Eder: seis anos depois, o herói nacional está (outra vez) sem clube

eder(O festejo de Eder após bater Lloris na final do Europeu será sempre uma das imagens mais marcantes daquele 10 de Julho de 2016.)

Seis anos. Foi há precisamente seis anos que Eder marcou o que é inquestionavelmente o golo mais importante da História da selecção nacional portuguesa, aquele que valeu o primeiro título oficial para o nosso país no escalão sénior. Muita coisa mudou em todos os aspectos desde essa vitória inesquecível em França a 10 de Julho de 2016, e nem o autor do golo vitorioso escapou a esse vaivém de emoções e alterações ocorridas neste período – aliás, Eder foi mesmo dos mais “afectados” com essa passagem do tempo, como o caro leitor poderá confirmar com o decorrer do artigo.

Na verdade, é preciso lembrar que o avançado nascido há 34 anos na Guiné-Bissau nunca foi um nome consensual quando o tema era selecção nacional. Sem percurso nos escalões de formação das selecções jovens nem passagem por nenhum “grande” do futebol português, Eder teve em 2012/13 e 2014/15 as melhores temporadas da carreira ao serviço do Braga, com 16 e 14 golos, números que lhe valeram a transferência para a Premier League pela via do Swansea no verão de 2015. A passagem pelo emblema galês, porém, revelou-se catastrófica (15 jogos e nem um único golo) e no mercado de inverno surgiu a possibilidade do empréstimo ao Lille, onde viria a recuperar a felicidade, com 6 golos em 14 partidas disputadas, de tal modo que acabaria por assinar a título permanente com os Dogues.

ederlille(Eder foi ao Euro 2016 como jogador do Lille e não teve vida fácil em terras gaulesas após o torneio.)

Foi, ainda assim, geradora de críticas a opção de Fernando Santos em colocá-lo nos 23 que viajaram para França naquele verão de 2016. Eder somava na altura 23 internacionalizações por Portugal e apenas 1 golo marcado (faria o segundo e o terceiro em dois dos três particulares de preparação para o Europeu), pelo que o cepticismo era de alguma forma justificado, mas Fernando Santos manteve a aposta… com o resultado que se sabe: depois de ter somado apenas 14 minutos na prova, entrando na parte final das duas primeiras partidas da fase de grupos (1-1 com a Islândia e 0-0 com a Áustria), Eder substituiu Renato Sanches ao minuto 79 da final diante da França e acabaria por se tornar o herói de toda uma nação com o pontapé espontâneo e seco que, já na segunda parte do prolongamento, daria o tão desejado título europeu a Portugal.

Esperava-se que este fosse o ponto de partida para novo recomeço do avançado luso-guineense, na altura com 28 anos. A realidade, porém, foi diferente e bastante mais aziaga do que o desejável: Eder sofreu alguma contestação e hostilidade de algum modo naturais nos relvados gauleses e a ausência de golos foi contribuindo para aumentar esse ambiente desconfortável; os 7 tentos anotados em 2016/17 revelaram-se insuficientes, quer para os parâmetros do Lille, que o cedeu aos russos do Lokomotiv para a nova temporada, quer para… Fernando Santos, que o deixou de fora das opções para a inédita participação de Portugal na Taça das Confederações desse verão.

ederloko(No Lokomotiv de Moscovo, o ponta de lança voltou a resolver e foi influente na conquista do Campeonato Russo por parte da sua equipa.)

Curiosamente, na Rússia Éder voltaria a ser… Eder. Depois de alternar a titularidade com o banco dos suplentes ao longo da temporada e de somar apenas três golos, todos na primeira metade de 2017/18, o avançado português acabaria por sair do banco para apontar o golo que valeu a conquista do título nacional ao Lokomotiv na recepção ao Zenit, para a penúltima ronda do campeonato. Por essa (ou qualquer outra) razão, o gigante da capital russa decidiu exercer a opção de compra do passe do avançado internacional português, que entretanto ficara igualmente de fora dos convocados da selecção nacional para a participação no Mundial… da Rússia.

Eder viria a ficar no Lokomotiv por mais três anos, mas a relação com o golo foi-se tornando cada vez mais distante. Foram apenas três em 2018/19, o último dos quais em Outubro (altura em que voltou a ser chamado por Fernando Santos, realizando aquelas que seriam porventura as duas últimas partidas da sua carreira pela selecção portuguesa, tendo inclusivamente marcado no 3-1 à Escócia), época em que ainda assim celebrou a conquista da Taça; seis em 2019/20 (venceu a Supertaça); e apenas dois em 2020/21, despedindo-se do clube russo com a conquista de mais uma Taça, sendo lançado em campo ao minuto 87 da partida diante do Krylya Sovetov (3-1) – por esta altura já nem se punha sequer a hipótese de pensar em si como uma possibilidade para os convocados para o Euro 2020 (disputado, como se sabe, no verão de 2021 devido à pandemia do coronavírus).

Depois de alguns meses sem clube, em Setembro seria oficializado no Al-Raed, da Arábia Saudita, num reconhecimento claro do declínio da carreira. Ali fez seis golos, quatro dos quais nos primeiros seis jogos oficiais pelo emblema árabe (onde viria a ser treinado durante alguns meses pelo compatriota João Pedro Sousa), mas devido a problemas físicos ficaria de fora das vitórias nas duas últimas jornadas que permitiram à sua equipa conseguir o milagre da permanência no principal escalão saudita, algo que chegou a parecer impossível no decorrer da temporada.

ederalraed(O Al-Raed, da Arábia Saudita, foi o último clube que Eder representou até agora.)

O contrato com o clube saudita tinha apenas a duração de uma temporada e expirou no passado dia 30 de Junho, pelo que Eder está novamente livre no mercado aos 34 anos (faz 35 três dias antes do Natal). Sabendo que muito dificilmente voltará aos patamares onde já andou, tanto a nível de clubes como pela selecção (onde somou 35 internacionalizações e 5 golos), Ederzito António Macedo Lopes mantém ainda assim a paixão pela actividade que desde sempre o ajudou a superar as adversidades que lhe surgiram pelo caminho – e foram muitas, desde logo pelo facto de ter crescido em casas de acolhimento, primeiro em Braga e depois nos arredores de Coimbra, devido às parcas condições económicas dos pais. “Não trocaria o golo por nada. A história é como é. Toda a gente tem o seu destino. Se as coisas aconteceram assim era porque era assim que estava destinado a acontecer. Sinto-me feliz e honrado por fazer parte da história, e isso basta-me”, disse em entrevista ao “Goal” há precisamente um ano. Éder é simples, Éder é isto – e “isto” bastou para ficar eternizado no coração de todos nós.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Bélgica: a geração de ouro que é a geração do quase

belgica(Qualidade não falta a uma Bélgica que tem ficado sempre “às portas” das grandes decisões.)

Vice-Campeã da Europa em 1980 e semi-finalista do Mundial 1986, a Bélgica nunca foi uma das Seleções de referência no Mundo futebolístico até 2014, altura em que começou a construir o legado que tem hoje, “carregada” por uma autêntica geração de ouro.
Nos últimos sete anos, os “Diables Rouges” marcaram sempre presença nas grandes competições e têm feito excelentes campanhas, porém, chegar ao momento decisivo tem sido o grande entrave dos belgas que continuam sem atingir a final de um torneio internacional.
Nomes como Vincent Kompany, Marouane Fellaini, Romelu Lukaku, Kevin de Bruyne ou Eden Hazard são os principais ídolos da melhor geração do futebol belga, mas a par destes existem ainda Thibaut Courtois, Dries Mertens, Toby Alderweireld, Daniel Van Buyten, Jan Vertonghen, Axel Witsel, Nacer Chadli, Youri Tielemans, Radja Nainggolan, Yannick Ferreira-Carrasco ou Thomas Meunier, além de vários outros jogadores de grande qualidade.
Quando em 2014 a Seleção Belga chegou ao Brasil para disputar o Mundial, quebrou um ciclo de doze anos sem ir a uma grande competição: a última tinha sido o Mundial da Coreia/Japão, em 2002, e no Europeu, entre 1988 e 2012, os “rouges” só disputaram o de 2000… e porque foram um dos Países anfitriões do torneio.
Logo no Brasil, a Bélgica chegou aos Quartos-de-Final, eliminada pela Argentina (0-1), e demonstrou que era uma Seleção a ter em conta para os próximos anos, situação que seria reforçada no Euro 2016, quando a formação comandada por Marc Wilmots voltou a sair de cena nos Quartos, desta vez afastada pelo País de Gales (1-3), uma das grandes revelações da prova.
Foi após o fim do Euro realizado em França que Wilmots, no cargo desde 2012, saiu para dar lugar a Roberto Martínez: o espanhol não só deu continuidade ao trabalho que vinha sendo feito como ainda o melhorou, já que levou a Bélgica ao 3º lugar no Mundial 2018, apenas derrotado pela França (0-1), futura Campeão do Mundo.
Seguiu-se a primeira fase da Liga das Nações, em 2018, com os belgas a ficarem-se pela fase de grupos; e já este ano, os “diables” voltaram a desperdiçar mais duas oportunidades de conquistarem um troféu: no Euro ficaram pelos Quartos-de-Final, eliminados pela Itália (1-2), que viria a ser Campeã da Europa; e esta semana, na Liga das Nações, desperdiçaram uma vantagem de dois golos diante da França na Meia-Final e acabaram por ser eliminados de forma dramática à beira do fim.
Posto isto, podemos afirmar que a “geração de ouro” belga, líder do ranking Mundial da FIFA há três anos, é a geração do “quase”, visto que tem ficado sempre perto de disputar as finais e eventualmente conquistar títulos.
Amanhã, a Bélgica volta a jogar com a Itália, e tem uma boa oportunidade para se “desforrar” da derrota de há meses, podendo conquistar o 3º lugar na Liga das Nações, o que, ainda assim, se acontecer, será um prémio “amargo” para uma geração que merecia mais pela qualidade que tem.

Portugal – França: haverá um novo herói?

eder2016(Éder prepara-se para rematar para o golo que fez de Portugal Campeão da Europa em 2016.)

Portugal e França já se defrontaram em vinte e sete ocasiões, sendo que apenas seis delas foram em competições oficiais: três em Europeus, uma em Mundiais e duas a contar para a Liga das Nações.
No global, o histórico é amplamente desfavorável ao nosso País, que só por seis vezes conseguiu derrotar os franceses: cinco foram em jogos amigáveis – a última em 1975 – e a única vitória “a sério” foi, como todos nos lembrámos, na final do último Campeonato da Europa.
A história entre as duas Seleções iniciou-se em 1926, com um particular em Toulouse: a vitória francesa (4-2) deu início a uma sequência de dezasseis jogos amigáveis até 1983, período em que Portugal registou os tais cinco triunfos: 4-0 em 1927 (Lisboa), 2-0 em 1930 (Porto), 2-1 em 1946 (Jamor), 2-1 em em 1973 (Paris) e 2-0 em 1975 (Colombes).
Os franceses ganharam a maioria desses particulares, com dez vitórias em dezasseis partidas, tendo-se registado apenas um empate – em Paris no ano de 1928 (1-1). Só em 1996 é que Portugal e França voltaram a cruzar-se de forma amigável, e daí até agora já o fizeram por cinco vezes, sempre com vitória gaulesa, a última das quais em 2015 – 0-1 em Alvalade.
No que diz respeito às competições oficiais, o primeiro Portugal – França ocorreu no Euro 1984, realizado justamente em França, e foi, curiosamente, a… 23 de Junho, tal como hoje. Na meia-final do torneio, Portugal caiu apenas no prolongamento, de nada valendo o bis de Jordão (74′ e 98′) perante o bis de Domergue (24′ e 114′) e o golo decisivo de Platini (119′).
Começava aí o nosso “trauma” com os franceses, que haveria de se prolongar no Euro 2000: novamente nas meias-finais, Portugal saiu na frente com um golo de Nuno Gomes (19′), deixou Henry empatar (51′) e caiu novamente no prolongamento, com a regra do golo de ouro, no famoso lance em que Abel Xavier cortou a bola com a mão dentro de área e Zidane converteu o penalti (117′).
Seis anos mais tarde, também nas Meias-Finais, mas desta vez no Mundial, voltaríamos a perder com os “bleus” e novamente graças a uma grande penalidade cobrada por Zidane (33′). A vingança, no bom sentido da palavra, demorou dez anos a chegar mas chegou: em 2016, na final do Europeu realizado em… França, Éder, também no prolongamento (109′), vingou todas essas derrotas dramáticas – e algumas bem polémicas – e quebrou o nosso enguiço.
Por fim, Portugal e França mediram forças na fase de grupos da Liga das Nações do ano passado, com o primeiro jogo, realizado no Stade de France, a terminar empatado sem golos; e com o jogo de volta, na Luz, a ser decidido por N’Golo Kanté aos 53′ (1-0).
Hoje, Portugal depende única e exclusivamente de si para seguir em frente no Euro 2020, tendo, para isso, de vencer a França. Haverá um novo herói esta noite?

Portugal – Hungria: a sério ganhámos sempre… menos no Euro

Hungary v Portugal - Group F: UEFA Euro 2016(André Gomes e Barnabás Bese observam a disputa entre Cristiano Ronaldo e Ádam Láng durante o Portugal 3-3 Hungria do Euro 2016.)

Portugal e Hungria já se defrontaram por treze vezes, cinco de forma amigável e oito mais “a sério” entre fases finais de Campeonatos do Mundo e da Europa e qualificação para essas mesmas provas, e o registo é nos claramente favorável: nunca perdemos com os “magiares”.
No que diz respeito aos jogos de caráter particular, registaram-se três empates em 1926 (Porto, 3-3), 1956 (Lisboa, 2-2) e 1983 (Coimbra, 0-0); e dois triunfos da nossa Seleção nos já longínquos anos de 1933 (Lisboa, 1-0) e 1938 (Lisboa, 4-0).
Nos jogos “a valer”, Portugal e Hungria já se cruzaram por uma vez num Mundial e outra num Europeu; calharam por uma ocasião no mesmo grupo de qualificação para um Campeonato da Europa; e por duas vezes mediram forças no apuramento para o Campeonato do Mundo. São oito jogos e sete vitórias lusas, sendo que a única vez que não ganhámos foi no memorável Euro 2016.
A história “a sério” começou no Mundial 1966, na fase de grupos, quando Portugal ganhou 3-1, em Old Trafford, com bis de José Augusto e um golo de José Torres; depois, foram precisos mais de 30 anos para novo confronto oficial: na qualificação para o Euro 2000, Portugal ganhou por 3-1 na Hungria, com bis de Sá Pinto e um tento de Rui Costa; e na Luz, a 9 de Outubro de 1999, mais “chapa três” desta vez sem golos dos húngaros – marcaram Rui Costa, João Pinto e Abel Xavier.
Dez anos depois, no apuramento para o Mundial 2010, um golo de Pepe foi o suficiente para Portugal ganhar no Ferenc Puskás Stadion, o mesmo estádio onde jogará hoje, e na Luz, um mês depois, dois golos de Simão Sabrosa e Liedson fizeram o 3-0 final.
Em 2016, na última jornada da fase de grupos do Euro, Portugal, obrigado a ganhar para não depender de terceiros, esteve sempre a perder com a Hungria e conseguiu, como todos nos devemos lembrar, empatar por três vezes graças aos golos de Nani (1-1 aos 42′) e de Cristiano Ronaldo (2-2 aos 50′ e 3-3 aos 60′).
Por fim, em 2017, na qualificação para o Mundial 2018, Portugal recebeu e venceu novamente a Hungria, na Luz, por 3-0 (três jogos no reduto do Benfica três vitórias pelos mesmos números), com um golo de André Silva e mais um bis de Cristiano Ronaldo; e em Budapeste valeu o tento solitário de Andé Silva a fixar o resultado em 0-1.
Como vimos, Portugal dá-se bem com a Hungria, tem um registo assinalável de vitórias contra este País do Leste da Europa e só lhes falta ganharmos na fase final de um Europeu. Que seja hoje o dia!