Josué Sá: a maturidade chegou de braço dado com os títulos

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O central Josué Sá, que cumpre a segunda temporada consecutiva nos búlgaros do Ludogorets, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

O Ludogorets protagoniza desde 2010 um dos casos mais insólitos do futebol europeu. Fundado em 1945, o emblema sediado em Razgrad passou toda a sua história nas divisões secundárias da Bulgária, até que em Setembro de 2010 foi comprado pelo empresário farmacêutico Kiril Domuschiev com um objectivo claro: levar o clube ao ponto mais alto do futebol búlgaro pela primeira vez. A realidade, porém, revelou-se bem mais risonha do que talvez até o próprio pudesse alguma vez ter sonhado: o Ludogorets subiu de facto ao principal escalão da Bulgária logo nessa temporada 2010/11… e daí para cá foi sempre campeão!

São dez anos de domínio interno que parecem não ter fim à vista – nesta época, além de ter ganho a Supertaça de forma clara (4-0 ao histórico CSKA), soma já quatro vitórias noutros tantos jogos disputados no campeonato, ocupando neste momento o segundo lugar na tabela a um ponto do Slavia mas ainda com dois jogos por realizar – e um português está a contribuir para esse sucesso pelo segundo ano consecutivo: Josué Sá. Contratado em Outubro de 2020 como jogador livre, depois de finalizada a ligação ao Anderlecht, o central nascido em Lisboa a 17 de Junho de 1992 não conquistou de imediato a titularidade mas acabou a temporada com esse estatuto, somando 21 jogos (20 de início) e 2 golos e conquistando assim pela primeira vez na carreira um título de campeão nacional de um escalão principal (já havia vencido na temporada anterior a II Liga espanhola ao serviço do Huesca).

Na época actual foi opção inicial nos 4 jogos do campeonato (na Liga dos Campeões fê-lo apenas na segunda mão da terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos, ante o Olympiacos, sendo suplente utilizado na segunda mão do play-off frente ao Malmoe) e é precisamente na competição interna que tem vindo a marcar pontos… e golos, pois facturou nas últimas duas jornadas, contribuindo para a goleada caseira (5-1) sobre o Lokomotiv Sofia (aí com um autêntico golaço num remate acrobático) e para o triunfo por 3-1 no reduto do Pirin, num cabeceamento certeiro após canto. Já igualou, assim, o melhor pecúlio goleador conseguido numa temporada até agora – além da época passada, tinha marcado igualmente dois golos em 2014/15 e 2015/16 ainda ao serviço do Vitória SC.

Com formação quase integral no Sporting, por quem se sagrou bicampeão nacional de iniciados, Josué Sá decidiu mudar-se para Guimarães no primeiro ano de júnior e ali concluiu o processo formativo. Cedido ao Chaves na primeira época como sénior, regressou à cidade-berço em 2012/13 para integrar inicialmente a equipa B mas ainda nessa época faria os primeiros jogos na formação principal, lançado por Rui Vitória; agarraria finalmente a titularidade em 2014/15 e, depois de duas épocas onde foi uma das grandes figuras da equipa (subindo inclusivamente ao topo da hierarquia dos capitães), seria contratado pelo Anderlecht no início de 2017/18, com o histórico emblema belga a deixar cerca de dois milhões de euros nos cofres vitorianos.

Ali, a exemplo do que aconteceria posteriormente na Bulgária, o defesa luso teve algumas dificuldades de adaptação iniciais mas acabou a temporada em grande (25 jogos no total, 17 dos quais como titular); o problema foi a instabilidade directiva e técnica que se seguiu no clube, e que o levou a pedir para ser emprestado. Surgiu então o Kasimpasa, da Turquia, numa época que não viria a correr de feição em termos individuais (22 jogos e 1 golo, mas muitos deles a jogar a trinco e num clube que lutava apenas pela permanência), e no verão de 2019, percebendo que não iria ter muitas oportunidades num Anderlecht agora orientado pelo treinador-jogador Vincent Kompany (curiosamente também ele central), Josué Sá optou por ser cedido ao Huesca, onde encontrou o compatriota Luisinho e onde teria a oportunidade de lutar pela subida ao escalão principal do futebol espanhol.

Dificilmente poderia ter corrido melhor: o conjunto aragonês foi campeão e o central lisboeta somou 27 aparições (só 2 como suplente utilizado) e 1 golo, tendo já descrito a temporada 2019/20 como a melhor da sua carreira. Ainda com um ano de contrato com o Anderlecht, as duas partes acabaram por chegar a acordo e Josué Sá mudou-se então para a Bulgária, onde por agora conquistou já um campeonato e, como se disse acima, está bem lançado para o segundo (apesar de a temporada ainda estar numa fase inicial, obviamente), tendo esta época – além da companhia do compatriota Claude Gonçalves – o aliciante de ir defrontar o Braga na fase de grupos da Liga Europa.

Aos 29 anos, pode dizer-se que o central que somou 28 internacionalizações nas selecções jovens, entre sub-18 e sub-21, se encontra na fase de maior maturidade da carreira, sendo por isso crível que irá continuar a jogar (e quiçá a marcar) com regularidade e também a aumentar o espólio de troféus no palmarés – afinal de contas, representa o maior bicho papão da Europa em termos internos da última década. Com contrato válido por mais 3 temporadas com o Ludogorets, tudo indica que esteja para ficar na Bulgária, a menos que surja no horizonte uma oportunidade ainda melhor noutro “grande”, seja de Portugal ou de outro país de nível semelhante ao búlgaro.