25 de Abril: como era o nosso futebol há 50 anos

MagdeburgoSporting(Magdeburgo – Sporting, disputado a 24 de Abril de 1974. Este foi o último jogo que uma equipa portuguesa disputou debaixo do regime ditatorial.)

Há precisamente 50 anos, Portugal acordou em plena revolução, com o Movimento das Forças Armadas a comandar uma operação que colocou um ponto final no regime ditatorial que vigorou durante décadas no nosso País.
Ora, nesse dia 25 de Abril de 1974, o Sporting, então líder da I Divisão, regressava a casa após ser eliminado na então República Democrática da Alemanha, pelo Magdeburgo, nas Meias-Finais da Taça das Taças, e ficou retido numa das fronteiras que ligam Espanha a Portugal, recebendo apenas autorização para entrar em solo luso no dia seguinte.
Hoje, 50 anos depois da revolução, é tempo de recordarmos, ou ficarmos a conhecer, como era o nosso futebol em 1974.
E, curiosidades à parte, o dia 25/04/1974 foi uma… quinta-feira, tal e qual como hoje.

I Divisão

Num campeonato composto por 16 equipas, o primeiro campeão nacional em “liberdade” foi o Sporting, com 2 pontos de avanço para o Benfica, 2º classificado – curiosamente, os “leões” têm o título deste ano bem encaminhado e podem repetir o “feito” 50 anos depois.
O FC Porto foi 4º, 2 pontos atrás do Vitória FC, numa prova que também contava com Boavista, Belenenses, Farense, Vitória SC e Leixões, entre outros emblemas. Barreirense e Montijo foram os despromovidos ao segundo escalão.
Dos 16 emblemas que figuravam na I Divisão em 1973/1974, só 6 estão na nossa atual I Liga: Sporting, Benfica, FC Porto, Vitória SC, Boavista e Farense; 2 andam pela II Liga: Belenenses e Leixões; a Académica é a única participante na Liga 3; no Campeonato de Portugal estão Vitória FC, Barreirense, Beira-Mar, Oriental e Fabril do Barreiro, que naquela altura ainda tinha a designação original de CUF; enquanto que Olhanense e Montijo encerraram a sua atividade apesar de terem “sucessores”.

II Divisão – Zona Norte 

A II Divisão, então dividida pelas Zonas Norte e Sul com 20 clubes em cada série, tinha equipas que, mais tarde, vieram a construir uma bonita história no futebol português – algumas ainda constroem.
Vencida pelo Sporting de Espinho, a Zona Norte tinha também emblemas como Sp. Braga, Varzim, Chaves, Salgueiros, Gil Vicente ou Feirense.
Dessas 20 equipas, 4 estão, atualmente, na I Liga: Sp. Braga, Chaves, Famalicão e Gil Vicente. Feirense, Penafiel, Oliveirense disputam a II Liga, continuando, por isso, no mesmo escalão 50 anos depois; Varzim, Fafe, Sanjoanense e Lusitânia de Lourosa competem na Liga 3; Tirsense, Salgueiros e Gouveia acabaram recentemente mais uma temporada no Campeonato de Portugal; o Sp. Espinho é o único que está nos Distritais; e por fim, Aves, União de Lamas, União de Coimbra, Riopele e Vilanovense foram extintos, pese embora a grande maioria tenha voltado ao futebol praticamente com a mesma designação.

II Divisão – Zona Sul

A Zona Sul da II Divisão foi vencida pelo União de Tomar, campeão com 3 pontos a maior sobre o Atlético.
Num campeonato que contava com Portimonense, Marítimo e União de Leiria, o destaque vai para as presenças do Alhandra e do Tramagal, clubes que hoje em dia não têm grande “expressão” no panorama nacional futebolístico.
Portanto, das 20 equipas que disputavam o segundo escalão mais a Sul, apenas uma está na I Liga: o já referido Portimonense. Marítimo, União de Leiria e Torreense “habitam” na II Liga; Caldas e Atlético estão na Liga 3; Peniche, Sintrense, U. Tomar e Marinhense disputaram o Campeonato de Portugal em 23/24; nos Distritais estão Cova da Piedade, Sacavenense, Sesimbra, Torres Novas, Almada, União de Montemor e Tramagal; e já sem atividade estão 3 clubes: Alhandra, Lusitano de Évora e Odivelas, sendo que destes somente os alentejanos foram refundados.

III Divisão – Série A 

Em 1973/1974, a III Divisão era composta por 4 séries, A, B, C e D, e, curiosamente ou inexplicavelmente, não tinham todas o mesmo número de equipas: a Série A tinha 19 emblemas; as Séries B e C estavam “mais completas”, com 20 clubes participantes; e na Série D competiam 18 equipas.
Na Série A, destaque para as presenças de Paços de Ferreira – Campeão nesse ano – e Rio Ave, mas também nota para as participações de Leça e Vizela.
Desses 19 participantes nesta série, 2 estão atualmente na I Liga: Rio Ave e Vizela; na II Liga encontra-se somente o Paços de Ferreira; o Vianense é o único clube que disputa a Liga 3; Limianos e Vila Real foram esta época adversários no Campeonato de Portugal; Leça, Régua, Avintes, Freamunde, Esposende, Monção, Lamego, Paços de Brandão, Bragança, Vieira, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar militam nos respetivos Campeonatos Distritais; e apenas o São Pedro da Cova já não tem futebol sénior.

PortoBenfica7374(A 10 de Março de 1974, o FC Porto venceu o Benfica nas Antas, por 2-1, em jogo válido pela 23ª Jornada da I Liga.)

III Divisão – Série B

Vencida pelo Alba, que hoje em dia disputa a Elite da AF Aveiro, a Série B da III Divisão continha emblemas como Covilhã, Naval, Ovarense e Académico Viseu.
Das 20 equipas que participaram neste campeonato, não há nenhuma que esteja, nos dias de hoje, na I Liga, e apenas uma disputa o segundo escalão: Académico de Viseu; Covilhã e Anadia estão na Liga 3; somente o Mortágua disputou esta temporada o Campeonato de Portugal; Alba, Penalva do Castelo, Cucujães, Mangualde, Oliveira do Bairro, Marialvas, Febres, Valecambrense, Lousanense, Vilar Formoso, Tabuense e Ala-Arriba encontram-se nos Distritais; e dos restantes 4 clubes, 3 foram extintos e mais tarde refundados, Naval, Ovarense e Guarda, e o Covilhã e Benfica encerrou a sua atividade há largos anos.

III Divisão – Série C

A Série C da III Divisão teve como vencedor o Estrela de Portalegre, mas olhando hoje para a classificação, saltam à vista os nomes dos ex-primodivisionários Alverca, Campomaiorense e Elvas.
Fazendo uma comparação entre 1974 e os tempos atuais, a Série C é o único campeonato nacional que, 50 anos depois, não tem nenhum representante nos campeonatos profissionais: o máximo que consegue é ter uma equipa a disputar a Liga 3, o Alverca; e duas o Campeonato de Portugal, União de Santarém e Elvas. Nos Distritais estão 14 clubes: Estrela de Portalegre, União de Almeirim, Leiria e Marrazes, Vilafranquense, Cartaxo, Bombarralense, Ginásio de Alcobaça, Sp. Pombal, Nazarenos, Olivais, Povoense, Amiense, Calipolense e Alferrarede; enquanto que Campomaiorense, Portalegrense e Desportivo de Castelo Branco não têm equipa sénior.

III Divisão – Série D

Série mais pequena da III Divisão em 1973/1974, com apenas 18 equipas, a Série D teve como seu primeiro classificado o Estoril, que, em termos históricos e desportivos, será o nome mais “sonante” deste campeonato, que também contava com emblemas como Casa Pia, Seixal, Amora, Lusitano VRSA e Desportivo de Beja.
Desses 18 clubes que figuraram na Série D da III Divisão há 45 anos, só 2 estão nos campeonatos profissionais e ambos na I Liga, Casa Pia e Estoril; o Amora encontra-se na Liga 3; a Juventude de Évora é a única formação que militou no Campeonato de Portugal desta época; 11 disputam os Distritais: Moura, Esperança de Lagos, Pescadores, Lusitano VRSA, Vasco da Gama de Sines, Alcochetense, Aljustrelense, Silves, Sambrasense, Estrela de Vendas Novas e Paio Pires; Desportivo de Beja e Luso do Barreiro não têm seniores; e o Seixal já foi refundado.

Taça de Portugal

A Taça de Portugal de 1973/1974 teve um Sporting – Benfica na final, com os leões a vencerem por 2-1 e a fazerem a dobradinha na temporada – algo que podem repetir esta temporada caso sejam Campeões, visto que discutirão também a final da “prova rainha” com o FC Porto.
Naquela altura, a Taça de Portugal “albergava” equipas das colónias portuguesas em África, com Moxico (Angola), Textáfrica (Moçambique) e Sp. Bissau (Guiné-Bissau) a ficarem todas pelo caminho na 5ª eliminatória.
Dos Distritais, Nacional e Lusitânia, que só fizeram um jogo, na 5ª eliminatória, acabaram logo eliminados, com os madeirenses a não resistirem ao poderio do Barreirense, então primodivisionário, que venceu na Madeira por 3-0; e com os açorianos a serem goleados nas Antas, pelo FC Porto, por uns expressivos 8-0.
Numa competição composta por 8 eliminatórias antes do jogo decisivo, a equipa a chegar mais longe do último escalão nacional, foi o Avintes, que disputava a Série A da III Divisão, e só caiu nos Oitavos-de-Final, aos pés do União de Tomar (0-3), que haveria de vencer a Zona Sul da II Divisão. Os gaienses causaram alguma surpresa na prova, visto que afastaram 3 equipas da II Divisão: Varzim, Chaves e Portimonense.
O União de Tomar foi a única equipa da II Divisão a conseguir chegar aos Quartos-de-Final da Taça, acabando eliminado em Olhão, pelo Olhanense, com um resultado final de 4-2. Num percurso que foi todo ele feito a golear (4-0, 5-0, 5-2, 6-1 e 3-0), os tomarenses afastaram duas equipas do seu campeonato: Almada e Alhandra.
O Sporting, vencedor da competição, disputou 4 eliminatórias até chegar à final, e ultrapassou sempre adversários da I Divisão: Vitória FC, Belenenses, Boavista e Olhanense.

Distritais

Pelos respetivos campeonatos Distritais andavam clubes que anos mais tarde viriam a atingir o patamar mais alto do nosso futebol, casos de Nacional, Santa Clara, Moreirense, Estrela da Amadora, União da Madeira, Arouca ou Felgueiras.
Curiosamente, nessa temporada de 1973/1974, nenhum deles conseguiu deixar os Distritais, sendo caso de maior destaque o do Recreio de Águeda, Campeão Distrital de Aveiro logo no pós 25 de Abril, e que 9 anos depois, em 1983, já estava a disputar a I Divisão, naquela que foi, aliás, a sua primeira e única participação de sempre no escalão maior do futebol português.

Competições Europeias

Último clube a ser Campeão Nacional sob o domínio do regime ditatorial, em 1973, o Benfica não foi feliz na Taça dos Campeões Europeus de 73/74, tendo sido afastado logo na 2ª Eliminatória pelos húngaros do Ujpest após ter eliminado os gregos do Olympiacos na ronda inaugural – o Bayern Munique venceu a competição.
Vencedor da Taça das Taças em 1964, o Sporting apostava em ganhar novamente a prova 10 anos depois e foi deixando pelo caminho os galeses do Cardiff, os ingleses do Sunderland e os suíços do Zurique, até ser derrotado, como já foi referenciado, pelos germânicos do Magdeburgo, que viriam mesmo a conquistar o troféu graças a um triunfo por 2-0 sobre o AC Milan na final.
Naquela que foi apenas a sua terceira edição, a Taça UEFA de 73/74 contou com o brilho de uma equipa portuguesa: eliminado nos Quartos-de-Final pelos alemães do Estugarda, o Vitória FC superou os belgas do Beerschot e do Molenbeek e ainda os ingleses do Leeds United. Além dos sadinos, também o Belenenses participou nesta competição, mas foi “arrumado” logo na ronda inaugural pelo Wolverhampton de Inglaterra.

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