (1-4), Leonardo Rocha bisou na segunda ronda, frente aos sub-23 do Club Brugge, revelando-se decisivo para a primeira vitória da sua equipa na prova (3-1), e nesta jornada 3 repetiu a dose na visita ao reduto do Beerschot com duas cabeçadas fulminantes, revelando-se mais uma vez fulcral para o triunfo (no caso por 3-2) e subida à liderança do campeonato (ainda que partilhada com o Lommel).

Curiosamente, o Lommel foi a primeira equipa do ponta-de-lança português na Bélgica – e aquele onde foi melhor sucedido. Em 2018/19, com apenas 21 anos e na segunda época de sénior, Leonardo Rocha apontou 21 golos (16 no segundo escalão do futebol belga, sagrando-se melhor marcador do campeonato) e fez quatro assistências, contribuindo decisivamente para a permanência da equipa. Foram esses números que levaram o primodivisionário Eupen a avançar para a sua contratação, oferecendo-lhe um contrato de três anos; o azar, todavia, acabaria por bater à porta do avançado luso logo em Setembro de 2019, sofrendo uma lesão gravíssima num joelho que fez com que realizasse apenas sete jogos nessa primeira temporada, todos como suplente utilizado (zero golos).

Em 2020/21 nem sequer viria a actuar pelo Eupen, sendo cedido no início da temporada ao secundário Molenbeek, onde registou uma entrada de rompante: sete golos nos primeiros cinco jogos (ainda que três deles tenham sido marcados logo na estreia perante os amadores do Union Rochefort, na primeira eliminatória da Taça, com a sua equipa a vencer por claros 8-1). Após três meses sem marcar, facturou em três jogos consecutivos no fim de Fevereiro e início de Março, mas uma apendicite viria a tirá-lo dos relvados no último mês de competição, acabando assim a época com 15 jogos e 10 golos (mais duas assistências).

O Eupen decidiu então dar-lhe nova oportunidade no escalão principal em 2021/22, mas mais uma vez não seria uma experiência bem sucedida: Leonardo Rocha foi utilizado em 15 partidas (só duas vezes titular, ambas na Taça), num total de apenas 302 minutos de jogo, e não conseguiu marcar qualquer golo. Desse modo, e dado o fim da ligação contratual com o clube primodivisionário, o avançado ficou livre para decidir o seu futuro e resolveu aceitar o convite do Lierse Kempenzonen, o clube que assumiu o lugar do Lierse após a bancarrota do histórico emblema em 2018, numa decisão que para já vai dando frutos.

Nascido em Almada a 23 de Maio de 1997, filho de pais brasileiros, Leonardo Rocha tem traçado um percurso muito curioso no futebol, nomeadamente na sua formação. Depois de dividir os primeiros anos de federado por Amora, Colégio Guadalupe, Belenenses, Vitória de Setúbal e Boavista, rumou com 14 anos para Itália a convite do Pescara; passou depois pelos brasileiros do Ituano e Barra, antes do regresso ao Amora no primeiro ano de júnior. Depois… surgiu o surpreendente contrato profissional com o Mónaco, por quem assinou com 17 anos e onde se iniciou no futebol sénior (ainda que pela equipa B, pela qual fez um jogo na quarta divisão francesa em 2016/17); pouco antes de completar 20 anos desvinculou-se do conjunto monegasco e assinou pelos italianos do Vicenza, mas apenas duas semanas (e zero jogos) depois viajou para Espanha, juntando-se ao Leganés, onde foi suplente não utilizado em duas ocasiões na Liga espanhola – acabaria por fazer 3 golos em 13 jogos no Ontinyent (II Divisão B), para onde foi cedido na segunda metade da temporada, rumando depois à Bélgica e ao Lommel.

Aos 25 anos, Leonardo Rocha está assim a tentar recuperar o tempo perdido, nomeadamente nas últimas três temporadas, de modo a conseguir vir ainda a afirmar-se como um dos bons avançados portugueses da actualidade. O talento existe, bem como a especificidade das suas características: além da valia óbvia nas bolas paradas e jogo aéreo, possui ainda uma assinalável capacidade técnica (muito longe do estereótipo dos altos e toscos do passado); resta esperar para ver se irá manter a veia goleadora ao longo da temporada (porventura conseguindo sagrar-se melhor marcador da II Liga belga pela segunda vez na carreira) e assim voltar a patamares mais altos, quiçá até com o próprio Lierse, candidato declarado à subida e com o qual assinou até ao fim de 2023/24.