Renato Sanches: a cavalgada de assinatura que escancarou as portas do título francês

JOIE - 18 RENATO SANCHES (LIL) FOOTBALL : Lille vs Toulouse - Ligue 1 Conforama - 22/02/2020 AnthonyBIBARD/FEP/Panoramic

Campeão Francês pelo Lille no passado domingo, Renato Sanches é o jogador em destaque esta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

A pressão estava maior que nunca: depois do nulo caseiro diante do Saint-Étienne na jornada 37, o Lille estava absolutamente obrigado a vencer na deslocação ao reduto do Angers na última ronda da Ligue 1 para poder conquistar o título que lhe fugia há precisamente dez anos. Chegava ao jogo decisivo, inclusive, privado do contributo do capitão José Fonte, suspenso por acumulação de amarelos e substituído no 11 inicial pelo compatriota Tiago Djaló. O momento era de uma tensão indescritível, que ameaçava crescer a cada minuto que passasse sem o golo surgir… até que apareceu o génio de Renato Sanches: no seu estilo inconfundível o médio oriundo da Musgueira pegou na bola e arrancou galgando metros, deixando dois adversários pelo caminho e soltando no momento exacto para deixar Jonathan David na cara do golo.

O canadiano não falhou, o Lille adiantou-se no marcador e viria a aumentar a vantagem em cima do intervalo através de uma grande penalidade sofrida pelo mesmo David e convertida pelo goleador turco Burak Yilmaz. Os homens da casa ainda assustaram ao reduzir a desvantagem já nos descontos, mas o apito final chegaria pouco depois e com ele a confirmação do quarto título francês na história dos Lillois – que ainda contaram com Xeka em campo nos 10 minutos finais.

Este foi o primeiro título nacional da carreira de três dos quatro portugueses que compõem o plantel principal do Lille; fora destas contas está, obviamente, Renato Sanches. O menino lançado às feras aos 18 anos no Benfica de Rui Vitória sagrou-se campeão nacional logo aí, na primeira época a jogar com os seniores (e cerca de um mês depois viria até a ganhar também o Campeonato da Europa pela selecção nacional em Paris), e viria depois a conquistar a Bundesliga em três ocasiões pelo Bayern Munique, ainda que a passagem pela Alemanha tenha sido bem menos sucedida do que se augurava em termos de rendimento individual (53 jogos, mas apenas 16 como titular, e dois golos, com um empréstimo também ele falhado ao Swansea pelo meio que o levou a ficar de fora do Mundial 2018).

Esse era, de resto, o grande desafio a que Renato Sanches se propunha quando no início de 2019/20 decidiu cortar de vez a ligação ao gigante bávaro e aceitou a proposta do Lille: mostrar que era capaz de voltar à sua melhor versão, a tal demonstrada no Benfica e nos primeiros jogos ao serviço da selecção nacional. A adaptação ao futebol francês foi sendo feita de forma progressiva, alternando nos dois primeiros meses a titularidade com o banco de suplentes, mas a partir de Novembro o médio lisboeta ganhou definitivamente o seu lugar nas opções iniciais de Christophe Galtier, somando 29 jogos e quatro golos até Março, altura em que a federação francesa optou por suspender de forma definitiva o campeonato devido à pandemia do coronavírus – as performances de Renato Sanches agradaram de tal modo que o o prestigiado jornal francês L’Équipe o colocou na equipa ideal da temporada da Ligue 1, ainda que como suplente.

A interrupção abrupta da competição, numa altura em que ainda faltavam dez jornadas para o seu encerramento, impediu o Lille de lutar pelos lugares cimeiros da classificação – o PSG já seguia isolado para o título mas o Marselha de André Villas-Boas, segundo, estava 7 pontos à frente dos Lillois (distância perfeitamente passível de ser encurtada ou até anulada) e o Rennes, terceiro, tinha apenas um ponto de vantagem. Ficava, por isso, um sentimento de frustração e simultaneamente um desejo de superação para 2020/21, e foi exactamente o que acabou por se verificar com a tão desejada conquista do título; em termos individuais foi uma época mais acidentada para Renato Sanches, muito por culpa de uma lesão que o afastou dos relvados praticamente por dois meses, com 29 jogos, um golo e quatro assistências, mas cuja última imagem (que é a que fica, como diz o povo) ilustra na perfeição o quão benéfico pode ser para qualquer equipa ter o médio luso à sua disposição.

Entrados no defeso, e enquanto Renato Sanches se prepara para participar no Euro 2020 (foi um dos 26 eleitos de Fernando Santos), começam já a multiplicar-se os rumores de eventuais ofertas de tubarões europeus pelo seu passe, que há dois anos custou 20 milhões de euros ao Lille e que hoje está avaliado em 28 pelo site da especialidade Transfermarkt. Não será, contudo, de esperar qualquer negócio para as próximas semanas, precisamente porque há um Campeonato da Europa para disputar nesse período mas também porque o campeão francês conta seguramente com o médio luso para atacar em força a temporada que aí vem, onde irá defender o título e tentar chegar o mais longe possível na Liga dos Campeões – oportunidade também para Renato Sanches voltar a demonstrar o seu valor no palco mais alto do futebol europeu de clubes.

Aos 23 anos, e com todas as qualidades intactas e ainda mais polidas com as várias experiências que já tem vivenciado (o poder de explosão, a capacidade física e a qualidade técnica, aliados a uma cada vez melhor capacidade de definição), Renato está completamente a tempo de voltar a deslumbrar toda a Europa como fez qual furacão em 2016, quando deixou toda a gente de queixo caído a cada exibição em Portugal e na fase final do Europeu francês. Com confiança (própria e de quem o rodeia), quem sabe não voltaremos em breve a olhar para ele como um dos mais desejados médios do futebol mundial.