(Em 6 épocas no Benfica, Pacheco venceu 2 Campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça, apontando 48 golos em 220 jogos.)
Fulminante, inesperado, rápido e imprevisível. Assim foi Pacheco enquanto jogador; assim foi a decisão que marcou irremediavelmente a sua carreira; e assim foi o seu adeus ao mundo dos vivos, aos 57 anos, na sequência de uma paragem cardíaca que o deixaria em morte cerebral até à confirmação oficial, por parte da família, do falecimento na passada quarta-feira.
Pacheco fez 213 jogos, abrilhantados com 32 golos e muitas assistências, no escalão principal do futebol português. Disputou duas finais da Taça dos Campeões Europeus, conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e uma Supertaça e foi ainda internacional A por Portugal (o primeiro natural de Portimão a fazê-lo) em 6 ocasiões.
(Na época 86/87, o extremo chegou à I Divisão “pela mão” do Portimonense.)
Registos assinaláveis, sem sombra de dúvida. Mas nada que se possa escrever sobre o antigo extremo dirá mais aos adeptos de futebol nacional do que a mudança, oficializada a 1 de Julho de 1993, do Benfica para o Sporting, ao lado de Paulo Sousa e de um Sousa Cintra radiante pela bicada dada ao maior rival. Para trás ficavam 6 épocas de águia ao peito, numa ligação terminada por vontade do próprio jogador, descontente com a sua situação no clube – os salários em atraso que motivaram a rescisão por justa causa foram apenas o pretexto legal para a oficialização da troca de lado na Segunda Circular.
Para a generalidade dos adeptos dos encarnados, Pacheco (e Paulo Sousa, obviamente) tornou-se persona non grata, e esse “estatuto” permaneceu praticamente inalterado até agora – isto, apesar do “perdão oficial” do clube através de um anúncio promovido no seu canal de televisão em 2018, no qual Pacheco é abraçado por vários antigos colegas do período em que representou o Benfica e onde se pode ler a mensagem “Que nenhuma família se volte a separar por dinheiro”.
(Internacional jovem nos escalões de Sub-16, Sub-18 e Sub-21, o algarvio alinhou ainda numa ocasião pela Seleção Olímpica e 6 vezes pela nossa principal Seleção – 4 golos em 25 jogos no total.)
“Tinha a consciência de que seria uma mudança polémica, mas enquanto profissionais deixamos a parte da paixão um pouco de lado. Apesar da minha decisão, senti-me sempre benfiquista, sou sócio há 31 anos, mantive-me sempre como sócio. Os meus filhos são sócios desde que nasceram. Não tenho como intenção abrir portas para voltar ao Benfica, não sinto necessidade de voltar porque já sou do Benfica, não quero tachos. Não me foi proposto pelo clube qualquer tipo de pagamento por este maravilhoso anúncio, apenas me pediram as despesas e eu recusei, o Benfica não tem de me pagar nada, vim porque gosto. Fiz esta campanha para fazer as pazes comigo próprio. Só pelas pessoas que participaram já viria, são colegas meus com quem passei mais horas do que com elementos da minha família”, referiu na altura Pacheco ao canal de televisão do clube.
Formado essencialmente no Torralta, extinto emblema algarvio que marcou o panorama da formação em Portugal na década de 80, Pacheco fez a primeira temporada na I Liga pelo Portimonense, em 1986/87, sob o comando do também já falecido Vítor Oliveira. Uma época bastou para dar o salto para o Benfica, onde seria vice-campeão europeu logo nesse ano, repetindo o feito em 1989/90. Pelas Águias sagrar-se-ia duas vezes campeão nacional (88/89 e 90/91), conquistando ainda uma Taça (92/93) e uma Supertaça (89/90).
(No Verão de 1993, Pacheco trocou o Benfica pelo Sporting, mas a sua passagem pelos “leões” não foi muito feliz apesar de ter conquistado uma Taça de Portugal – 35 jogos/3 golos em duas épocas.)
A segunda Taça do seu palmarés foi (pouco) festejada, em 94/95, já na segunda época no Sporting, onde fez apenas 3 jogos, devido a divergências com o treinador Carlos Queiroz que já vinham de longe e que se arrastaram por ano e meio. No verão de 1995, precisamente 2 anos depois do outro, bem mais “quente”, Pacheco rescindiu com os leões e ficou alguns meses sem clube, não tendo podido ser inscrito por Aston Villa e Nottingham Forest, onde jogou pelos reservas, devido às restritas regras de contratação de estrangeiros na Premier League na altura, passando os últimos meses da temporada no Belenenses, em mais uma experiência para esquecer – numa entrevista ao Expresso, em 2020, confessou não ter recebido um único ordenado nos azuis do Restelo, aludindo ainda a práticas menos próprias nas quais rejeitou alinhar, o que lhe terá prejudicado em relação às opções do treinador João Alves.
Teria na temporada seguinte a primeira (e única) experiência da carreira no estrangeiro em termos oficiais, assinando com os italianos da Reggiana. A descida de divisão, porém, levou-o a sair no fim de 96/97, passando depois uma temporada inteira sem jogar, até que no verão de 1998, já com quase 32 anos, aceitou o convite de Manuel Fernandes para rumar ao Santa Clara, recém-promovido à II Liga.
(Foi no GD Torralta que o esquerdino iniciou o seu trajeto como federado, estreando-se como sénior pelo mesmo emblema na antiga II Divisão.)
As dificuldades físicas inerentes ao período de inactividade e um desentendimento com o treinador, todavia, levaram-no a rescindir o contrato e descer um patamar, rumando ao Atlético, na então denominada II Divisão B, a pedido do antigo colega António Veloso. No mesmo escalão, representou em 99/00 o Estoril, onde também foi orientado por um antigo colega (no caso, Rui Águas), e na época seguinte regressou ao histórico da Tapadinha com a promessa de ali iniciar a carreira de treinador após pendurar as botas – o que aconteceu ainda a meio da temporada, com 34 anos.
Curiosamente, estrear-se-ia como técnico em… Portimão, para onde voltou em 2003, assumindo o cargo de adjunto de Dito no clube da sua cidade. No decorrer dessa época, passou para treinador principal e aí se manteve para 2004/05, apesar da descida ao terceiro escalão (que seria revertida devido à queda do Salgueiros na secretaria), sendo substituído pelo antigo colega Diamantino Miranda a 5 jogos do fim da temporada, ainda que recebendo elogios do presidente João Sintra, que lhe augurava mesmo um grande futuro: “Reúne todas as condições para se afirmar como um grande técnico, pois possui um potencial enorme”.
(Na temporada 96/97, o extremo viveu a sua única experiência em termos oficiais fora de Portugal, alinhando pelos italianos da Reggiana na Série A – 1 golo em 15 partidas.)
As previsões do então líder máximo do Portimonense, porém, não se viriam a concretizar. Pacheco não mais voltou a trabalhar no futebol, tendo-se dedicado às alegrias da paternidade e ao bar-restaurante que mantinha até agora em Lagos. Nunca escondeu o benfiquismo (apesar de em criança ser adepto do Sporting, puxado pelo pai) nem tão pouco a mágoa pela forma como a generalidade dos adeptos dos encarnados nunca conseguiu perdoar a opção que tomou no verão de 1993 o algarvio rápido, fulgurante e de pé esquerdo desconcertante que, de uma maneira ou de outra, ficará para sempre marcado na História do futebol português.
*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.