João Miguel: a âncora lá detrás também já dá pontos à frente

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João Miguel, central que esta época se juntou aos romenos do FC Arges, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Sofrimento, sofrimento, sofrimento e no fim… vitória. Assim se pode resumir o jogo do último fim-de-semana do Arges, que aguentou estoicamente nove golpes do UTA Arad – alguns deles aparentemente mortíferos – e depois marcou na única ocasião em que se conseguiu realmente acercar da baliza contrária. O herói do emblema de Pitesti, já deu para perceber, é português: João Miguel, central, foi o autor do golo solitário que permitiu à sua equipa subir ao sétimo lugar da Liga romena – ultrapassando precisamente o adversário desta ronda 17.

João Miguel, importa referi-lo, está já habituado a ser o pronto-socorro do Arges. Têm sido imensas, ao longo desta época, as situações em que salvou a sua equipa de maiores apuros, destacando-se por exemplo dois cortes absolutamente decisivos em cima da linha de golo – um dos quais feito precisamente nesta partida, quando o resultado ainda se encontrava a zeros. Muito acutilante nas bolas paradas ofensivas, tinha já feito uma assistência na sequência de um desses lances (para o golo que valeu a vitória caseira ante o Universitatea Craiova por 1-0 na jornada 8), mas faltava-lhe o golo que acabou por chegar na altura em que a equipa mais necessitava e exactamente dessa forma: na sequência de um canto do lado esquerdo do ataque do Arges, o central natural da Maia apareceu ao primeiro poste e penteou a bola para o lado mais distante da baliza contrária, não dando quaisquer hipóteses de defesa ao guardião adversário.

Este foi o primeiro golo de João Miguel no que é também a sua primeira aventura no estrangeiro. Formado entre Inter Milheirós e Leixões, fez as primeiras duas épocas como sénior no Leça (III Divisão e Distrital), passando depois três anos noutro histórico do futebol nacional: o Salgueiros, sempre no Campeonato de Portugal; seguiram-se Anadia, Cesarense e União de Leiria, todos no mesmo patamar, até que o Mafra se deixou seduzir pelas exibições do defesa nortenho ao serviço dos leirienses e promoveu a sua estreia nos escalões profissionais em 2019/20. Após 55 jogos no espaço de duas temporadas na II Liga, surgiu então a hipótese de se aventurar fora de portas com o convite do Arges, pelo qual assinou em Junho último, juntamente com os compatriotas Diogo Viana e Lupeta (este entretanto acabou por se mudar para o Botosani ainda antes do fecho do mercado).

O início na Roménia não foi fulgurante logo desde início, dada a condição de suplente não utilizado em três das primeiras quatro jornadas (fez apenas 62 minutos na terceira ronda). A partir da quinta ronda, porém, agarrou a titularidade com unhas e dentes e nunca mais a largou, cumprindo todos os minutos de todos os jogos desde então no campeonato (descansou apenas na Taça) na equipa orientada por Mihaita Ianovschi, onde não constam nomes muito sonantes – longe disso: Cristian Tanase, internacional romeno de 34 anos, é o cabeça de cartaz, figurando ainda entre o plantel (mas com papel secundário) o médio brasileiro Ruan Teles, que deu nas vistas no Varzim entre 2017 e 2019 mas passou depois despercebido pelo Marítimo, e o avançado ganês Ahmed Said, que representou o Olhanense em 2015/16 e o Rio Ave (aqui sem qualquer sucesso) entre 2018 e 2021.

João Miguel, esse sim, vai-se cotando como um dos grandes destaques da equipa e, porque não, de todo o campeonato romeno, numa condição ganha a pulso, fruto de sucessivas exibições de excelente nível, jornada após jornada. Aos 28 anos, o imponente central maiato (1,90 metros e 78 kg), que em Portugal era conhecido apenas nos escalões secundários, vai fazendo o seu nome numa Liga principal do futebol europeu e por esta altura parece já bastante óbvio que dificilmente continuará no Arges na próxima temporada: é muito provável que equipas de outras ambições, romenas ou de outro país de nível futebolístico semelhante, apresentem propostas já em Janeiro, atendendo ao facto de o seu contrato com o actual clube terminar no fim da presente época.