Carlos Fortes: “Voltei a ser o Fortes de antigamente”

carlosfortes(Carlos Fortes está a iniciar a nova temporada em grande estilo.)

4 jogos, 4 golos para Carlos Fortes em 23/24: a cumprir a segunda época consecutiva ao serviço dos indonésios do PSIS, o ponta de lança natural de Lisboa está a ter um excelente arranque de temporada, à semelhança do que havia feito há um ano.
Com formação dividida por Sacavenense, Alta de Lisboa, CAC e Nacional, o futebolista luso, atualmente com 28 anos, tem feito grande parte da carreira fora do nosso País, tendo já passado por Espanha (Racing Santander), Turquia (Sanliurfaspor), Roménia (Gaz Metan e Universitatea Craiova) e Marrocos (Ittihad Tanger) além da Indonésia, onde chegou em 2021 para representar o Arema.
Antigo internacional português no escalão Sub-20, Carlos Fortes, que atuou duas temporadas no Sp. Braga B e até se estreou pela equipa principal, confessa nesta entrevista estar de regresso à melhor forma após uma época marcada por lesões e assume o objetivo de conquistar o primeiro troféu da carreira na Ásia:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Como explicas este arranque: quatro jogos, quatro golos…
Carlos Fortes: Fiz a preparação normal. O ano passado também arranquei muito bem na Taça do Presidente, fiz cinco golos até à primeira mão da meia-final. Aí tive o azar de me lesionar e nunca mais me reencontrei durante a época. Este ano, se tudo correr bem e sem lesões, acredito que volte a fazer uma grande época.

Consideras que estavas a dever também aos adeptos do PSIS estes desempenhos, depois da época menos conseguida o ano passado?
Sim, até porque criei muitas expectativas. Tinha feito uma época muito boa ao serviço do Arema [20 golos em 31 jogos], fui contratado e cheguei muito bem, a voar! Depois lesionei-me e quando voltei foi uma quebra muito grande, fiquei sem um dos tendões na perna. Este ano parece que voltei a ser o Fortes de antigamente.

Que meta propões para esta temporada em termos de golos?
Eu sou um jogador colectivo, gosto é de ajudar a equipa. Claro que temos sempre ambições de fazer muitos golos, ainda por cima sendo avançado. Se a metade da época estiver na luta para ser um dos melhores marcadores, fazendo o meu trabalho e ajudando a equipa, isso é o mais importante.

fortesbraga(Em duas temporadas ao serviço do Braga B, Fortes apontou 15 golos.)

Já tens a experiência de estar nessa luta, visto que foste o segundo melhor marcador em 2020/21…
Este ano vai haver muita gente a fazer golos. Mas, sem lesões, que é o mais importante, acredito que vou andar sempre ali perto do topo e posso vir a ter a possibilidade de conseguir. Também vai depender da equipa, se estiver bem ao longo do campeonato.

Quais são os objectivos colectivos do clube?
Ficar nos sete primeiros. Eu acredito que temos equipa para melhor, mas aqui é necessário consistência e eles aqui, principalmente os jogadores locais, deslumbram-se e perdem o foco. Para se andar em cima aqui tem de se ter muita consistência. Vai ser difícil, mas acredito que temos plantel para isso. E esta época mudou o formato da liga, os quatro primeiros vão a um play-off final para decidir quem é o campeão.

Ainda nunca tinhas ficado tanto tempo seguido no mesmo país! Estás completamente adaptado à Indonésia?
Sim, as coisas a nível profissional têm corrido bem e isso ajuda à integração. As pessoas do clube, do país, gostam muito de futebol e isso ajuda bastante. Nós somos vistos como ídolos na rua! Isso dá motivação e vontade de continuar.

fortesracig(Em 13/14, o avançado, na foto o segundo a contar da esquerda para a direita, teve a primeira experiência internacional ao serviço do Racing Santander.)

Como descreves o futebol na Indonésia? Surpreendeu-te de alguma forma?
Sim, não estava à espera que tivesse tanta qualidade. Só que a nível táctico… deixa sempre a desejar. O jogo parte bastante, não há cultura táctica. Não se aprende nada nesse aspecto (risos)! É mais a parte técnica, o 1×1, na força, na raça…

E adaptaste-te bem? É um futebol que se adequa às tuas características?
Acabei por me adaptar, mas também apanhei o mister Eduardo Almeida, português, que já tinha estado cá, e foi fácil entender, ele passou bem a mensagem, o estilo de jogo da equipa também me favoreceu e acabei por entender bem o futebol indonésio.

Achas que é mais vantajoso teres um treinador português no estrangeiro? Ou traz mais pressão?
É vantajoso, neste caso tendo em conta o treinador que foi. Dava-nos liberdade, principalmente aos estrangeiros, para assumir o jogo, sermos líderes dentro de campo. O Sérgio Silva, que está agora no Lourosa, ensinou bastante aos defesas, defensivamente éramos das melhores equipas do campeonato. Tínhamos uma excelente relação com o mister e foi muito fácil para nós a adaptação também por isso.

carlosfortesnacional(Foi no Nacional que Carlos Fortes concluiu a sua formação.)

Porque é que te mudaste para o PSIS Semarang no fim dessa época?
Por incrível que pareça, não me apresentaram proposta de renovação! Quando recebi a proposta do PSIS, falei com o mister e disse para eles verem o que queriam fazer. Obviamente que ia dar prioridade ao clube que me abriu as portas, e ainda por cima com as coisas a correrem bem, mas nunca obtivemos qualquer tipo de resposta da parte deles. Partimos do princípio que não estavam interessados. Depois de assinar com o PSIS é que me começaram a ligar e a entrar meio que em desespero!

E em termos de reacções dos adeptos, como foi recebida a tua mudança?
Foi mais nas redes sociais. Na rua nunca senti nada desse género. Eles é atrás de um ecrã, e nem é com o perfil deles, porque aqui podem ser presos se houver queixas de comentários que sejam considerados ofensivos. Por isso criam perfis falsos para fazer críticas e dizer coisas menos boas, mas isso a mim não significa nada. Eu sei a verdade, sei como me comportei durante todo o processo, por isso estou e sempre estive tranquilo em relação a isso.

O que te levou a ir para a Indonésia no verão de 2021?
O Maringá [ex-colega no Vilafranquense] já tinha assinado pelo Arema, fez pressão, o mister também me ligou, a proposta a nível financeiro também foi agradável e decidi vir. E ainda bem. Nunca tive medo de arriscar, o meu currículo diz isso mesmo. Já andei por todo o tipo de cultura, por todo o tipo de país. Era mais uma experiência.

Sempre foste ponta-de-lança?
Quando era mais novo era um dos mais baixos do plantel, e por isso era extremo. Aos 15 anos dei um pulo enorme, comecei a jogar a avançado e fiquei.

fortesvilaf(O Vilafranquense foi o último clube do avançado em Portugal até ao momento.)

És natural de Lisboa, fizeste toda a formação nos clubes da zona e depois vais para o Nacional no segundo ano de júnior. Como se deu essa mudança?
Fui o melhor marcador da minha série no CAC Pontinha e já estava a treinar há uma semana no Belenenses quando apareceu o Nacional. Como estava ali naquela altura de transição, uma pessoa quer ir sair e tal, pensei “o melhor é afastar-me de Lisboa (risos) e vou para a ilha para me focar verdadeiramente no futebol”. E foi o que fiz.

Depois não ficas no Nacional na passagem para os seniores porquê?
No ano anterior houve vários juniores a assinar contrato profissional, entre os quais o Lucas João ou o Rui Silva. Por isso, no meu ano, até porque ficámos em último no apuramento de campeão, ninguém se destacou muito e ninguém assinou contrato profissional.

E é nesse contexto que surgiu o Racing Santander?
Pela mão do meu empresário, o Pedro Torrão. A primeira proposta até foi para ir fazer testes na equipa principal, mas a partir do segundo ou terceiro treino mandaram-me logo ir assinar e fiquei um aninho em Espanha. Como ainda tinha 18 anos, fui inscrito como sub-23 e acabei por fazer muitos jogos na segunda equipa, na III Divisão. Correu bem, fiz 10 golos e cheguei à Selecção de sub-20.

fortesarea(O Arema foi quem abriu as portas da Indonésia a Carlos Fortes e certamente não se arrependeu: 20 golos em 31 jogos.)

Qual a sensação de ser chamado à Selecção?
É um motivo de orgulho, uma sensação indescritível. Ouvir o hino, estar entre os melhores da nossa geração… Não tem preço.

E como se dá a chegada ao Braga?
O meu empresário fez o negócio do Fábio Martins para o Braga e fui um bocadinho à boleia (risos). Saí da III Divisão espanhola para um grande de Portugal, foi um grande salto!

Fizeste uma boa época e meia na equipa B e até te chegaste a estrear na equipa principal. Esperavas ter pelo menos a oportunidade de fazer a pré-época em 2016/17?
A minha mágoa, e o facto de ter saído de forma precoce do Braga, foi isso mesmo: fui um dos destaques da equipa B e tinha em mente fazer a pré-época e depois ser emprestado a um clube da I Liga, porque sabia que era difícil ficar, o Braga tinha um plantel muito forte. No ano anterior tive uma proposta do Sivasspor em Janeiro, oferecia meio milhão de euros, e o presidente não aceitou; depois, deixou-me sair a custo zero para a II Liga da Turquia… Não faz muito sentido. Fiquei triste, acho que merecia pelo menos fazer a pré-época com o plantel principal.

fortescraiova2(O Universitatea Craiova foi a casa do ponta de lança durante cerca de um ano.)

Disseste numa entrevista ao Maisfutebol que essa passagem pela Turquia foi o pior momento da carreira. Porquê?
Não digo que me arrependa de ter ido, mas se calhar tinha tido mais paciência e tinha esperado pela minha oportunidade no Braga. Nessa época houve algumas lesões no Braga, o Hassan em Janeiro foi à CAN e eles não tinham avançados, até foram buscar o Rodrigo Pinho à equipa B, que depois foi para o Marítimo e depois para o Benfica. Se eu tivesse aguentado, a jogar na equipa B e a fazer golos, tinha sido eu a ter essa oportunidade. Nesse aspecto, podia ter feito as coisas de forma diferente. A Turquia… Não foi o país em si, mas o clube tinha muitos problemas. A cidade era horrível, longe de tudo, do nada fechavam os bancos e a Internet, porque aquilo é a 3 horas da Síria e diziam que tinha entrado um terrorista na cidade, então cortavam as comunicações todas! Salários em atraso, eu vivia na academia e o clube às vezes não pagava a electricidade, a luz ia abaixo, ficava sem nada para fazer o dia todo… Foi um pesadelo. Mas o pior de tudo nem é isso.

Então?
Eu tinha contrato e eles nunca me trataram do visto, fui a Portugal numa paragem de selecções e paguei uma multa; na segunda vez paguei uma maior; e em Dezembro, na paragem do Natal, pedi para tratarem disso. Quando saí, fiquei banido de entrar na Turquia durante 3 meses! E tinha contrato de trabalho! Expliquei a situação, disseram que iam resolver. Cheguei a Istambul às 10 da noite do dia 3 de Janeiro, e no dia 4 ao meio-dia ainda estava no aeroporto na parte da emigração! Fartei-me, voltei para Portugal e só fui lá depois rescindir o contrato. Foi quando vim para o Vizela.

E porque escolheste o Vizela?
O mister Abel aconselhou-me a ir, disse que tinha sido treinado pelo Rui Quinta e o projecto também era bom. Por isso aceitei. E não me arrependo, apesar de ter descido de divisão, porque criei amizades, mais até no segundo ano, que vou levar para a vida. Foi o melhor balneário que tive até hoje. Quando descemos, tive propostas da II Liga mas sentia que me queriam muito ali e sentia-me bem, sentia-me em casa.

fortesiithad(A aventura do lisboeta em Marrocos foi curta devido ao surgimento da pandemia.)

E em 2018/19 chegas à I Liga da Roménia. Como aconteceu esse salto?
Por intermédio do empresário Rui Gomes, que trabalhava com o dono do Gaz Metan. Eles vieram cá, apresentaram-me um projecto, mostraram-me os valores, quase o dobro do que se paga na II Liga portuguesa, e acabou por ser uma decisão fácil.

Depois começas muito bem e podias ter saído logo, certo?
Sim, fiz 3 golos nos primeiros 3 jogos e chegou uma proposta do Craiova. Mas só tive conhecimento dela em Janeiro, quando acabo mesmo por ir para lá. Tive a possibilidade de escolher também o Steaua, ainda tenho a proposta de contrato no e-mail, e ainda se falou do Cluj. O Steaua era só empréstimo e o Craiova assinei por 3 anos e meio, ainda pagaram uns 300 mil euros ao Gaz Metan.

No Craiova é que não correu tão bem…
Quando cheguei, o mister que tinha pedido a minha contratação saiu passados dois ou três jogos. A partir daí tive muitas dificuldades. No ano a seguir chega um ex-seleccionador da Roménia, durante a semana só falava para mim, eu até me sentia mal pelos outros avançados, e na semana a seguir passo de titular para não convocado! Depois disse-me que não contava comigo, que eu ia ser quarta opção se quisesse ficar, e entretanto aparece uma proposta para ir para Israel mas não chegamos a acordo; volto para a Roménia, nessa semana não sou convocado e na semana a seguir sou titular, faço golo e depois vou para o banco! São coisas inexplicáveis, extra-futebol. Nessa situação foi muito evidente.

fortesvizela(Em Janeiro de 2017, Fortes rescindiu com o Braga e assinou pelo Vizela.)

Depois como se deu o processo de ir para Marrocos?
Depois desse jogo, deixei de jogar e pedi para ir jogar à segunda equipa no início de Novembro. E fui expulso, perdi a cabeça nesse jogo, e apanhei 3 jogos de castigo. Mas esse foi o último jogo da segunda equipa nessa fase, depois só voltavam a competir em Abril, e eu não podia jogar até cumprir esse castigo! Acabei por ser emprestado para Marrocos, e depois veio a pandemia.

Como descreves essa passagem por Marrocos? A nível de resultados não foi fantástico…
Não. Podia ter sido campeão e descido de divisão nesse ano! Eu gostei de lá jogar, apesar de não ter corrido bem a nível desportivo nem financeiro, porque não me pagaram nem um salário, tive de ir para a FIFA! Mas o país em si, o campeonato, era bom. Muito competitivo, muita qualidade técnica dos jogadores, jogam muito. Futebol muito rápido, intensidade alta… Estava a gostar.

E com o surgimento da pandemia regressaste a Portugal…
Sim. Rescindi com o Craiova e assinei por 2 anos com o Vilafranquense. O meu filho tinha nascido há pouco tempo, estava longe de casa, as coisas não estavam a correr bem e senti necessidade de voltar à base, estar perto da família.

Em termos desportivos acabou por não correr como esperavas…
Acho que essa época foi a preparação para a época seguinte (risos)! Foi a minha pior época. Não tinha sequer oportunidades para fazer golos, foi muito difícil. E até acho que fazia bons jogos, tive o mesmo número de troféus de melhor em campo que o Jefferson. Mas andava sempre muito distante do golo, não tinha oportunidades de finalizar, fiz muito poucos remates, e quando a equipa não cria, é muito difícil um avançado fazer golos. E a II Liga é muito difícil, são jogos muito fechados, muito tácticos e sem espaço.

fortesanliu(Carlos Fortes luta pela bola com Tiago Pinto durante o Osmanlispor 1-2 Sanliurfaspor a contar para a Taça da Turquia em 2016.)

Surge então a Indonésia. Como é viver aí? O clima, o país, as pessoas, a comida, a comunicação…
Estou a começar a aprender a língua, mais o que é direccionado ao futebol. Já sei algumas palavras. Em termos de alimentação, comemos mais em casa, porque aqui é tudo picante! As pessoas são muito simpáticas, muito dadas, acolhem-nos bem. O clima é muito calor, calor o dia todo! Mesmo quando chove.

Onde é que gostaste mais de jogar? Que futebol se adequou mais às tuas características?
Espanha. Futebol mais táctico, bola no chão, técnica e eu gosto de equipas que gostam de jogar.

E o que menos gostaste?
Turquia. Não gostei de nada lá. Mesmo os jogadores locais não faziam um esforço para falar inglês, éramos só três estrangeiros e estávamos muito vulneráveis ali. Também achei os turcos muito arrogantes. Não gostei mesmo de nada lá.

fortesgaz(Pelos romenos do Gaz Metan, o futebolista luso cumpriu apenas meia época.)

Quem são os teus ídolos de infância ou em que te revias/revês na tua posição?
Ronaldo Fenómeno, sem dúvida. Para mim, é o melhor de todos os tempos. Como inspiração, e sendo eu um português fora, temos o Cristiano Ronaldo, eu a qualquer lado que vou a primeira coisa que me falam sobre Portugal é Cristiano Ronaldo, é automático. Por tudo o que trabalhou, por tudo o que conquistou, só pode ser uma inspiração.

Se tivesses que te descrever enquanto jogador, como o farias?
Inteligente, tecnicista e que gosta de jogar e ajudar a equipa.

Onde consideras que evoluíste mais na carreira desde o início?
Jogo aéreo. Por incrível que pareça, porque sou enorme, mas não o considero bom. Se tiver de o utilizar, desenrasco-me, mas gostava que fosse melhor, até pela minha altura.

Que treinador mais te marcou?
Abel Ferreira. É diferenciado. Sem dúvida. Foi o treinador com quem eu mais aprendi, e nem só da minha posição. Ouvia com atenção o que ele dizia e fazia todo o sentido. Tinha observações e coisas que via à frente de toda a gente, ele gosta de estudar e sabe o que faz, por isso é que está a ter o sucesso que está a ter. Não me surpreende minimamente.

carlosfortespt(As exibições ao serviço do Racing Santander abriram as portas da Seleção a Carlos Fortes, com o ponta de lança a registar 3 internacionalizações nos Sub-20.)

O que ainda te falta atingir na carreira?
Já pensei mais nisso. Gostava de ter representado a selecção de Cabo Verde, pelos meus pais. Estive pré-convocado, falaram comigo várias vezes, tratei dos documentos que me pediram e nunca se deu. Hoje em dia não faço disso um objectivo, mas obviamente que se acontecesse seria um motivo de orgulho para mim e para a minha família e aceitaria, claro. Já houve momentos que considero que merecia ser convocado e não fui; hoje olho para o nível dos avançados que têm e, por jogar na Indonésia, acredito que tenha gente à minha frente. Mas vou continuar a fazer o meu trabalho, os meus golos, e se quiserem contar comigo serei mais um para ajudar.

Também ainda procuras o primeiro troféu…
Olha, não tinha pensado nisso. Sim, também ando atrás disso, de conquistar um título. Por acaso saí do Arema e eles ganharam a Taça do Presidente! Sim, posso dizer que é isso que me falta, conquistar um título. E acredito que pode ser aqui na Indonésia. Já esteve mais longe!

Indonésia: no primeiro troféu da época já se celebrou em português

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O treinador Eduardo Almeida e os jogadores Abel Camará e Sérgio Silva, que representam os indonésios do Arema, são o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

A nova temporada está já em andamento em vários países do globo futebolístico e a Indonésia não é excepção. Aliás, por esta altura já se encerrou mesmo o primeiro troféu da época: a Taça do Presidente, competição que nos primeiros anos de existência era encarada apenas como um torneio de pré-temporada mas que entretanto granjeou um estatuto superior e é hoje apetecível para todos os clubes que a disputam (só entram equipas da I Liga). Um “mero detalhe” – ou talvez não: o fim da prova trouxe os primeiros festejos da época em bom português, pois claro.

O Arema, vencedor do troféu após final disputada a duas mãos diante do Borneo (1-0 e 0-0), é treinado por Eduardo Almeida, técnico de 44 anos natural de Cabanas do Chão, Alenquer, que se tem notabilizado ao longo da carreira pelas inúmeras experiências no estrangeiro: são já oito os países em que treinou lá fora, sendo o emblema indonésio o décimo diferente (e segundo no país, depois da passagem pelo Semen Padang em 2019). A primeira aventura deu-se em 2007/08 no South China, de Hong Kong (aí como adjunto de José Luís), embarcando em 2009/10 para a Tanzânia, onde já como técnico principal orientou o African Lyon (ao qual voltaria em 2014/15); a meio de 2013 viajou para a Malásia, assumindo o comando do PBDKT T-Team, seguindo em Janeiro de 2014 para a II Liga da Hungria (Kozármisleny). Após a já referida segunda passagem pela Tanzânia rumou em 2015 ao Laos, sagrando-se vice-campeão nacional pelo Lane Xang Intra, e após dois anos em que esteve a trabalhar em Portugal voltou a emigrar para não mais regressar: Melaka United (Malásia) entre 2017 e 2018, Ubon UMT (Tailândia) em 2019, Semen Padang (Indonésia) em 2019/20 e Sohar Club (Omã) em 2020/21.

Na primeira época ao comando do Arema, Eduardo Almeida (que em Portugal, além de passagem pelas camadas jovens do Benfica como adjunto, treinou Atlético do Cacém, Olímpico do Montijo, Atlético de Reguengos, Pinhalnovense e Angrense) esteve várias jornadas a liderar a classificação. Uma ponta final menos positiva resultou no quarto lugar final, a 10 pontos do campeão Bali United, mas as prestações da equipa agradaram de tal forma à direcção do emblema sediado em Malang que conduziram à renovação com a equipa técnica para a nova temporada. A exemplo, de resto, do que aconteceu com Sérgio Silva, central natural de Oliveira de Azeméis, que, depois de uma carreira inteira dedicada à “sua” Oliveirense e após uma época no “vizinho” Feirense, decidiu aceitar o convite vindo da Indonésia e aventurar-se para fora do país pela primeira vez; no Arema tornou-se de imediato o esteio da defesa, somando 32 partidas disputadas e acabando eleito para a equipa ideal do campeonato.

Sérgio Silva, todavia, não foi o único português a fazer parte do plantel do Arema em 2021/22. Da II Liga portuguesa seguiu também Carlos Fortes, avançado natural de Lisboa que prometeu muito nas camadas jovens (foi inclusivamente internacional sub-20 por Portugal, tendo chegado a estrear-se pela equipa principal do Braga em 2015/16) mas cujo rendimento nas últimas temporadas andava longe desses patamares; na Indonésia, porém, reencontrou-se com a sua melhor versão: foram 20 golos (e 3 assistências) em 31 jogos, que deram muitos pontos ao conjunto de Malang e fizeram dele o segundo melhor marcador da Liga (a 3 tentos de Spasojevic, goleador do campeão Bali United).

Foi, assim, como uma bomba que após o fim da temporada surgiu o anúncio oficial da saída de Carlos Fortes para o PSIS Semarang, sétimo classificado em 2021/22. Imperava encontrar rapidamente uma solução capaz de fazer esquecer o avançado lisboeta, e essa acabou por ser “descoberta” com Abel Camará, atacante luso-guineense (também ele com passado nas selecções jovens de Portugal, embora posteriormente se tenha tornado internacional A pelo país de nascimento) que acabara a ligação ao B-SAD. Pois bem: pode dizer-se literalmente que foi chegar, ver e vencer para Abel Camará, precisamente o autor do golo que garantiu a conquista do troféu ao Arema (tinha já apontado também com sucesso uma das grandes penalidades no desempate dos quartos-de-final ante o Barito Putera e ainda faturado na primeira mão das meias-finais, na vitória por 2-0 em casa do PSIS).

Está, pois, lançada a candidatura da armada lusa do Arema ao título nacional para 2022/23, um objectivo que já foge desde 2009/10. Até agora só um português conseguiu sagrar-se campeão nacional na Indonésia: Paulo Sérgio, que o fez até por dois clubes diferentes – em 2017 pelo Bhayangkara e em 2019 ao serviço do Bali United. Além dos representantes portugueses no Arema e de Carlos Fortes no PSIS, haverá mais dois lusos em competição: Zé Valente, médio ofensivo natural de Paredes que deixou o Penafiel para se aventurar no PSS Sleman, e Bernardo Tavares, técnico nascido há 42 anos em Proença-a-Nova que assumiu o comando do PSM Makassar no início de Abril e já está a deixar a sua marca no clube, tendo conseguido o apuramento para as meias-finais da zona ocidental da AFC Cup, competição asiática equivalente à Liga Europa.

Carlos Fortes: a preponderância desejada chegou no outro lado do mundo

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O ponta de lança Carlos Fortes, que representa o Arema da Indonésia, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Foi um verdadeiro “rocket” de Carlos Fortes a recolocar o “português” Arema na liderança da Liga da Indonésia. O golaço do avançado luso na conversão de um livre directo ditou o 1-0 na recepção ao Persipura Jayapura para a equipa orientada por Eduardo Almeida e que contou igualmente (como é habitual) com a experiência de Sérgio Silva (ex-Oliveirense e Feirense) no centro da defesa. Decorridas 22 rondas (entretanto já houve mais um jogo e mais uma vitória pelo mesmo resultado) de um total de 34, o emblema sediado em Malang vai na frente com um ponto de vantagem sobre o Bhayangkara, alimentando legítimas aspirações de se sagrar campeão nacional apenas pela segunda vez na sua História – primeira desde 2009/10.

E se todos têm o seu papel e a sua importância nesta caminhada, a verdade é que Carlos Fortes tem sido o grande destaque de uma equipa sem “vedetas” – além dos portugueses, só o nome do guarda-redes brasileiro Maringá pode soar familiar, dado o seu historial em clubes nacionais (Pinhalnovense, Beira-Mar e Vilafranquense). Em Vila Franca de Xira, de resto, foi colega do avançado luso em 2020/21, com Fortes a registar um total de 26 jogos e apenas 2 golos mas longe de assumir grande preponderância na equipa – das 26 aparições, só 10 foram como titular.

Esse terá sido um dos motivos mais fortes para a decisão de rumar à longínqua Indonésia. Partir à aventura, de resto, nunca foi problema para o atacante, cuja primeira época de sénior foi logo feita nos quadros dos espanhóis do Racing Santander, depois do processo de formação iniciado no Sacavenense e com passagens por Alta de Lisboa, CAC Pontinha e Nacional. Acabaria por não conseguir conquistar um lugar na equipa A, alinhando apenas pelo conjunto secundário na III Divisão espanhola, e no fim da época regressou a Portugal pela porta do Braga, também para alinhar na equipa B, chegando a estrear-se pelo conjunto principal no decorrer da época 2015/16, na qual apontou 11 tentos em 37 jogos na II Liga pela formação secundária (melhor registo da carreira até ao momento).

2016/17 trouxe a segunda experiência no estrangeiro com o empréstimo aos turcos do Sanliurfaspor (II Liga), que no entanto acabaria por durar pouco: a meio da época voltou ao seu país para representar o Vizela, também por cedência dos “Guerreiros do Minho”. Os 4 golos em 12 jogos no segundo escalão convenceram os vizelenses, que acabaram por tornar a transferência permanente apesar da descida ao Campeonato de Portugal – prova onde Carlos Fortes viria a apontar 10 golos em 26 jogos, sendo um dos grandes artífices da caminhada terminada de forma inglória nos quartos-de-final.

As boas exibições, todavia, não passaram despercebidas e 2018/19 trouxe nova mudança extra-muros, com o convite do Gaz Metan; a experiência na I Liga romena correu de feição, com 5 golos e 2 assistências em 20 jogos, de tal modo que logo em Fevereiro foi oficializada a transferência para o Universitatea Craiova, candidato declarado ao título nacional. Ali o atacante luso não foi tão feliz, fazendo 13 partidas sem qualquer golo até ao fim da época e apenas 2 tentos em 15 aparições na primeira metade de 2019/20, e por essa razão optou no início do ano por voltar a mudar de ares, aceitando ser cedido ao Ittihad Tanger, emblema que lutava para fugir à despromoção na principal Liga marroquina e no qual fez 7 jogos (sem qualquer golo) até ao encerramento abrupto da competição devido ao surgimento da pandemia do coronavírus.

Foi nesse contexto que se deu o regresso a Portugal via Vilafranquense e, um ano depois, a partida para a Indonésia, onde de imediato se assumiu como referência maior. Por agora soma 11 golos e 3 assistências em 20 partidas disputadas, cotando-se como o quinto melhor marcador do campeonato – Spasojevic, do Bali United, lidera essa corrida particular com 15 tentos apontados. Aos 27 anos (nascido a 9 de Novembro de 1994), Carlos Fortes tem ainda muito caminho por percorrer no futebol e ainda vai muito a tempo de competir noutros patamares e confirmar as expectativas que se foram gerando em redor de si na fase inicial da carreira (onde chegou a disputar um Torneio de Toulon pela selecção nacional de sub-20); por agora, o objectivo primordial passa por celebrar a conquista do seu primeiro troféu, apontando também ao melhor registo de golos da carreira – está a um golo de o conseguir.