Nuno Lopes: do calvário à eternidade a dobrar em Limassol

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O lateral Nuno Lopes, que no passado fim de semana celebrou a subida à I Liga do Chipre com a camisola do Aris Limassol, é o jogador em destaque esta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Foi preciso esperar até aos 66 minutos para a primeira explosão de alegria – que só se viria a materializar por completo com o apito final do árbitro. Pelo meio, refira-se, os cibernautas que habitualmente utilizam a aplicação Flashscore para ficar a saber tudo o que se passa nos vários campeonatos pelo mundo já deitavam a toalha ao chão quando ao intervalo o marcador assinalava 2-0 para a equipa da casa, num erro que viria a ser rectificado alguns (largos) minutos depois. No fim, 1-0 para o Aris Limassol no reduto do Akritas Chiorakas e a confirmação da subida ao principal escalão do futebol cipriota garantido o segundo lugar na II Liga, com os mesmos pontos do campeão PAEEK e um ponto à frente do Othellos Athienou, que deixou fugir uma vantagem de dois golos precisamente no terreno do PAEEK e acabou por morrer na praia com o 2-2 final.

Como não podia deixar de ser, na hora dos festejos celebrou-se em bom português. O histórico conjunto de Limassol, que perseguia o objectivo de regressar à I Liga do Chipre desde 2018, conta no seu plantel nas últimas duas temporadas com Delmiro, lateral-esquerdo ou central internacional cabo-verdiano que jogou sete épocas em Portugal (Madalena, Lusitano de Vildemoinhos, Benfica de Castelo Branco, União da Madeira, Farense e Varzim, tendo festejado a subida à II Liga pelos algarvios em 2017/18), e Nuno Lopes, lateral-direito ou esquerdo que é mesmo o capitão de equipa, num sinal claro da sua importância no seio da mesma.

E é de Nuno Lopes que vamos falar neste artigo. Os leitores mais desatentos ou esquecidos podem facilmente confundi-lo com o gémeo Miguel, que representou Porto, Betis, Braga, Sporting ou Lyon, arrecadando títulos em Portugal, Espanha e Turquia, e foi mesmo internacional A em quatro ocasiões, tendo marcado presença no Euro 2012 e a cumprir a segunda temporada no Kayserispor, da principal Liga turca. Nuno não atingiu os mesmos patamares, mas tem ainda assim um percurso de enorme respeito: com formação dividida entre Oriental, Olivais Sul e Alverca, iniciou a carreira sénior no Sintrense, então na III Divisão, e passou mais quatro temporadas no terceiro escalão do futebol nacional (representando também Operário de Lagoa e Boavista) até que em 2010/11 chegou à II Liga ao serviço da Oliveirense. Ano e meio a brilhar em Oliveira de Azeméis foi suficiente para chamar a atenção de emblemas primodivisionários e assim se deu a mudança para o Beira-Mar, onde ficaria até ao fim de 2012/13.

Seguiu-se então o Rio Ave, onde o seu irmão se havia destacado anos antes, antes da segunda aventura da carreira no estrangeiro (já tinha passado de forma breve pelas divisões amadoras de Inglaterra no início da carreira ao serviço do Lewes) e primeira no Chipre, onde haveria de conquistar a Taça e a Supertaça no Apollon sob o comando de Pedro Emanuel. A meio de 2016/17 regressou a Portugal e à I Liga pela porta do Estoril mas acabaria por não ser utilizado por motivos físicos, aceitando descer um degrau a meio da época seguinte para representar o União da Madeira. Pela mesma razão acabaria por não competir em 2018/19, até que na pretérita temporada aceitou o desafio de voltar ao futebol cipriota e a Limassol para ajudar o Aris na demanda da subida.

Esteve perto, muito perto de o conseguir logo na primeira temporada, na qual se tornou desde logo indiscutível (15 jogos e 1 golo). Os intentos do Aris, todavia, acabariam por ser ceifados com a chegada da pandemia do coronavírus, que levou a federação cipriota a decidir-se pela interrupção definitiva de todas as provas no país durante o mês de Março, premiando com a subida de divisão as equipas que seguiam nos primeiros dois lugares da fase de promoção por essa altura (à imagem do que aconteceu em Portugal); o problema, na óptica da equipa do lateral luso, é que este ocupava o terceiro lugar, ficando assim impedido de lutar pela subida até ao fim da temporada.

O tão desejado objectivo seria finalmente alcançado no último fim-de-semana com a já citada vitória em casa do Akritas Chiorakas, espoletando a festa imensa para os homens do emblema de Limassol e em particular para o lateral lisboeta de 34 anos, que tem trilhado um caminho de superação e batalhas constantes face aos obstáculos que vão surgindo pela frente. Ainda não é líquido que vá permanecer no Aris para o ano de regresso à principal Liga do Chipre, mas seja qual for o cenário seguinte na sua carreira, Nuno Lopes terá sempre a certeza de ficar na História de dois emblemas de Limassol e por conseguinte como uma bandeira da representação portuguesa no futebol cipriota.