Bruno Alves: chegou a hora do adeus para o mais romântico dos duros

brunofcp(O FC Porto foi o clube onde Bruno Alves mais se notabilizou.)

Foi, seguramente, um dos mais controversos futebolistas portugueses das últimas duas décadas. Uma figura impossível de gerar consensos, acima de tudo pela impetuosidade com que abordava cada lance no exercício da sua função – mais até do que propriamente por posturas menos correctas extra-jogo, que raramente existiram, muito menos nas fases de maior maturidade e sucesso. É, ainda assim, absolutamente impossível negar que a carreira de Bruno Alves foi recheada disso mesmo: de sucesso. Aos 40 anos, o central nascido na Póvoa de Varzim no “já longínquo” ano de 1981 decidiu pendurar as botas, num anúncio que andou a adiar o mais possível (e que porventura até terá chegado já com um ano de atraso) pelo simples motivo de que são feitas as histórias de amor: a paixão arrebatadora pela prática do que é tão justamente denominado de desporto-rei.

O processo formativo foi quase integralmente feito no clube da terra, o histórico Varzim, onde o seu pai, Washington, havia actuado durante cinco temporadas enquanto atleta (curiosamente também central) e onde se estabeleceu posteriormente. Bruno Alves, de resto, herdou muitas das características do progenitor: além da posição, destacam-se o posicionamento, a capacidade de antecipação e a impetuosidade e virilidade, muitas vezes a passar os limites do aceitável. No segundo ano de júnior (99/00) mudou-se para o Porto, onde viria a dividir a temporada entre os juniores e a equipa B dos Dragões, então a disputar a II Divisão B, numa altura em que a dupla titular dos meninos às ordens do icónico Bandeirinha era constituída por Tonel e Ricardo Costa.

Brunofarense(Foi pelo Farense que o central se estreou na I Liga corria a época 01/02.)

No primeiro ano de sénior, já sob o comando de Ilídio Vale (actual adjunto de Fernando Santos na selecção nacional), tornou-se indiscutível na equipa secundária dos azuis-e-brancos, com 36 partidas (todas como titular) e 6 golos, numa primeira demonstração de apetência goleadora que se viria a tornar também imagem de marca – nomeadamente na sequência de lances de bola parada. Tornava-se bastante óbvio que este era já um patamar competitivo bastante curto para o central poveiro – numa altura em que o irmão Geraldo, um ano mais velho, ia tendo oportunidades na equipa principal do Benfica, primeiro com José Mourinho ao leme e depois com Toni – e assim, em Janeiro de 2002, Bruno Alves chegou à I Liga pela via de um empréstimo ao Farense, na altura envolvido numa luta hercúlea pela permanência.

O objectivo dos Leões de Faro acabaria por não ser atingido, mas Bruno Alves pegou de estaca, somando 15 partidas (só uma a sair do banco). A cedência estendeu-se por mais uma temporada e em 2002/03 o central dos quadros do Porto tornou-se a referência defensiva de uma equipa teoricamente candidata óbvia à subida ao principal escalão, mas cujos graves problemas financeiros levaram a um modesto 12º posto final. Por esta altura o Porto voava sob o comando de José Mourinho e nomes como Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Pedro Emanuel ou mesmo Ricardo Costa eram absolutamente incontornáveis; ainda assim, os Dragões continuavam a acreditar no potencial de Bruno Alves e por isso mantiveram-no nos seus quadros nas duas temporadas seguintes, cedendo-o a Vitória SC (onde foi treinado por Jorge Jesus e Augusto Inácio) e AEK de Atenas (tendo como treinador Fernando Santos).

brunozenit(Contratado pelo Zenit no Verão de 2010, Bruno Alves foi duas vezes Campeão na Rússia.)

2005/06 surgiu então como o ano do tira-teimas na carreira do defesa poveiro. Já sem Ricardo Carvalho e com Jorge Costa a não contar para Co Adriaanse, Bruno Alves foi integrado no plantel, juntando-se a um lote constituído por Pedro Emanuel, Pepe e Ricardo Costa, e de forma surpreendente ganhou a titularidade a partir da jornada 4. Perderia, porém, o estatuto pouco depois, mercê da exibição muito pouco conseguida na derrota caseira consentida perante o Benfica (0-2), com o ponto mais baixo a ocorrer ao minuto 81, quando agrediu Nuno Gomes com uma cabeçada; daí até ao fim da temporada foi utilizado apenas de forma residual (chegando inclusivamente a actuar pela equipa B numa ocasião), e apesar de acabar a época a festejar a conquista da dobradinha, tudo levava a crer que não continuaria no clube para a temporada seguinte.

Seria, provavelmente, esse o cenário caso Co Adriaanse tivesse permanecido no comando técnico do Porto. Tal, porém, não aconteceu, como se sabe: o holandês entrou em divergências com a estrutura dirigente dos Dragões durante a pré-temporada e não chegaria a iniciar a nova época, sendo substituído por Jesualdo Ferreira – uma mudança que acabou por salvar a carreira de Bruno Alves. Isso e o infortúnio de Pedro Emanuel, na altura capitão de equipa e cuja lesão sofrida na pré-época o afastou dos relvados durante toda a temporada 2006/07. Bruno Alves chegou-se então à frente, ultrapassando Ricardo Costa na hierarquia, e viria a formar uma dupla férrea com Pepe que se revelou determinante para o bicampeonato dos Dragões, registando 36 jogos (todos como titular) e 2 golos.

BrunoParma(O Parma foi a casa de Bruno Alves durante três anos – 2018 a 2021.)

Tinha assim início “oficial”, digamos assim, a história de sucesso de Bruno Alves no Dragão. Em 2007/08, já sem Pepe ao lado (entretanto transferido para o Real Madrid) e numa defesa que foi oscilando até Pedro Emanuel se restabelecer em pleno (as apostas no sérvio Stepanov e no luso João Paulo não tiveram os resultados pretendidos), o poveiro assumiu-se como a grande referência do sector mais recuado dos portistas, somando 38 partidas efectuadas (sempre como opção inicial) e 2 golos apontados no que seria o segundo tricampeonato da História para os azuis-e-brancos. Um estatuto que ainda reforçou na época seguinte, no que se viria a revelar o segundo tetracampeonato de sempre do Porto, com 46 jogos (todos como titular) e 6 golos, dois dos quais icónicos – o que valeu a vitória por 2-1 em Alvalade, na ronda 5, e o que inaugurou o marcador no 2-0 caseiro ante o Arsenal, para a Liga dos Campeões, permitindo aos Dragões ultrapassar os Gunners e terminar no primeiro lugar do grupo G –, sendo eleito o Melhor Jogador do campeonato.

Nesta época, finalizada também ela com dobradinha, Bruno Alves fez dupla com Rolando, reforço proveniente do Belenenses. E assim se manteve em 2009/10, temporada menos bem sucedida a nível colectivo, apesar dos 43 jogos e 7 golos do aqui já capitão portista, na sequência do adeus aos relvados de Pedro Emanuel; o central até ergueu a Supertaça (com um golo seu no 2-0 ao Paços de Ferreira) no início da temporada e a Taça de Portugal no fim, mas a perda do que seria o pentacampeonato para o Benfica – já depois da derrota na final da Taça da Liga ante o mesmo adversário por claros 3-0, num jogo em que Bruno Alves não conseguiu disfarçar a frustração, protagonizando algumas entradas duríssimas que por milagre não foram sequer sancionadas com cartão amarelo – constituiu um golpe difícil de encaixar para um jogador que desde sempre demonstrou ser um verdadeiro animal competitivo.

brunofener(Em três épocas na Turquia, o poveiro venceu uma Liga e uma Supertaça pelo Fenerbahçe.)

A fase final da temporada dava ares de despedida, e esse cenário revelou-se mesmo real poucas semanas depois, com o anúncio da transferência para o Zenit a troco de 22 milhões de euros. Na Rússia, e tendo inicialmente o compatriota Fernando Meira como parceiro no centro da defesa, Bruno Alves afirmou-se de imediato e conquistou dois campeonatos, uma Taça e uma Supertaça em três temporadas; findo esse período, e após uma época sem troféus (2012/13), decidiu voltar a mudar de ares e rumou ao Fenerbahçe, onde se sagraria campeão logo na primeira época, conquistando depois também a Supertaça no terceiro país diferente.

Em 2015/16 manteve-se como titular absoluto no emblema de Istambul, aí sob o comando de Vítor Pereira, mas após uma temporada sem qualquer troféu conquistado optou por correr em busca de novos desafios e aceitou a oferta do Cagliari, chegando assim à Serie A prestes a celebrar 35 anos. O contrato era válido por duas temporadas, mas no fim da primeira (em que foi titularíssimo e chegou até a envergar a braçadeira de capitão, contribuindo para um tranquilo 11º posto final) Bruno Alves chegou a acordo para a rescisão, seduzido por um projecto mais aliciante a nível de luta por troféus: o ressuscitado Rangers, que em 2017/18 iria ser treinado por Pedro Caixinha e acalentava o sonho de voltar a ser campeão na Escócia, ultrapassada a crise financeira que quase obrigou o histórico emblema a fechar portas.

Os planos, porém, acabaram por sair furados: mercê de um início muito pouco animador, que incluiu a eliminação humilhante logo na primeira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga Europa ante os luxemburgueses do Progrès Niederkorn, Caixinha foi despedido numa altura muito precoce da temporada e os reforços portugueses (além de Bruno Alves, haviam chegado a Glasgow também Fábio Cardoso e Dálcio Gomes) perderam espaço. O central mais cotado ainda foi o mais utilizado (25 partidas, 21 das quais de início), mas o falhanço também a nível colectivo (apenas terceiro classificado) e o cartel que havia deixado em Itália levaram Bruno Alves a regressar à Serie A em 2018/19, desta feita para representar outro histórico renascido das cinzas: o Parma, recém-regressado ao principal escalão do futebol transalpino.

brunoapollon(O Apollon Smyrnis foi o último clube da carreira de Bruno Alves.)

Titular indiscutível nas primeiras duas épocas (e com 4 golos na primeira), nas quais o Parma assegurou a permanência com relativa tranquilidade, e sendo já capitão de equipa, Bruno Alves acabou por perder influência na terceira, fazendo 19 jogos (e só 3 nos últimos 3 meses de competição) e não conseguindo evitar o último lugar e consequente despromoção à Serie B. Muito perto dos 40 anos e finda a ligação contratual aos parmesãos, acabaria por declinar a proposta do Porto para ingressar na equipa B e ser a já tradicional figura experiente no meio dos jovens que integram o plantel do conjunto que compete na II Liga, rumando antes ao Famalicão, emblema que o seu pai havia representado quase 40 anos antes.

O desejado regresso ao futebol português, todavia, revelou-se muito curto. Três semanas depois de ser oficializado no conjunto minhoto, Bruno Alves anunciou estar livre após rescindir com o clube, alegadamente devido a divergências com o treinador Ivo Vieira, e um mês e meio depois seria notícia a sua assinatura com o modesto Apollon Smyrnis, da Grécia. “O Cristiano Ronaldo disse-me: ‘Tens de continuar a jogar. Cuidas de ti e estás em boa forma. Sei o quanto gostas de futebol, por isso não desistas’. Mudou a minha decisão. Se o melhor do mundo diz para continuar, então é porque posso realmente continuar”, disse então o central.

ronaldobruno(Cristiano Ronaldo serviu de inspiração ao colega para continuar a carreira.)

Pois bem: tal como a decisão do próprio em regressar ao Manchester United, também aqui a opinião do CR7 se revelou pouco acertada. Bruno Alves encontrou um plantel do Smyrnis fraquíssimo, que nem a contratação no mercado de inverno de um ou outro jogador com mais qualidade amenizou (entre os quais Manuel Fernandes), e foi sem surpresa que se deu a descida de divisão, com o último lugar na fase regular e depois também na fase de permanência, com 19 partidas para o central poveiro. O contrato que ligava as duas partes contemplava uma época mais outra de opção, mas Bruno Alves decidiu mesmo pendurar as chuteiras, anunciando o adeus oficialmente nas redes sociais no passado domingo; passados dois dias, foi agora oficializado como novo director-desportivo do AEK de Atenas, num regresso após 18 anos que marca assim o início de uma nova carreira.

Falta apenas falar do percurso (recheado de méritos) nas selecções nacionais. Internacional a partir dos sub-20 (2001), venceu o Torneio de Toulon logo nesse ano, alinhando depois nos Europeus de sub-21 em 2002 e 2004 e nos Jogos Olímpicos do mesmo ano, de má memória para as cores nacionais. A estreia pela selecção A chegou em Junho de 2007, num particular diante do Kuwait no fim da primeira época como titular indiscutível do Porto, e a partir daí não mais sairia das contas dos seleccionadores: suplente de Pepe e Ricardo Carvalho no Euro 2008, ganhou a titularidade no decorrer do apuramento para o Mundial 2010, beneficiando também da grave lesão sofrida por Pepe nesse período, e foi dele, já nos descontos, o golo que garantiu a vitória a Portugal na visita à Albânia que permitiu à equipa das quinas, na altura orientada por Carlos Queiroz, garantir o apuramento para o play-off, com outro golo seu a garantir a vitória caseira sobre a Bósnia na primeira mão.

brunoalvespt(Só pela Seleção A, Bruno Alves fez 96 jogos – 11 golos – e venceu o Euro 2016.)

Opção inicial na prova africana ao lado de Ricardo Carvalho, manteve-se nessa condição com Paulo Bento no Euro 2012 (onde falhou uma grande penalidade no desempate diante de Espanha nas meias-finais) e no Mundial 2014, numa reeditada dupla com Pepe. Com a veterania já a fazer-se sentir, continuou a ser opção para Fernando Santos mas já com estatuto de suplente – foi assim que se apresentou no Euro 2016, sendo notícia pela expulsão no particular realizado com Inglaterra na preparação para a prova, após entrada duríssima sobre Harry Kane, da qual se redimiria com uma belíssima exibição ao lado de José Fonte na meia-final diante do País de Gales, no único jogo que disputou na prova, actuando no lugar do lesionado Pepe. Titular em 3 dos 5 jogos realizados pela selecção nacional na Taça das Confederações em 2017, na qual Portugal conquistou a medalha de bronze, seria ainda convocado para o Mundial da Rússia no verão seguinte, onde já não somou qualquer minuto; a última das 96 internacionalizações (com 11 golos apontados, que fazem dele o defesa mais goleador da História da selecção nacional), de resto, deu-se a 7 de Junho desse ano, no particular com a Argélia (3-0) prévio à participação na prova.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Hélder Lopes: o pé esquerdo que faz as delícias dos israelitas

helderlopes

Hélder Lopes, lateral esquerdo que representa os israelitas do Hapoel Beer Sheva, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Esta terá sido provavelmente uma das melhores semanas desportivas de 2021/22 para o Hapoel Beer Sheva, e mais uma vez com forte influência lusitana. Desta vez até nem foi Miguel Vítor, capitão e verdadeiro ídolo dos adeptos desde 2016/17, o principal destaque; e também não o foi André Martins, o médio internacional A português que no último mercado de transferências trocou o gigante polaco Legia por uma aventura em Israel. Foi mesmo o lateral-esquerdo Hélder Lopes, quiçá à partida tido como o menos provável deste trio para resolver partidas – e logo de vital importância como sucedeu no espaço de três dias.

Mas a verdade é que foi mesmo isso que aconteceu. O primeiro capítulo deu-se no domingo, quando um cruzamento do esquerdino luso sofreu um ligeiro desvio num adversário e se tornou de repente num mortífero remate à baliza do visitante Maccabi Tel-Aviv; o marcador não mais viria a sofrer alterações e assim o Hapoel Beer Sheva aumentou para 6 os pontos de vantagem em relação ao conjunto da capital, permanecendo no segundo lugar do campeonato a 7 pontos do campeão em título Maccabi Haifa quando faltam 6 jornadas para o fim da prova.

Havia, contudo, outro jogo entre as duas equipas a meio da semana, desta vez a contar para as meias-finais da Taça e a disputar-se em Tel-Aviv. Pois bem: o trio luso voltou a ser titular e voltou a ser Hélder Lopes o elemento mais decisivo dos três, sendo dele as assistências para os golos que permitiram a reviravolta no marcador (de 0-1 para 1-3) e que selaram a passagem da sua equipa à final da competição – onde mais uma vez se irá digladiar com o Maccabi Haifa, que foi ao reduto do Hapoel Haifa vencer por 2-0.

Contratado já com a época em andamento ao AEK de Atenas, onde havia actuado nas últimas quatro temporadas, Hélder Lopes pegou de estaca no emblema israelita, totalizando neste momento já 27 partidas; até aqui, todavia, tinha registado apenas uma assistência, pelo que esta terá sido, certamente, a sua melhor semana em Israel até ao momento. No horizonte próximo do defesa natural de Vila Nova de Gaia estará agora o desejo de manter a bitola exibicional até ao fim da temporada e quiçá ajudar o seu clube a conquistar o campeonato ou a Taça – ou ambos –, ele que no seu palmarés tem apenas e só um troféu: a Liga grega, que venceu logo na primeira temporada ao serviço do AEK, contribuindo com 31 jogos, 2 golos e 2 assistências para o quebrar de um jejum que durava há 24 anos.

Esse foi o ponto alto de uma carreira feita a pulso e com subidas sucessivas de escalão para um atleta que nunca passou por qualquer grande escola de formação, se assim quisermos chamar. O percurso juvenil, fê-lo entre Coimbrões, Padroense e Candal; no primeiro ano de sénior ainda assinou contrato profissional com o Parma, mas acabaria por deixar Itália poucos meses depois sem qualquer minuto oficial por nenhuma das equipas dos parmesãos, assinando pelo Mirandela para disputar a II Divisão. Em 2009/10 desceu um patamar, representando o Oliveira do Douro na III Divisão, voltando ao terceiro escalão do futebol nacional na época seguinte por intermédio do Espinho.

Por ali permaneceria para 2011/12, sendo peça fulcral na campanha da subida do Tondela à II Liga, de tal forma que suscitaria o interesse do primodivisionário Beira-Mar, estreando-se assim no principal escalão do futebol nacional com 23 anos. A descida de divisão dos aveirenses acabou por não comprometer o futuro do jogador, que seguiria com o técnico Costinha para o Paços de Ferreira, onde se viria a afirmar definitivamente como valor seguro do futebol nacional para uma posição onde até escasseavam opções portuguesas.

Chegou, sem grandes surpresas, a ser associado a clubes de maior nomeada (no fim de 2015/16 escreveu-se na imprensa nacional que poderia assinar por Sporting, Braga ou Benfica), mas a verdade é que acabou por se transferir nesse verão para o Las Palmas. Em Espanha não seria tão influente, somando um total de 17 jogos numa só temporada, e foi assim que surgiu no verão de 2017 a possibilidade de rumar a Atenas, assinando por duas épocas com o AEK; após o já referido primeiro ano de grande sucesso, voltou a começar 2018/19 como indiscutível mas o azar bateu-lhe à porta logo em Setembro: uma lesão ligamentar sofrida na visita ao terreno do OFI Creta, para a quinta ronda da Liga grega, viria a afastá-lo dos relvados praticamente até final da temporada – só voltou a jogar precisamente na última jornada, entrando aos 85 minutos numa vitória por 3-0 no reduto do Levadiakos.

Num acto absolutamente louvável, e numa fase ainda pouco adiantada da recuperação da lesão, o AEK demonstrou toda a sua confiança no defesa português e ofereceu-lhe a renovação do contrato até 2022; acabaria por ser cumprido quase na totalidade, até à mudança no início da corrente temporada para Israel. Estando quase completamente posta de parte a hipótese de chegar à selecção nacional, algo que a dada altura parecia estar muito próximo, Hélder Lopes continua aos 33 anos num patamar exibicional assinalável e não dá mostras de abrandamento num futuro próximo; resta esperar para ver se vai conseguir acrescentar mais troféus a um palmarés que ainda assim não está ao alcance de qualquer um.

Os (outros) goleadores nacionais pelo mundo em 2020/21

mont2(Lucas João, Marco Paixão, Josué, Leonardo Rocha e Flávio Paixão.)

O último fim-de-semana foi de Seleções, por isso, poucos portugueses entraram em campo pelos seus clubes. Dada essa falta de competição a nível interno, a rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo aborda, hoje, a lista de melhores marcadores lusos a atuar no estrangeiro e fora das principais ligas europeias:

Quando se fala de atletas lusos a facturar por essa Europa futebolística fora, automaticamente surgem três ou quatro nomes na mente dos adeptos nacionais: Cristiano Ronaldo, André Silva, Bruno Fernandes e eventualmente Diogo Jota ou João Félix – além dos que se têm vindo a destacar nesse registo na Liga portuguesa, como as surpresas Pedro Gonçalves ou Sérgio Oliveira mas também Pizzi, Ricardo Horta ou Paulinho. Há, contudo, mais goleadores portugueses em campeonatos menos renomados que merecem igualmente um olhar mais atento: afinal de contas, também eles vão levando o nome de Portugal mais alto pelo mundo.

Top-10
Lucas João (Reading, Inglaterra) – 21 golos/33 jogos
Marco Paixão (Altay, Turquia) – 19 golos/27 jogos
Josué (Hapoel Beer Sheva, Israel) – 11 golos/27 jogos
Leonardo Rocha (Molenbeek, Bélgica) – 10 golos/15 jogos
Flávio Paixão (Lechia Gdansk, Polónia) – 9 golos/25 jogos
Nélson Oliveira (AEK Atenas, Grécia) – 9 golos/30 jogos
Asumah Abubakar-Ankra (Kriens/Lugano, Suíça) – 9 golos/25 jogos
Bruno Gama (Aris Salonica, Grécia) – 7 golos/29 jogos
Luís Machado (NorthEast United, Índia) – 7 golos/20 jogos
Pedro Tiba (Lech Poznan, Polónia) – 6 golos/32 jogos

Assim sendo, elaborámos um top-10 dos melhores marcadores portugueses até ao momento na corrente temporada fora das cinco principais Ligas europeias e também sem contar com a portuguesa. No topo da tabela surge Lucas João, que aos 27 anos (e aparentemente finalmente livre de lesões) está a fazer a melhor temporada da carreira: 21 golos em 33 jogos, sendo 18 deles no campeonato – é por esta altura o quarto melhor marcador do Championship, o segundo escalão do futebol inglês no qual a sua equipa segue no sexto lugar, sendo um candidato declarado ao play-off de subida à Premier League. O avançado nascido em Lisboa, recorde-se, soma duas internacionalizações A por Portugal, ambas obtidas já com Fernando Santos ao leme (a 14 e 17 de Novembro de 2015, diante de Rússia e Luxemburgo), mas não mais voltou a ser chamado, fruto das épocas irregulares que foi protagonizando por Sheffield Wednesday e Reading; agora, a viver a melhor fase da carreira e às portas do que é provavelmente o melhor campeonato do mundo, volta a ser um candidato claro a um lugar na equipa de todos nós.

Logo depois aparece Marco Paixão, um dos maiores goleadores portugueses da última década – e que acabou por ser sistematicamente esquecido nas contas da selecção nacional: goleador absoluto do campeonato polaco em duas ocasiões, somou mais duas conquistas de artilharia da II Liga turca nas duas primeiras temporadas ao serviço do Altay e esta época está novamente no topo da lista dos melhores marcadores, sendo peça fulcral na candidatura da equipa de Esmirna à subida ao principal escalão. Nada mau para quem está já a caminho dos 37 anos – tal como o irmão gémeo Flávio, que igualou na temporada passada a melhor marca da carreira (20 golos na principal Liga polaca) e que este ano já soma nove, ocupando o grupo dos terceiros melhores marcadores do campeonato.

mont1(Nélson Oliveira, Abubakar-Ankrah, Bruno Gama, Luís Machado e Pedro Tiba.)

O pódio é completado por Josué, o primeiro de dois médios que constituem este top-10 (o outro é Pedro Tiba, com seis golos na Polónia): são já 11 os tentos apontados pelo antigo jogador de Paços de Ferreira e Porto ao serviço do Hapoel Beer Sheva, onde é claramente o grande destaque – aliás, o internacional português é de longe o melhor jogador do campeonato israelita. O outro internacional A por Portugal (de resto o que melhor currículo tem nesse aspecto) nesta lista é Nélson Oliveira, que na época passada se cotou como o segundo melhor marcador da Liga grega (16 golos, no que foi a melhor marca da sua carreira) e este ano soma já dez, no que é a sua segunda temporada no AEK de Atenas. Bruno Gama, que chegou a ser convocado para a selecção A mas acabou por não se estrear, também vai passeando a sua classe pelos relvados gregos: depois dos 13 golos marcados em 2019/20 pelo Aris (melhor marca da carreira), esta época contabiliza sete (segunda melhor) no actual vice-líder do campeonato helénico.

Falta falar dos três nomes mais improváveis desta tabela: Leonardo Rocha, Asumah Abubakar-Ankra e Luís Machado. O primeiro, com formação que incluiu passagens por Belenenses, Vitória de Setúbal, Boavista e Mónaco, deu nas vistas em 2018/19 ao sagrar-se melhor marcador da II Liga belga, com 19 golos pelo Lommel, e esta época está novamente a destacar-se nesse escalão depois de um ano atormentado por lesões na I Liga ao serviço do Eupen: cedido ao Molenbeek, soma já dez golos. O segundo é um nome conhecido dos amantes do futebol jovem acima de tudo pela rábula protagonizada no Europeu de sub-19 em 2016, no qual se viu obrigado a abandonar a competição (já depois de ter feito dois jogos e apontado um golo) por suspeitas de irregularidades no seu processo de naturalização, feito de forma apressada para viabilizar precisamente a participação na prova; daí para cá, o avançado nascido no Gana trocou o futebol holandês pelo suíço e estabeleceu-se como goleador no II escalão helvético ao serviço do Kriens, onde apontou 22 golos em 50 jogos – números que levaram o Lugano, candidato aos lugares europeus na Liga suíça, a avançar para a sua contratação no último mercado de inverno, tendo para já feito 13 jogos e marcado dois golos no principal escalão helvético. E o terceiro é um extremo que no início desta época resolveu emigrar pela primeira vez na carreira, trocando o Moreirense pelo NorthEast United, da Superliga indiana, onde se afirmou rapidamente como um dos grandes destaques, numa época que terminou da pior forma: o atleta luso, que nunca tinha feito sete golos numa só temporada, teve nos pés a oportunidade de colocar a sua equipa na final da prova… mas falhou uma grande penalidade já nos minutos finais da partida diante do Mohun Bagan, que assim seguiu para o jogo decisivo.

A título de curiosidade deixamos aqui também a tabela dos dez melhores marcadores portugueses da actual temporada (no somatório de todas as competições) incluindo todos os campeonatos, mas tendo em conta apenas escalões principais.

Top-10 absoluto
Cristiano Ronaldo (Juventus, Itália) – 30 golos/34 jogos
Bruno Fernandes (Manchester United, Inglaterra) – 23 golos/45 jogos
André Silva (Eintracht Frankfurt, Alemanha) – 22 golos/26 jogos
Sérgio Oliveira (Porto, Portugal) – 18 golos/38 jogos
Pedro Gonçalves (Sporting, Portugal) – 15 golos/27 jogos
Ricardo Horta (Braga, Portugal) – 13 golos/37 jogos
Pizzi (Benfica, Portugal) – 13 golos/39 jogos
Josué (Hapoel Beer Sheva, Israel) – 11 golos/27 jogos
Diogo Jota (Liverpool, Inglaterra) – 10 golos/21 jogos
João Félix (Atlético de Madrid, Espanha) – 10 golos/33 jogos
Paulinho (Braga/Sporting, Portugal) – 10 golos/28 jogos