André Moreira, guarda-redes que milita nos suíços do Grasshoppers, é o jogador em destaque esta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:
Depois de duas agonizantes temporadas no segundo escalão do futebol suíço, o histórico Grasshoppers voltou finalmente ao convívio dos grandes este ano, depois de um suado mas merecido título que contou com a preciosa ajuda de uma verdadeira armada portuguesa – Euclides Cabral, Miguel Nóbrega, Tote Gomes, André Santos, Nuno Pina, Cristian Ponde, André Ribeiro e o luso-suíço Nuno da Silva faziam parte do plantel, orientado por João Carlos Pereira até muito perto do fim da caminhada. Deste lote mantiveram-se Tote Gomes, André Santos, André Ribeiro e Nuno da Silva para 2021/22 e os Gafanhotos têm demonstrado estar à altura das circunstâncias no regresso à “piscina dos grandes”, encontrando-se no quinto lugar da tabela à passagem da nona jornada com 13 pontos somados (a 6 do líder Basileia).
O ataque ao mercado para o reforço do plantel foi ponderado e conciso, contemplando apenas a chegada de um português: André Moreira (Vasco Paciência também foi contratado por empréstimo do Benfica, mas para actuar pela equipa de sub-21 que compete no quarto escalão). O guardião natural de Vila Nova de Famalicão, de resto, pegou de estaca no emblema de Zurique, tendo sido o dono das redes nas 9 partidas já realizadas na Liga suíça (onde o Grasshoppers é a quarta melhor defesa) e ainda numa ocasião na Taça – curiosamente, no único jogo em que ficou no banco, precisamente para esta última competição, o Grasshoppers foi derrotado pelo secundário Thun (1-0) e assim eliminado da prova.
André Moreira tem apenas 25 anos mas parece que já anda nestas lides há séculos, tamanha é a roda-viva que tem sido a sua carreira. Formado no Ribeirão, onde se estreou nos seniores ainda com idade de júnior, saltou pela primeira vez para a ribalta com a belíssima participação no Europeu de sub-19 em 2014, no qual Portugal se sagrou vice-campeão, sendo derrotado somente pela Alemanha na final (0-1), prestação que lhe viria a valer, além da presença na equipa ideal da competição, também a entrada para o universo dos atletas agenciados por Jorge Mendes e consequente transferência para o poderoso Atlético de Madrid.
Sem espaço no plantel principal dos Colchoneros, foi compreensivelmente cedido a Moreirense (2014/15) e União da Madeira (2015/16), com mais uma prestação positiva ao serviço da selecção nacional pelo meio (titular absoluto na caminhada dos sub-20 até aos quartos-de-final no Mundial da categoria), e no conjunto do Funchal mostraria finalmente os seus atributos nos principais palcos do futebol nacional, sendo titular indiscutível na primeira metade da temporada. Por essa altura, todavia, o infortúnio bateu-lhe à porta de forma retumbante: devido a lesão meniscal, teve de ficar afastado dos relvados nos meses seguintes, vendo assim a cedência ao União terminar de forma precoce (o próprio conjunto madeirense ressentiu-se muito dessa situação, acabando mesmo por ser despromovido quando nada o fazia prever até ao momento da lesão).
Para 2016/17 novo empréstimo, desta feita ao Belenenses… que nem durou sequer um mês: devido a lesão de Moyá, habitual suplente de Oblak, o Atlético de Madrid ordenou o regresso do jovem guardião famalicense ainda durante o mês de Agosto sem que este tivesse chegado a fazer qualquer minuto nos Azuis do Restelo. Acabaria por não o conseguir também no resto da época pelos Colchoneros, até que chegou o louco mercado de verão de 2017/18 no qual esteve “garantido” no Benfica – chegou mesmo a treinar no Seixal, onde fez até os habituais exames médicos, sendo apontado como o substituto de Ederson, entretanto transferido para o Manchester City – mas acabou por assinar pelo Braga outra vez cedido pelo Atlético.
No Minho, porém, voltou a não ser feliz: até Janeiro fez apenas dois jogos, um na Taça da Liga e outro na Taça de Portugal, nunca conseguindo sair da sombra de Matheus. Foi assim que surgiu no horizonte a possibilidade de regressar ao Belenenses, mais uma vez por empréstimo do Atlético de Madrid, e nos Azuis conquistaria a titularidade, aproveitando da melhor forma a vaga criada pela lesão do então habitual titular Muriel, e daria na vistas de tal modo que para 2018/19 voltou a ser apontado… a um grande: no caso, o Sporting, órfão de uma solução na baliza após a saída polémica de Rui Patrício, num negócio que poderia ser encaixado na transferência (também ela polémica) de Gelson Martins para Madrid.
A tão badalada transferência, mais uma vez, não se veio a verificar, e André Moreira foi ao invés disso cedido aos ingleses do Aston Villa, então a competir no Championship. Pelos Villains defendeu até um penalty na estreia, contribuindo decisivamente para o apuramento para a segunda ronda da Taça da Liga, mas seria precisamente essa segunda partida a sua última no clube: depois de perder inclusivamente o estatuto de guarda-redes suplente que ostentava nos primeiros meses da temporada na principal competição, o jovem luso optou por encerrar a ligação ao emblema inglês e regressar à I Liga portuguesa, agora pela porta do Feirense.
Em Santa Maria da Feira foi titular em 5 jogos consecutivos logo após a chegada, beneficiando das lesões de Caio Secco e Bruno Brígido, mas os maus resultados e algumas exibições menos conseguidas custaram-lhe o lugar no que restou de 2018/19. No verão que se seguiu chegou a principal novidade: 5 anos depois, André Moreira viu findada a ligação ao Atlético de Madrid e, completamente livre para decidir o seu futuro, regressou ao Belenenses (agora B-SAD), assinando por 3 temporadas. Viria a dividir o tempo de jogo com o burquinês Koffi em 2019/20 (17 partidas) mas ver-se-ia relegado para segundo plano na última temporada após a chegada do internacional russo Kritciuk (apenas 10 jogos, sendo inclusivamente utilizado duas vezes na equipa de sub-23).
Foi então que, no último verão, surgiu o convite do Grasshoppers e a possibilidade de fazer parte de uma época que poderá ficar marcada na história do emblema – mais que não seja por constituir a de regresso ao escalão principal após dois anos mergulhado na II Divisão; André Moreira partiu para o novo desafio com expectativas elevadas, assinando mesmo por duas temporadas, e por agora pode dizer-se que a aposta está a resultar em pleno. O guardião famalicense, já se disse acima, ainda é um jovem (faz apenas 26 anos em Dezembro) e tem um passado invejável ao nível de selecções, estando ainda perfeitamente a tempo de confirmar todas as previsões que se fizeram em relação à sua carreira e regressar aos patamares que um dia já pisou e dos quais se viu privado por uma razão ou outra – e com maior ou menor responsabilidade do próprio.