Cagliari: o último milagre do sr. Ranieri… para já

ranieri(Claudio Ranieri foi levantado pelos seus jogadores durante os festejos da subida do Cagliari à Série A.)

Mais de 30 anos depois, o Cagliari voltou a ter motivos para agradecer a um dos grandes nomes da sua História: Claudio Ranieri. No fim dos anos 80, quando o clube amargava na Serie C italiana, o então jovem técnico assumiu o comando dos Rossoblù e conduziu-os a duas subidas consecutivas, além de garantir a permanência no escalão principal na terceira época; agora, após regressar ao clube em Dezembro e encontrá-lo no 14º posto da Serie B, protagonizou uma recuperação na tabela que terminou com o quinto posto, três play-offs superados e uma nova (e épica) subida, festejada em lágrimas pelo longevo técnico.

Este, na verdade, foi apenas mais um “milagre” conduzido pelo senhor nascido há 71 anos em Roma, que ficará para sempre na História do futebol imortalizado pelo inacreditável título de campeão da Premier League ao comando do Leicester em 2015/16. Depois de uma carreira mediana enquanto jogador, cujo ponto mais alto foi mesmo a primeira época como sénior, ao serviço da Roma, Claudio Ranieri saiu do anonimato como treinador precisamente pelo feito no Cagliari; após passagem de época e meia pelo Napoli, festejaria a segunda subida à Serie A em 93/94, aí ao comando da Fiorentina, onde ficaria mais 3 temporadas, conquistando nesse período a Taça e a Supertaça de Itália com um elenco que tinha nomes como Rui Costa ou Gabriel Batistuta.

ranierileicester(Guiar o Leicester ao título de Campeão Inglês foi o maior feito da carreira de Ranieri.)

Teve em 97/98 a primeira experiência fora do seu país, ao comando do Valencia, onde na época seguinte conquistaria a Copa do Rei. Em 99/00 mudou-se para o Atlético de Madrid, mas a situação financeira caótica dos Colchoneros levou-o a bater com a porta ainda numa fase precoce da temporada – acabariam por descer de divisão. Seguiria no verão de 2000 para o Chelsea e ali passou 4 temporadas, a última das quais já após o clube ser comprado por Roman Abramovich, que no verão de 2004 o substituiria por José Mourinho.

Regressou então ao Valencia, vencendo desde logo a Supertaça Europeia ao Porto (2-1), mas uma série de maus resultados levaria à sua demissão em Fevereiro de 2005. Voltaria ao activo apenas 2 anos depois, contribuindo decisivamente para a permanência do Parma na Serie A, sendo depois o escolhido para orientar a Juventus no regresso ao escalão principal do futebol italiano, na sequência da despromoção administrativa devido ao escândalo do Calciopoli.

Após um terceiro e um segundo lugares na Serie A pela Vecchia Signora, assumiu pela primeira vez o comando técnico da “sua” Roma em 2009/10 e ficou muito perto de garantir a dobradinha logo nessa primeira época, soçobrando na fase final da temporada para o Inter de… José Mourinho. A segunda temporada, todavia, não viria a correr de feição e Ranieri acabaria por se demitir em Fevereiro, tendo o mesmo desfecho em Março do ano seguinte, agora ao comando… do Inter.

ranierivalencia(O Valencia foi a primeira experiência internacional do técnico italiano, que na sua segunda passagem pelo clube conquistou a Supertaça Europeia.)

No verão de 2012, e depois de perder algum crédito no futebol italiano, foi contratado pelo Monaco com a missão de devolver o clube do Principado à Ligue 1 – o que conseguiria logo à primeira tentativa, acabando depois como vice-campeão em 2013/14, só atrás do já então todo-poderoso Paris Saint-Germain. Não teria, contudo, o contrato renovado para a nova temporada, mais uma vez por “culpa” de um português (no caso, Leonardo Jardim), tornando-se o sucessor de Fernando Santos na selecção da Grécia – aventura que durou apenas 4 partidas.

Foi neste contexto que surgiu a possibilidade de assumir o comando técnico do Leicester, que havia garantido a permanência na temporada anterior por uma unha negra… e o resto é o que se sabe: o título de campeão, seguido do apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões na época seguinte… antes do despedimento em Fevereiro, numa altura em que distava apenas 1 ponto da zona de despromoção. A reverência e o respeito para com o trabalho do técnico, porém, nunca tremeram, nem sequer com as passagens menos felizes por Fulham, Roma e Watford – pelo meio, registo para trabalhos positivos no Nantes e na Sampdoria.

ranierichelsea(Ranieri, aqui presente na apresentação oficial de Joe Cole e Verón como jogadores do Chelsea, esteve quase 4 temporadas completas nos “blues”, saindo para dar o lugar a José Mourinho.)

Até que no último dia 23 de Dezembro, quase 1 ano depois de ter sido demitido do Watford, Ranieri foi chamado pelo clube onde “tudo começou” e não enjeitou o desafio. Depois de conseguir subir 9 posições até ao quinto lugar final na fase regular, superou o Venezia no primeiro play-off, disputado em jogo único (2-1), e o Parma “de Buffon” no segundo, aí já a dois jogos (3-2 e 0-0). A decisão final seria frente ao Bari, também em formato de dois jogos, com o primeiro, em casa, a terminar empatado (1-1), tendo os visitantes empatado de grande penalidade aos 96 minutos (já depois de ter falhado outra no primeiro tempo); já o segundo, num Estádio San Nicola lotado (mais de 50 mil pessoas), chegou com o nulo no marcador aos 94 minutos, quando o recém-entrado Pavoletti fez o golaço que carimbou a subida do Cagliari e provocou as lágrimas do veterano treinador.

“É um grande alívio. Cagliari significa tudo para mim. Há 34 anos tornei-me treinador aqui e este clube permitiu-me viajar pela Europa, serei sempre grato a esta região e à sua gente. Estava com medo de voltar, de manchar as lindas lembranças que tinha aqui, então uma frase de Gigi Riva me atingiu e algo mais importante ficou na minha mente: teria sido egoísmo não aceitar a proposta do Cagliari, visto que o clube atravessava um período difícil. Depois de cada derrota, o meu coração doía. Foi uma ferida profunda. O meu sentimento por esta camisola é autêntico, lembro-me que quando ganhei a Premier League, pensei imediatamente nas cores rossoblù. Sempre serei grato àqueles que me trouxeram de volta à Sardenha. Ter dado alegria a um grupo tão apaixonado de adeptos deixa-me muito orgulhoso”, salientou Ranieri após ter cumprido a sua missão, e já depois de um gesto que diz muito da sua pessoa, pedindo aos seus adeptos para não provocarem o rival derrotado na hora dos festejos.

lapadula(Quando Ranieri assumiu o Cagliari, Gianluca Lapadula tinha 6 golos em 17 jogos na Série B, mas acabou a temporada como melhor marcador da competição, faturando por 25 vezes em 41 partidas, incluindo os play-offs.)

O contrato assinado em Dezembro é válido até Junho de 2025, pelo que se prevê que Claudio Ranieri continue no comando do Cagliari para o regresso à Serie A. Resta agora saber como o clube atacará o mercado de transferências – e, ao mesmo tempo, se conseguirá manter os maiores nomes do plantel vitorioso, como o internacional croata Marko Rog, o internacional uruguaio Nahitan Nández, o herói Pavoletti, o jovem internacional angolano Zito Luvumbo ou o goleador Gianluca Lapadula, avançado internacional peruano que atravessava uma fase de menor fulgor na primeira metade da temporada, pedindo-se mesmo a sua saída da titularidade, e que acabou a época como artilheiro da Serie B, com 25 golos em 38 jogos.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Fiorentina vs. equipas portuguesas: registo equilibrado

SportingFiorentina0910(Anderson Polga e Alberto Gilardino disputam a bola durante o Sporting 2-2 Fiorentina, válido pela primeira mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões 09/10.)

Quase dez anos depois, a Fiorentina regressa ao nosso País para um jogo de caráter oficial, com o Sp. Braga a tornar-se no sétimo adversário português do emblema “viola”, que, até hoje, já tinha encontrado Belenenses, Benfica, Boavista, Paços de Ferreira, Sporting e Vitória FC.
No total, o clube de Florença soma dezasseis partidas contra equipas lusas nas provas europeias e, apesar de ter uma ligeira vantagem nesse confronto, o equilíbrio é a nota dominante: os italianos conseguiram sete triunfos contra cinco derrotas, numa contabilidade em que se registam ainda quatro empates.
Para encontrarmos o primeiro duelo entre a Fiorentina e um clube “tuga”, precisámos de recuar até 1967: na 2ª Eliminatória da Taça UEFA, o Sporting venceu primeiro em Alvalade, por 2-1, e empatou a um golo fora, carimbando a passagem. Mais de quarenta anos depois, em 2009, os “leões” já não foram tão bem sucedidos diante dos transalpinos no play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões: ao empate a duas bolas que se registou primeiro em Alvalade, seguiu-se a igualdade a um no Artemio Franchi.
Uma época após se ter estreado em Portugal, o emblema da Toscana voltou a enfrentar uma equipa lusa na Taça UEFA e tornou a ser eliminado: nos 16-Avos-de-Final em 68/69, o Vitória FC venceu o primeiro encontro por 3-0 em Setúbal e perdeu 1-2 fora; e quatro anos depois, em 72/73, os sadinos repetiram “a gracinha” na 2ª ronda: ao triunfo por 1-0 no Bonfim, seguiu-se o desaire por 1-2 em Florença que valeu nova qualificação.
Na temporada 86/87, seria a vez do Boavista encontrar a Fiorentina também na Taça UEFA e deixar pelo caminho os italianos: logo na eliminatória inicial, o conjunto “viola” até ganhou a primeira mão em casa, por 1-0, mas perderia pelo mesmo resultado no Bessa, com o desempate por penaltis a ditar o apuramento axadrezado (3-1). Dez épocas depois, em 96/97, a contar para os Quartos-de-Final da Taça das Taças, o Benfica viu “calhar-lhe em sorte” a Fiorentina de Rui Costa, com os comandados de Claudio Ranieri a vencerem o primeiro jogo na Luz, por 2-0, e a garantirem a passagem mesmo com a derrota em casa na segunda mão (0-1).
Posteriormente, na Liga Europa 13/14, o Paços de Ferreira mediu forças com a formação “viola” na fase de grupos e conseguiu empatar em Guimarães (0-0) depois de ter perdido no Artemio Franchi (0-3); e duas épocas depois, também na fase de grupos da segunda prova da UEFA, o Belenenses foi inicialmente goleado no Restelo (0-4), acabando por perder somente pela margem mínima em Florença (0-1).
Agora, é a vez do Sp. Braga defrontar este histórico do futebol italiano, com a primeira mão do play-off da Liga Europa a jogar-se esta tarde a partir das 17h45 – o segundo jogo realizar-se-á na próxima semana, dia 23, às 20h.

Mihajlovic: o talento e a polémica de mãos dadas até ao fim

Mihajlovicsamp(A marcação de livres tornou-se na grande “imagem de marca” de Mihajlovic.)

É quase uma inevitabilidade: quando alguém morre ou passa por graves problemas de saúde, a tendência natural é exaltar as virtudes e esquecer ou esconder os defeitos, enaltecer o legado e desvalorizar as polémicas passadas. E talvez essa forma de pensar e agir esteja correcta, ainda que se exija algo diferente quando o intuito é lembrar de forma objectiva o percurso da pessoa em questão.

Sinisa Mihajlovic é um desses casos. Um grande futebolista, também com créditos firmados enquanto treinador (ainda que em menor escala), mas sempre dado a polémicas dentro e fora do campo, quer por comportamentos quer por palavras, que foram praticamente esquecidas e colocadas de lado quando, em 2019 – e depois da rábula do afastamento enquanto treinador do Sporting dez dias após ter chegado, na sequência da queda de Bruno de Carvalho –, foi comunicado que padecia de leucemia. Após três anos de luta, avanços e recuos e muitas manifestações de compaixão vindas de todos os quadrantes do futebol mundial, Mihajlovic partiu na última sexta-feira, aos 53 anos, numa altura em que se encontrava sem clube depois de ter sido despedido do comando técnico do Bolonha em Setembro, e o mundo do futebol reagiu com comoção.

mihajloviccrvenazvezda(Foi no Estrela Vermelha que o esquerdino saltou para a ribalta ao sagrar-se Campeão Europeu.)

Mas nem sempre foi assim. As controvérsias andaram sempre de braço dado com o jogador e treinador, a começar logo pela questão da nacionalidade: nascido em 1969 em Vukovar, antiga Jugoslávia (hoje território croata), filho de pai sérvio/bósnio e mãe croata, Mihajlovic sempre se identificou como sérvio. Ficariam célebres os confrontos com o croata Igor Stimac na final da Taça da Jugoslávia de 1991, no embate entre o seu Estrela Vermelha de Belgrado e o Hajduk Split, disputada uma semana depois de bombardeamentos à sua cidade natal (Borovo): de acordo com Mihajlovic, Stimac ter-lhe-á dito “Espero que os nossos homens matem toda a tua família”, numa altura em que o sérvio não conseguia falar com os seus pais há vários dias devido ao corte das linhas telefónicas. A partir de então, e como o próprio admitiu, passou o resto do jogo a tentar lesionar gravemente Stimac – e o contrário igual –, com os dois jogadores a serem expulsos ao minuto 70 após uma entrada duríssima de Mihajlovic sobre outro jogador do Hajduk que provocou nova onda de confrontos a envolver as duas equipas. Um mês depois, novo encontro para o campeonato… e nova expulsão para Mihajlovic.

Por esta altura, o sérvio já tinha ficado de fora da lista de Mirko Jozic (mais tarde treinador do… Sporting) para o Mundial de sub-20 que a geração de ouro jugoslava venceu em 1987, no Chile, alegadamente por ter rejeitado uma oferta do Dinamo de Zagreb, equipa com a qual treinou à experiência e até fez estágios. E tudo porque, numa altura em que já era titular no Borovo, clube da sua cidade que competia na Liga provincial croata, equivalente ao terceiro escalão do futebol jugoslavo, iria apenas ser a quarta opção para o meio-campo do conjunto de Zagreb – além da exigência do técnico Miroslav Blazevic para que cortasse o longo cabelo encaracolado.

mihajlovicserbia(Mihajlovic representou a Jugoslávia no Mundial 1998 e no Euro 2000.)

Acabaria por rumar no verão de 1988 para o Vojvodina, sagrando-se campeão nacional de forma surpreendente, e em 90/91 viria a conquistar a Taça dos Campeões Europeus pelo Estrela Vermelha, junto de uma constelação de estrelas que incluía nomes como Robert Prosinecki, Dejan Savicevic, Vladimir Jugovic ou Darko Pancev. Ainda assim, o próprio Mihajlovic revelar-se-ia decisivo: foram dele os dois golos (o primeiro na transformação de um livre directo) que valeram o empate caseiro ante o Bayern Munique na segunda mão das meias-finais, depois da vitória por 2-1 na Alemanha no primeiro jogo. Na partida decisiva, apontaria ainda um dos penaltys no desempate final diante do Marselha, no que mais tarde considerou “a final mais aborrecida da História”, admitindo que o Estrela Vermelha “passou o jogo todo a defender”.

No verão de 1992, já com a guerra da Jugoslávia a decorrer em pleno – razão pela qual não pôde participar no Europeu, o tal que a Dinamarca haveria de vencer após ser chamada à última hora para substituir os jugoslavos –, Mihajlovic transferiu-se para a Roma por pedido expresso do compatriota Vujadin Boskov. Inicialmente afirmou-se mais uma vez como médio esquerdo, assumindo-se como titular indiscutível mesmo tendo de lutar por um lugar de estrangeiro com nomes como Aldair, Hassler e Caniggia, mas uma lesão grave de Carboni levou a que recuasse para a posição de lateral – que manteve na época seguinte, já sob o comando do italiano Carlo Mazzone, ainda que a contragosto. Anos mais tarde, já retirado, consideraria estas duas épocas “as piores da carreira”.

mihajlovicscp(Em 2018, Augusto Inácio e Bruno de Carvalho apresentaram Sinisa Mihajlovic como treinador do Sporting, mas, dez dias depois, os novos responsáveis pelo clube despediram o sérvio.)

Seguir-se-iam quatro temporadas em representação da Sampdoria, com sensação aziaga logo na estreia oficial: na Supertaça de 1994, Mihajlovic marcou… de livre directo, mas acabaria por falhar o seu pontapé no desempate final por penaltys, atirando à trave, com o Milan a conquistar o troféu. Sob o comando de Sven-Goran Eriksson passaria a ser utilizado maioritariamente como central, e no verão de 1998 estrear-se-ia finalmente numa grande competição de selecções com a Jugoslávia: o Mundial de França, onde seria mais uma vez… Mihajlovic. Autor de grandes exibições – foi dele o golo que valeu a vitória inaugural diante do Irão –, ficaria marcado também pela troca de insultos com o alemão Jens Jeremies após uma entrada dura do sérvio; aparentemente tudo teria ficado por aí, mas mais tarde foi possível constatar pelas imagens televisivas que Mihajlovic cuspiu na cara do médio alemão.

Nesse verão mudou-se para a Lazio, onde se reuniria com o técnico sueco e se tornaria amigo de Sérgio Conceição e Fernando Couto e onde conquistaria finalmente troféus em Itália. Primeiro a Supertaça e a Taça das Taças (a última edição da competição), logo na primeira temporada, e depois o triplete em 99/00: campeonato, Taça e Supertaça Europeia, cumprindo os 90 minutos na final perante o Manchester United (1-0). Juntou-lhe mais uma Supertaça, em 2000, num louco 4-3 sobre o Inter de Milão onde marcou de penalty, e a Taça em 2003/04, na despedida do emblema romano aos 35 anos.

Mihajlovicinter(O Inter foi o último clube do sérvio enquanto jogador.)

Mas calma: claro que pelo meio houve lugar a mais polémicas. No Euro 2000, no louco jogo inaugural diante da Eslovénia, Mihajlovic foi expulso com duplo amarelo pelo português Vítor Pereira logo ao minuto 60, após empurrar um adversário com o jogo parado, numa altura em que a sua equipa perdia por 3-0 (de forma milagrosa, acabaria por conseguir empatar a partida com grande exibição do nosso conhecido Drulovic). Alguns meses depois, num jogo da Liga dos Campeões contra o Arsenal, foi acusado de ter chamado “macaco de m…” a Patrick Vieira já depois do apito final, após confrontos com vários jogadores dos Gunners, e posteriormente admitiu tê-lo feito, ainda que alegadamente em retaliação para com o insulto proferido pelo francês de “cigano de m…”. Curiosamente, os dois viriam a reencontrar-se no Inter de Milão, com Mihjalovic já como adjunto de Roberto Mancini, e tornar-se-iam grandes amigos, com o antigo internacional francês a ser até um dos convidados para o jogo de homenagem ao sérvio em Novi Sad em 2007.

Ainda na Lazio, foi suspenso pela UEFA por 8 jogos depois de cuspir e pontapear Adrian Mutu numa partida da Liga dos Campeões ante o Chelsea, em 2003, com a pergunta feita pelo jornal “The Guardian” a ficar para a História: “Será este o jogador mais perverso do futebol?” Mais uma vez de forma curiosa, acabaria por ser treinador do romeno na Fiorentina em 2010/11. No Inter, onde venceu mais um campeonato e duas Taças (a primeira das quais com um golo seu na segunda mão da final, diante da Roma… de livre directo), mesmo já veterano continuou a fazer “amigos”, como Zlatan Ibrahimovic, na altura na Juventus, com quem travou duelos duríssimos durante duas épocas – imagens televisivas chegaram a mostrar uma cabeçada do sueco ao sérvio. Mais tarde, tal como com Patrick Vieira e Mutu, reencontraria Ibra como adjunto no Inter, com o sueco a chegar a dizer que foi com Mihajlovic que aprendeu a marcar livres directos.

mihajlovic(Mihajlovic orientou o Bolonha até Setembro último.)

Obviamente, as polémicas continuaram enquanto treinador. Depois de dois anos como adjunto de Mancini no Inter, e após a saída para dar lugar à equipa técnica liderada por José Mourinho, começou a carreira de treinador principal em Novembro de 2008 ao ser contratado pelo Bolonha, acabando demitido em Abril de 2009, após uma derrota que provocou a queda para a zona de descida e com rumores na imprensa italiana sobre conflitos com vários consagrados do plantel. Fez depois um trabalho meritório no Catania e outro menos bem sucedido na Fiorentina, até que em Maio de 2012 assumiu a selecção da Sérvia… e não demoraria a entrar em choque com jogadores – no caso, o então benfiquista Matic e também Ljajic, que se retiraram da selecção durante alguns meses após divergências com o técnico.

Depois de falhar o apuramento para o Mundial do Brasil, acabou por se mudar para a Sampdoria e o bom trabalho abriu-lhe as portas do AC Milan, onde já não foi tão feliz – ainda que fique para a História como o treinador que não teve medo de dar a titularidade da baliza Rossonera a um menino de 16 anos chamado Gianluigi Donnaruma. Após a sua demissão, a namorada de Kevin-Prince Boateng disse que o ambiente na equipa ia melhorar; a resposta de Mihajlovic foi elucidativa: “Considero que as mulheres não deveriam falar de futebol. Não têm essa capacidade”.

Mihajloviclivre(O recorde de golos de livre direto na Série A pertence ao ex-internacional jugoslavo: 28. Na foto, ei-lo a executar um pontapé durante um derby romano entre Lázio e Roma.)

No Torino, mais uma polémica extra-futebol: questionado sobre uma infame montagem feita pelos adeptos da Lazio com Anne Frank vestida com uma camisola da Roma, que motivou até leituras de extratos do diário da menina judia nos estádios italianos nas duas jornadas, Mihajlovic respondeu da seguinte forma: “Anne Frank? Não sei quem é. Não leio jornais, não posso falar sobre o assunto. Peço desculpa mas declaro-me ignorante nessa matéria”. Falta dizer, se calhar até para se perceberem melhor estas declarações, que Mihajlovic era um nacionalista convicto, defensor tanto dos regimes de Tito como de Slobodan Milosevic, formalmente acusado de crimes de guerra e contra a humanidade (entre os quais genocídio) pela intervenção militar das tropas jugoslavas na Bósnia, Croácia e Kosovo, mantendo ainda amizade com Zeljko Raznatovic, conhecido como Arkan, antigo líder paramilitar sérvio também ele acusado de crimes de guerra. “Com Tito havia valores, família, uma ideia de País e Povo. Com ele, a Jugoslávia era o país mais bonito do mundo. Se nacionalista significa patriota, se isso significa amar a minha terra e a minha nação, sim, eu sou” é uma das suas frases mais conhecidas.

Depois do Torino, deu-se a rábula da contratação para o Sporting por parte de Bruno de Carvalho… apenas para ser demitido dez dias depois pela Comissão de Gestão liderada por Sousa Cintra, num processo que se arrastava na justiça desportiva até hoje. Em Janeiro de 2019 regressou ao Bolonha, o primeiro clube que havia treinado na carreira, e por lá ficou até ao último mês de Setembro, sendo que grande parte desta passagem se processou enquanto lutava contra a leucemia – o que ainda assim não o impediu de se atirar ao amigo e ex-colega de balneário e de banco Mancini, em Abril de 2021, devido ao facto do seleccionador italiano ter convocado Roberto Soriano, médio do Bolonha, para um triplo compromisso de seleções com Irlanda do Norte, Bulgária e Lituânia… e não o ter colocado em campo em nenhum dos jogos. “É o melhor médio italiano da atualidade, não faz qualquer sentido. O melhor tinha sido ele ter ficado connosco. Não teve minutos contra uns zés-ninguém. Honestamente, se fosse ao Soriano, tinha dito ao Mancini para ir dar uma volta”, disparou na altura.

SergioMihajlovic(Sérgio Conceição foi colega de Mihajlovic na Lázio e prestou-lhe uma sentida homenagem na passada sexta-feira.)

Em Maio de 2020, em plena pandemia do coronavírus, o FC Porto promoveu um “reencontro”, ainda que virtual, entre Sérgio Conceição e Mihajlovic, com o treinador portista a emocionar-se por rever e voltar a falar com “uma pessoa incrível”. Na última sexta-feira, após a notícia da morte do sérvio, recorreu às redes sociais para fazer uma última homenagem ao antigo colega, que deixa mulher e 5 filhos. “Hoje partiu um amigo, uma inspiração, um campeão. Sinisa, serás para sempre recordado pelo que fizeste em campo, e também por quem eras fora dele. Foste uma presença importante na nossa chegada a Roma, foi lado a lado que vimos as nossas famílias crescerem, que crescemos nós enquanto jogadores, homens, pais de família. O futebol deu-me tudo aquilo que tenho hoje. Momentos como este recordam-nos da importância que têm as pessoas que cruzamos no nosso caminho. Os verdadeiros trofeus que guardo da carreira como jogador são momentos como aqueles que vivemos juntos. Descansa em paz, amigo. Tens em Portugal uma família a olhar pela tua!”

Como jogador, Mihajlovic destacou-se, além da vontade férrea (que o fazia acabar por se exceder em muitas situações, com o já deu para perceber), pela excelência na marcação de livres directos. Ao todo, marcou 28 golos dessa forma na Serie A (ainda hoje recordista, em igualdade com Pirlo), o último dos quais a valer uma vitória do Inter por 2-1 diante do Ascoli, na fase final de 2005/06, que se revelaria também o derradeiro da sua carreira, encerrada nesse verão aos 37 anos. Uma arte que Mihajlovic aperfeiçoou e dominou como quase nenhum outro jogador na História do jogo – pessoalmente, coloco-o no top-3 de melhores marcadores de livres de sempre, apenas atrás de Juninho Pernambucano e David Beckham. Para a História ficará o hat-trick na conversão de livres directos pela Lazio diante da Sampdoria em 98/99, bem como na memória colectiva dos benfiquistas o golaço que fechou a vitória Laziale por 3-1 na terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões em 2003/04, praticamente afastando as Águias da prova (cenário confirmado em Portugal com triunfo por 1-0).
Duro, polémico, homem de convicções tão fortes quanto o seu pé esquerdo: Sinisa Mihajlovic é uma figura incontornável do futebol mundial nas décadas de 90 e 2000 e, porque não, da História da ex-Jugoslávia na parte final do período pré-desmembramento e nos primeiros anos do pós. Muito provavelmente a sua vida irá dar um livro, e depois um filme, e uma coisa é certa: matéria para compor um best-seller e um êxito de bilheteira não faltará.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Fiorentina – Salernitana: Nuno Gomes é o goleador máximo

nunogomes(Nuno Gomes precisou de apenas um jogo para se tornar no melhor marcador da história entre Fiorentina e Salernitana.)

Fiorentina e Salernitana defrontam-se esta noite no Stadio Artemio Franchi, em Florença, a contar para a 14ª Jornada da Serie A, naquele que será o décimo terceiro confronto oficial entre os clubes e o nono no patamar mais alto do futebol italiano.
E embora a história recente destes emblemas tenha uma grande figura em comum, o francês Franck Ribéry, que jogou duas épocas na Fiorentina e terminou a carreira há poucas semanas com a “maglia” da Salernitana, há um português que se destaca positivamente nos registos deste duelo: Nuno Gomes.
O antigo ponta de lança é o melhor marcador da história dos confrontos entre Fiorentina e Salernitana, com três golos, e apesar de ter participado em duas partidas entre os “viola” e os “granata”, alcançou a liderança da tabela de goleadores à primeira tentativa, apontando um hat-trick memorável logo na sua estreia em solo italiano.
A 17 de Setembro de 2000, na primeira vez em que envergou a famosa camisola roxa num jogo oficial, o futebolista natural de Amarante marcou os três primeiros tentos com que a sua equipa goleou em Salerno, por 5-0, na primeira mão dos Oitavos-de-Final da Taça de Itália correspondente à temporada 00/01 – na segunda mão, voltou a ser titular, mas não marcou no triunfo por 3-1.
Assim, em pouco mais de trinta minutos, o internacional luso passou a ser o goleador máximo da história entre Fiorentina e Salernitana, e os seus mais diretos perseguidores, com dois golos, são todos eles ex-jogadores do clube “viola” e figuras do futebol mundial que dispensam apresentações: Batistuta, Edmundo, Mijatović e Vlahović – este último, como se sabe, é o único dos quatro que ainda pode superar o português.
Já agora, importa referir, Nuno Gomes só voltaria a marcar por mais uma ocasião nessa edição da Coppa Itália, mas não foi um golo qualquer: depois da “Fiore” ter ganho em Parma a primeira mão da final por 1-0, os “crociati” estiveram a ganhar em Florença por igual resultado, mas a turma da casa chegaria ao empate no segundo tempo pelo avançado português, conquistando o troféu pela sexta e última vez até hoje.
Contratado ao Benfica no Verão de 2000, na sequência do excelente Europeu que realizou, Nuno Gomes cumpriu apenas duas temporadas na Fiorentina – 65 jogos e 20 golos -, tendo regressado a Portugal e aos encarnados em 2002, depois do seu contrato com os italianos ter sido anulado devido à falência do clube.

Cutrone: de regresso a casa para relançar a carreira

cutrone(Cutrone está de volta ao Como, clube onde iniciou o seu trajeto futebolístico.)

Patrick Cutrone deu um surpreendente rumo à sua carreira: o ponta de lança italiano foi anunciado como reforço do Como na passada segunda-feira, e nesse mesmo dia alinhou 90 minutos na derrota caseira diante do Brescia (0-1), válida pela 3ª Jornada da… Serie B.
Natural justamente de Como, o futebolista de 24 anos, apesar da queda ao segundo escalão, deposita nesta escolha uma elevada dose de esperança no relançamento de uma carreira que não há muitos anos prometeu voos maiores do que aqueles que tem conseguido nos últimos tempos, sendo que para além do regresso a casa, há outro dado importante: a ambição do clube subir à Serie A.
Com grande parte da formação feita no Milan, Cutrone marcou vinte e sete golos em oitenta e nove jogos pela equipa principal entre 17/18 e 18/19 – ofuscou a chegada de André Silva, contratado ao FC Porto em 2017 – e rapidamente se assumiu como um dos principais ativos milaneses, até porque o emblema rossonero vivia, por essa altura, tempos bem menos felizes do que os que vive agora.
Vendido ao Wolverhampton por dezoito milhões de euros em 2019, o italiano fez apenas três golos em vinte e quatro jogos na primeira metade da época, e em Janeiro voltou ao seu País para representar a Fiorentina: emprestado por ano e meio à turma “viola” – que ficava obrigada a comprar o seu passe no fim da cedência -, apontou cinco tentos em vinte e um encontros na segunda parte de 19/20, mas na época seguinte ficou em branco nas treze partidas que disputou e foi “devolvido” aos ingleses.
De regresso ao Wolves em Janeiro de 2021, ainda fez quatro jogos numa altura em que Nuno Espírito Santo tinha poucas opções para o ataque, mas seria novamente emprestado, acabando essa temporada com a camisola do Valencia, por quem não marcou qualquer golo em sete tentativas. Na última época, sem contar para Bruno Lage, rumou também por empréstimo ao Empoli, registando somente três golos em trinta e um encontros.
Contas feitas, nas duas últimas temporadas, Cutrone representou quatro clubes e apontou apenas três golos, todos eles pelo Empoli, e está claramente longe da forma que demonstrou ao serviço do Milan, razão que terá ajudado o Wolverhampton a permitir a sua saída sem encargos.
Presidido por Dennis Wise, ex-jogador do Chelsea, o Como anunciou na segunda-feira outro “reforço” para além de Cutrone: Thierry Henry é o mais recente investidor do clube que já tinha sido surpreendido neste “mercado” ao contratar Cesc Fàbregas, com o espanhol a acumular as funções de jogador e… investidor.

8 de Setembro de 1996: o dia de MARCELO Otero

fiorevicenza(Marcelo Otero foi a grande figura do Fiorentina – Vicenza de 96/97.)

8 de Setembro de 1996: a I Liga Portuguesa já vai na 2ª Jornada e nesse dia o Braga ganha ao Belenenses (3-1) e o Chaves ao Leça (1-0), enquanto que o Salgueiros – Marítimo e o Estrela da Amadora – Rio Ave não têm qualquer golo.
Em Itália, a Série A arranca nesse fim-de-semana e naquele domingo, 8 de Setembro, o “jogo grande” é a receção do Campeão Milan ao Hellas Verona (acaba 4-1). Há mais quatro jogos, com destaque para o Reggiana – Juventus (1-1), mas a figura do dia – e da jornada – é Marcelo Otero, jogador do Vicenza.
Nono classificado do campeonato anterior, o Vicenza desloca-se na ronda inaugural de 96/97 ao Artemio Franchi para defrontar a Fiorentina de Rui Costa, Batistuta, Schwarz, Toldo ou Luís Oliveira, e surpreende a Itália: ganha por 4-2 com quatro golos de Otero.
O avançado uruguaio, a cumprir a segunda temporada consecutiva nos “biancorossi”, faz dois golos na primeira parte (8′ e 28′) e outros dois na segunda (67′ e 90′ de penalti), e não só garante uma vitória histórica da sua equipa, como tem aquilo a que se pode chamar de jogo perfeito.
Amplamente favorita a vencer esta partida, a turma de Florença, que meses antes conquistara a Taça de Itália e era comandada por Claudio Ranieri, não conseguiu melhor do que reduzir por duas vezes para a margem mínima, 1-2 e 2-3 com auto-golo de Sartor (35′) e um tento de Oliveira (80′), e entrava assim na Série A com uma surpreendente derrota caseira.
No fim do campeonato, o Vicenza é oitavo, com 47 pontos, e termina um lugar acima da Fiorentina, que só chega aos 45 e falha claramente o objetivo de conquistar uma vaga nas competições europeias da temporada seguinte.
Quanto a Marcelo Otero, apontou 13 golos na edição da Série A 96/97, o que foi o seu máximo em quatro temporadas no futebol transalpino, e em 1999 trocou o Vicenza pelo Sevilha, terminando a carreira em 2003, ao serviço dos uruguaios do Fénix, com apenas 32 anos – apontou 10 golos em 25 partidas pela principal seleção uruguaia.
Há exatos 25 anos, o dia 8 de Setembro de 1996 ficou para sempre gravado a “letras de ouro” na vida e carreira de Marcelo Alejandro Otero Larzábal.

Davide Astori: três anos sem o Capitano

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Domingo, 4 de Março de 2018. Itália acorda com a agitação normal de um dia marcado pelas eleições legislativas no País, mas rapidamente uma trágica notícia assume o “papel principal” daquele dia: tinha falecido Davide Astori, internacional A italiano e jogador da Fiorentina.
Astori, de 31 anos, terá morrido durante o sono vítima de paragem cardiorrespiratória, porque, soube-se depois, sofria de um problema cardíaco hereditário, que nunca foi detetado nos muitos exames a que foi submetido ao longo da sua carreira.
Nascido a 7 de Janeiro de 1987, Astori realizou grande parte da sua formação no AC Milan, mas nunca jogou pela primeira equipa rossonera, tendo sido emprestado a Pizzighettone e Cremonese, antes de ser transferido para o Cagliari, em 2008, por quem alinhou durante seis temporadas.
No clube da Sardenha, o central destacou-se a ponto de chegar à principal Seleção transalpina e despertar o interesse de clubes maiores: em 2014 foi emprestado à Roma e no ano seguinte voltou a ser cedido, desta feita à Fiorentina, para onde se mudou em definitivo após essa época e onde rapidamente ganhou estatuto dentro e fora do balneário: era capitão, um ídolo dos adeptos e tinha o respeito e admiração não só dos colegas e treinadores como de todos os que com ele lidavam.
Naquele domingo, a Fiorentina jogava em Udine e, pela manhã, os jogadores começaram a descer dos quartos para tomar o pequeno almoço, contudo, algo não estava certo: Astori não aparecia e não atendia as chamadas. Foi o massagista quem o encontrou já sem vida.
Uma semana depois, a Fiorentina voltou a entrar em campo, recebendo o Benevento, numa partida que ficou marcada por muita emoção e comoção, mas também por muitas e bonitas homenagens, e terminou com vitória da equipa da casa por 1-0.
O golo surgiu aos 25′, por intermédio de Vítor Hugo, o outro jogador do plantel que usava os mesmos números de Astori: o italiano jogava com o 13; o brasileiro era o 31. Depois de marcar, Vítor Hugo correu para o banco e dedicou o golo ao colega, fazendo o sinal de continência para uma t-shirt exibida com a foto de Astori e perante o olhar atento de Bruno Gaspar e Gil Dias, os portugueses então ao serviço da Fiore.
Há três anos, Astori, Il Capitano da Fiorentina, deixou-nos para sempre.

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