Zé Leite: fim do calvário deixou água na boca

zeleite(Zé Leite é um dos reforços da Oliveirense para a nova época.)

A 3ª Jornada da II Liga ficou marcada pelo regresso de Zé Leite aos relvados: após nove meses de “calvário” devido a uma lesão sofrida em Novembro do ano passado, o extremo voltou finalmente a alinhar numa partida oficial, estreando-se, ao mesmo tempo, com a camisola da Oliveirense diante do FC Porto B (0-2).
Sem jogar oficialmente desde o dia 7 de Novembro de 2021, então ao serviço do Felgueiras, Zé Leite foi lançado aos 64 minutos por Fábio Pereira na partida que decorreu no Centro de Formação do Olival, e teve uma estreia muito positiva num escalão profissional, já que a sua entrada mexeu claramente com o jogo ofensivo da Oliveirense, que ficou perto de marcar numa jogada criada por si.
Sendo certo que as lesões nunca são bem-vindas na carreira de um atleta, a que afetou o futebolista natural de Vale de Cambra não poderia ter chegado em pior timing: reforço do Felgueiras para 21/22, o extremo estava a ser um dos destaques dos durienses no início da temporada, tendo sido titular em nove jogos, sete na Liga 3 e dois na Taça de Portugal, nos quais registou duas assistências e um golo.
De regresso aos treinos em Abril passado, Zé Leite não voltou a jogar pelo Felgueiras, mas a qualidade que já tinha demonstrado ao serviço do emblema azul-grená e não só, foi o suficiente para merecer a confiança dos responsáveis da Oliveirense, que apesar da longa paragem que o jogador enfrentou, não tiveram dúvidas na sua contratação.
Curiosamente, o jovem de 22 anos iniciou o seu trajeto no futsal, ao serviço do GDC Lordelo, e até teve uma curta passagem pela formação da Oliveirense antes de se mudar para o Feirense, onde cumpriu grande parte do percurso formativo – passou ainda por FC Porto, Sanjoanense e Cesarense. Como sénior, além dos clubes já citados, representou Avanca, Lusitânia de Lourosa e Sanjoanense.
Jogador muito talentoso e com margem de progressão, Zé Leite tem tudo para ser uma das revelações da II Liga 22/23, e o seu regresso à competição no passado domingo deixou “água na boca” dos adeptos do clube que representa e não só.

Ricardo Alves: a saída a mal que veio mesmo por bem

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O médio Ricardo Alves, que venceu a II Divisão da Rússia pelo Krylya Sovetov, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Findo o mercado de Janeiro, parecia não haver luz no fundo do túnel para Ricardo Alves. Sem clube desde o início de Outubro, quando rescindiu com o Orenburg, onde iniciava a terceira temporada consecutiva, citando problemas irremediáveis na relação com a direcção do clube russo, o médio nascido há 28 anos em São João de Ver aparentava estar a caminho de uma época perdida numa altura em que deveria estar a atingir o auge da carreira.

Chegou então o convite que viria a mudar por completo a época do antigo internacional jovem luso – e quem sabe todo o resto da sua carreira: Ricardo Alves assinou até ao fim da temporada com o Krylya Sovetov, que tinha como objectivo declarado regressar rapidamente ao principal escalão do futebol russo e que seguia por essa altura numa luta taco-a-taco com o Nizhny Novgorod… e o Orenburg. Suplente utilizado nos dois primeiros jogos no emblema de Samara, o médio português rapidamente agarrou a titularidade e viria a revelar-se um elemento fundamental na conquista retumbante do título da II Liga russa por parte do Krylya Sovetov, contribuindo com quatro assistências nos 12 jogos realizados pela equipa que se sagrou campeã com 101 pontos em 42 jornadas – mais sete que o segundo, precisamente o Orenburg que também subiu ao primeiro escalão um ano depois de ter caído de lá.

A subida era, de facto, a grande meta estabelecida para a temporada do conjunto de Samara. Mas, a partir de certa altura, deixou de ser a única: o Krylya Sovetov foi superando eliminatória atrás de eliminatória, deixando para trás quatro equipas do escalão principal (Rotor Volgograd, Khimki, Dínamo de Moscovo e Akhmat Grozny), e chegou de forma surpreendente à final da Taça, tendo pela frente o todo-poderoso Lokomotiv (de Éder). No jogo decisivo, disputado poucos dias depois das celebrações do título no campeonato, o emblema secundário ainda conseguiu fazer o golo do empate depois de praticamente ter entrado a perder, mas acabaria por soçobrar no segundo tempo (1-3) e ver esfumar-se o sonho de conquistar o troféu.

Um final inglório de uma temporada que marca mais um capítulo na já bastante movimentada carreira de Ricardo Alves. Com formação dividida entre Lusitânia de Lourosa, Porto e Boavista (com passagens por Pasteleira e Padroense pelo meio ao abrigo de parcerias destes clubes com os axadrezados e os dragões), o médio iniciou o percurso sénior no Belenenses em 2012/13 e logo nessa época viria a sagrar-se campeão nacional da II Liga, onde jogaria novamente na temporada seguinte em representação do Portimonense por empréstimo dos azuis do Restelo. Em 2014/15 resolveu partir à aventura para a Roménia, juntando-se ao Rapid de Bucareste, e no verão de 2015 chegou à Eslovénia para assinar pelo Olimpija Ljubljana onde acabaria por conquistar dois campeonatos e uma Taça em três temporadas até que em 2018/19 entendeu por bem ter chegado o momento de voltar a mudar de ares e aceitou o convite do Orenburg, que se encontrava então apenas pela segunda vez na sua história no principal escalão do futebol russo.

Ali somou 35 jogos e 6 golos em duas épocas, com a segunda a terminar com uma aziaga descida de divisão. Ricardo Alves manteve-se ainda assim no Orenburg para o ataque ao primeiro escalão em 2020/21, totalizando oito partidas e um golo até ao já referido diferendo com a direcção do clube que levou à rescisão por mútuo acordo em Outubro. Passados sete meses, pode dizer-se que tudo correu pelo melhor para o médio cujo futuro imediato está ainda no segredo dos deuses: a ligação inicial ao Krylya Sovetov era válida apenas até ao fim da temporada e ainda não há a indicação oficial de que tenha sido estendida, embora tudo aponte para esse sentido; caso esse cenário não se venha a verificar, porém, o antigo internacional jovem por todos os escalões dos sub-15 aos sub-20 (esteve inclusivamente presente no Mundial deste escalão em 2013) não deverá certamente voltar a passar pelo sufoco de estar vários meses sem clube, dada a belíssima segunda metade de temporada que realizou – e com uma medalha de campeão e outra de finalista vencido da Taça a comprová-lo.

Ricardo Oliveira: “Fazer a ‘dobradinha’ é uma sensação única”

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Ricardo Oliveira é um dos mais recentes portugueses a sagrar-se Campeão no estrangeiro: o ponta de lança festejou o título em Andorra pelo Inter Escaldes, por quem fez, ainda, a “dobradinha” em 2019/2020.
O jogador, de 24 anos, precisou de apenas meia época em terras andorranas para ser bem sucedido, depois de ter iniciado a temporada no Lorca, da III Divisão Espanhola, onde foi orientado pelo uruguaio Walter Pandiani, ex-jogador de clubes como Deportivo, Birmingham e Osasuna.
Produto da “cantera” do Boavista, o avançado passou também pela formação de Senhora da Hora e Padroense; e, como sénior, já teve quatro experiências no Campeonato de Portugal – Sanjoanense, Sertanense, Fátima e Torcatense; e duas no Distrital da AF Aveiro, por Alvarenga e Lourosa, tendo sido Campeão Distrital por este último.
Em entrevista ao nosso blog, Ricardo Oliveira falou dos títulos que conseguiu recentemente, confessou a sua admiração por Pandiani e assumiu-se como uma pessoa que não gosta de fazer planos:

Conversas Redondas: Acaba de conquistar uma “dobradinha” em Andorra pelo Inter Escaldes. Qual é a sensação?
Ricardo Oliveira: A sensação é única. Fizemos história porque foi o primeiro título de Campeão do clube e interrompemos a hegemonia do Santa Coloma, que ganhou o campeonato seis anos seguidos, e creio que não houve, nos últimos anos, muitas equipas a conseguir juntar a Taça ao campeonato, portanto, foi muito bom. Até pela situação da pandemia, que nos levou a ter o dobro ou o triplo do trabalho, estas conquistas têm um outro sabor.

CR: Qual dos títulos foi mais importante para si? O campeonato ou a Taça?
RO: O campeonato, sem dúvida. Primeiro porque foi o meu primeiro título fora do País e é um “sinal” de que o meu trabalho foi reconhecido/recompensado. Depois, porque, na minha opinião, vencer um campeonato é mais difícil do que vencer uma Taça. No campeonato tens que ser regular, trabalhas semana a semana a pensar nele e quando o conquistas, todo o teu trabalho e o teu esforço durante o ano foram premiados.

CR: Celebraram a conquista do campeonato apenas na última jornada.
RO: Sim, tivemos três “match points” e só no último é que demos o “xeque mate” no campeonato. O Santa Coloma era um rival forte, com muita capacidade e qualidade, uma equipa que joga junta há muitos anos apesar de ter jogadores relativamente jovens, muitos da minha idade, mas quase todos eles internacionais, e já tinham conseguido, noutros anos, assumir a liderança nas últimas jornadas. Na minha equipa tinhamos jogadores muito experientes e essa experiência foi fundamental para que conseguissemos controlar as emoções dia após dia num período em que jogávamos quarta e domingo. Não é uma situação fácil de gerir, mas graças à experiência desses atletas, que já passaram por situações similares, e ao grupo forte que tinhamos, conseguimos o título e terminámos com a hegemonia do nosso rival.

117037516_323427072353156_54752725171051303_n(Ricardo Oliveira cumpriu a segunda metade da época 18/19 ao serviço do Torcatense na Série A do Campeonato de Portugal.)

CR: Com que opinião ficou do Campeonato em Andorra?
RO: Tem duas/três equipas com um nível bom, como era o nosso caso, o do Santa Coloma e o do Engordany; tem o Sant Julià que tem um nível mediano; e depois as outras equipas já não são tão fortes, são semi-profissionais, têm menos condições e menos “matéria prima” do que as que falei. É um campeonato composto por oito equipas que depois parte em dois grupos de quatro e há apuramento de Campeão e luta pela manutenção. Em relação aos campeonatos que já joguei, acho que a grande diferença ali é o ritmo. O jogo parte mais cedo, por volta dos 60’/70′ minutos e fica um jogo mais de transição. Acredito que, às vezes, nem é a tática que resolve os jogos, é a dimensão física e técnica dos jogadores. Um jogador que for mais esclarecido ou mais rápido, pode ajudar a fazer a diferença nos minutos finais e acho que isso é a principal diferença que encontrei. Em termos de jogadores há muita qualidade. Aliás, eu digo sempre que qualidade existe em todo o lado e ali não é diferente. Na minha equipa, por exemplo, há jogadores internacionais Sub-21 por Espanha; o Genís, que foi o melhor marcador do campeonato e jogava comigo na frente, não é internacional mas fez uma grande carreira em Espanha na IIB e na III Divisão; o Marc Pujol e o Ildefons Lima são internacionais por Andorra e o Lima jogou até em clubes de bom nível em Itália, Espanha e Grécia; ou seja, há muita qualidade individual. Eu digo sempre que quando o grupo é forte e quem joga à tua volta tem muita qualidade, tu consegues sobressair também, se tiveres, claro, empenho e dedicação. Para mim, quando assim é, fica mais fácil as coisas correrem bem e estámos mais perto de ganhar. E foi o que aconteceu no Inter.

CR Chegou a Andorra a meio da temporada proveniente do Lorca de Espanha. Porquê esta mudança?
RO: Eu sou uma pessoa que gosta de ter um objetivo claro: é para ganhar, é para ganhar, não gosto de andar por andar. E foi o que aconteceu no Lorca: tinhamos o objetivo de subir, mas ali em Novembro/Dezembro estávamos em 4º ou 5º lugar, já tinhamos estado em 2º ou 3º, e senti que ia ser difícil subirmos porque só sobe um direto e o resto vai ao play-off. Apareceram-me algumas propostas e falei com o mister e com a direção do Lorca para sair porque tinha a ambição de ganhar um título numa I Liga. Eles respeitaram a minha ambição e a minha vontade e só tenho de lhes agradecer por terem facilitado a minha saída.

CR: E porquê o Inter Escaldes?
RO: Quando as pessoas do clube me contactaram e apresentaram o projeto, senti que era mesmo o clube certo para poder singrar e ganhar mais um título. Quando falei com o presidente a primeira vez senti logo que podia estar ali algo de bom e nem quis saber de mais nada, prontamente decidi que era para ali que ia. Eles transmitiram-me que era um projeto que já tinha cinco anos e que o grande objetivo desses cinco anos era uma qualificação para as competições europeias, algo que garantimos umas jornadas antes da fase regular terminar. Mas como estávamos “na calha” para ganhar o título, como o clube nunca tinha sido Campeão e podíamos fazer história, apesar de ter uma proposta do clube rival, e de, naquela altura, estarmos dois pontos atrás do Santa Coloma, achei que poderíamos vencer, e, graças a Deus, não me enganei.

CR: Deduzo que tenha tido uma adaptação fácil pelas semelhanças que existem entre Andorra e Espanha.
RO: Sim, foi fácil. Apesar de ser uma troca de País e haver sempre diferenças, a língua era a mesma e encontrei no plantel alguns jogadores portugueses como o Bruninho que foi formado no Sporting e o Rui Beja que jogou no Farense. Por isso, não tive dificuldades em adaptar-me.

CR: Ao fim de pouco tempo em Andorra surgiu a pandemia. Como foram esses tempos?
RO: Em Andorra não se falava muito sobre isso. Por todo o Mundo falava-se nesse assunto, ali também, claro, mas não era alarmante. Lembro-me que na semana em que tudo sucedeu, estava com a minha namorada em Andorra e, na altura, o clube disse que podiam ser suspensos os treinos e que provavelmente não ia haver jogo naquele fim de semana – até era com o Santa Coloma. Passado um dia, suspenderam toda a atividade do clube e disseram-nos que, à partida, o campeonato ia ser suspenso. No dia seguinte, o primeiro ministro de Andorra disse que as fronteiras iam ser fechadas e, nessa manhã, consegui viajar para Portugal porque o clube facilitou, passei cá a quarentena e, posteriormente, voltei a Andorra. Durante esse período tive a sorte de estar num clube que me ajudou em tudo, foram cinco estrelas connosco. Tinhamos planos de treino, fazíamos video-chamadas… Estivemos sempre acompanhados em tudo e mais alguma coisa, nunca nos faltou nada, fosse apoio psicológico, monetário, etc. Cumpriram connosco a 100% e só tenho de elogiar o esforço que o presidente e todo o staff do clube fizeram para manterem os compromissos. Isso é de louvar, ainda para mais, porque hoje em dia e dada a situação, não é fácil os clubes conseguirem cumprir com todos os seus funcionários e isso foi importante para nós mantermos o foco e a motivação nos nossos objetivos. Se já tinhamos que estar motivados por estarmos perto de fazer história, isso deu-nos ainda mais força e sentido de responsabilidade. Isso e, ainda, o facto de podermos igualmente fazer história dentro de todas estas dificuldades. Infelizmente foi uma situação que nos abalou a todos em Portugal e também em todo o Mundo, e eu tive a sorte de estar num clube sério e isso facilitou. Por isso, mais uma vez, fica aqui o meu agradecimento ao Inter, ao presidente e à restante estrutura.

116876653_762758374537735_5325093803167703628_n(Depois de representar Senhora da Hora e Padroense, Ricardo Oliveira concluiu a sua formação no Boavista, onde esteve três épocas – 12/13 a 14/15.)

CR: Voltando ao início desta época, teve a sua primeira experiência no estrangeiro, ao serviço do Lorca na III Divisão de Espanha. Emigrar era um objetivo?
RO: Sim, desde que me lembro de começar a pensar a sério em fazer vida do futebol, que o meu grande sonho era ir jogar para fora. Era uma ambição pessoal, sei que as coisas nem sempre correm bem, mas, até agora, graças a Deus, estas duas experiências oficiais no estrangeiro correram-me muito bem. Conheci pessoas do bem. Pessoas que me ajudaram a melhorar. 

CR: Como surgiu o Lorca?
RO: O Lorca surgiu através de um contacto direto do Pandiani, que me ligou a dizer quem era e eu até pensei que não era verdade, que era alguma brincadeira (risos). Lembro-me bem dele a jogar, via-o na TV, era um jogador com quem me identificava e estava a falar com um ídolo. Ele mostrou que queria contar comigo, disse o que pretendia de mim, que me conhecia melhor do que eu imaginava e eu aceitei ir. Depois foi fácil chegar a um entendimento com a direção, também por esse interesse que ele demonstrou.

CR: Como é Walter Pandiani enquanto treinador?
RO: É um treinador exigente, que é muito sincero e direto e procura sempre tirar o melhor dos jogadores. Sabemos bem da dificuldade que é para um português jogar em Espanha, mas ele acreditou em mim como jogador e como pessoa e ajudou-me a melhorar aspetos físicos e até psicológicos, ao nível da concentração para o jogo e da maneira como reagir às diferentes situações de jogo, um golo falhado ou um passe mal feito, por exemplo. Tudo isso são emoções que ganhas durante o jogo e que tens de saber controlar, porque errar toda gente erra, mas temos de trabalhar para errar o menos possível. Ele ensinou-me que a prática leva à perfeição e passámos horas e horas a praticar, de manhã, de tarde e até à noite se fosse preciso. Melhorei muito como jogador. Tudo o que eu tinha a nível de crer, ambição e resiliência, ele ajudou-me a reforçar tudo isso. 

CR: Já percebi que foi especial para o Ricardo trabalhar com “El Rifle”.
RO: Foi, foi especial porque já me identificava com o carácter dele enquanto jogador e, quando o conheci, provou tudo isso: é uma pessoa lutadora, que dá tudo e quer sempre mais, ambiciona fazer sempre mais e melhor pela equipa e identifico-me plenamente com isso. Como já disse, qualidade existe sempre muita em todo lado onde vais, mas, com ele, aprendi que aquilo que diferencia os jogadores de um patamar de muito bom para excelente ou de bom para muito bom é a capacidade de trabalho e a capacidade de reação às situações menos boas. Porque sobre vitórias é fácil de trabalhar: tens motivação. Difícil é quando não corre bem ou quando precisamos de fazer mais, precisamos de arranjar motivação e arranjar maneiras de trabalhar para sermos bem sucedidos. O Pandiani ensinou-me tudo isso e, quando ganhei estes títulos em Andorra, foi das primeiras pessoas a quem agradeci pelos ensinamentos, pelas conversas extra- futebol e pelo que me ajudou a crescer como pessoa e como jogador. Quando ouves conselhos de uma referência, de alguém que viste jogar e que sabes que naquilo que ele fala podes confiar a 200%, porque sabes que passou por aquilo, é algo que marca. É uma pessoa com quem é fácil conversar, muito humilde, sem interrogações na fala e que quando gosta gosta, quando não gosta não gosta. Identifico-me com ele igualmente por isso, porque também sou assim.

CR: Há alguma história com ele que possa partilhar?
RO: Por acaso até há (risos). Quando viajei para Espanha, a pré-época já decorria há uma semana. Fui de avião e depois apanhei um autocarro e quando cheguei ao clube era de manhã cedo. E pensei: “vou aproveitar esta manhã para descansar”. Entretanto recebo um telefonema do diretor desportivo para me deslocar ao hotel onde ia ficar e pousei as minhas coisas pronto para descansar. Nisto liga-me o Pandiani a perguntar onde estava e eu disse que tinha acabado de chegar e que ia descansar, ao que ele me responde que não havia tempo para descansar, para me preparar rapidamente e deslocar-me ao centro de estágio. E pronto, vieram-me buscar e pensei que ia fazer um treino mais leve ou assim, mas nada disso aconteceu (risos). Pôs-me a manhã toda a correr à volta do estádio sem parar, com mudanças de velocidade, corrida contínua, etc., sempre com a supervisão dele e a “provocar-me” dizendo que naquela semana tinha de encontrar o ritmo dos meus colegas. Isto marcou-me pela ambição, pelo carácter dele e pelo foco no trabalho e ao mesmo tempo foi um “alerta” para mim, isto é, percebi logo que não ia “de férias” nem ia “passear” e que para ser melhor do que os outros tinha de trabalhar mais do que eles.

117231891_1499512810222802_2638962915420469469_n(Ricardo Oliveira foi orientado por Pandiani no Lorca e gostou de trabalhar com o uruguaio que se notabilizou, como jogador, ao serviço do Deportivo.)

CR: A experiência em Espanha foi curta mas enriquecedora, portanto.
RO: Sim, sem dúvida. Como disse, decidi sair porque pressenti que íamos ter dificuldade em subir de divisão. Tinhamos um grupo com qualidade, mas que era jovem e estávamos a ter dificuldade em acompanhar o ritmo de duas ou três equipas mais fortes, com planteis mais experientes e só o 1º classificado é que garantia a subida. Concretizei o sonho de miúdo de querer jogar fora e ter estas experiências, conheci alguém que era e será sempre uma referência para mim e que me ajudou e ensinou bastante, e não esqueço que atenderam a minha ambição e deixaram-me sair.

CR: Antes de emigrar, em 18/19, viveu, certamente, uma época difícil: primeiro está no Fátima onde lida com salários em atraso; depois ruma ao Torcatense e não evitam a descida aos Distritais…
RO: Já nessa época estava à procura de emigrar mas não sucedeu. Quando tenho a oportunidade de ir para o Fátima, fui tentar saber um pouco mais da história do clube, e sabia que era um clube importante, mas não sabia como se encontrava. Quando cheguei estava tudo muito bem, foram sempre corretos, mas depois houve coisas extra-futebol que dificultaram a minha continuidade e quando decidi vir embora, não apanhei a pior fase que “sobrou” para alguns colegas. E tenho pena que tenha ficado pior depois. Mas claro que tiro coisas boas, conheci pessoas excelentes como o mister Kata, uma pessoa espetacular, integra e direta, que tem muito da minha personalidade, é introvertido mas é muito simples e muito puro, e ajudou-me num momento difícil; e o Laranjeiro, grande pessoa e grande jogador que trato por “Sir”, e que também me ajudou porque foi quase uma mudança radical na minha vida. Como vi que não havia solução para os problemas do clube, achei por bem procurar a minha felicidade noutro lugar e balançou o facto de poder ficar perto de casa, da família e dos amigos. Procurei uma solução que me satisfizesse, apareceu o Torcatense, infelizmente aconteceu o que aconteceu e descemos, mas isso faz parte do futebol e temos de levantar a cabeça porque dentro dessa fase aconteceu muita coisa boa também.

CR: Em 17/18 foi Campeão Distrital de Aveiro pelo Lusitânia de Lourosa, por quem venceu, também, a Supertaça Distrital. Fizeram uma época regular e tinham um plantel fantástico, recheado de jogadores com muita qualidade.
RO: É verdade, mas é como eu digo: quando juntas um lote de jogadores em que todos têm qualidade, estás mais perto de ganhar. E foi isso que sucedeu. Não era só o Ricardo Oliveira, o Koneh ou o Léo que tinham qualidade. Todos tinham qualidade. Não tivemos só momentos bons ao longo do ano, também passámos momentos difíceis no início, e quando se está a iniciar um projeto dessa envergardura, qualquer “abanão” pode ser fatal. Tinhamos um grupo unido, forte e de qualidade, soubemos ser humildes, trabalhar e perceber que tinhamos de ir passo a passo. Toda a gente dizia que estava ganho mas nada está ganho até se conseguir. Foi uma época espetacular, em que houve uma grande simbiose entre todos, desde estrutura, jogadores e adeptos, e conseguimos o grande objetivo do clube.

CR: Foi mais fácil para si aceitar o convite dado o projeto que o clube estava a iniciar e os objetivos que tinham para aquela época?
RO: Sim, q
uando tive a primeira conversa com o presidente e com o José Carlos, que era o diretor desportivo, achei logo que era a oportunidade certa. O clube estava a começar um projeto que vai dar ainda mais “cartas” do que as que já deu porque têm condições, porque as pessoas querem e percebem, têm ambição e é um clube com muitos adeptos. Ainda hoje recebo mensagens de adeptos e de pessoas que sempre me trataram bem e que guardo no meu coração. Não nasci lá mas aprendi a gostar, aprendi a sentir, é algo que tento fazer sempre em todas as camisolas que visto porque penso nas pessoas que vão ver os jogos e ali não iam algumas, iam muitas e a todo o lado, fosse em casa ou fora, perto ou longe, e até a treinos iam. E, no fim, isso também foi muito importante para conseguirmos o grande objetivo. Essa época foi uma grande alegria e espero que o clube continue a subir porque aquelas pessoas merecem.

CR: Curiosamente, já tinha conhecido o Campeonato Distrital de Aveiro na segunda metade de 16/17 em representação do Alvarenga, onde integrou um plantel maioritariamente composto por brasileiros, fruto da SAD do clube ser detida precisamente por investidores brasileiros. Isto surpreendeu-o de alguma forma?
RO: Não. Eu gosto de estar informado do contexto que vou encontrar e quando abordei a situação com o mister Pedro Costa, ele prontamente me explicou o projeto e eu próprio procurei saber mais sobre ele. Sabia que ao aceitar, e conhecendo o mister, a exigência no treino seria máxima pelo que não ia perder ritmo, antes pelo contrário, poderia mantê-lo e procurei, dentro da minha cabeça, ajudar esses miúdos que têm o sonho de chegar a outro nível. Alguns têm muita qualidade, outros têm muita vontade, mas tinhamos um coletivo muito forte porque o mister Pedro Costa é uma pessoa do coletivo e potenciava isso, fazíamos muitos convívios regularmente e falávamos imenso uns com os outros. Havia dois ou três jogadores com quem tinha uma grande “química” dentro de campo, como o Luisinho e o Milton, e fizemos uma excelente campanha na Taça, em que passámos uma eliminatória difícil nas Meias-Finais, com o Paivense, e esse jogo catapultou-nos, ficámos com uma moral grande, e, na final, acabámos por perder nos penaltis contra uma grande equipa do Esmoriz. Merecíamos mais, estivemos muito perto, mas é futebol.

116877352_302011844378184_8711552659388615575_n(Ricardo Oliveira em ação durante o Alverca 0-1 Fátima da 3ª Jornada da Série C do Campeonato de Portugal 2018/2019.)

CR: Gostou do nível da AF Aveiro?
RO: Para a realidade que é, o nível é bom. Existe de tudo, como é lógico, mas penso que não existe regularidade nas equipas porque um jogador que sobressair numa equipa mediana, na próxima época vai para uma boa e as equipas que descem aos Distritais estão sempre mais perto de subir novamente. É difícil haver continuidade nos planteis a este nível e isso prejudica muitos clubes. E têm a AFATV, que é um projeto que eu tenho de parabenizar. Se houvessem mais assim, o futebol seria melhor. É um projeto que dinamiza, ajuda os jogadores a evoluírem, as gravações de jogos são em alta definição e isso também é importante para trazer outra competitividade ao próprio campeonato, porque se fala, se aborda e estimula os jogadores. 

CR: O Ricardo mudou-se para o Alvarenga oriundo do Sertanense, onde fez apenas um jogo em cerca de quatro meses, e até fez um golo nesse jogo no Campeonato de Portugal. Como surgiu este convite e o que falhou nessa passagem?
RO: O convite surgiu através do treinador, Gonçalo Monteiro, que me conhecia e entrou em contacto comigo. Nessa altura em que fui para a Sertã estava numa altura conturbada por causa da morte de um dos meus melhores amigos – Diogo Gomes. Era um assunto que ainda estava “fresco” na minha cabeça e senti que não estava com dimensão psicológica para esse desafio, até fiz um golo no único jogo que fiz, mas não estava bem e precisava de ir para a beira de casa. Naquele momento o futebol não era o mais importante. Aquele acontecimento marcou a minha vida para sempre. Por isso, achei que precisava de estar perto de casa, da minha família e dos meus amigos e decidir sair do Sertanense. Depois apareceu o convite do mister Pedro Costa, que tinha jogado comigo no Boavista e até foi meu treinador nos Juniores durante alguns meses, e foi espetacular comigo: ajudou-me a ser melhor e retirou o melhor de mim. Foi um grande jogador, é um grande treinador e deu-me a possibilidade de estar perto dos meus quando mais precisava.

CR: O Distrito de Aveiro está bem presente na sua carreira: foi ao serviço da Sanjoanense que se estreou como sénior, então no Campeonato de Portugal, mas imagino que tenha sido um primeiro ano de sénior bem longe daquilo que certamente queria e idealizava…
RO: Posso-te dizer que tive uma espécie de duas épocas dentro de uma: primeiro, com o Ricardo Sousa, as coisas correram bem, porque jogava e sentia-me confiante, a gente andava bem, tinhamos um plantel com muita qualidade, com jogadores como André Pereira e Ronan, por exemplo, e os treinos de conjunto à quinta-feira eram como se fossem jogos porque a competitividade era brutal. Então até Janeiro estava bem, com uma pessoa conhecedora do futebol, com grandes métodos e que me transmitiu ensinamentos sobre o futebol profissional, tanto ele como o Cândido Costa, que era o adjunto. Entretanto dá-se a saída deles, eu tenho até uma oportunidade de sair para um patamar diferente, não interessa agora para onde porque não aconteceu, e isso, parece-me, criou mau estar junto do treinador seguinte, que foi o Flávio das Neves. Na segunda volta faço dois jogos, num deles faço golo ao Mortágua e só volto a jogar na segunda fase, na fase de manutenção, também contra o Mortágua, ou seja, passados uns oito ou dez jogos. Tive duas experiências no mesmo ano, mas aprendi com os dois e isso fez-me perceber como são as coisas no futebol. Comecei a época a dar continuidade ao que fiz nos Juniores, a ter minutos e depois na segunda metade senti necessidade de ter de trabalhar mais no silêncio e esperar oportunidades. O futebol é mesmo assim, umas vezes um treinador acha que és peça importante e outro acha que és peça secundária. Mesmo assim trabalhei sempre para poder ter oportunidades e quando tive respondi. Gostei muito de jogar na Sanjoanense, um clube espetacular, e foi um primeiro passo importante no futebol sénior.

CR: Dividiu a sua formação entre Senhora da Hora (Escolas e Infantis), Padroense (Iniciados e Juvenis) e Boavista (Juvenis e Juniores). Ou seja, conheceu três realidades diferentes dentro do próprio futebol de formação.
RO: Até comecei no futsal do Boavista, onde conheci o Diogo Gomes, e fui Campeão nas Escolinhas. Mas queria experimentar o futebol de 11 porque os meus amigos jogavam todos e tive até a oportunidade de ir para o FC Porto, onde estive uma semana. Só que não me identifiquei. Não tinha amigos lá e não quis ficar. Como praticamente todos os meus amigos e alguns vizinhos jogavam no Senhora da Hora, decidi ir para lá e foi importante porque naquela altura eu queria era ser feliz. O futebol não era profissão, nem eu tinha noção dessa realidade logicamente, era um passatempo e queria era divertir-me. Estava perto de casa, fazia o que queria e estava com os meus amigos. Isso era o mais importante. Depois vem o convite do Padroense, um clube a crescer, que no período em que lá estive lutou até para subir à II Liga, e aprendi muito lá. É uma grande escola, com grandes treinadores, o Dr. Vasco Pinho e o Sr. Germano Pinho, presidente e vice-presidente na altura, eram pessoas espetaculares, sempre presentes junto dos jovens e que tinham a formação como principal objetivo do clube, e, hoje em dia, temos a prova de que isso é importante no futebol. Sabia que era um sítio ótimo para me desenvolver como pessoa e como jogador, já tinham saído de lá jogadores como Arsénio e André Simões, e como era perto de minha casa, foi uma escolha acertada, e ganhei, também, dois títulos, um nos Iniciados e outro nos Juvenis. Depois quando surgiu o Boavista, tive mais dois clubes interessados mas optei pelo Boavista porque as pessoas demonstraram mais interesse. E como andava na Escola Clara de Resende, que é ao lado do Bessa, achei que era a situação certa e a oportunidade ideal. Até jogava a 8 ou a 10 no primeiro ano de Juvenil, mas depois, através do Almeidinha, que foi um grande jogador do Boavista, passei a avançado porque ele acreditou que tinha características para jogar a avançado e potenciou-me nesse sentido, ajudou a mentalizar-me disso. E curiosamente no primeiro jogo que fiz na frente marquei golo e nunca mais saí dali. Fiz muitos jogos e muitos golos nesse ano desde a entrada dele, numa altura em que o Boavista, em seniores, ainda estava naquela realidade diferente de jogar na II Divisão. Acabei por, mais tarde, treinar e jogar com os seniores e fiz um jogo contra o Estarreja em que substitui o Fary e isso foi muito simbólico. Senti o sonho ali e foi importante porque deu-me ainda mais vontade e ambição.

116884358_630265957910807_5583823827815890492_n(Foi chegar, ver e vencer: em pouco mais de seis meses ao serviço do Inter D’Escaldes, Ricardo Oliveira conquistou dois títulos em Andorra.)

CR: Quando concluiu a formação já o Boavista tinha voltado à I Liga. Acreditava que podia integrar o plantel sénior ou pelo menos fazer a pré-época?
RO: Não, porque, na altura, percebi que o meu caminho não seria ali mas sim noutro lado. Muitas das vezes, no futebol de alto nível, as oportunidades não são dadas só pela qualidade do jogador e do trabalho dele, mas sim por outras coisas. Então, por força de muitas situações que foram acontecendo no meu último ano de Júnior, percebi que não seria aposta do clube. Mas não me esqueço de agradecer ao Boavista, porque foi uma escola muito importante para mim tanto a nível pessoal como profissional, num período coincidente com a minha juventude. E também não sou pessoa de querer saber as razões e os porquês das coisas. Se não aconteceu é porque não tinha de acontecer, o mais importante foi olhar em frente naquele momento, até porque para a frente é que é o caminho, como se costuma dizer. Tive as oportunidades no clube que as pessoas acharam convenientes para mim e, depois, fui à luta, que é isso que gosto e é a minha maneira de estar na vida e no futebol. Tive dentro do clube nos tempos difíceis dele, sei como foi difícil para darem a volta por cima e as pessoas sempre foram lutadoras, autênticas guerreiras, iam buscar forças onde não tinham para que o clube sobrevivesse. Tenho, enquanto jogador, muito daquilo que é o “ADN” do Boavista: raça, crer e ambição, e lá reforcei muito isso. Ajudaram-me a formar como jogador e, sobretudo, como Homem, por isso, só tenho coisas boas a dizer do clube e das pessoas que lá estavam na altura. Passava muito tempo no Bessa e no Boavista e foi uma passagem muito importante para mim, onde pude completar a educação que tive em casa e que os meus pais me deram. Lá ensinaram-me que a persistência é o caminho do êxito e é isso que levo para a minha vida. Guardo muito carinho e muita estima pelo Boavista, uma casa onde fui muito feliz e onde passei três anos muito bons.

CR: Voltando à atualidade e ao seu futuro: vai continuar no Inter Escaldes?
RO: Não. O meu contrato acaba dia 15 de Agosto, tenho algumas abordagens, sobretudo do estrangeiro, que é onde desejo continuar, e ainda estou a analisar o que será melhor para mim.

CR: Porque razão não quis renovar?
RO: Foi intuição minha. A vida passa rápido e a de jogador ainda mais. Temos de correr atrás dos nossos sonhos, das nossas ambições, e como ali já ganhei tudo o que tinha para ganhar, decidi dar um novo rumo à minha carreira. Sentia-me muito bem no clube, mas não sou pessoa de me acomodar. Conversei com a minha família, principalmente com o meu Pai, que é uma pessoa muito importante na minha vida, e cheguei à conclusão que estava na altura de procurar outro desafio.

CR: Em relação ao futuro mais longínquo, quais são os seus objetivos? Tem alguma meta ou competição que gostasse especialmente de jogar?
RO: Sou muito de pensar no passo seguinte. Sou sonhador mas não penso muito para além daquilo que posso. Não penso no futuro longínquo, penso sempre no “amanhã”. Para mim, o desafio mais importante é sempre o seguinte. Nem tenho ambição de jogar nesta Liga, neste País, neste clube ou nesta competição. Vou para onde me querem, onde acho que vou retirar o melhor de mim, onde me vou sentir bem e onde posso evoluír, porque estamos constantemente em evolução. Penso muito assim: em integrar um projeto onde acho que me vou sentir bem, onde posso ajudar e onde posso ganhar, sobretudo isso, ganhar. Ainda tenho muito que trabalhar e “andar”, por isso, só quero parar quando já não der mais, que espero que seja muito mais lá para a frente (risos).

CR: Há mais alguma história que possa partilhar?
RO: Lembro-me de uma no Boavista, quando era júnior e ia treinar aos seniores, em que eles me queriam rapar o cabelo. Eu, na altura, usava o cabelo grande e quem me safou foi o Frechaut, que me avisou a tempo (risos). Então, naquele dia, eu em vez de me equipar no balneário da equipa principal, equipei-me noutro e só me apresentei para treinar já no relvado (risos).

CR: Quer deixar uma mensagem final?
RO: Quero agradecer-te a oportunidade de partilhar a minha história e dar-te os parabéns pelo trabalho, que é um trabalho que devia ser feito mais vezes e que faz falta ao “Mundo do futebol”. E quero igualmente agradecer aos meus pais, que são pessoas muito importantes na minha vida, à minha familia, à minha namorada e aos meus amigos, mas, principalmente, ao meu seio familiar, porque me respeitam e ajudam a concretizar os meus sonhos e isso é muito importante para mim, porque me sinto seguro e tranquilo a fazer o que gosto, e faz com que, dia após dia, lute pelo meus sonhos, pois são os sonhos que nos mantêm “vivos” e que nos fazem querer sempre mais e melhor.

116875528_852890128450754_4099018614304956931_n(Ricardo Oliveira ajudou o Lusitânia de Lourosa a vencer o Campeonato Distrital e a Supertaça da AF Aveiro em 2017/2018.)

De Primeira

CR: Qual o melhor momento da sua carreira até agora?
RO: A ‘dobradinha’, por terem sido os primeiros troféus fora do País.

CR: Qual o adversário mais difícil que já defrontou?
RO: Nicolás Medina.

CR: Qual o melhor jogador com quem já jogou?
RO: Gabriel Cichero e Bruninho.

CR: Que treinador mais o marcou até hoje?
RO: Pedro Costa e Walter Pandiani.

CR: Em que ponta de lança atual se revê?
RO: Karim Benzema.

Wilson Soares: “Penaltis é algo de que gosto bastante”

Wilson Soares(No primeiro jogo oficial que fez pelo Lourosa, Wilson Soares esteve em destaque ao defender duas grandes penalidades no desempate diante do Paredes.)

Inseridos na Série B do Campeonato de Portugal, Paredes e Lourosa defrontam-se no próximo domingo para a quarta jornada do campeonato, mas antes, no passado fim-de-semana, quis o destino que se encontrassem na primeira eliminatória da Taça de Portugal.
Após cento e vinte minutos em que ninguém conseguiu desatar o nulo, o desempate por grandes penalidades “sorriu” ao Lusitânia de Lourosa (4-2), que viu o seu guarda-redes, Wilson Soares, defender dois penaltis na fase decisiva.
O blog chegou à fala com o guardião lusitanista, que começou por sublinhar que a sua equipa estava à espera de um jogo complicado, e confessa que as grandes penalidades é algo que lhe agrada:
“Foi um jogo difícil, algo que já estavamos à espera. O Paredes é uma equipa organizada e jogando em casa, acabam por causar problemas. Apesar disso, sinto que fizemos um bom jogo, controlamos o jogo no meio-campo ofensivo e só pecamos na finalização, pois podíamos ter vencido o jogo logo nos noventa minutos e fizemos por isso. Em relação aos penaltis, no meu caso pessoal, foi algo que fui trabalhando com o tempo, umas vezes aprendendo com outros, outras com as experiências que fui tendo. Hoje em dia, é algo de que gosto bastante”, afirmou.
Esta não foi a primeira vez que Wilson Soares brilhou num desempate por grandes penalidades a contar para a Taça de Portugal: em 2016/2017, então ao serviço da U. Leiria, o guardião esteve em destaque diante do Portimonense de Vítor Oliveira, que viria a ser Campeão da II Liga, ao parar os penaltis de Ewerton e Lumor, tornando-se assim decisivo na vitória da turma da cidade do Lis (2-2/4-3).
Questionado sobre a sua “queda” para os penaltis, Wilson Soares conta que gosta de seguir o seu instinto no momento decisivo, apesar de, obviamente, se preparar e estudar os adversários da melhor maneira:
“As grandes penalidades não são uma ciência exata. Há quem goste de fazer muito estudo e ir no que é mais provável e há quem goste de ir inteiramente por instinto. Eu fico pelo meio das duas. Estudo sempre os meus adversários e vou sempre estando atento a esses pormenores, mas não me agarro por inteiro a isso. No momento, sigo o meu felling e tento perceber os corportamentos do meu adversário”, realçou.
Apurados para a segunda eliminatória da “prova raínha”, os lourosenses, que em 1993/1994, disputavam a II Divisão B e chegaram às Meias-Finais – derrotados pelo Sporting no “velho” Alvalade (0-6) -, já melhoraram o seu registo em relação à temporada passada, quando “saíram de cena” logo na ronda inaugural da competição.
No que diz respeito ao Campeonato de Portugal, o Lusitânia de Lourosa soma, até ao momento, sete pontos em três jornadas, e é, como se sabe, um dos candidatos a chegar, pelo menos, ao Play-Off.
Wilson Soares, que domingo fez a sua estreia oficial pelos lusitanistas, assegura que o Lourosa entrará em todos os jogos e em todas as competições para vencer, até porque, pela qualidade existente no plantel, este não depende dos adversários para tentar ganhar as partidas:
“Queremos ganhar todos os jogos, por isso não há metas estabelecidas. Tanto no campeonato como na Taça, em cada jogo que entrarmos, será sempre para ganhar. Temos um plantel recheado de qualidade e não dependemos dos adversários para tentarmos ganhar cada jogo que disputarmos. A nível pessoal, o meu objetivo é jogar todos os jogos, independentemente da competição. Trabalho nos limites para isso e deixo as decisões ao critério do treinador. O meu grande objetivo será sempre ajudar a equipa”, frisou.
Naquela que é a sua primeira experiência mais a Norte, Wilson Soares chega ao Lourosa depois de ter ficado “às portas” da Segunda Liga por duas temporadas consecutivas, sempre ao serviço da U. Leiria, que viu Mafra e Vilafranquense “roubarem-lhe” o sonho de regressar aos campeonatos profissionais.
Lá diz o ditado que “à terceira é de vez”, e o guarda-redes natural de Porto de Mós, assegura que veio até ao concelho de Santa Maria da Feira com essa mesma ambição, não escondendo que deseja somar uma subida à II Liga ao seu curriculum:
“Sim, foram momentos complicados. Em ambas as épocas fizemos primeiro lugar na fase regular e acabamos por não subir no ‘mata-mata’. É difícil de aceitar, mas os moldes são iguais para todos, por isso, não há desculpas. Vim para o Lourosa com essa ambição. O projeto que me foi apresentado é muito ambicioso e foi de encontro aos meus objetivos, e não escondo que tenho o objetivo pessoal de contar com uma subida num campeonato tão competitivo como este”, referiu.
Habituado a disputar Campeonatos Nacionais na formação, também pela União de Leiria, Wilson Soares cumpre, atualmente, a sétima temporada consecutiva no Campeonato de Portugal, escalão onde tem perto de cento e trinta jogos.
Atualmente com 26 anos, o guarda-redes assume que tem a ambição de chegar aos campeonatos profissionais, definindo a II Liga como um objetivo a curto prazo, apesar de ainda almejar uma oportunidade no nosso principal campeonato:
“Tenho a ambição de chegar aos campeonatos profissionais. Tenho a II Liga como objetivo mais a curto prazo, mas gostaria de ainda ter a oportunidade de chegar à I Liga. São objetivos difíceis, existem muitos jogadores de qualidade que ambicionam o mesmo, mas trabalho muito para que no futuro tenha a oportunidade de me mostrar em patamares mais altos”, finalizou.
Wilson Soares começou o seu percurso nas Escolinhas do Portomosense, com sete anos, clube que defendeu durante sete temporadas, antes de se mudar para a U. Leiria, nos Juvenis, completando a formação ao serviço dos leirienses. Como sénior, já representou Portomosense, Alcanenense e U. Leiria, tendo chegado ao Lourosa neste verão.

Sanguedo: “Quis desistir do futebol, mas achei que tinha de ser campeão pelo Sp. Espinho”

SanguedoLamas(Depois de ter representado o U. Lamas em 05/06, Sanguedo regressou aos lamacenses a meio da temporada 17/18 e por lá continua nos dias de hoje.)

Sporting de Espinho, União de Lamas e Lusitânia de Lourosa são três dos maiores emblemas do Norte do Distrito de Aveiro e entre eles partilham uma rivalidade histórica.
Lamas e Lourosa protagonizam a maior rivalidade: são “vizinhos” no concelho de Santa Maria da Feira e ambas as localidades destacam-se na produção de cortiça. O futebol “serviu”, apenas, para aumentar o nível de “ódio” entre lamacenses e lourosenses, que a 26 de Novembro de 2017, em Lamas, nem sequer terminaram o jogo que estavam a disputar por pretensa agressão de um adepto lusitanista a um jogador do União.
Situado à beira-mar, Espinho cativa dezenas de visitantes não só pela paisagem e pela fácil acessibilidade que tem, mas, principalmente, pela praia e pelo casino. Futebolisticamente falando, os espinhenses não “morrem de amores” por Lamas e Lourosa, principalmente por Lamas, apesar de, neste momento, a sua maior rivalidade ser travada com os lusitanistas, uma vez que disputam o mesmo campeonato.
No meio de toda esta história e rivalidade, há um nome a destacar: Sanguedo, defesa-direito sobejamente conhecido no futebol aveirense, já se sagrou Campeão pelos três rivais, tendo subido o U. Lamas à II Divisão B em 2006; o Lourosa ao Campeonato de Portugal em 2013; e o Sp. Espinho também ao Campeonato de Portugal em 2017.
Em entrevista ao nosso blog, Sanguedo começou por falar do sentimento especial que tem ter sido Campeão por estes três históricos emblemas:
“Consegui subir por três dos maiores clubes de Aveiro e sem dúvida que todas essas subidas são especiais. No Lamas, foi um sentimento especial, sobretudo porque era o meu primeiro ano oficial como sénior, e porque no ano anterior tinha passado por uma situação delicada no Salgueiros, em que nós, Juniores, tivemos de jogar pelos Seniores. No Lourosa, foi uma subida também especial, porque fizemos uma época inteira sem perder e subimos com apenas cinco pontos de vantagem, o que prova que foi uma luta tremenda. Finalmente, no Espinho, foi muito significativo para mim, pois fiquei com a sensação de ‘dever cumprido’ por ter subido o clube aos Nacionais, que é o lugar onde ele merece estar”, contou.
Antes de irmos à história de cada um dos títulos pelos três rivais aveirenses, importa salientar que Sanguedo integrou o plantel de quinze juniores que alinharam pela equipa principal do Salgueiros, em 2004/2005, na Zona Norte da II Divisão B.
O lateral destaca a aprendizagem que todos tiveram nessa temporada, em que defrontaram equipas muito fortes e adversários com nome no futebol português:
“Fomos todos apanhados de surpresa. Estávamos a preparar a equipa para disputar o Campeonato de Juniores, quando fomos surpreendidos com a descida na secretaria do Salgueiros. O clube estava a passar uma fase muito difícil, em que não podia inscrever jogadores e tínhamos que ser nós, Juniores, a fazer o campeonato da equipa principal. Era um campeonato muito complicado, com equipas fortíssimas, como FC Porto B, Braga B ou Dragões Sandinenses. Lembro-me de jogar contra os Dragões Sandinenses, por exemplo, e de eles terem uma equipa recheada de jogadores de I Liga, como o Jorge Silva, guarda-redes, o Bilro, o Paulo Vida, o Figueiredo, que era internacional por Angola, e o Dyduch, um central francês que tinha estado na Académica. Nós, miúdos de dezassete anos, a jogar contra gajos com muitos jogos nas pernas, foi muito complicado, muito difícil mesmo. Nos primeiros 45′ minutos, ainda nos aguentávamos bem, mas nas segundas partes caíamos fisicamente. Nós tínhamos muito boa equipa – três deles chegaram a profissionais, Pelé, João Rodrigues e Joel -, mas não era para jogar na antiga II Divisão B. Era muita diferença. Fizemos cinco pontos e quando conseguimos a única vitória que tivemos no campeonato, fizemos uma festa que parecia que tínhamos sido campeões (risos). Foi um ano muito difícil, mas no qual aprendemos muito. Recordo-me que na pré-época fomos cinco dias de estágio para o Hotel Ofir, em Esposende, e todos os domingos fazíamos mini-estágios, no Hotel Ibis, em Gaia, e nós até comentávamos uns com os outros que parecíamos profissionais. Vivemos um sonho naquele ano. Estive seis anos na formação do Salgueiros e adorei. Sem dúvida que é um clube que faz muita falta aos grandes palcos portugueses“, vincou.
No seguimento dessa temporada, e subido oficialmente a sénior, Sanguedo assinou pelo União de Lamas, outro histórico que vivia tempos conturbados e que em apenas três temporadas, tinha caído da II Liga para a III Divisão Nacional.
Os lamacenses não tiveram um trajeto propriamente fácil na Série C da III Divisão Nacional, e só na parte final do campeonato se conseguiram afirmar em definitivo e sagraram-se Campeões Nacionais, numa temporada em que eliminaram, da Taça de Portugal, o Beira-Mar (1-0), que haveria de subir à I Liga nessa mesma época.
Sanguedo recorda assim a ‘aventura’ da primeira subida da carreira:
“Quando cheguei ao Lamas, no meu primeiro ano de sénior, encontrei uma realidade diferente, não só para mim, mas também para o clube, que não estava habituado, na altura, a jogar na III Divisão. Foi um campeonato muito difícil, onde nos primeiros jogos não foi fácil a adaptação, e tivemos muitos empates e até derrotas, apesar de termos um plantel cheio de grandes jogadores, como Paulo Sousa, Pedro Magalhães, Fernando, Hernâni ou Capela, e andava eu a jogar a médio interior e a ‘dez’ (risos). Sempre joguei a lateral direito, mas o Jorge Silva viu em mim um médio (risos). Foi uma época não muito fácil, quer coletivamente, quer pessoalmente, pois não jogava muito, fazia um jogo a titular e a seguir estava sem jogar três ou quatro jogos. Mas na segunda volta, principalmente na parte final, começou a vir o valor da equipa ao de cima, e no fim lá festejamos o título da III Divisão, conseguindo a subida à II Divisão B. Como primeiro ano de sénior, foi fantástico ter subido o “meu” União, sem esquecer que arrumámos o Beira-Mar da Taça de Portugal”, afirmou.

SanguedoLourosa(Jogador do Lourosa entre 2011 e 2014, Sanguedo sagrou-se Campeão Distrital e venceu a Supertaça da AF Aveiro.)

Anos depois desta experiência e de passagens por Paços de Brandão e Valecambrense, Sanguedo ingressou no Lourosa em 2011, conseguindo ser Campeão Distrital “à segunda”, sob a orientação de Martelinho, depois de na primeira temporada com as cores lusitanistas, o clube ter falhado o objetivo de regressar aos Nacionais.
2012/2013 foi época de luta intensa entre Lourosa e Sanjoanense, com os lourosenses a terminarem o campeonato com 99 golos marcados e zero derrotas em trinta e quatro jogos, ao passo que os Homens de São João da Madeira, apesar dos 112 golos que fizeram, fiaram a cinco pontos do primeiro posto.
Em mais uma viagem ao passado na nossa conversa, o defesa direito recorda as três temporadas em que envergou a camisola preta e amarela:
“Quis o destino que passado uns anos, fosse para um rival do Lamas, o Lusitânia de Lourosa, numa equipa feita para ser campeã, com grandes jogadores, ‘batidos’ no Distrital. O primeiro jogo que fiz pelo Lourosa em casa, ficou marcado por uma grande jogada minha, aos 80′ minutos, em que estávamos empatados a zero, quando eu fiz a minha jogada preferida (risos). Fiz que cruzava, puxei para dentro e de seguida cruzei e o Lima cabeceou para golo. Ganhámos 1-0, fui logo chamado à rádio para falar da jogada e aí percebi que tinha cativado os adeptos (risos). Essa época, pessoalmente, correu-me bem, ainda fiz uns seis golos, mas coletivamente foi um fracasso, porque ficámos em terceiro lugar, muito mau para quem queria subir. Entretanto, a meio dessa mesma época, saiu o mister Jorge Lima e entrou mister Martelinho, e arrisco-me a dizer que ele foi, sem dúvida, o melhor treinador que tive até hoje. Ele pegou na equipa, e na época seguinte, com alguns reforços, meteu a equipa a jogar. Dava gosto. Tudo o que treinávamos, fazíamos ao domingo. Foi uma época top. Acabámos o campeonato sem uma única derrota, tivemos cinco empates e o resto foi tudo vitórias. No ano seguinte, no CNS, praticamente com a mesma equipa, andamos perto de chegar à fase de subida para a II Liga. Lembro-me da última jornada da fase regular, em que jogávamos em casa com o Cesarense, num jogo que se disputou à porta fechada, e aqui vai uma história engraçada: os adeptos montaram uma espécie de bancada em cima de um camião ao lado do muro, para poderem verem o jogo e apoiarem (risos). Faltava um minuto para acabar esse jogo, quando o Cesarense teve um livre à entrada da área, e o mister Martelinho tinha um observador em todos os jogos dos adversários e alertou-nos para todas as possíveis jogadas ensaiadas do Cesarense. Recordo-me de estar na barreira e dizer ao Andrézinho: ‘eles vão fazer a jogada’ e ele respondeu-me: ‘estou a ver’. Eles fazem a jogada, o Andrézinho não acompanhou e foi golo do Cesarense. Eu olhei para ele e vi-o sem reação, sem palavras. Acabou o jogo, o mister Martelinho demitiu-se e nem ao balneário foi para se despedir de nós. Ficou ‘cego’. Ainda hoje vejo a cara do Andrézinho (risos)”, recordou.
Depois de três temporadas no Lusitânia de Lourosa, Sanguedo deixou o clube lusitanista, passou pelo Paivense e ingressou no Sp. Espinho em 2015, onde viveu duas experiências completamente opostas: na primeira temporada, os “Tigres” falharam a subida, em casa, na última jornada; e na época seguinte, graças a um campeonato fantástico, carimbaram o regresso ao terceiro escalão do futebol português.
2015/2016 marcou algo que parecia impossível há uns anos atrás: o Sp. Espinho a disputar o Distrital da AF Aveiro. Os espinhenses chegaram a estar a onze pontos do Águeda, recuperaram, assumiram a liderança à entrada para as últimas jornadas e quando precisavam de vencer o derradeiro jogo, empataram a um golo, no seu estádio, diante do Oliveira do Bairro, permitindo a ultrapassagem do Águeda.
Sanguedo recorda a mudança de mentalidade que houve na primeira temporada e que originou a grande reviravolta que houve no campeonato, confessando que o desfecho final dessa temporada mais parecia um pesadelo:
Quando fui para o Espinho, encontrei, novamente, uma realidade diferente. As pessoas da direção e os próprios jogadores que lá estavam, não tinham noção de como era o Distrital e o que iriam encontrar, porque o SC Espinho era um clube com menos condições, mas com pensamentos e experiência de Campeonatos Nacionais. Lembro-me que no primeiro treino, estava no balneário a equipar, e de repente entrou o Carlos Manuel, que na época anterior estava no Covilhã, na Segunda Liga, e eu pensei para mim ‘ainda há três ou quatro meses vi este gajo a jogar na SportTV e agora está aqui a equipar ao meu lado’ (risos). O campeonato de Aveiro é muito forte, mas em Espinho pensava-se que ia ser um ‘passeio’. Lembro-me de uma história engraçada, quando fomos jogar ao Valonguense, e aquilo é um sintético muito mau, mesmo horrível. Chegámos lá e havia pessoal a filmar, a gozarem com aquilo e a fazerem montes com a borracha do sintético, e eu como já estava preparado pensei só para mim ‘quando eles entrarem em campo, eles até nos comem’. Dito e feito. Levámos um massacre na primeira parte, acho que não passamos o meio-campo e acabámos por perder só por 1-0 (risos). Na segunda-feira tivemos uma reunião, logo a levar duras da direção e lá nos disseram para nos mentalizarmos que esta era a realidade, que estávamos no Distrital. A partir daí perdemos poucas vezes, chegamos a estar a nove pontos do Águeda, entretanto eles começaram a perder alguns pontos e deixaram-nos aproximar, até que entretanto recebemos o Águeda, e esse foi o jogo que ‘acordou’ a cidade ‘adormecida’. Recordo-me perfeitamente de entrar para o aquecimento e já estava mais de meio estádio composto. Ganhámos 2-0, num ambiente fantástico e inesquecível. A partir dai, onde íamos jogar, estava sempre o estádio cheio, com a claque dos “Desnorteados” sempre bem composta. Até que chegámos à última jornada com um ponto de avanço para o Águeda e só dependíamos de nós. Tínhamos que ganhar em casa ao Oliveira do Bairro para sermos campeões e posso dizer que esse dia não sairá mais da minha cabeça. Chegámos a Espinho, como habitual, às dez horas da manhã para a concentração para o jogo e as ruas já estavam cheias de pessoas com bandeiras, camisolas, cachecóis, etc. Era um ambiente de festa mesmo e acho que vivemos muito esse ambiente de festa quando ainda faltavam algumas horas para o jogo. Fomos aquecer e o estádio estava cheio, ouviam-se as pessoas fora do estádio para entrar, estava ‘à pinha’ mesmo, que ambiente incrível que estava. Mesmo dentro de campo, sentia o estádio a abanar. Posso dizer mesmo isto: que lindo! Lembro-me de um jogador do Oliveira do Bairro olhar para a bancada e dizer: ‘o que é isto?’ (risos). O jogo começou, estávamos empatados, até que aos 75′ minutos, mais ou menos, aconteceu um momento que estará na minha cabeça para o resto da minha vida, que foi o golo do Oliveira do Bairro. A bola entrou e só tenho a imagem na cabeça do “apagão” das bancadas. Ficou um silêncio e acho que a sensação que tive foi a mesma de quando estamos a ver um grande filme e a televisão desliga. Acho que foi igual mesmo. Foi o dia mais triste que tive no futebol. Acabámos por empatar 1-1, mas tínhamos que ganhar, o empate não chegou e o Águeda foi campeão. Recordo-me que fui para casa e nem comer me apetecia. Só queria dormir, acordar e que aquilo tivesse sido um pesadelo”, frisou.

SanguedoEspinho(Ao serviço do Sp. Espinho, Sanguedo viveu duas sensações completamente distintas no espaço de um ano e diante do mesmo adversário.)

Na temporada seguinte, ainda na ressaca da desilusão vivida uns meses antes, o início de campeonato do Espinho não deixava antever vida fácil na luta pela subida: três empates e uma derrota nas primeiras quatro jornadas. Depois disso, assistiu-se a uma excelente campanha dos “alvi-negros”, que cometeram a proeza de vencer quinze jogos seguidos, todos na segunda volta, vencendo dezasseis das dezassete jornadas que disputaram na segunda metade do campeonato.
Quis o destino que, praticamente um ano depois, voltasse a ser o Oliveira do Bairro o protagonista da história do Sp. Espinho: no jogo que poderia dar a subida aos “Tigres” em caso de vitória, os bairradinos estiveram a vencer por 0-2, mas permitiram a reviravolta e o 3-2 final ditou festa rija na cidade em que as ruas não têm nome.
Depois de ter falhado o arranque da época por querer deixar o futebol, Sanguedo regressou aos relvados e ao Espinho bem a tempo de ajudar o clube a subir ao Campeonato de Portugal, conforme o próprio explicou:
“No final da época 2015/2016, fui eleito o melhor lateral-direito do campeonato, integrei o onze do ano da AF Aveiro, mas estava tão triste e tão revoltado com o futebol, que disse mesmo: ‘não vou receber o prémio e vou deixar o futebol’. Isto foi verídico. Até me trouxeram o troféu de melhor lateral a casa. A época seguinte começou e o que é certo é que estive sem jogar até à quarta jornada, em que o Espinho tinha três empates e uma derrota. Lembro-me que estava no hospital com a minha filha e recebi uma mensagem a dizer: ‘tens que vir para o Espinho novamente, precisamos de ti e vamos ser campeões’. A minha filha estava tão doente, com febre, olhei para ela e pensei: ‘eu vou voltar ao Espinho e só vou desistir quando for campeão pelo Espinho’. E assim foi: cheguei à quinta jornada, tivemos alguns empates e o resto tudo vitórias na primeira volta. No início da segunda volta, tivemos três jogos muito difíceis, em que estávamos a nove pontos do primeiro e íamos jogar a Lourosa, recebíamos o Alvarenga e íamos a São João de Vêr. Se perdêssemos pontos, acabava tudo, e, em Lourosa, o Rui Lopes, aos 90′, fez o golo da vitória, de livre. Em São João de Vêr, outro jogo difícil, estava 1-1, com uma expulsão para cada lado, o mister muda-me para o lado esquerdo e passa o Carela para lateral direito, e o que sei é que por volta dos 80′ minutos, o Carela cruza na direita e eu, não sei o que me ‘deu’, dei um ‘pique’ pelo lado esquerdo e apareci ao segundo poste a fazer golo. Nem queria acreditar, estávamos com a ‘estrelinha de campeões’, e depois daí para a frente, foi só vitórias. A cinco jogos do fim, recebíamos o ‘fantasma’ Oliveira do Bairro e se ganhássemos éramos campeões, mas estávamos sem pressão, pois tínhamos mais jogos para o ser. Se há coincidências, esta era uma delas: passado um ano poderíamos ‘vingar’ o ‘maldito’ Oliveira do Bairro e aí estava uma grande oportunidade para o fazermos. Chegámos a Espinho nesse dia, novamente às dez da manhã, e era tudo igual como há um ano atrás, andava tudo a festejar, com bandeiras nas ruas e com as camisolas vestidas. Pensei logo para mim: ‘já vi este filme’ (risos). Até tiveram de meter gente atrás das balizas, porque o estádio estava lotado. Lá começou o jogo e aos 40′ minutos da primeira parte estávamos a perder 0-2. Todos nós pensamos: ‘outra vez estes gajos a estragarem-nos a festa’. Na segunda parte, em cinco minutos, fizemos o 1-2 e o 2-2, e aos 75′ estávamos empatados. No último lance de jogo, canto a nosso favor e golo. Toda a gente entrou em campo, desde jogadores, treinadores e adeptos, o relvado ficou coberto de pessoas a festejar e o árbitro viu tanta gente, tanta gente, que deu o jogo como terminado. Estavam cerca de dez mil pessoas nesse jogo. Que dia inesquecível. Passado um ano, fizemos história naquele clube e subimos o Espinho a quatro jornadas do fim. E eu que queria deixar o futebol por na época anterior não ter subido… Como é possível não desistir e no ano seguinte, contra o mesmo adversário, conseguirmos subir e, aí sim, houve festa a noite toda. Os jogadores do Oliveira do Bairro só diziam ‘que é isto’ (risos). Tanta gente a festejar… que lindo”, reavivou.
Atualmente com 33 anos, Sanguedo regressou ao União de Lamas a meio da época 17/18, e vai continuar no clube lamacense na nova temporada, onde será orientado por Ricardo Nascimento, antigo jogador de Boavista, Rio Ave, Sp. Braga, entre outros. O lateral confessa a sua ambição em voltar a ser Campeão pelo U. Lamas, e depois, aí sim, terminar a carreira:
“Em 2019/2020, vou continuar a jogar no Lamas. Já tive muitas subidas, alguns títulos, mas há sempre algo que desejamos alcançar. Já fui Campeão pelo ‘meu’ Lamas, mas espero tornar a sê-lo, deixar o clube nos Nacionais e depois acabar a minha carreira. Felizmente, já sou Pai e esse era o meu desejo pessoal (risos). Hoje em dia, trabalho numa fábrica de rolhas e cápsulas, e adoro o que faço. Já trabalho lá há treze anos e conciliar o trabalho com o futebol não é fácil, é cansativo, e os horários nem sempre são fáceis de conciliar, mas tenho sorte com os meus patrões, que sempre me ajudaram e me permitiram conciliar os horários da fábrica com os do futebol. Devo-lhes muito sem dúvida”, terminou.
André Morais, 33 anos, natural de Sanguedo, Santa Maria da Feira, ganhou a alcunha da sua terra natal quando iniciou o seu percurso futebolístico na formação do FC Porto, de onde se mudou para o Salgueiros. Depois do fim do emblema de Vidal Pinheiro, passou por U. Lamas, Paços de Brandão, Valecambrense, Lourosa, Paivense, Sp. Espinho e Pampilhosa.

Lourosa 3-0 Leça

 

Lourosa3-0Leça

Abriu-se a cortina do Campeonato de Portugal, com o Lourosa, recém chegado à competição, a sair líder da Série B, após triunfo sobre o Leça por 3-0.
Num jogo que colocou frente-a-frente duas equipas que regressaram esta temporada aos campeonatos nacionais, a equipa da casa foi mais forte, perante um Leça que ainda esboçou uma reação depois de se ver cedo a perder, mas depois de ficar reduzido a dez elementos, não mais conseguiu incomodar os lourosenses.
O Lourosa, grande candidato à subida de divisão, entrou forte no encontro e logo aos 7′ minutos abriu o marcador: cruzamento de Serginho na esquerda e Diogo Cunha, ao segundo poste, a atirar a contar.
Os primeiros 20/25 minutos foram praticamente de total domínio lourosense, mas o Leça quando chegou à área contrária, causou algum perigo: estavam decorridos treze minutos, quando o experiente Pedras, na sequência de um cruzamento vindo da direita, rematou contra Dani Coelho.
O Lourosa respondeu pouco depois, aos 18′ minutos, com Diogo Cunha a surgir isolado na cara de Gabi, a desviar a bola do guardião leceiro e, na “hora h”, Vítor Fonseca, em cima da linha, a fazer um grande corte e a impedir o 2-0.
Aos 24′ minutos, seria de novo o Lourosa a ameaçar o golo, desta feita por Betinho, que também isolado, rematou ao lado do poste direito da baliza leceira.
A partir daqui, o Leça reagiu e assumiu por alguns minutos o domínio do jogo, criando situações claras para marcar: a primeira aos 29′ minutos, com Paulo Lopes a fazer um excelente passe e a isolar Diogo Pedras, que sozinho perante Leo, rematou para fora.
Paulo Lopes que, aos 35′ minutos, teve nos pés a melhor oportunidade de golo dos verde-e-brancos em todo o jogo: após falta de Serginho sobre Zé Carlos, o camisola sete leceiro, na conversão de um livre direto, atirou à barra.
Dois minutos volvidos, o Leça ficou reduzido a dez, num lance em que estão dois jogadores seus para um do Lourosa, Vítor Fonseca derrubou Betinho, e viu o cartão vermelho direto. A meu ver, esta foi uma decisão exagerada do árbitro da partida, que obrigou os leceiros a reestruturarem-se no jogo.
À beira do intervalo, ao minuto 42′, Edu Marques cruzou na direita e Betinho limitou-se a encostar para o fundo da baliza, assinando, desta forma, o 2-0.
No segundo tempo, a turma da casa entrou em busca do 3-0, e conseguiu-o logo aos 55′ minutos por intermédio de Pedro Silva, que respondeu com eficácia à assistência de Paulo Grilo na esquerda.
A partir daqui e, com o vencedor mais do que encontrado, o jogo perdeu, naturalmente, intensidade, com o Lourosa a controlar o jogo e os leceiros a nunca deixarem de lutar, tendo em Diogo Pedras o seu elemento mais inconformado.
Foi precisamente Diogo Pedras quem tentou fazer o tento de honra da sua equipa, já perto do minuto 90′, mas o remate do capitão da equipa leceira saiu por cima da baliza de Leo.
Destaque final para uma excelente combinação entre Paulo Grilo e Hélder Castro na esquerda, que resultou em cruzamento para Drogba Camará desperdiçar, já em período de compensação, aquele que seria o quarto golo do jogo.
Em suma, vitória justa do Lourosa, diante de um adversário que, durante alguns minutos da partida, conseguiu assumir o controlo do jogo e chegou a estar perto de marcar, porém, a expulsão de Vítor Fonseca e o golo de Betinho praticamente logo a seguir, acabaram com as aspirações leceiras nesta partida inaugural da Série B do Campeonato de Portugal.
Na próxima semana, o Lourosa desloca-se a Cinfães, enquanto que o Leça recebe o Cesarense.

🗒️ Ficha de Jogo:

🏟️ Estádio: do Lusitânia FC, em Lourosa

Árbitro: Albano Correia (AF Braga)

🖤💛 Lourosa: Leo; Dani Coelho, Materazzi, Carvalho e Serginho (Hélder Castro 45′); Guilherme Morais, Edu Marques (Drogba Camará 78′) e Paulo Grilo; Pedro Silva (Leo 69′), Betinho e Diogo Cunha.

Treinador: Luís Miguel. Não Utilizados: Marco, Ricardo Correia, Edu Silva e Roberto.

💚⚪ Leça: Gabi; Joel Mateus, Vítor Fonseca, João Pedro e Paulo Lopes; André Sousa, Zé Carlos (Ramalho 45′), Jair (Marcos 76′) e Pedras (Miguel Ângelo 64′); Areias e Diogo Pedras.

Treinador: Domingos Barros. Não Utilizados: Bruno Monteiro, Cardoso, Medeiros e Pedro Prazeres.

⚠️ Disciplina:

Amarelos: Serginho 33′; Dani Coelho 65′.

Vermelhos: Vítor Fonseca 37′.

⚽ Marcador: 1-0 Diogo Cunha 07′; 2-0 Betinho 42′; 3-0 Pedro Silva 55′.