Notts County: de regresso aos profissionais numa época digna de Hollywood

notts(A festa dos jogadores do Notts County após alcançarem a promoção à League Two.)

A edição de 2022/23 da National League, o quinto escalão do futebol inglês, ficará eternizada pelas peças documentais que certamente se irão suceder sobre a epopeia do Wrexham, emblema detido pelos actores de Hollywood Ryan Reynolds e Rob McElhenney. Mas não só: houve outra equipa a fazer uma temporada absolutamente incrível, e também ela a conseguir a subida às divisões profissionais de forma bastante… hollywoodesca.

Falamos do Notts County, fundado no longínquo ano de 1862 (um ano antes de serem criadas as próprias regras do jogo) e um dos 12 membros-fundadores do campeonato inglês, em 1888, que inspirou inclusivamente a camisola da Juventus como a conhecemos hoje – o emblema de Nottingham foi, por essa razão, o clube convidado para a inauguração do atual estádio da Vecchia Signora, em 2011. Com 30 participações no escalão principal, tendo como melhores prestações os terceiros lugares obtidos em 1890/91 e 1900/01, e uma Taça de Inglaterra conquistada em 1894, participou pela última vez na I Divisão em 91/92, precisamente na época anterior à criação da Premier League, caindo depois de forma sucessiva e progressiva até que em 2018/19 desceu pela primeira vez em 132 anos de História para o quinto escalão, o primeiro na pirâmide futebolística inglesa com estatuto “amador”.

langstaff(Autor de 42 golos em 46 jogos, Macaulay Langstaff foi um dos grandes “responsáveis” pela fantástica temporada do clube mais antigo do Mundo.)

Por lá ficou até agora, falhando a subida ao cair em 3 ocasiões consecutivas no play-off (em 2019/20 chegou mesmo à final, em Wembley, perdendo por 3-1 com o Harrogate Town). Na temporada agora finda, o Notts County protagonizou uma luta titânica com o Wrexham, batendo mesmo o recorde de pontos da prova: 107; o “problema” é que o conjunto galês fez mais 4, num registo absolutamente incrível, garantindo assim a promoção imediata à League Two, a quarta divisão inglesa – o jogo que praticamente decidiu este desfecho foi também ele de enredo hollywoodesco, com o renomado Ben Foster, de 40 anos, que saíra da reforma 3 semanas antes devido a uma onda de lesões na baliza do Wrexham, a defender uma grande penalidade ao minuto 97!, garantindo assim o triunfo dos galeses por 3-2.

Apesar da fase regular de luxo, os Magpies tiveram mesmo de disputar novamente os play-off. E foi com muito sofrimento que conseguiram chegar à final: na recepção ao Borenham Wood, sexto classificado com menos 35 pontos, o conjunto de Nottingham já perdia por 2-0 ao intervalo, desperdiçou um penalty aos 65 minutos e acabaria por alcançar o salvador 2-2 aos… 97 minutos… com o 3-2 do triunfo a chegar em cima do apito final do prolongamento.

No jogo de todas as decisões, disputado no passado sábado diante do Chesterfield, que terminou a fase regular a 23 pontos, mais uma montanha-russa de emoções. Depois de sofrer um golo de penalty logo aos 6 minutos, chegou ao empate apenas aos 88; após conceder novamente aos 93, empataria aos 108, levando a partida para a decisão por penaltys – com o técnico Luke Williams a trocar de guarda-redes no minuto 120.

nottsgk(O momento em que Archie Mair rende Sam Slocombe nos últimos instantes do prolongamento da final do play-off.)

Archie Mair, escocês de 22 anos que se encontra no emblema de Nottingham por empréstimo do Norwich, sagrar-se-ia mesmo o herói do desempate ao defender 2 pontapés, pondo fim ao calvário de 1471 dias em que o Notts County não pôde ostentar o epíteto de clube profissional mais antigo do mundo. Outra curiosidade: Cedwyn Scott, que havia desperdiçado o tal penalty ao minuto 97 diante do Wrexham, foi o homem que bateu o pontapé que colocou o histórico conjunto novamente nos escalões profissionais.

“Neste contexto, é um momento enorme na História do clube. Fechámos a porta do pior período que este clube vivenciou desde o seu início. Agora é o momento de continuar a reconstruir a imagem e a marca Notts County, e tentar levá-lo para onde deve estar. Não me sinto como se já tivesse chegado ao destino, ainda estamos a caminho. Foi apenas um ano de trabalho completado, temos muitos mais objectivos a longo prazo”, referiu o técnico Luke Williams após a obtenção da tão desejada promoção.

“O Notts County faz-te passar pelos maiores calafrios, mas nunca desiste. É a mais cruel das maneiras para o Chesterfield perder, mas é o mais alegre, mais inacreditável, mais fantástico guião que nunca poderia ser escrito. Estamos a falar de uma temporada de Hollywood, com um final de Hollywood. Foi uma época sensacional para o Notts County, que acabou por conseguir o que merecia”, realçou Mark Stallard, antigo avançado do clube, que comentava o jogo para a estação de rádio da BBC em Nottingham – a transmissão chegou a sair do ar por breves instantes devido à euforia dos festejos.

JuventusNotts(Del Piero em ação perante dois futebolistas do Notts County, durante a partida que apadrinhou a inauguração oficial do novo estádio da Juventus em 2011.)

De facto, além de tudo o que já foi relatado, falta mais um aspecto que torna tudo ainda mais dramático – e neste caso, de forma literal. Em Março, o Notts County perdeu o seu chefe-executivo, Jason Turner, vítima de morte súbita com apenas 50 anos. Turner era um elemento muito popular no clube, tendo a sua imagem estado presente em bandeiras no Estádio de Wembley e também nos festejos, colocada pelo capitão Kyle Cameron. Os próprios donos do Wrexham demonstraram a sua alegria pela promoção do Notts County, não esquecendo igualmente Jason Turner. “Parabéns, Notts County! Que jogo, que época, que coração. Vemo-nos na EFL (English Football League). E muito amor para a família, os amigos e todos os que gostavam do Jason Turner, que partiu cedo demais”, escreveu Ryan Reynolds na sua conta do Twitter.

Aquando da confirmação da subida do Wrexham, de resto, o renomado actor de Hollywood já tinha deixado bem claro o seu apoio ao grande adversário da temporada. “Toda esta história, a razão pela qual ficámos agarrados às nossas cadeiras até ao fim foi porque o Notts County foi igualmente bom. Eles merecem subir. Estamos a torcer por eles, queremos vê-los na League Two e enfrentá-los no próximo ano. Eles são incríveis, são a verdadeira história aqui. O que fizeram esta época… Tenho muito respeito por tudo o que construíram e fizeram. Para mim, é uma loucura que nesta liga só suba uma equipa automaticamente. Se fosse diferente (e penso que deveria ser), ambos os clubes estariam hoje a celebrar. Porque o que eles fizeram é… não só crearam drama como nada do que alguma vez se vai ver num filme, mas é algo que as pessoas irão falar para sempre. O que eles fizeram é tão especial e único”, referiu então Ryan Reynolds.

National League - Wrexham v Notts County(No grande jogo da National League 22/23, o conhecidíssimo Ben Foster defendeu uma grande penalidade aos 90’+7, que não só impediu o Notts County de fazer o 3-3, como praticamente garantiu a subida direta do Wrexham.)

Além da questão desportiva (leia-se, a permanância na League Two ou mesmo o ataque à subida à League One), o grande desafio que se põe agora aos irmãos dinamarqueses Alexander e Christoffer Reedtz, que pegaram no clube após a queda à National League, é conseguir segurar as grandes figuras da campanha vitoriosa. Com particular destaque para Macaulay Langstaff, autor de incríveis 42 golos em 46 jogos: contratado na época passada ao Gateshead a troco de modestas 50 mil libras, o goleador de 26 anos (ligado por mais 2 temporadas aos Magpies) nunca jogou nas ligas profissionais, o que já lhe rendeu comparações com Jamie Vardy, e já começa a ser falado para outros patamares.

“No último verão, o Notts County apostou em mim. Pagou dinheiro por mim, mostraram interesse e deram-me a plataforma para eu poder fazer o que fiz. Eu genuinamente amo este clube e estou muito entusiasmado para ver até onde pode ir. Têm sido incríveis comigo. Há poucos anos estava a jogar no 11º escalão. Se alguma vez pensei que ia jogar futebol a tempo inteiro? Não. Se pensei que ia ser um jogador profissional? Absolutamente não. Não consigo pôr por palavras o que significa chegar lá”, afirmou Langstaff após a subida. O próprio treinador assumiu que não será fácil manter o goleador. “Podemos afastar interessados que não lhe ofereçam um contrato de mudar a vida, com melhorias drásticas. Conseguimos sobreviver a essas ofertas. Mas se for uma oferta que lhe mude a vida… Vamos ter de esperar para ver o que acontece”, confessou Luke Williams.

rubenrodrigues(A cumprir a terceira temporada consecutiva no Notts County, Rúben Rodrigues contribuiu decisivamente para a subida ao quarto escalão.)

Como em (quase) todas as grandes histórias no futebol actual, houve um português presente nesta epopeia. Rúben Rodrigues, extremo nascido há 26 anos em Oliveira de Azeméis mas com percurso como futebolista feito exclusivamente no futebol dos Países Baixos até ao verão de 2020, mudou-se então para o Notts County, tornando-se o primeiro futebolista lusitano na História do clube. Aos 13 golos em 2020/21 (época em que foi eleito o Futebolista do Ano do clube), somou 22 em 2021/22 (melhor marca da carreira), registando mais 19 tentos (e 16 assistências) na caminhada vitoriosa da actual temporada – ainda que quase tivesse ficado marcado pela negativa, pois foi ele a falhar o tal penalty frente ao Borenham Wood. Agora, terá a oportunidade de voltar a actuar numa liga profissional, depois das temporadas no segundo escalão neerlandês pelo Den Bosch – mas convenhamos: terá certamente outro sabor fazê-lo no futebol inglês e ao serviço do clube profissional mais antigo do mundo.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Grimsby: a surpresa que chega da quarta divisão

grimsby(A festa de alguns jogadores do Grimsby após eliminarem o Southampton da Taça.)

Atual 16º classificado da League Two, quarto escalão inglês, o Grimsby Town apurou-se ontem, de forma surpreendente, para os Quartos-de-Final da Taça de Inglaterra, cometendo a proeza de ganhar em casa do Southampton, “lanterna vermelha” da Premier League, por 2-1.
Com três divisões – e muitos milhões – a separarem as duas equipas, os “mariners” não se amedrontaram no St. Mary’s Stadium: com dois penaltis convertidos pelo irlandês Gavan Holohan (45’+1 e 50′), a vantagem chegou a ser de dois golos já no segundo tempo, cabendo ao croata Caleta-Car (65′) reduzir a diferença no marcador e estabelecer o resultado final.
Apesar da forte pressão exercida pelo Southampton até ao fim, os comandados de Paul Hurst conseguiram mesmo obter um triunfo absolutamente épico e acrescentaram mais uma belíssima página à história de um clube que há 84 anos não chegava tão longe na FA Cup – em 1939 atingiu as Meias-Finais, registo já obtido em 1936.
De regresso esta temporada à League Two após um ano de ausência, os “mariners” cedo começaram a “causar sensação” na Taça e todos os cinco adversários que eliminaram são de escalões superiores: Plymouth (5-1), Cambridge United (2-1) e Burton Albion (1-0) estão na League One; o Luton (2-2 fora e 3-0 em casa) disputa o Championship; e o Southampton, como já foi dito, ocupa, neste momento, a última posição da Premier League.
Fundado em 1878, o Grimsby Town viveu os seus tempos áureos nas décadas de 30 e 40, conseguindo estar durante várias épocas na I Divisão, mas nos últimos anos tem oscilado entre a League Two, último escalão profissional, e a National League, competição que disputou em 21/22, alcançando a promoção no play-off – eliminou os históricos Notts County e Wrexham e derrotou na final o Solihull Moors.
Com a permanência na League Two bem encaminhada, o Grimsby foca-se agora na Taça, e no próximo dia 18 de Março disputará os Quartos-de-Final em casa de outro primodivisionário, Brighton & Hove, sendo certo que, independentemente do resultado, já ninguém lhe tira o estatuto de grande surpresa da FA Cup 22/23.

Newcastle – Liverpool: dá para repetir 1996?

Liverpool4-3Newcastle1996(Les Ferdinand e Stan Collymore disputam a bola durante o Liverpool 4-3 Newcastle de 1996.)

A Jornada 24 da Premier League tem, como quase sempre, vários jogos em destaque: entre amanhã e domingo, vão haver “clássicos” como Aston Villa – Arsenal, Everton – Leeds ou Manchester United – Leicester; e um sempre apetecível derby londrino que colocará frente a frente Tottenham e West Ham.
Mas há mais: o grande jogo, a meu ver, acontecerá este sábado entre Newcastle e Liverpool, no St. James Park, numa altura em que os “magpies” estão à frente dos “reds” na tabela: a turma orientada por Eddie Howe ocupa o 4º lugar com 41 pontos, enquanto que os comandados de Jürgen Klopp estão na 9ª posição com 32.
Ora, é precisamente um confronto entre estas duas equipas que vamos recordar neste artigo: a 3 de Abril de 1996, a contar para a 33ª ronda do principal campeonato inglês, Liverpool e Newcastle deram um autêntico espetáculo em Anfield Road, com o resultado a permanecer incerto até final e a terminar em 4-3 favorável à equipa da casa.
Na altura, tal como hoje, era o Newcastle quem partia em vantagem: os “magpies” lideravam a prova com mais um ponto do que o Manchester United, segundo classificado, e o Liverpool fechava o pódio a oito pontos do primeiro lugar.
Os primeiros minutos deixaram antever o que ia acontecer: aos 15′, já o Newcastle vencia por 2-1 e com direito a reviravolta. Robbie Fowler inaugurou o marcador aos 2′; Les Ferdinand empatou aos 10′; e volvidos apenas quatro minutos, David Ginola fez o segundo tento do então líder da Premier League.
Até ao intervalo não se registaram golos, mas o início da segunda parte trouxe mais golos em catadupa: Fowler bisou na partida aos 55′; Faustino Asprilla, dois minutos depois, fez o 2-3; e aos 68′, Stan Collymore assinou o empate a três golos. Um jogo destes só poderia ter um final épico e assim foi: em cima do minuto 90′, Collymore, à semelhança do colega de ataque, fez o segundo golo na partida e deu a vitória à sua equipa.
No final da época, o Newcastle terminaria na segunda posição a quatro pontos do Campeão, Man. United, depois de ter virado o campeonato com dez pontos de avanço para os “red devils”; enquanto que o Liverpool acabou mesmo no último lugar do pódio a sete pontos dos “magpies”.
Amanhã prevê-se igualmente um excelente espetáculo de futebol, e a pergunta que se coloca é: dá para repetir 1996?

Cartão de memória: Brian Deane

briandeane(Brian Deane teve uma passagem rápida pelo Benfica mas deixou boas impressões.)

Brian Deane foi um dos vários britânicos que reforçaram o Benfica no final da década de 90 e foi, porventura, o que mais “brilhou” de todos eles: em pouco menos de um ano ao serviço dos “encarnados”, o avançado fez oito golos e seis assitências em vinte e quatro jogos, não tendo conquistado qualquer título.
Contratado por indicação de Graeme Souness, o possante jogador inglês chegou à Luz em Janeiro de 1998, proveniente do Sheffield United, e destacou-se logo na sua estreia oficial: titular na deslocação ao terreno do Campomaiorense, a contar para a Jornada 18 da Liga, assistiu Erwin Sánchez para o golo inaugural da partida que terminou com vitória lisboeta (2-1).
O primeiro golo surgiu ao quarto jogo, num triunfo em casa da Académica (2-1), e, até ao final da temporada, apontou mais seis tentos no campeonato, assumindo-se como a grande figura encarnada nas vitórias concludentes sobre os rivais Sporting e FC Porto: autor de um golo e uma assistência tanto no derby como no clássico, o atacante contribuiu decisivamente para os triunfos expressivos sobre “leões” (4-1 em Alvalade) e “dragões” (3-0 na Luz).
Segundo classificado atrás do FC Porto, que se sagrou Tetra Campeão, o Benfica consegue segurar as suas principais “armas” para a época seguinte – além de Brian Deane, existiam, por exemplo, João Pinto, Nuno Gomes ou Poborsky -, mas já com 98/99 em andamento, mais concretamente em Outubro, Vale e Azevedo aceita uma proposta do Middlesbrough e vende o inglês por uma verba superior a quatro milhões de euros.
Antes de ir embora, Deane ainda alinha em sete partidas entre Campeonato e Liga dos Campeões, e aponta o segundo de seis golos com que o Benfica goleou, em casa, o Beitar de Jerusalém (6-0) na primeira mão da segunda pré-eliminatória de acesso à “prova milionária”, terminando a sua experiência no nosso País de forma precoce e relativamente surpreendente.
Nascido em Leeds a 7 de Fevereiro de 1968, Brian Deane, que hoje celebra 55 anos, fez uma carreira de bom nível em Inglaterra, tendo representado vários clubes tradicionais (Sheffield United, Leeds, Middlesbrough, Leicester, West Ham e Sunderland), ele que está na história por ter sido o autor do primeiro golo de sempre da Premier League, proeza cometida ao serviço do Sheffield em 1992 – foi também 3 vezes internacional A inglês.

Harry Kane: um golo que fez história a dobrar

kane(Harry Kane chegou aos 200 golos na Premier League e passou a ser o melhor marcador da história do Tottenham.)

A receção do Tottenham ao Manchester City ontem à tarde, a contar para a 22ª Jornada da Premier League, trouxe duas marcas históricas para Harry Kane: autor do único golo com que a sua equipa bateu os “citizens” (1-0), o ponta de lança chegou aos 200 golos no principal campeonato inglês e, ao mesmo tempo, tornou-se no melhor marcador da história dos “spurs” com 267 tentos.
Com dezassete golos em vinte e dois jogos na edição atual da Premier League, o jogador natural de Walthamstow, arredores de Londres, pode até esta temporada chegar ao segundo lugar da lista de goleadores da história da Premier League: Alan Shearer, o líder, ainda está longe com 260 golos; mas o vice-líder, Wayne Rooney, ficou-se pelos 208 tentos, registo que está perfeitamente ao alcance do londrino até ao final de 22/23.
A cumprir a décima primeira temporada na Premier League, Harry Kane “precisou” de 304 jogos para atingir esse “número redondo” de golos na competição: a estreia a marcar aconteceu na época 13/14, num jogo em que o Tottenham goleou o Sunderland (5-1), e a partir daí foi “sempre a somar”, com o avançado a atingir o seu máximo, até ao momento, em 17/18, com 30 golos em 37 jogos – todos os 200 golos foram pelo Tottenham, pese embora tenha tido uma curta passagem pelo Norwich, em que participou apenas em três partidas durante 12/13.
Ora, mais importante do que chegar aos 200 golos numa prova, é ser o artilheiro máximo da história de um emblema: empatado até este domingo com Jimmy Greaves, que representou os “spurs” entre 1961 e 1970, Harry Kane superou o compatriota e, a partir de agora, tem tudo para reforçar a sua posição – apesar de terem surgido dúvidas na imprensa inglesa sobre o número de tentos de Greaves (há quem diga que são 268), o próprio Tottenham já “oficializou”, nas redes sociais, o seu novo melhor marcador de sempre.
Com contrato até 2024, Harry Kane, de 29 anos, tem sido, ano após ano, associado a uma eventual transferência para um dos denominados “tubarões europeus”, mas, por enquanto, vai-se mantendo a fazer golos e a quebrar recordes ao serviço de um dos mais populares clubes ingleses.

Chelsea: em português dez anos depois

felix(João Félix é o mais recente reforço do Chelsea.)

É oficial: João Félix será o décimo segundo jogador português a vestir a camisola do Chelsea, sucedendo na lista a Raúl Meireles, que teve uma passagem curta mas muito feliz pelos londrinos, já que se sagrou Campeão Europeu na temporada 11/12.
Num negócio com moldes algo surpreendentes, o avançado custa onze milhões de euros aos “blues” por um empréstimo apenas e só até ao final da atual época e sem opção de compra, sendo que o emblema inglês suportará ainda todos os custos salariais do internacional luso, que antes de sair renovou por mais um ano com o Atlético de Madrid – fica agora ligado aos colchoneros até 2027.
A representação portuguesa no Chelsea começou em Setembro de 2002: ainda com idade de júnior, Filipe Oliveira, que um ano antes tinha trocado o azul do FC Porto pelo azul dos londrinos, foi lançado por Claudio Ranieri diante dos norugueses do Viking na primeira mão da primeira eliminatória da Taça UEFA (2-1), tornando-se assim no primeiro português a jogar pela equipa principal do clube.
Dois anos depois, e já com a “armada lusa” liderada por José Mourinho ao serviço do emblema de Stamford Bridge, quatro “tugas” jogaram oficialmente pelos “blues”: Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho estrearam-se na jornada inaugural da Premier League 04/05 contra o Manchester United (1-0); Tiago foi lançado ao intervalo da 2ª ronda com o Birmingham (1-0); e Nuno Morais alinhou os 90 minutos na 3ª Eliminatória da Taça de Inglaterra diante do Scunthorpe (3-1).
Foi ainda sob o comando de Mourinho que mais dois portugueses chegaram ao Chelsea: em Janeiro de 2006, por empréstimo do Dinamo de Moscovo, Maniche reforçou os azuis, tendo-se estreado numa receção ao Charlton válida para o Campeonato (1-1); e no Verão desse ano, de forma surpreendente, o guarda-redes Hilário mudou-se do Nacional para Londres e teve direito a uma estreia “de sonho”: face às ausências por lesão de Cech e Cudicini, que se magoaram no mesmo jogo diante do Reading, o guardião luso teve de ser a aposta do “Special One” para o jogo com o Barcelona em plena Liga dos Campeões, que terminaria com vitória inglesa sobre os então detentores do troféu (1-0).
Já com Scolari no banco, os “blues” avançaram para as contratações de Deco e Bosingwa no defeso de 2008, com os internacionais lusos a estrearem-se oficialmente na mesma partida, que acabou com goleada sobre o Portsmouth na abertura da Premier League (4-0 com o último golo a ser do médio ofensivo); e nessa mesma época mas no “mercado de inverno”, curiosamente por empréstimo consentido de Mourinho, Quaresma chegou ao Chelsea proveniente do Inter e foi logo a titular perante o Hull no campeonato (0-0).
Por fim, Raúl Meireles: igualmente por influência de um treinador português, neste caso, André Villas-Boas, o médio portuense foi comprado ao Liverpool já com a época 11/12 em andamento, estreou-se a titular em casa do Sunderland para a Premier League com uma assistência, e, como já foi referido, sagrou-se Campeão da Europa no final dessa temporada, tendo, como se sabe, apontado um golo ao Benfica nos Quartos-de-Final.
Agora, mais de dez anos depois, o Chelsea voltará a ser representado por um português dentro de campo.

Roberto Martínez: o espanhol que se formou no Reino Unido

robertomartinez(Roberto Martínez foi esta manhã apresentado pela Federação Portuguesa de Futebol.)

Está desfeito o mistério: Roberto Martínez, espanhol de 49 anos que orientou a Bélgica entre 2016 e 2022, é o substituto de Fernando Santos no comando da Seleção Nacional, tendo sido oficialmente apresentado esta manhã na Cidade do Futebol.
“Carrasco” de Portugal no Euro 2020 (ganhou 0-1 nos Oitavos-de-Final), Martínez destacou-se, principalmente, pelo terceiro lugar obtido no Mundial 2018, contudo, depois disso, os belgas não conseguiram dar seguimento a essa façanha e no último Campeonato do Mundo ficaram pelo caminho na fase de grupos, desempenho que precipitou a saída do técnico.
Mas quem é, afinal, o novo Selecionador português? Nascido em Balaguer a 13 de Julho de 1973, Roberto Martínez fez uma bonita carreira enquanto jogador, trajeto que iniciou ao serviço do clube da sua terra e ao qual deu continuidade no Saragoça, onde além de completar a formação, também fez a transição para o futebol sénior, representando a equipa B dos aragoneses até regressar ao CF Balaguer na temporada 94/95.
Após essa época no emblema onde tudo começou, o médio defensivo aceitou o convite do Wigan e rumou ao terceiro escalão inglês longe de imaginar que tinha acabado de tomar a decisão que lhe iria mudar a vida para sempre: após seis anos nos “latics”, rumou aos escoceses do Motherwell; regressou a Inglaterra para representar o Walsall (onde foi companheiro do português Jorge Leitão); posteriormente cumpriu três épocas no Swansea; e encerrou a carreira nos ingleses do Chester em Fevereiro de 2007.
Então com 33 anos, o espanhol, que se encontrava a jogar na League Two, quarta divisão, recebeu o convite para orientar o Swansea na League One e de pronto aceitou, conseguindo a subida logo na temporada seguinte, 07/08, e afirmando-se em definitivo durante 08/09, quando guiou os galeses à oitava posição no Championship, a apenas seis pontos dos lugares de play-off.
O desempenho nos “swans”, valeu-lhe a desejada mudança para a Premier League, onde cumpriu quatro temporadas consecutivas no Wigan e fez história ao conquistar a única Taça de Inglaterra da história do clube numa época em que até acabou por descer de divisão, 12/13, mudando-se de seguida para o Everton, onde esteve durante três anos até rumar à Bélgica.
Agora, este espanhol que desportivamente se formou quase na totalidade no Reino Unido, tem a missão de guiar Portugal e o objetivo passa, obviamente, por conseguir aquilo que não fez com a Bélgica: ganhar troféus.

Mourinho e o “Boxing Day”: uma relação muito… Special

mourinho(José Mourinho nunca perdeu no “Boxing Day”.)

É sabido que José Mourinho tem em Inglaterra o seu “habitat-natural” e não é, por isso, de estranhar que o técnico português nunca tenha perdido no “Boxing Day”, tradição que iniciou em 2004, quando ao serviço do Chelsea derrotou o Aston Villa, por 1-0, e iniciou assim uma história de sucesso naquela que é a altura mais famosa do futebol inglês.
No total, entre Chelsea, Manchester United e Tottenham, o “Special One” viveu diretamente as emoções do “Boxing Day” por nove vezes, e só por uma ocasião não jogou a 26 de Dezembro: em 2020, quando orientava os “spurs”, o duelo 100% luso com Nuno Espírito Santo, então o treinador do Wolverhampton e seu ex-jogador, realizou-se no dia 27.
Com seis vitórias e três empates em nove jogos, “Mou” ganhou quatro partidas pelo Chelsea, uma pelo Manchester United e outra pelo Tottenham; e registou um empate ao serviço de cada clube que comandou em Inglaterra, sendo que nunca repetiu adversários e nunca teve um jogador seu que marcasse em mais do que um “Boxing Day” – e havia jogado sempre em casa até ao tal encontro com Nuno há dois anos.
No Chelsea, venceu o Aston Villa em 2004 (1-0, Damien Duff), o Fulham em 2005 (3-2, Gallas, Lampard e Crespo), o Swansea em 2013 (1-0, Hazard) e o West Ham em 2014 (2-0, Terry e Diego Costa); e empatou diante do Reading em 2006 (bis de Didier Drogba).
Ao serviço do Manchester United, derrotou o Sunderland em 2016 (3-1, Blind, Ibrahimovic e Mikhitaryan) e empatou com o Burnley em 2017, depois de sair para o intervalo com uma desvantagem de dois golos (2-2, bis de Lingard).
E finalmente, pelo Tottenham, virou o resultado diante do Brighton & Hove em 2019, triunfando por 2-1 com golos de Harry Kane e Dele Ali, depois de ter ido para o descanso a perder; e no ano seguinte, no Molineux Stadium, empatou a uma bola diante do Wolves, num jogo em que a sua equipa marcou logo nos primeiros segundos por Ndombélé e viria a sofrer já perto do fim (86′).
Posto isto, é caso para dizer que a relação entre José Mourinho e o famigerado “Boxing Day” é uma relação muito… Special. One.

Boxing Day: dez anos do emocionante Man. United – Newcastle

ManUnitedNewcastle2012(Evans, no chão, conseguiu evitar que Demba Ba (nr. 9) desviasse a bola, mas acabou ele próprio por fazer o auto-golo que deu o 1-2 ao Newcastle.)

Se pensarmos em Natal e futebol ao mesmo tempo, é praticamente certo que nos vamos lembrar do tão famoso e tradicional “Boxing Day”, aquela altura em que os Campeonatos de Inglaterra não param e todos os escalões profissionais vão a jogo – este ano, serão retomados amanhã em virtude do Mundial ter forçado a alteração do calendário.
Ora, como toda a gente sabe, a Premier League é um espetáculo à parte dentro do próprio espetáculo que é o futebol, e, por isso mesmo, já registou vários jogos de grande qualidade e emoção no dia 26 de Dezembro: em 1963, o Fulham “presenteou” o Ipswich com um resultado de 10-1!; em 1992, Sheffield e Manchester United empataram a três; em 2002, o Bolton ganhou ao Newcastle por 4-3; cinco anos depois, 2007, Chelsea e Aston Villa marcaram quatro golos cada; e em 2012, o Man. United ganhou ao Newcastle por 4-3.
E é precisamente este último jogo que vamos agora recordar: quase quase a completar dez anos, o embate entre “red devils” e “magpies” jogado em Old Trafford no “Boxing Day” de 2012, teve de tudo: futebol de qualidade, muitos golos, resultado incerto, emoção até final e uma reviravolta que se adivinhava que iria acontecer, mas que poderia perfeitamente não ter surgido.
Num jogo que seria absolutamente incrível, ainda nem cinco minutos estavam jogados e o Newcastle já estava na frente com um golo de James Perch. Cerca de vinte minutos depois, o United tão depressa chegou ao empate como voltou a estar em desvantagem e um nome se destacou em relação aos restantes: Jonny Evans. O central da equipa da casa assinou o 1-1 aos 25′, mas pouco depois, aos 28′, desviou para a própria baliza um remate de Simpson e os forasteiros voltaram para a frente do marcador.
Mais golos, só no segundo tempo e com muita frequência: três em treze minutos! Evra, com um remate de fora da área, restabeleceu nova igualdade (58′); Papiss Cissé aproveitou da melhor maneira uma jogada individual de Obertan para fazer o 2-3 aos 68′; e três minutos depois, num duelo 100% neerlandês, Van Persie levou a melhor sobre Tim Krul à segunda tentativa, fixando o resultado em 3-3.
Ainda com muito tempo para se jogar, o United carregou em busca da reviravolta que lhe daria, eventualmente, o triunfo, viu o adversário enviar uma bola ao poste por intermédio de Shola Ameobi, mas respirou de alívio já ao minuto 90, quando Chicharito, que pouco antes havia desperdiçado duas boas ocasiões para marcar, assinou o 4-3 final.
Uma partida verdadeiramente espetacular, digna de figurar nos melhores momentos do “Boxing Day” e, consequentemente, na história da Premier League.

Van der Sar: o maior elo de ligação entre Fulham e Man. United

314990864_1145695239403814_3463459520847017536_n(Van der Sar passou dez temporadas em Inglaterra ao serviço de Fulham e Manchester United.)

A última jornada da Premier League antes do Mundial ficou esta tarde concluída com um jogo no qual se falou português dos dois lados: o Fulham, de Marco Silva e João Palhinha, recebeu o Manchester United, de Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e Diogo Dalot, e a vitória sorriu aos “red devils”, que venceram por 2-1.
Adversários há mais de cem anos, os dois clubes somam agora oitenta e quatro partidas entre si, sendo que a maioria deles, naturalmente, foi a contar para o principal escalão: cinquenta e cinco foram ao mais alto nível, mas, curiosamente, já houve dezoito embates no atual Championship, que é a II Divisão, e mais onze na Taça de Inglaterra.
Contudo, apesar do historial ser longo e antigo, as transferências de jogadores entre estes emblemas nem é muito comum, já que apenas doze jogadores trocaram diretamente um clube pelo outro e o “saldo” é favorável ao United: nomes como Chris Smalling, Edwin Van der Sar ou Louis Saha rumaram, em determinada altura, a Old Trafford, e em sentido inverso, o maior destaque vai para Dimitar Berbatov e Andreas Pereira – este último mudou-se para Craven Cottage na presente temporada.
Embora as hostilidades tenham sido abertas pelo francês Saha em Janeiro de 2004, com os “red devils” a pagarem mais de dezassete milhões pelo avançado que já tinha quinze golos em meia época, o grande elo de ligação entre Fulham e United chama-se Edwin Van der Sar: no Verão de 2005, à beira de completar 35 anos, o holandês reforçou o emblema de Manchester a troco de quatro milhões, numa contratação que se viria a revelar mais do que acertada.
Depois de brilhar no Ajax e na Juventus, o “gigante” guarda-redes mudou-se, de forma surpreendente, para o Fulham em 2001, e realizou quatro temporadas de grande nível ao serviço dos londrinos – 154 jogos -, demonstrando ano após ano que continuava a ser, indiscutivelmente, um dos melhores do Mundo na sua posição, razão pela qual Alex Ferguson decidiu contratá-lo e, claro, “dar-lhe” a titularidade.
Sem surpresa, Van der Sar chegou a Old Trafford e de imediato se tornou “dono” da baliza do MU, por quem disputou 266 jogos ao longo de seis épocas, assumindo-se como uma das figuras da equipa que venceu a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes em 2008, isto para além de ter contribuído para a conquista de quatro Campeonatos, duas Taças da Liga e três Supertaças.
Um legado difícil de atingir e superar.