Hugo Firmino: o protagonismo voltou e reacendeu a chama da ambição

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Hugo Firmino, avançado que representa os arménios do Pyunik, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

É difícil, no contexto da temporada em curso, olhar para a ficha de jogo da vitória do Pyunik sobre o Noah desta quinta-feira (0-1), na jornada 22 da Liga da Arménia, e ver que não foi Hugo Firmino a fazer o golo da sua equipa. Basta dizer que, nos 4 jogos disputados pelo Pyunik em 2022, o avançado luso somou… 4 golos – ficou em branco no triunfo por 4-1 na visita ao reduto do Alashkert mas depois foi ele a apontar todos os golos da equipa nas vitórias ante BKMA (1-0), Noravank (1-2) e Ararat-Armenia (1-0).

No total, são 12 os golos marcados até agora pelo atacante nascido a 22 de Dezembro de 1988 em Torres Vedras na sua experiência no futebol arménio: 10 no campeonato, onde é o terceiro melhor marcador (só atrás do cabo-verdiano Mailson Lima, do Ararat-Armenia, que tem 13, e do costa-marfinense Serges Déblé, que marcou 14 na primeira metade da temporada pelo Ararat Yerevan e que reforçou precisamente o Pyunik no último mercado de inverno, somando mais 4 daí para cá), e mais 2 na Taça. Aos 33 anos, pode dizer-se sem grandes reservas que Hugo Firmino está a fazer a melhor temporada da sua carreira, seja pelo número de golos (que só encontra paralelo com o que havia feito nas divisões mais baixas do futebol português, e portanto em patamares bastante inferiores), seja pela influência que tem assumido no seio da sua equipa – e que se traduz directamente na classificação: o Pyunik está neste momento no segundo lugar do campeonato, apenas três pontos atrás do líder Ararat-Armenia, que bateu precisamente há cinco dias com golo… de Hugo Firmino.

Esta é a quinta experiência de Hugo Firmino no estrangeiro, e para já a segunda mais duradoura. Com formação completada maioritariamente no Almada Atlético Clube e no Beira-Mar de Almada (além de uma curta passagem pelo Vitória FC), o extremo/avançado fez o primeiro ano de sénior no Beira-Mar da Margem Sul, na II Divisão Distrital de Setúbal, em 2007/08, e na época a seguir integrou o plantel do Torreense, na então denominada II Divisão, onde não se conseguiu afirmar. Deu depois dois passos atrás, assinando pelo Encarnacense, da I Distrital de Lisboa, e foi aí que começou a mostrar realmente os seus dotes goleadores, com 12 golos apontados em 22 partidas disputadas que proporcionaram a primeira experiência fora de portas: Anagennisi Deryneia, da II Liga do Chipre.

A passagem pelo futebol cipriota foi fugaz e em 2010/11 regressou a Portugal para jogar pela primeira vez na III Divisão, apontando 2 golos no Odivelas e 11 no Portosantense, no que é para já a época mais goleadora da carreira – embora tudo indique que seja uma questão de dias até essa marca ser suplantada. As boas exibições valeram-lhe o regresso à II Divisão, primeiro no Moura e depois novamente no Torreense, e para 2012/13 surgiu então a possibilidade de emigrar novamente, neste caso para um país que lhe diz muito: de ascendência angolana, Hugo Firmino nem pestanejou quando recebeu o convite do Interclube, onde viria a ser orientado por António Caldas e Bernardino Pedroto.

Passou depois por Recreativo da Caála, sob orientação de Ricardo Formosinho, onde viveu pela primeira vez a experiência de jogar numa competição continental: a Taça da Confederação, o equivalente africano à Liga Europa. Serviria de aperitivo para o que se seguiu: a contratação pelo Kabuscorp, então campeão em título, onde conquistaria a Supertaça de Angola e teria a possibilidade de disputar a Liga dos Campeões africana – ainda hoje o que considera serem os momentos altos da sua carreira. Por esta altura, e dado o facto de possuir também a nacionalidade angolana, o seu nome foi aventado para representar a selecção dos Palancas Negras, numa possibilidade que acabou por se não concretizar.

Após 3 anos de sucesso no Girabola voltaria a Portugal pela porta do Oriental e já com o estatuto de profissional, somando 44 jogos e 5 golos na II Liga, e por lá se manteve para 2016/17, começando a época no União da Madeira e transferindo-se em Janeiro para o Gil Vicente. Na temporada seguinte mudou-se para o Cova da Piedade, onde viveria duas épocas de muito bom nível (79 jogos e 12 golos, alguns de qualidade tal que correram o mundo via redes sociais), que lhe valeram a transferência para o Universitatea Cluj, da II Liga romena; apesar de ter assinado por três temporadas, ficaria apenas dois meses na Roménia, regressando a Portugal ao fim de somente dois jogos realizados para reforçar o plantel do Estoril.

Nos Canarinhos, por lesão das duas opções principais para essa função, jogou maioritariamente como lateral-direito, numa época estranha que acabaria prematuramente devido ao surgimento da pandemia do coronavírus. Em busca do objectivo de jogar numa I Liga europeia, regressou a Chipre no verão de 2020 para representar o DOXA, mas no mercado de inverno voltou ao Cova da Piedade para somar mais 18 partidas e 5 golos ao seu pecúlio no emblema da Margem Sul. Finda a temporada, e com o passe na mão, o desejo de jogar a um nível mais elevado voltou a falar mais alto e foi assim que se deu a viagem até à Arménia onde claramente Hugo Firmino recuperou a paixão pelo jogo e se reencontrou com o papel de protagonista a que se havia habituado nos anos em que representara o Cova da Piedade; resta esperar mais uns poucos meses para perceber até onde o atacante luso pode chegar em termos de golos e se irá acabar a época a festejar o primeiro título de campeão nacional da sua carreira.

Aylton Boa Morte: o primeiro carimbo na ficha dos marcadores nas Arábias

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Aylton Boa Morte, avançado que recentemente se mudou para o Khorfakkan, dos Emirados Árabes Unidos, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Tozé, cria do Porto e antiga esperança do futebol nacional, é o português com mais obra feita nos Emirados Árabes Unidos – são já 28 golos em 85 jogos desde que, no verão de 2019, deixou o Vitória Sport Clube para embarcar na primeira aventura da carreira fora de Portugal. Não foi, porém, o médio natural de Esposende a brilhar no embate da última jornada entre o seu Al Nasr e o Khorfakkan: esse papel coube a Aylton Boa Morte, que ao quarto jogo pela nova equipa fez a melhor exibição na ainda curta história nas Arábias.

Tal como Tozé, também Aylton (que não tem qualquer relação familiar com o antigo internacional Luís Boa Morte, ao contrário do que muitas vezes é erradamente veiculado) está a ter nos Emirados Árabes Unidos a primeira experiência no estrangeiro. Aos 28 anos, e depois de três épocas a destacar-se ao serviço do Portimonense, o extremo nascido em Almada decidiu partir à descoberta de uma nova realidade e assinou pelo Khorfakkan, emblema que habitualmente luta pela permanência no campeonato local – tal como está a acontecer esta época: era 11º quando o atleta português lá chegou, com 7 pontos de vantagem sobre a zona de despromoção, e passadas cinco jornadas continua na mesma posição mas com mais um ponto de diferença.

A primeira grande demonstração da qualidade de Aylton Boa Morte chegou então, como já se disse anteriormente, no seu quarto jogo em terras árabes. De forma absolutamente surpreendente, o Khorfakkan derrotou o Al Nasr, habitual candidato aos primeiros lugares da tabela, por concludentes 4-0 e o extremo almadense esteve em três dos tentos: participou na construção do primeiro, fez ele mesmo o segundo, numa prova de astúcia e instinto matador (percebeu que o guarda-redes não tinha a bola completamente dominada e conseguiu tocá-la para a baliza deserta), e ainda viria a assistir para o quarto num cruzamento perfeito da direita do ataque.

O contrato assinado com o conjunto dos Emirados Árabes Unidos foi de ano e meio, pelo que estes primeiros seis meses serão sempre de adaptação a esta nova realidade, tendo em vista a explosão definitiva na próxima temporada. O Khorfakkan é o nono clube da carreira de Aylton Boa Morte enquanto sénior, sendo que o Portimonense foi mesmo a equipa onde o extremo passou mais tempo; com formação dividida entre Cova da Piedade, Amora e Beira-Mar de Almada, a estreia como sénior deu-se em 2012/13 no Pinhalnovense, na II Divisão – patamar onde representaria depois Joane, Ribeirão, Tirsense e Salgueiros.

Os 4 golos em 30 jogos ao serviço dos salgueiristas chamaram a atenção de emblemas com outras aspirações, e foi assim que na pré-temporada de 2017/18 surgiu a oficialização da sua contratação por parte do primodivisionário Estoril. Numa época muito complicada para os Canarinhos, Aylton acabaria por não dispor de muitas oportunidades para mostrar o seu valor (11 aparições, 5 das quais como titular) e em Janeiro aceitou ser cedido ao Cova da Piedade, somando 13 partidas na II Liga pelo emblema da sua terra natal.

Seria nesse escalão que se viria a destacar na primeira metade de 2018/19, com 25 jogos e 4 golos pelos estorilistas, convencendo os responsáveis do Portimonense a avançar para a sua contratação nas últimas horas do mercado de Janeiro. Seguiram-se então as 3 temporadas no Algarve com excelente aproveitamento (106 jogos e 20 golos, 8 dos quais apontados na primeira metade da época em curso), que acabaram por proporcionar a mudança para os Emirados Árabes – não houve confirmação oficial, mas de acordo com a imprensa especializada a transferência rendeu cerca de 500 mil euros aos cofres do conjunto do Barlavento algarvio.

São, portanto, fundadas as expectativas dos adeptos locais em relação ao atacante português. As aspirações do Khorfakkan, já se disse, são relativamente modestas e até por essa razão é crível que Aylton Boa Morte se venha rapidamente a tornar uma das estrelas da equipa – e, por que não, do próprio campeonato. Resta esperar que a adaptação decorra da forma mais célere possível para que se torne um hábito ver o nome do extremo luso nas fichas de marcadores (ou nos registos de assistências) da Liga onde pontificam ainda Rúben Canedo, Adrien e Fábio Martins (Al Wahda, actual vice-líder da prova).