Clã Machado: sonho realizado

machado(Hugo Machado Pai e Hugo Machado filho após o final da partida em que ambos atuaram juntos pela primeira vez de forma oficial.)

O dia 27 de Novembro de 2022 jamais será esquecido por Hugo Machado: aos 40 anos, o médio ofensivo que representa o Oriental, concretizou o sonho de jogar oficialmente com o seu filho, que tem o mesmo nome e foi lançado no segundo tempo do desafio contra o Olivais e Moscavide a contar para a I Divisão da AF Lisboa.
Ainda com idade de júnior, o mais novo do clã Machado, igualmente médio, estreou-se assim com 18 anos no futebol sénior ao lado do Pai, ele que até começou a presente temporada nos Juniores do Vitória FC, tendo regressado recentemente aos orientalistas, onde já havia cumprido quatro anos na formação – iniciou o seu trajeto no Operário de Lisboa e jogou também no Alta de Lisboa.
Tudo aconteceu no passado domingo: com o Oriental a vencer tranquilamente por 3-0 fora de portas, Tuck, ex-jogador de Gil Vicente e Belenenses e atual treinador dos “grenás”, decidiu colocar em campo o jovem Hugo Machado, realizando, desta forma, o desejo de pai e filho atuarem juntos, momento, naturalmente, especial para ambos, com o progenitor a não conseguir esconder a emoção.
Formado integralmente no Sporting, onde partilhou o balneário e os relvados (e alguns pelados também) com José Fonte, Ricardo Quaresma, Hugo Viana, Miguel Garcia, Beto, Carlos Martins ou Custódio, Hugo Machado chegou a jogar pela equipa B leonina antes de terminar a ligação aos verde e brancos e arrancar, pouco depois, para uma bonita carreira internacional: entre 2006 e 2017, passou por Chipre, Azerbaijão, Irão, Índia e Grécia, e nesse período só por uma vez jogou nosso País, representando a Naval na I Liga em 10/11.
Terminada a sua aventura pelo estrangeiro, há cinco anos, regressou em definitivo a Portugal e o primeiro clube em que alinhou foi precisamente o Oriental, na época 17/18, vestindo posteriormente as camisolas de Real SC, Loures e Cova da Piedade até voltar ao Estádio Engenheiro Carlos Salema na temporada passada – oito vezes internacional Sub-15 (um golo), esteve ainda ao serviço de Estrela da Amadora (subiu de divisão) e Barreirense na II Liga antes de emigrar em 2006.
Para a história, além da concretização de um sonho mútuo, ficou também oficializada a “passagem de testemunho” de Pai para filho no mundo futebolístico. E que bonito é…

Oriental – Atlético: um derby a pedir outros patamares

OrientalAtletico2122(César, do Atlético, parece escapar ao orientalista David Crespo durante o derby do último sábado. Crédito de imagem: facebook do Atlético CP.)

Se as vagas nos Campeonatos fossem atribuídas em função da história dos clubes, Oriental e Atlético certamente estariam, pelo menos, nos Nacionais e a “baterem à porta” das competições profissionais.
Porém, e como a realidade não é essa, estes emblemas lisboetas são dois “habitantes de luxo” da I Divisão Distrital da AF Lisboa, e no passado sábado assinaram mais um capítulo da longa história que há entre eles.
Oriental e Atlético protagonizam um dos derby’s mais antigos e famosos da capital do nosso País, e esta época, devido à queda do clube de Marvila aos Distritais, voltaram a ser adversários de forma oficial após quatro anos sem se cruzarem, mas num patamar que está longe de corresponder aos pergaminhos que ambos ostentam.
No passado fim-de-semana, o mítico Estádio Engenheiro Carlos Salema foi então palco do terceiro confronto entre os clubes esta temporada, e a “sorte” da partida sorriu ao Atlético, que ao vencer por 2-1, reforçou a liderança e deixou os orientalistas, que ocupam o terceiro posto, a nove pontos de distância quando faltam quatro jornadas para o fim da prova.
Perante uma boa moldura presente nas bancadas, os forasteiros fizeram jus ao lugar que ocupam e mostraram-se mais fortes, chegando aos golos por intermédio do colombiano Darwin Castillo (67′) e do brasileiro Élvis Fernandes (82′), cabendo à equipa da casa fixar o resultado final por Adilson (84′), ele que, curiosamente, estreou-se no futebol profissional ao serviço do Atlético na II Liga, tendo posteriormente representado clubes como Belenenses, União da Madeira, Olhanense ou Varzim.
Como já se disse, este foi o terceiro jogo da temporada atual entre Oriental e Atlético e até então ninguém tinha conseguido ganhar o derby: primeiro, na Tapadinha, o jogo da 10ª Jornada terminou empatado a uma bola; e há menos de um mês, em Marvila, mediram forças nos Quartos-de-Final da Taça Distrital e, depois de um empate sem golos, os azuis e amarelos levaram a eliminatória de vencida nas grandes penalidades (4-2).
Com a época a aproximar-se do fim e os alcantarenses perto de consumarem o regresso ao Campeonato de Portugal, este derby já não deverá acontecer oficialmente nos próximos tempos, mas devia: Oriental e Atlético merecem, indiscutivelmente, competir noutros patamares.

Hugo Firmino: o protagonismo voltou e reacendeu a chama da ambição

hugofirmino

Hugo Firmino, avançado que representa os arménios do Pyunik, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

É difícil, no contexto da temporada em curso, olhar para a ficha de jogo da vitória do Pyunik sobre o Noah desta quinta-feira (0-1), na jornada 22 da Liga da Arménia, e ver que não foi Hugo Firmino a fazer o golo da sua equipa. Basta dizer que, nos 4 jogos disputados pelo Pyunik em 2022, o avançado luso somou… 4 golos – ficou em branco no triunfo por 4-1 na visita ao reduto do Alashkert mas depois foi ele a apontar todos os golos da equipa nas vitórias ante BKMA (1-0), Noravank (1-2) e Ararat-Armenia (1-0).

No total, são 12 os golos marcados até agora pelo atacante nascido a 22 de Dezembro de 1988 em Torres Vedras na sua experiência no futebol arménio: 10 no campeonato, onde é o terceiro melhor marcador (só atrás do cabo-verdiano Mailson Lima, do Ararat-Armenia, que tem 13, e do costa-marfinense Serges Déblé, que marcou 14 na primeira metade da temporada pelo Ararat Yerevan e que reforçou precisamente o Pyunik no último mercado de inverno, somando mais 4 daí para cá), e mais 2 na Taça. Aos 33 anos, pode dizer-se sem grandes reservas que Hugo Firmino está a fazer a melhor temporada da sua carreira, seja pelo número de golos (que só encontra paralelo com o que havia feito nas divisões mais baixas do futebol português, e portanto em patamares bastante inferiores), seja pela influência que tem assumido no seio da sua equipa – e que se traduz directamente na classificação: o Pyunik está neste momento no segundo lugar do campeonato, apenas três pontos atrás do líder Ararat-Armenia, que bateu precisamente há cinco dias com golo… de Hugo Firmino.

Esta é a quinta experiência de Hugo Firmino no estrangeiro, e para já a segunda mais duradoura. Com formação completada maioritariamente no Almada Atlético Clube e no Beira-Mar de Almada (além de uma curta passagem pelo Vitória FC), o extremo/avançado fez o primeiro ano de sénior no Beira-Mar da Margem Sul, na II Divisão Distrital de Setúbal, em 2007/08, e na época a seguir integrou o plantel do Torreense, na então denominada II Divisão, onde não se conseguiu afirmar. Deu depois dois passos atrás, assinando pelo Encarnacense, da I Distrital de Lisboa, e foi aí que começou a mostrar realmente os seus dotes goleadores, com 12 golos apontados em 22 partidas disputadas que proporcionaram a primeira experiência fora de portas: Anagennisi Deryneia, da II Liga do Chipre.

A passagem pelo futebol cipriota foi fugaz e em 2010/11 regressou a Portugal para jogar pela primeira vez na III Divisão, apontando 2 golos no Odivelas e 11 no Portosantense, no que é para já a época mais goleadora da carreira – embora tudo indique que seja uma questão de dias até essa marca ser suplantada. As boas exibições valeram-lhe o regresso à II Divisão, primeiro no Moura e depois novamente no Torreense, e para 2012/13 surgiu então a possibilidade de emigrar novamente, neste caso para um país que lhe diz muito: de ascendência angolana, Hugo Firmino nem pestanejou quando recebeu o convite do Interclube, onde viria a ser orientado por António Caldas e Bernardino Pedroto.

Passou depois por Recreativo da Caála, sob orientação de Ricardo Formosinho, onde viveu pela primeira vez a experiência de jogar numa competição continental: a Taça da Confederação, o equivalente africano à Liga Europa. Serviria de aperitivo para o que se seguiu: a contratação pelo Kabuscorp, então campeão em título, onde conquistaria a Supertaça de Angola e teria a possibilidade de disputar a Liga dos Campeões africana – ainda hoje o que considera serem os momentos altos da sua carreira. Por esta altura, e dado o facto de possuir também a nacionalidade angolana, o seu nome foi aventado para representar a selecção dos Palancas Negras, numa possibilidade que acabou por se não concretizar.

Após 3 anos de sucesso no Girabola voltaria a Portugal pela porta do Oriental e já com o estatuto de profissional, somando 44 jogos e 5 golos na II Liga, e por lá se manteve para 2016/17, começando a época no União da Madeira e transferindo-se em Janeiro para o Gil Vicente. Na temporada seguinte mudou-se para o Cova da Piedade, onde viveria duas épocas de muito bom nível (79 jogos e 12 golos, alguns de qualidade tal que correram o mundo via redes sociais), que lhe valeram a transferência para o Universitatea Cluj, da II Liga romena; apesar de ter assinado por três temporadas, ficaria apenas dois meses na Roménia, regressando a Portugal ao fim de somente dois jogos realizados para reforçar o plantel do Estoril.

Nos Canarinhos, por lesão das duas opções principais para essa função, jogou maioritariamente como lateral-direito, numa época estranha que acabaria prematuramente devido ao surgimento da pandemia do coronavírus. Em busca do objectivo de jogar numa I Liga europeia, regressou a Chipre no verão de 2020 para representar o DOXA, mas no mercado de inverno voltou ao Cova da Piedade para somar mais 18 partidas e 5 golos ao seu pecúlio no emblema da Margem Sul. Finda a temporada, e com o passe na mão, o desejo de jogar a um nível mais elevado voltou a falar mais alto e foi assim que se deu a viagem até à Arménia onde claramente Hugo Firmino recuperou a paixão pelo jogo e se reencontrou com o papel de protagonista a que se havia habituado nos anos em que representara o Cova da Piedade; resta esperar mais uns poucos meses para perceber até onde o atacante luso pode chegar em termos de golos e se irá acabar a época a festejar o primeiro título de campeão nacional da sua carreira.

David Crespo: “Campeonato acabou por ser ridículo”

David Crespo(Formado entre Sporting e Benfica, David Crespo já acertou a sua continuidade no Oriental, clube que vai representar pela terceira época consecutiva.)

Vindo de uma época em que tinha sido segundo classificado na Série D do Campeonato de Portugal, o Oriental não conseguiu, este ano, manter o mesmo registo, e terminou na quarta posição, a seis pontos do segundo lugar.
O clube de Marvila andou sempre na luta pelos lugares de Play-Off, mas claudicou na reta final e, uma vez mais, não chegou à fase decisiva do terceiro escalão.
David Crespo, jogador dos lisboetas, falou com o “Conversas Redondas” e começou por efetuar o balanço da temporada:
“Acho que foi uma época bastante positiva. No início, quando começamos, apenas nos pediram para fazermos 36 pontos, e nós fizemos quase o dobro dos pontos, por isso, acho que foi uma temporada muito positiva. Ainda assim, ficamos com a sensação de que poderia ter dado para mais, pois o grupo merecia”, contou.
O Oriental passou grande parte do campeonato entre o segundo e o terceiro lugar, e só passou para quarto, após a devolução dos pontos ao Casa Pia.
A equipa teve uma fase final aquém do que esperava, em que esteve três jogos sem vencer e isso complicou, também, as suas contas, e mesmo vencendo os dois últimos compromissos que tinha, já não saiu da quarta posição.
David Crespo refere que o que se passou na Série D do Campeonato de Portugal foi ridículo, sublinhando que não foi justo para o Oriental e para o Real a decisão tomada pela FPF:
“A seguir ao jogo do Real, na 31ª Jornada, fomos logo na semana a seguir perder o segundo lugar ao Montijo, mas acabámos com dois jogos de grande nível, ao vencermos o Praiense (2-0), em casa, e irmos aos Açores, ganhar ao Angrense (2-0). Mas acho que este campeonato acabou por ser ridículo por tudo o que se passou. Não sei se é justo ou não retirarem os pontos ao Casa Pia, para os jogadores deles não é justo, é uma realidade, mas também acaba por não ser justo para o Oriental e para o Real, que andaram quase uma segunda volta inteira a olharem um para o outro, apenas. Tudo poderia ser diferente, tudo. Uma equipa quando joga contra o segundo classificado, a motivação, por vezes, não é a mesma quando se joga contra uma equipa que está em quinto, por exemplo, e nós tivemos muito e muito tempo em segundo lugar, em que as equipas queriam-nos tirar pontos, por vezes, só por sermos os segundos”, afirmou.
Contas finais feitas, os lisboetas, somaram dezoito vitórias, dez empates e seis derrotas em trinta e quatro jogos, que resultaram em 64 pontos, e marcaram quarenta e quatro golos contra os vinte e dois que sofreram.
Olhando para aquilo que foi o percurso do Oriental, salta logo à vista o facto da equipa não ter vencido, nenhuma vez, Ideal e Vasco da Gama da Vidigueira, duas formações que lutaram pela permanência; mas também importa referir que os lisboetas não perderam nenhum jogo com o Praiense, que foi Campeão de série, e pode subir à II Liga.
David Crespo, que pode atuar como defesa esquerdo ou médio defensivo, aponta a isso mesmo, deixando o pensamento de que os jogos não são todos iguais:
“Ainda hoje falamos uns com os outros e temos essa ideia, de que acabamos o campeonato sem ganhar a uma equipa que desceu, sem querer desvalorizar o Vasco da Gama, que acabou por fazer um fim de temporada muito bom. Mas se formos por aí, também posso dizer que o Praiense, que está nas Meias-Finais do Campeonato de Portugal, não nos ganhou nenhum jogo. Enfim, nem todos os jogos são iguais”, frisou.
Na Taça de Portugal, o Oriental chegou à terceira eliminatória, eliminando duas equipas dos Distritais – Barreirense (3-1) e Lusitano de Évora (3-1) -, antes de caír em Montalegre, no prolongamento, com um desaire por duas bolas a uma.
Desafiado a definir os momentos mais marcantes da temporada, David Crespo destaca, pela positiva, o facto da equipa não ter perdido qualquer jogo em casa:
“A nível pessoal, esta foi, provavelmente, a minha melhor época dos últimos três anos. A nível coletivo, o momento mais positivo da época, foi, sem dúvida, acabarmos sem uma única derrota em casa, algo que já não acontecia há anos e anos no Engenheiro Carlos Salema. Acho que esta equipa acabou por não ter momentos negativos. Fomos uma equipa que, quando entrava em campo, as coisas poderiam não sair bem, mas havia uma coisa que fazia a diferença: era a atitude de tudo e de todos. E, por isso, acho que não houve nenhum momento que posso dizer que tenha sido negativo”, destacou.
O atleta, de 25 anos, fez trinta jogos no campeonato – vinte e cinco deles como titular – e apontou dois golos, aos quais juntou mais dois encontros na Taça de Portugal.
Na próxima época, o jogador vai, pela terceira temporada consecutiva, continuar a representar o Oriental, onde se diz sentir bem, num sítio onde as pessoas gostam dele:
“Tive algumas propostas para sair, mas sinto-me bem no Oriental, sinto que as pessoas gostam de mim e eu gosto das pessoas, o que, para mim, é o mais importante. A minha maior ambição é jogar semana após semana, o resto logo se vê”, terminou.
David Crespo começou a jogar com nove anos, nas Escolinhas do Olivais e Moscavide, onde “deu nas vistas” e foi transferido para o Sporting. Ao serviço dos “leões” durante sete temporadas e meia, entre Escolinhas e Juvenis, mudou-se para o Benfica a meio de 2010/2011, tendo estado ao serviço dos “encarnados” uma temporada e meia. No último ano de júnior rumou ao Nacional da Madeira, por quem se estreou, ainda júnior, na I Liga. Subido, oficialmente, a sénior, já representou Torreense, Sintrense, 1º Dezembro e Mafra, antes de chegar ao Oriental em 2017.