Gedson Fernandes, médio centro que representa o Besiktas da Turquia, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:
O escândalo esteve prestes a acontecer e foi preciso lançar a artilharia pesada para o evitar. Aos 15 minutos, o Besiktas já perdia por 2-0 na recepção ao Sanliurfaspor, do terceiro escalão, nos 16-avos-de-final da Taça da Turquia, mas acabaria por vencer por 4-2 com contributo de Gedson Fernandes, lançado em campo logo ao minuto 29, juntamente com o central internacional turco Tayyip Sanuc, e autor da assistência para o momentâneo 2-2 – a sua terceira na temporada em 15 jogos disputados (10 como titular).
Esta é a primeira época efectiva de Gedson no Besiktas, apesar de já ter sido contratado ao Benfica pelas Águias Negras há um ano. Na altura, acabou por seguir 6 meses por empréstimo para o Rizespor, onde faria uma segunda metade de temporada positiva a título individual (3 golos e outras tantas assistências em 11 jogos), apesar da descida de divisão, depois de utilização residual nos Encarnados nos primeiros 6 meses da época (apenas 4 partidas disputadas e só 1 a começar de início, para a Taça de Portugal).
No gigante de Istambul, o médio nascido em São Tomé e Príncipe há quase 24 anos (9 de Janeiro de 1999) procura revitalizar uma carreira que tem vindo a decorrer de forma contrária ao que é habitual. Desde muito cedo visto como uma grande promessa do Benfica (e por consequência do futebol português), onde chegou aos 11 anos após se ter iniciado no Frielas, Gedson subiu ao plantel principal logo no primeiro ano de sénior, em 2018/19, depois de duas épocas muito positivas entre juniores e equipa B, e registou um início fulgurante sob o comando de Rui Vitória… que lhe valeu até a chamada de Fernando Santos à selecção nacional, pela qual se estreou a 6 de Setembro de 2018, entrando ao minuto 89 de um particular com a Croácia disputado no Estádio Algarve (1-1).
Viria a somar mais uma internacionalização em Outubro, noutro jogo de cariz amigável diante da Escócia… e foi a última até hoje. Sem que nada o fizesse prever, a partir daí a carreira de Gedson Fernandes começou a estagnar em termos evolutivos, a que não foi alheia a troca no comando técnico do Benfica no início de 2019: Bruno Lage não apostou no médio da mesma forma que Rui Vitória, afastando-o do onze inicial na sequência da mudança táctica que promoveu na equipa (de 4x3x3 para 4x4x2), e a lesão sofrida no fim da temporada, uma fratura no quinto metatarso do pé direito que obrigou a intervenção cirúrgica e impossibilitou a participação na pré-época de 2019/20, também não ajudou ao regresso à melhor forma para a nova época.
Continuando a ter muito poucos minutos até Janeiro, Gedson acabou por aceitar mudar de ares e rumou ao Tottenham de José Mourinho, num empréstimo com a duração de temporada e meia e com cláusula de opção de compra de 50 milhões de euros. “É aquilo a que costumo chamar um empréstimo especial, não vem por três meses e depois ‘adeus’. Vem por ano e meio e terá tempo de evoluir, e quem sabe não fique aqui por vários anos”, disse então o Special One.
A realidade, todavia, viria a revelar-se bem diferente. Utilizado 12 vezes no que restou de 2019/20 (só 2 como titular, nenhuma delas na Premier League), e até testado como lateral-direito, o médio faria apenas 2 aparições em toda a primeira metade da temporada seguinte pelos Spurs, uma na Taça da Liga e outra na Taça de Inglaterra, ficando mesmo de fora da lista enviada à UEFA para a participação na Liga Europa. Por esse motivo, o empréstimo acabou por ser encurtado em cima do fecho de mercado de Janeiro e Gedson seguiu então para o Galatasaray, novamente cedido pelas Águias.
No gigante da capital turca, o médio luso-são-tomense dispôs finalmente de oportunidades “a sério”: foram 18 jogos, 1 golo e 3 assistências, que fizeram o Galatasaray “apaixonar-se” e tentar por todos os meios prolongar a ligação com Gedson para 2021/22. As partes, todavia, acabariam por não chegar a acordo e o jogador iniciou a temporada integrado no plantel benfiquista; às ordens de Jorge Jesus, porém, cumpriria apenas 107 minutos, distribuídos por 4 jogos, levando a nova saída no mercado de inverno.
O destino, todavia, revelou-se surpreendente: o Besiktas, rival histórico do Galatasaray, anunciou a contratação de Gedson a título definitivo… e o seu empréstimo imediato ao Rizespor, devido ao facto de não ter vagas disponíveis para jogadores estrangeiros. Pela contratação do internacional A por Portugal, que assinou até 2026, as Águias Negras pagaram 6 milhões de euros por metade do passe – valores muito abaixo do que se chegou a falar aquando do seu aparecimento de rompante na equipa principal do Benfica, sendo associado nessa altura a clubes de dimensão maior no panorama futebolístico mundial (AC Milan, Chelsea ou Manchester United).
Se a temporada do Besiktas não tem sido famosa – segue num modesto oitavo lugar no campeonato turco, a 7 pontos do Fenerbahçe de… Jorge Jesus –, pode dizer-se que Gedson tem vindo ainda assim a cotar-se como um dos maiores destaques da equipa que nem sequer está a competir nas provas europeias, fruto do decepcionante sexto posto na época passada. Espera-se, de qualquer modo, um salto qualitativo ainda maior para que o médio se possa reafirmar de vez como um valor seguro do futebol nacional e aspirar alcançar os patamares onde andou logo na fase inicial da carreira sénior – nomeadamente a selecção nacional, ele que foi campeão europeu de sub-17 em 2016 e que terminou em sétimo na eleição do prémio “Golden Boy” em 2018.
“Há um jogador que achei sempre que ia ser um dos jogadores de futuro da seleção: o Gedson. É dos jogadores que mais me impressionaram quando chegou aqui. Para mim era um jogador que ia ter alguma regularidade. De repente desapareceu – não do radar, mas deixou de jogar. A carreira estagnou um pouco, não teve a evolução esperada”, dizia Fernando Santos no programa Futebol Total, do Canal 11, a 17 de Março de 2021. Quase 2 anos depois, as palavras do agora ex-seleccionador nacional ainda fazem sentido; se continuará assim ou se haverá uma alteração significativa num futuro próximo, tudo vai depender do próprio jogador.