Fehér: 20 anos sem o húngaro

feher(FC Porto, Salgueiros, Sp. Braga e Benfica foram os clubes representados por Fehér em Portugal.)

Na noite de 25 de Janeiro de 2004, Portugal inteiro ficou em estado de choque: cumpriam-se já os últimos minutos do Vitória SC – Benfica quando o húngaro Miklos Fehér caiu inanimado no relvado do Estádio Dom Afonso Henriques e não mais se levantou, vindo a falecer pouco depois já numa unidade hospitalar da “Cidade Berço”.
Com cinco golos marcados ao Vitória SC, um pelo Braga e quatro pelo Benfica, quis o destino que o último jogo da vida de Miki Fehér fosse no terreno dos vitorianos, a quem já tinha marcado nessa época, depois de lhes ter feito um hat-trick na última jornada da temporada anterior.
Contratado pelo FC Porto ao Győri ETO com apenas 18 anos, nunca beneficiou de verdadeiras oportunidades nos dragões e aproveitou da melhor forma os empréstimos a Salgueiros e Sp. Braga para demonstrar o seu real valor, acabando por rumar ao Benfica, a custo zero, no Verão de 2002.
Hoje, no dia em que se assinalam 20 anos do desaparecimento de Fehér, recuperamos aqui, por ordem cronológica, a sua passagem pelo nosso País:

14 de Janeiro de 1998: O FC Porto anuncia a contratação de Miklos Fehér ao Győri ETO, da segunda divisão húngara. O contrato é válido até 2002.

8 de Agosto de 1998: Fehér estreia-se, oficialmente, pelo FC Porto. Entra, aos 73 minutos, para o lugar de Capucho, na primeira mão da Supertaça, jogada nas Antas. Resultado: FC Porto 1-0 Sp. Braga.

22 de Agosto de 1998: Novamente nas Antas, estreia-se no campeonato português, entrando aos 80 minutos para o lugar de Mielcarski, num jogo em que o FC Porto goleou o Rio Ave por 4-0.

feherfcp(O FC Porto trouxe Fehér para Portugal em 1998.)

5 de Setembro de 1998: Ao serviço da Seleção Sub-21 do seu País, Miki Fehér defronta Portugal e perde por 0-3.

25 de Novembro de 1998: Estreia na Liga dos Campeões. Rende Capucho aos 62 minutos, mas o Porto perde na Grécia, com o Olympiakos, por 1-2.

10 de Janeiro de 1999: Primeiro golo oficial em Portugal e com a camisola do FC Porto: marca ao Famalicão, para a Taça de Portugal, no prolongamento, depois de ter substituído Mielcarski. Vitória portista por 4-2.

16 de Maio de 1999: Cumpre o quinto jogo no campeonato e despede-se, oficialmente, da época 98/99, jogando 10 minutos e fazendo uma assistência para Jardel diante da Académica (7-1).

29 de Agosto de 1999: Faz parte do primeiro onze oficial da história do FC Porto B, na então Zona Norte da II Divisão B. Os portistas goleiam o Trofense, fora de casa, por 4-1, e Fehér faz um dos golos.

24 de Setembro de 1999: Entra aos 78 minutos para o lugar de Chaínho, e marca pela primeira vez no campeonato português. A “vítima” foi o Campomaiorense.

14 de Novembro de 1999: Faz, sem imaginar, o último jogo oficial pela equipa principal do FC Porto. Diante do Ribeira Brava, para a Taça de Portugal, cumpre 90 minutos sem marcar nenhum dos quatro golos portistas.

3 de Dezembro de 1999: O Salgueiros entra em contacto com o FC Porto para o empréstimo de Fehér. Os portistas mostram-se recetivos.

8 de Dezembro de 1999: É consumado o seu empréstimo ao emblema de Vidal Pinheiro, envolvido, também, na ida de Cândido Costa para o FC Porto. Na sua apresentação, Fehér afirma que escolheu o Salgueiros porque é um clube simpático e precisa de jogar.

12 de Dezembro de 1999: Estreia-se com a camisola do Salgueiros, durante um jogo em casa com o Belenenses, que terminaria sem golos. Rendeu Renato aos 64′.

fehersalgueiros(Emprestado meia época ao Salgueiros, ajudou o emblema de Paranhos a garantir a manutenção na I Liga em 99/00.)

19 de Dezembro de 1999: Volta a ser suplente no campeonato, mas, desta vez, saiu do banco bem mais cedo, aos 29 minutos para o lugar de Edu Brasil, e bem a tempo de assinar o seu primeiro golo com a camisola do histórico emblema portuense. Resultado: U. Leiria 1-4 Salgueiros.

12 de Janeiro de 2000: Marca o seu segundo golo da época ao Campomaiorense, desta feita, contribuindo decisivamente para o triunfo do Salgueiros na 5ª Eliminatória da Taça (2-0).

26 de Janeiro de 2000: Volta a marcar na Taça, desta feita ao Fafe, mas não evita a eliminação surpreendente da sua equipa (1-2).

16 de Abril de 2000: Como não há duas suas sem três… terceiro golo da época ao Campomaiorense, em mais uma vitória do Salgueiros sobre os alentejanos, desta vez para o campeonato: 2-1.

30 de Abril de 2000: Faz o seu sétimo e último golo pelo Salgueiros, marcando o primeiro de nova vitória sobre a União de Leiria (3-0).

14 de Maio de 2000: Fehér despede-se do Salgueiros com 16 jogos e 7 golos, no mesmo dia em que o Sporting goleia em Paranhos (0-4) e se sagra campeão 18 anos depois.

26 de Julho de 2000: O húngaro sabe que não fica no plantel principal do FC Porto e aguarda por uma decisão da SAD azul e branca quanto ao seu futuro. Enquanto isso, vai-se treinando com a equipa B portista.

4 de Agosto de 2000: Fehér é anunciado como reforço do Sp. Braga, por empréstimo do FC Porto. Alverca e Salgueiros eram os outros clubes interessados, mas o húngaro, na apresentação, refere que a escolha do emblema minhoto se deveu ao facto de querer um clube mais forte e com outros objetivos.

FeherBraga(Uma época em Braga, 14 golos em 26 jogos no campeonato.)

18 de Agosto de 2000: Estreia oficial pelo Sp. Braga e que estreia! Os bracarenses vencem o eterno rival Vitória na 1ª jornada, por 1-0, e Fehér faz o único golo do encontro, entrando com o pé direito na temporada.

8 de Setembro de 2000: O Sp. Braga recebe e vence o campeão em título, Sporting, por 3-2, e o húngaro destaca-se com um bis na partida.

18 de Setembro de 2000: Na deslocação ao Bessa, Miki Fehér faz mais dois golos, e os minhotos vencem o futuro campeão por 2-1.

2 de Outubro de 2000: Pé quente para fazer golos aos ‘grandes’: o Braga empata na Luz, a dois golos, com Fehér a marcar o primeiro golo do jogo.

31 de Março de 2001: Faz o seu último golo pelos bracarenses, marcando, curiosamente, numa deslocação a Vidal Pinheiro, que terminou com triunfo da sua equipa por 4-3.

14 de Abril de 2001: Uma lesão no tornozelo acaba-lhe a temporada e sai aos 76 minutos do encontro com o Aves, na jornada 28, terminando, assim, o seu percurso com a camisola do SC Braga: 26 jogos e 14 golos.

10 de Junho de 2001: O departamento médico do FC Porto adianta que o húngaro tem uma pubalgia e este mostra-se surpreendido, afirmando que está apto fisicamente. Fehér adianta ainda que, se o clube o quiser emprestar, tudo bem, mas que no final da época pode sair a custo zero e sem compensações financeiras. O seu desejo, reitera também, é jogar no FC Porto em 01/02 e nas épocas seguintes.

1 de Julho de 2001: Entra no último ano de contrato com o FC Porto envolvido num conflito entre o seu empresário, José Veiga, e a SAD azul e branca.

4 de Julho de 2001: Em entrevista ao Record, Fehér revela que foi “ameaçado”: ou renovava contrato ou não ia para o estágio da equipa principal e tinha de se apresentar na equipa B dia 16.

16 de Julho de 2001: Assim fez: não aceita renovar contrato e apresenta-se nos treinos da equipa B portista.

16 de Setembro de 2001: Joga pela equipa B portista, entrando aos 53 minutos da partida em Vizela (2-2) válida pela 4ª Jornada da Zona Norte da II Divisão B.

30 de Setembro de 2001: Volta a jogar pela formação secundária dos ‘dragões’, entrando aos 59 minutos e ajudando ao triunfo no reduto do Sandinenses (2-1).

16 de Dezembro de 2001: Quase três meses depois, volta a jogar pela equipa B e marca na vitória em Joane, perante a equipa local, por 3-1. Foi a última vez que vestiu a camisola do FC Porto.

1 de Agosto de 2002: Depois de recusar algumas propostas para renovar com o Porto e de se ter falado do interesse e alegado contrato assinado com o Atlético Madrid, é apresentado como jogador do Benfica. Chegava ao fim um longo “processo” que deixou o ponta de lança meio ano sem competir.

FeherVSCSlb(Fehér disputa um lance com Cléber durante aquele que foi o seu último jogo.)

24 de Agosto de 2002: Estreia-se, oficialmente, pelo Benfica, entrando aos 80 minutos para o lugar de Nuno Gomes. Os encarnados vencem o Marítimo por 3-0.

14 de Setembro de 2002: Estreia-se a marcar, de forma oficial, pelo emblema da Luz. Em deslocação a Moreira de Cónegos, entra ao intervalo e assina o 2-3 final aos 67′.

26 de Outubro de 2002: É expulso pela primeira e única vez em Portugal. Vermelho direto durante o empate caseiro com a Académica a uma bola.

24 de Novembro de 2002: Depois de ter jogado no FC Porto 0-1 Torreense, em 1999, volta a viver outra surpresa em Portugal, sendo titular e jogando os 90 minutos do Benfica 0-1 Gondomar.

16 de Janeiro de 2003: É operado ao menisco do joelho esquerdo, após lesão contraída num treino.

10 de Maio de 2003: Regressa à competição 5 meses depois, jogando os minutos finais de uma vitória encarnada, no Restelo, por 4-2.

1 de Junho de 2003: Na última jornada de 02/03, o Benfica vence o Vitória SC por 4-0, e Fehér assina um hat-trick.

23 de Agosto de 2003: Titular pela primeira vez em 03/04, outra vez com o Vitória minhoto, marca o segundo golo da vitória benfiquista por 2-0.

4 de Outubro de 2003: Volta a ser feliz em Moreira de Cónegos, marcando o segundo golo do triunfo encarnado por expressivos 4-1. Foi, também, a última vez que marcou um golo no nosso campeonato.

15 de Outubro de 2003: Marca o seu primeiro e último golo nas competições europeias, oferecendo a vitória ao Benfica (1-0), sobre o La Louvière, em jogo a contar para a Taça UEFA.

25 de Janeiro de 2004: O fatídico dia. Com o Benfica empatado em Guimarães, é lançado por Camacho aos 59 minutos para o lugar de João Pereira e, em cima do minuto 90, oferece o golo da vitória a Fernando Aguiar. Pouco depois, vê um cartão amarelo por queimar tempo, sorri para Olegário Benquerença, dobra-se e cai inanimado no relvado. As reações dos jogadores em campo fizeram logo temer o pior e a viagem ao hospital foi infrutífera: o óbito seria declarado, no Hospital de Guimarães, às 23:10 desse domingo chuvoso, que acabou da pior maneira possível.

feherhungria(Ao serviço da sua Seleção principal, Fehér fez 24 jogos e 7 golos.)

Números de Miklos Fehér em Portugal:

1998/1999 – FC Porto: 9 jogos (5 no Campeonato, 1 na Supertaça, 2 na Taça de Portugal e 1 na Liga dos Campeões); 1 golo (na Taça de Portugal)

1999/2000 – FC Porto: 9 jogos (5 no Campeonato, 1 na Supertaça, 1 na Taça de Portugal e 2 na Liga dos Campeões); 1 golo (no Campeonato)

FC Porto B: 4 jogos, 1 golo (tudo no Campeonato)

Salgueiros: 16 jogos (14 no Campeonato e 2 na Taça de Portugal); 7 golos (5 no Campeonato e 2 na Taça de Portugal)

2000/2001 – Sp. Braga: 26 jogos, 14 golos (tudo no Campeonato)

2001/2002 – FC Porto B: 3 jogos, 1 golo (tudo no Campeonato)

2002/2003 – Benfica: 18 jogos (17 no Campeonato e 1 na Taça de Portugal); 4 golos (todos no Campeonato)

2003/2004 – Benfica: 19 jogos (13 no Campeonato, 2 na Taça de Portugal, 2 na Liga dos Campeões e 2 na Taça UEFA); 4 golos (três no Campeonato e 1 na Taça UEFA)

Palmarés: 

1 Campeonato (1998/1999 – FC Porto)

2 Supertaças (1998/1999 e 1999/2000 – FC Porto)

2 Taças de Portugal (1999/2000 – FC Porto; 2003/2004 – Benfica)

Carlos Fortes: “Voltei a ser o Fortes de antigamente”

carlosfortes(Carlos Fortes está a iniciar a nova temporada em grande estilo.)

4 jogos, 4 golos para Carlos Fortes em 23/24: a cumprir a segunda época consecutiva ao serviço dos indonésios do PSIS, o ponta de lança natural de Lisboa está a ter um excelente arranque de temporada, à semelhança do que havia feito há um ano.
Com formação dividida por Sacavenense, Alta de Lisboa, CAC e Nacional, o futebolista luso, atualmente com 28 anos, tem feito grande parte da carreira fora do nosso País, tendo já passado por Espanha (Racing Santander), Turquia (Sanliurfaspor), Roménia (Gaz Metan e Universitatea Craiova) e Marrocos (Ittihad Tanger) além da Indonésia, onde chegou em 2021 para representar o Arema.
Antigo internacional português no escalão Sub-20, Carlos Fortes, que atuou duas temporadas no Sp. Braga B e até se estreou pela equipa principal, confessa nesta entrevista estar de regresso à melhor forma após uma época marcada por lesões e assume o objetivo de conquistar o primeiro troféu da carreira na Ásia:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Como explicas este arranque: quatro jogos, quatro golos…
Carlos Fortes: Fiz a preparação normal. O ano passado também arranquei muito bem na Taça do Presidente, fiz cinco golos até à primeira mão da meia-final. Aí tive o azar de me lesionar e nunca mais me reencontrei durante a época. Este ano, se tudo correr bem e sem lesões, acredito que volte a fazer uma grande época.

Consideras que estavas a dever também aos adeptos do PSIS estes desempenhos, depois da época menos conseguida o ano passado?
Sim, até porque criei muitas expectativas. Tinha feito uma época muito boa ao serviço do Arema [20 golos em 31 jogos], fui contratado e cheguei muito bem, a voar! Depois lesionei-me e quando voltei foi uma quebra muito grande, fiquei sem um dos tendões na perna. Este ano parece que voltei a ser o Fortes de antigamente.

Que meta propões para esta temporada em termos de golos?
Eu sou um jogador colectivo, gosto é de ajudar a equipa. Claro que temos sempre ambições de fazer muitos golos, ainda por cima sendo avançado. Se a metade da época estiver na luta para ser um dos melhores marcadores, fazendo o meu trabalho e ajudando a equipa, isso é o mais importante.

fortesbraga(Em duas temporadas ao serviço do Braga B, Fortes apontou 15 golos.)

Já tens a experiência de estar nessa luta, visto que foste o segundo melhor marcador em 2020/21…
Este ano vai haver muita gente a fazer golos. Mas, sem lesões, que é o mais importante, acredito que vou andar sempre ali perto do topo e posso vir a ter a possibilidade de conseguir. Também vai depender da equipa, se estiver bem ao longo do campeonato.

Quais são os objectivos colectivos do clube?
Ficar nos sete primeiros. Eu acredito que temos equipa para melhor, mas aqui é necessário consistência e eles aqui, principalmente os jogadores locais, deslumbram-se e perdem o foco. Para se andar em cima aqui tem de se ter muita consistência. Vai ser difícil, mas acredito que temos plantel para isso. E esta época mudou o formato da liga, os quatro primeiros vão a um play-off final para decidir quem é o campeão.

Ainda nunca tinhas ficado tanto tempo seguido no mesmo país! Estás completamente adaptado à Indonésia?
Sim, as coisas a nível profissional têm corrido bem e isso ajuda à integração. As pessoas do clube, do país, gostam muito de futebol e isso ajuda bastante. Nós somos vistos como ídolos na rua! Isso dá motivação e vontade de continuar.

fortesracig(Em 13/14, o avançado, na foto o segundo a contar da esquerda para a direita, teve a primeira experiência internacional ao serviço do Racing Santander.)

Como descreves o futebol na Indonésia? Surpreendeu-te de alguma forma?
Sim, não estava à espera que tivesse tanta qualidade. Só que a nível táctico… deixa sempre a desejar. O jogo parte bastante, não há cultura táctica. Não se aprende nada nesse aspecto (risos)! É mais a parte técnica, o 1×1, na força, na raça…

E adaptaste-te bem? É um futebol que se adequa às tuas características?
Acabei por me adaptar, mas também apanhei o mister Eduardo Almeida, português, que já tinha estado cá, e foi fácil entender, ele passou bem a mensagem, o estilo de jogo da equipa também me favoreceu e acabei por entender bem o futebol indonésio.

Achas que é mais vantajoso teres um treinador português no estrangeiro? Ou traz mais pressão?
É vantajoso, neste caso tendo em conta o treinador que foi. Dava-nos liberdade, principalmente aos estrangeiros, para assumir o jogo, sermos líderes dentro de campo. O Sérgio Silva, que está agora no Lourosa, ensinou bastante aos defesas, defensivamente éramos das melhores equipas do campeonato. Tínhamos uma excelente relação com o mister e foi muito fácil para nós a adaptação também por isso.

carlosfortesnacional(Foi no Nacional que Carlos Fortes concluiu a sua formação.)

Porque é que te mudaste para o PSIS Semarang no fim dessa época?
Por incrível que pareça, não me apresentaram proposta de renovação! Quando recebi a proposta do PSIS, falei com o mister e disse para eles verem o que queriam fazer. Obviamente que ia dar prioridade ao clube que me abriu as portas, e ainda por cima com as coisas a correrem bem, mas nunca obtivemos qualquer tipo de resposta da parte deles. Partimos do princípio que não estavam interessados. Depois de assinar com o PSIS é que me começaram a ligar e a entrar meio que em desespero!

E em termos de reacções dos adeptos, como foi recebida a tua mudança?
Foi mais nas redes sociais. Na rua nunca senti nada desse género. Eles é atrás de um ecrã, e nem é com o perfil deles, porque aqui podem ser presos se houver queixas de comentários que sejam considerados ofensivos. Por isso criam perfis falsos para fazer críticas e dizer coisas menos boas, mas isso a mim não significa nada. Eu sei a verdade, sei como me comportei durante todo o processo, por isso estou e sempre estive tranquilo em relação a isso.

O que te levou a ir para a Indonésia no verão de 2021?
O Maringá [ex-colega no Vilafranquense] já tinha assinado pelo Arema, fez pressão, o mister também me ligou, a proposta a nível financeiro também foi agradável e decidi vir. E ainda bem. Nunca tive medo de arriscar, o meu currículo diz isso mesmo. Já andei por todo o tipo de cultura, por todo o tipo de país. Era mais uma experiência.

Sempre foste ponta-de-lança?
Quando era mais novo era um dos mais baixos do plantel, e por isso era extremo. Aos 15 anos dei um pulo enorme, comecei a jogar a avançado e fiquei.

fortesvilaf(O Vilafranquense foi o último clube do avançado em Portugal até ao momento.)

És natural de Lisboa, fizeste toda a formação nos clubes da zona e depois vais para o Nacional no segundo ano de júnior. Como se deu essa mudança?
Fui o melhor marcador da minha série no CAC Pontinha e já estava a treinar há uma semana no Belenenses quando apareceu o Nacional. Como estava ali naquela altura de transição, uma pessoa quer ir sair e tal, pensei “o melhor é afastar-me de Lisboa (risos) e vou para a ilha para me focar verdadeiramente no futebol”. E foi o que fiz.

Depois não ficas no Nacional na passagem para os seniores porquê?
No ano anterior houve vários juniores a assinar contrato profissional, entre os quais o Lucas João ou o Rui Silva. Por isso, no meu ano, até porque ficámos em último no apuramento de campeão, ninguém se destacou muito e ninguém assinou contrato profissional.

E é nesse contexto que surgiu o Racing Santander?
Pela mão do meu empresário, o Pedro Torrão. A primeira proposta até foi para ir fazer testes na equipa principal, mas a partir do segundo ou terceiro treino mandaram-me logo ir assinar e fiquei um aninho em Espanha. Como ainda tinha 18 anos, fui inscrito como sub-23 e acabei por fazer muitos jogos na segunda equipa, na III Divisão. Correu bem, fiz 10 golos e cheguei à Selecção de sub-20.

fortesarea(O Arema foi quem abriu as portas da Indonésia a Carlos Fortes e certamente não se arrependeu: 20 golos em 31 jogos.)

Qual a sensação de ser chamado à Selecção?
É um motivo de orgulho, uma sensação indescritível. Ouvir o hino, estar entre os melhores da nossa geração… Não tem preço.

E como se dá a chegada ao Braga?
O meu empresário fez o negócio do Fábio Martins para o Braga e fui um bocadinho à boleia (risos). Saí da III Divisão espanhola para um grande de Portugal, foi um grande salto!

Fizeste uma boa época e meia na equipa B e até te chegaste a estrear na equipa principal. Esperavas ter pelo menos a oportunidade de fazer a pré-época em 2016/17?
A minha mágoa, e o facto de ter saído de forma precoce do Braga, foi isso mesmo: fui um dos destaques da equipa B e tinha em mente fazer a pré-época e depois ser emprestado a um clube da I Liga, porque sabia que era difícil ficar, o Braga tinha um plantel muito forte. No ano anterior tive uma proposta do Sivasspor em Janeiro, oferecia meio milhão de euros, e o presidente não aceitou; depois, deixou-me sair a custo zero para a II Liga da Turquia… Não faz muito sentido. Fiquei triste, acho que merecia pelo menos fazer a pré-época com o plantel principal.

fortescraiova2(O Universitatea Craiova foi a casa do ponta de lança durante cerca de um ano.)

Disseste numa entrevista ao Maisfutebol que essa passagem pela Turquia foi o pior momento da carreira. Porquê?
Não digo que me arrependa de ter ido, mas se calhar tinha tido mais paciência e tinha esperado pela minha oportunidade no Braga. Nessa época houve algumas lesões no Braga, o Hassan em Janeiro foi à CAN e eles não tinham avançados, até foram buscar o Rodrigo Pinho à equipa B, que depois foi para o Marítimo e depois para o Benfica. Se eu tivesse aguentado, a jogar na equipa B e a fazer golos, tinha sido eu a ter essa oportunidade. Nesse aspecto, podia ter feito as coisas de forma diferente. A Turquia… Não foi o país em si, mas o clube tinha muitos problemas. A cidade era horrível, longe de tudo, do nada fechavam os bancos e a Internet, porque aquilo é a 3 horas da Síria e diziam que tinha entrado um terrorista na cidade, então cortavam as comunicações todas! Salários em atraso, eu vivia na academia e o clube às vezes não pagava a electricidade, a luz ia abaixo, ficava sem nada para fazer o dia todo… Foi um pesadelo. Mas o pior de tudo nem é isso.

Então?
Eu tinha contrato e eles nunca me trataram do visto, fui a Portugal numa paragem de selecções e paguei uma multa; na segunda vez paguei uma maior; e em Dezembro, na paragem do Natal, pedi para tratarem disso. Quando saí, fiquei banido de entrar na Turquia durante 3 meses! E tinha contrato de trabalho! Expliquei a situação, disseram que iam resolver. Cheguei a Istambul às 10 da noite do dia 3 de Janeiro, e no dia 4 ao meio-dia ainda estava no aeroporto na parte da emigração! Fartei-me, voltei para Portugal e só fui lá depois rescindir o contrato. Foi quando vim para o Vizela.

E porque escolheste o Vizela?
O mister Abel aconselhou-me a ir, disse que tinha sido treinado pelo Rui Quinta e o projecto também era bom. Por isso aceitei. E não me arrependo, apesar de ter descido de divisão, porque criei amizades, mais até no segundo ano, que vou levar para a vida. Foi o melhor balneário que tive até hoje. Quando descemos, tive propostas da II Liga mas sentia que me queriam muito ali e sentia-me bem, sentia-me em casa.

fortesiithad(A aventura do lisboeta em Marrocos foi curta devido ao surgimento da pandemia.)

E em 2018/19 chegas à I Liga da Roménia. Como aconteceu esse salto?
Por intermédio do empresário Rui Gomes, que trabalhava com o dono do Gaz Metan. Eles vieram cá, apresentaram-me um projecto, mostraram-me os valores, quase o dobro do que se paga na II Liga portuguesa, e acabou por ser uma decisão fácil.

Depois começas muito bem e podias ter saído logo, certo?
Sim, fiz 3 golos nos primeiros 3 jogos e chegou uma proposta do Craiova. Mas só tive conhecimento dela em Janeiro, quando acabo mesmo por ir para lá. Tive a possibilidade de escolher também o Steaua, ainda tenho a proposta de contrato no e-mail, e ainda se falou do Cluj. O Steaua era só empréstimo e o Craiova assinei por 3 anos e meio, ainda pagaram uns 300 mil euros ao Gaz Metan.

No Craiova é que não correu tão bem…
Quando cheguei, o mister que tinha pedido a minha contratação saiu passados dois ou três jogos. A partir daí tive muitas dificuldades. No ano a seguir chega um ex-seleccionador da Roménia, durante a semana só falava para mim, eu até me sentia mal pelos outros avançados, e na semana a seguir passo de titular para não convocado! Depois disse-me que não contava comigo, que eu ia ser quarta opção se quisesse ficar, e entretanto aparece uma proposta para ir para Israel mas não chegamos a acordo; volto para a Roménia, nessa semana não sou convocado e na semana a seguir sou titular, faço golo e depois vou para o banco! São coisas inexplicáveis, extra-futebol. Nessa situação foi muito evidente.

fortesvizela(Em Janeiro de 2017, Fortes rescindiu com o Braga e assinou pelo Vizela.)

Depois como se deu o processo de ir para Marrocos?
Depois desse jogo, deixei de jogar e pedi para ir jogar à segunda equipa no início de Novembro. E fui expulso, perdi a cabeça nesse jogo, e apanhei 3 jogos de castigo. Mas esse foi o último jogo da segunda equipa nessa fase, depois só voltavam a competir em Abril, e eu não podia jogar até cumprir esse castigo! Acabei por ser emprestado para Marrocos, e depois veio a pandemia.

Como descreves essa passagem por Marrocos? A nível de resultados não foi fantástico…
Não. Podia ter sido campeão e descido de divisão nesse ano! Eu gostei de lá jogar, apesar de não ter corrido bem a nível desportivo nem financeiro, porque não me pagaram nem um salário, tive de ir para a FIFA! Mas o país em si, o campeonato, era bom. Muito competitivo, muita qualidade técnica dos jogadores, jogam muito. Futebol muito rápido, intensidade alta… Estava a gostar.

E com o surgimento da pandemia regressaste a Portugal…
Sim. Rescindi com o Craiova e assinei por 2 anos com o Vilafranquense. O meu filho tinha nascido há pouco tempo, estava longe de casa, as coisas não estavam a correr bem e senti necessidade de voltar à base, estar perto da família.

Em termos desportivos acabou por não correr como esperavas…
Acho que essa época foi a preparação para a época seguinte (risos)! Foi a minha pior época. Não tinha sequer oportunidades para fazer golos, foi muito difícil. E até acho que fazia bons jogos, tive o mesmo número de troféus de melhor em campo que o Jefferson. Mas andava sempre muito distante do golo, não tinha oportunidades de finalizar, fiz muito poucos remates, e quando a equipa não cria, é muito difícil um avançado fazer golos. E a II Liga é muito difícil, são jogos muito fechados, muito tácticos e sem espaço.

fortesanliu(Carlos Fortes luta pela bola com Tiago Pinto durante o Osmanlispor 1-2 Sanliurfaspor a contar para a Taça da Turquia em 2016.)

Surge então a Indonésia. Como é viver aí? O clima, o país, as pessoas, a comida, a comunicação…
Estou a começar a aprender a língua, mais o que é direccionado ao futebol. Já sei algumas palavras. Em termos de alimentação, comemos mais em casa, porque aqui é tudo picante! As pessoas são muito simpáticas, muito dadas, acolhem-nos bem. O clima é muito calor, calor o dia todo! Mesmo quando chove.

Onde é que gostaste mais de jogar? Que futebol se adequou mais às tuas características?
Espanha. Futebol mais táctico, bola no chão, técnica e eu gosto de equipas que gostam de jogar.

E o que menos gostaste?
Turquia. Não gostei de nada lá. Mesmo os jogadores locais não faziam um esforço para falar inglês, éramos só três estrangeiros e estávamos muito vulneráveis ali. Também achei os turcos muito arrogantes. Não gostei mesmo de nada lá.

fortesgaz(Pelos romenos do Gaz Metan, o futebolista luso cumpriu apenas meia época.)

Quem são os teus ídolos de infância ou em que te revias/revês na tua posição?
Ronaldo Fenómeno, sem dúvida. Para mim, é o melhor de todos os tempos. Como inspiração, e sendo eu um português fora, temos o Cristiano Ronaldo, eu a qualquer lado que vou a primeira coisa que me falam sobre Portugal é Cristiano Ronaldo, é automático. Por tudo o que trabalhou, por tudo o que conquistou, só pode ser uma inspiração.

Se tivesses que te descrever enquanto jogador, como o farias?
Inteligente, tecnicista e que gosta de jogar e ajudar a equipa.

Onde consideras que evoluíste mais na carreira desde o início?
Jogo aéreo. Por incrível que pareça, porque sou enorme, mas não o considero bom. Se tiver de o utilizar, desenrasco-me, mas gostava que fosse melhor, até pela minha altura.

Que treinador mais te marcou?
Abel Ferreira. É diferenciado. Sem dúvida. Foi o treinador com quem eu mais aprendi, e nem só da minha posição. Ouvia com atenção o que ele dizia e fazia todo o sentido. Tinha observações e coisas que via à frente de toda a gente, ele gosta de estudar e sabe o que faz, por isso é que está a ter o sucesso que está a ter. Não me surpreende minimamente.

carlosfortespt(As exibições ao serviço do Racing Santander abriram as portas da Seleção a Carlos Fortes, com o ponta de lança a registar 3 internacionalizações nos Sub-20.)

O que ainda te falta atingir na carreira?
Já pensei mais nisso. Gostava de ter representado a selecção de Cabo Verde, pelos meus pais. Estive pré-convocado, falaram comigo várias vezes, tratei dos documentos que me pediram e nunca se deu. Hoje em dia não faço disso um objectivo, mas obviamente que se acontecesse seria um motivo de orgulho para mim e para a minha família e aceitaria, claro. Já houve momentos que considero que merecia ser convocado e não fui; hoje olho para o nível dos avançados que têm e, por jogar na Indonésia, acredito que tenha gente à minha frente. Mas vou continuar a fazer o meu trabalho, os meus golos, e se quiserem contar comigo serei mais um para ajudar.

Também ainda procuras o primeiro troféu…
Olha, não tinha pensado nisso. Sim, também ando atrás disso, de conquistar um título. Por acaso saí do Arema e eles ganharam a Taça do Presidente! Sim, posso dizer que é isso que me falta, conquistar um título. E acredito que pode ser aqui na Indonésia. Já esteve mais longe!

Manuel Cajuda: o algarvio que pôs o Braga a nadar na piscina dos “grandes”

cajudabraga(Manuel Cajuda fez sucesso com o Sp. Braga a meio da década de 90 e no princípio dos anos 2000.)

O apuramento do Braga para a final da Taça de Portugal, selado na noite desta terça-feira, veio confirmar a grandíssima temporada protagonizada pelos Guerreiros do Minho, que a cinco jornadas do fim do campeonato ainda acalentam legítimas aspirações a conquistar o campeonato – seguem a 6 pontos do líder Benfica, que visitarão daqui a duas jornadas. O percurso dos comandados de Artur Jorge vem no seguimento do crescimento que os bracarenses têm vindo a solidificar nas últimas duas décadas, principalmente após a chegada de António Salvador à presidência do clube, em Fevereiro de 2003.

Os primeiros passos nesse sentido, todavia, começaram a ser dados um pouco antes, e pela mão de um… algarvio. É certo que já tinha ficado por três ocasiões em 4º lugar no campeonato (duas na década de 70 e outra na de 80), contando ainda com uma Taça de Portugal no palmarés (conquistada na já longínqua época de 1965/66), mas foi após a chegada de Manuel Cajuda ao comando técnico que os minhotos se começaram a estabelecer em pleno como uma das melhores equipas do futebol nacional.

cajudafarense(Foi no Farense que Cajuda iniciou a sua carreira de treinador.)

Após um 10º e um 8º lugares entre 1994 e 1996 – e depois de o clube ter escapado por um triz à descida em 93/94 –, o técnico nascido em Olhão alcançou o 4º posto em 96/97, orientando uma equipa recheada de nomes míticos do Braga como Rui Correia, Zé Nuno Azevedo, Bruno, Karoglan… ou o próprio Artur Jorge. Os Guerreiros do Minho terminaram a temporada a apenas 3 pontos do 3º classificado, Benfica, e 2 à frente do arqui-rival Vitória SC, algo pouco frequente por essa altura.

“Eu disse aos dirigentes que, no primeiro ano, queria ser o primeiro dos últimos. O que é que isto representava para mim? Queria ficar no décimo lugar. No segundo ano, queria ser o último dos primeiros, e, portanto, queria ficar em nono lugar. No terceiro ano, queria estar na Europa. As pessoas ficaram, de certo modo, espantadas comigo. Até me recordo do prémio que pedi ao clube no caso de ir à Europa: no primeiro ano, eram 15 mil contos. No segundo ano, eram 10 mil contos – baixava 5 mil – e no terceiro passava para 20. O presidente perguntou porque é que o queria um prémio assim. Eu disse que, se eu conseguisse acabar a primeira época no Braga, já era um herói, porque o Braga nos últimos quatro anos tinha tido seis treinadores”, revelava Manuel Cajuda em entrevista ao Zerozero no passado mês de Fevereiro. “Porque é que eu baixava na segunda? Eu disse que, na segunda, se eu acabar a época, já tenho mais condições para trabalhar. Perguntaram-me ‘porque é que você, na terceira, já exige 20?’ e eu disse: ‘porque eu exijo a mim próprio, não exijo a vocês, no terceiro ano estar no quarto lugar’”, contou também.

cajudaleiria(A União de Leiria foi o clube por onde o técnico mais vezes passou: foram três períodos distintos ao serviço do emblema da cidade do Lis.)

O treinador algarvio rumou depois ao Belenenses, mas voltaria a Braga a meio de 98/99, culminando a temporada com um 9º posto (que se repetiu em 99/00), tendo os bracarenses terminado 97/98 ainda mais abaixo: 10º lugar (chegaram, ainda assim, à final da Taça, onde foram derrotados pelo Porto por 3-1). Em 2000/01, com um misto das velhas guardas e alguns jovens de inestimável qualidade (casos de Quim, Luís Filipe, Castanheira ou o saudoso Miklós Fehér), chegaria então novo 4º lugar, na época do Boavista campeão – o Braga ficou a 20 pontos do 1º posto mas a apenas 5 do 3º, ocupado pelo Sporting, tendo terminado à frente de União de Leiria e… Benfica, no que foi a pior época da História das Águias, e bem à frente do Vitória SC, 15º com menos 19 pontos.

“Eu disse que queria fazer do Braga uma equipa como o Corunha ou o Valência: não eram campeões, mas estavam próximos da luta pelo título. Que queria fazer do Braga o melhor clube do Minho, e não queria dizer não fosse grande já, mas quem liderava o futebol do Minho era o Vitória. E conseguimos ultrapassar o Vitória. Curiosamente, quando cheguei a Guimarães, disse exatamente a mesma coisa… e consegui pôr o Vitória no terceiro lugar”, lembra Manuel Cajuda, após desfiar um rol gigante de dificuldades pelas quais o Braga passava na altura – desde não ter bolas ou lavandaria até aos inevitáveis meses de salários em atraso: “Nós passámos as dificuldades que já não existem agora e que ninguém passou. Muita gente diz que eu fui o pai do Braga e eu digo sempre que não. Eu, quando muito, posso ser o tio. Foram oito anos de grandes sacrifícios, mas, acima de tudo, fica a consciência de que recuperámos o Braga do período mais difícil da sua história.”

cajudaolhanense(Durante a época 12/13, Cajuda regressou ao Olhanense, clube da cidade onde nasceu, e que já tinha orientado na década de 80.)

O 9º lugar em 2001/02, com os mesmos pontos do Vitória minhoto, configurou o último capítulo na relação de Manuel Cajuda com o Braga – que passaria por momentos de aflição na temporada seguinte, com Jesualdo Ferreira a salvar a equipa da despromoção por 2 pontos. Deu-se, então, a chegada de António Salvador à presidência, e com ela o crescimento realmente sustentado do clube, que hoje se bate de igual para igual com os “grandes” do nosso futebol.

O legado de Cajuda, no entanto, estende-se bastante mais do que os feitos em Braga. Depois de uma carreira de jogador passada inteiramente em clubes da sua região (Sambrasense, Olhanense e Farense), o antigo central começou como adjunto nos Leões de Faro em 1983/84, acabando por ter aí a primeira experiência enquanto treinador principal após a saída do lendário técnico búlgaro Hristo Mladenov antes do fim da época. Após voltar às funções de adjunto na temporada seguinte, passou definitivamente para chefe de equipas técnicas em 1985/86, no “seu” Olhanense, que liderou durante 2 temporadas.

cajudazamalek(Em 2006, o treinador algarvio assumiu o comando dos egípcios do Zamalek, vivendo aí a sua primeira experiência internacional.)

Em 1986/87 regressou ao escalão principal, conduzindo o Portimonense a um 13º lugar, e após ficar às portas da subida com o Louletano em 89/90, viria a conseguir esse objectivo ao comando do Torreense na temporada seguinte, não conseguindo porém impedir a descida em 91/92. Chegaria a Braga depois de nova subida à I Liga, então ao serviço da União de Leiria, e pelo meio dos quase sete anos nos minhotos teria apenas uma passagem tristonha pelo Belenenses, acabando despromovido ao segundo escalão em 97/98 – viria a sair a meio da temporada seguinte para regressar ao Braga, fazendo ainda assim parte da campanha que culminou com nova subida dos Azuis do Restelo.

Em 2002/03, regressou a Leiria para fazer a melhor temporada da História do clube: quinto lugar e a presença na final da Taça de Portugal, perdida para o Porto de José Mourinho (0-1). Na época seguinte rumou ao Marítimo, onde conseguiria um 6º lugar, seguindo-se passagens menos bem sucedidas por Beira-Mar e Naval. Teria a primeira aventura fora do país em 2005/06, nos egípcios do Zamalek, onde se sagraria vice-campeão e finalista vencido da Taça, voltando a Portugal a meio da temporada seguinte para resgatar o Vitória SC de uma possível descida à II Divisão B, conduzindo-o à subida à I Liga e na temporada seguinte a um impensável 3º lugar que permitiu aos vimaranenses disputar o play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões em 2008 (no qual acabaria derrotado por 2-1 em Basileia, em jogo onde viu um golo mal anulado por pretenso fora-de-jogo de Roberto).

cajudavsc(Manuel Cajuda “tirou” o Vitória SC da II Liga e colocou-o a disputar o play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões.)

Após 2 anos nos Emirados Árabes Unidos, ao comando do Al Sharjah, regressou a Leiria já com a época 2011/12 em andamento e acabaria por enfrentar uma situação muito complicada, de novo devido ao flagelo dos salários em atraso, deixando o clube em Março na última posição da tabela – pouco depois, vários jogadores rescindiriam unilateralmente, com a União de Leiria a cair num poço de onde só se está a reerguer agora. Regressaria a Olhão quase um ano depois, sucedendo a Sérgio Conceição, mas onde curiosamente reencontraria um cenário semelhante e o qual não conseguiria reverter: acabaria por sair a 3 jornadas do fim, depois de apenas uma vitória em 15 jogos, com o interino Bruno Saraiva a conseguir o milagre da permanência na última ronda.
Esta seria, sabe-se agora, a última presença de Manuel Cajuda no escalão maior do nosso futebol. O técnico algarvio colecionou depois passagens por emblemas do continente asiático (Chongqing, Tianjin Tianhai e Sichuan Annapurna, nos escalões secundários da China; Ajman, nos Emirados Árabes Unidos; e BEC Tero Sasana, na Tailândia), até que em Fevereiro de 2018 regressou a Portugal com nova missão “impossível”: colocar o Académico de Viseu na I Liga pela primeira vez em 30 anos.

“Não vim para aqui para ficar três meses. Se não subir este ano, subo para o próximo”, prometeu na apresentação oficial no emblema viseense; acabaria por não conseguir cumprir, todavia, ainda que por culpas que não lhe podem ser imputadas. Logo nessa época, terminou no terceiro lugar da II Liga, a apenas 2 pontos do Santa Clara, com os açorianos a ser visados (e considerados culpados) de várias irregularidades puníveis nos regulamentos da Liga com perda de pontos – o que acabou por não acontecer: dada a morosidade do processo, que se arrastou até ao início da temporada seguinte, o emblema dos Açores acabou por ser punido apenas com multas, prejudicando assim de forma directa o Académico de Viseu.

Cajuda ainda começaria a temporada seguinte no clube, mas o falecimento da mãe e problemas de saúde levaram-no a abandonar o cargo no início de 2019. Voltaria ao activo um ano depois, pela porta do Leixões e também no segundo escalão, mas a interrupção abrupta e definitiva da competição em Março, devido ao surgimento da pandemia do coronavírus, levou-o a decidir abandonar o clube após apenas 6 jogos (2 vitórias).

cajudaleixoes(O Leixões foi o último clube que Manuel Cajuda treinou até hoje: o técnico chegou a Matosinhos em Janeiro de 2020, mas, devido ao surgimento da pandemia, deixou o cargo em Maio.)

Desempregado desde então, há quase 3 anos, o longevo treinador olhanense mantém-se ainda assim bastante activo e presente no mundo do futebol: visto várias vezes em vários estádios de norte a sul do país (mantém uma habitação em Braga e também na sua cidade natal), faz questão de mostrar nas redes sociais que se actualiza constantemente em formações, mantendo a porta aberta para um regresso ao trabalho apesar dos 71 anos. Os 506 jogos enquanto treinador na I Liga e os vários trabalhos de monta descritos neste artigo não chegaram para dar o salto para um “grande” (mais que merecido), o que ajuda a explicar a vitrina de troféus vazia, nem para alimentar com mais afinco o sonho de um dia ser o seleccionador nacional de Portugal, mas Manuel Cajuda será sempre um dos treinadores mais emblemáticos e reconhecidos dos adeptos do futebol português – e se este Braga chegar mesmo um dia a ser campeão, não se esqueçam aqui do “tio”.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Vitinha: a resposta às dúvidas dá-se em dose dupla

vitinha

Vitinha, ponta de lança que representa os franceses do Olympique de Marselha, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Não estava fácil o começo de Vitinha no Marseille: eram já 8 jogos (ainda que com apenas 156 minutos de utilização efectiva) e nem um único golo pelo emblema francês, para o qual seguiu no último dia do mercado de transferências de inverno a troco de 32 milhões de euros, tornando-se a compra mais cara da História do clube. O passado domingo, todavia, pode ter significado o início de uma nova era para o avançado nascido há 23 anos em Cabeceiras de Basto: foram dois os golos apontados na vitória caseira por 3-1 sobre o aflito Troyes, na primeira real demonstração das suas qualidades em solo gaulês.

Após fazer praticamente toda a formação no Águias de Alvite, tendo inclusivamente chegado a treinar no Benfica, dado o protocolo que existia entre o modesto emblema minhoto e as Águias, Vitinha chegou ao Braga apenas no primeiro ano de júnior, mas ainda bem a tempo de deixar a sua marca: foram 21 golos em época e meia, que permitiram a ascensão ao plantel de sub-23 ainda com 18 anos, no decorrer de 2018/19. Após uma época morna na Liga Revelação (7 golos em 32 jogos), passou a jogar maioritariamente pela equipa B, na Liga 3, em 2020/21, registando números absolutamente sensacionais na primeira metade da temporada: 9 golos em 10 jogos!

Um registo que, obviamente, chamou a atenção dos responsáveis da equipa principal, com Carlos Carvalhal a chamá-lo pela primeira vez para um jogo da Liga Europa em casa diante dos ucranianos do Zorya. Seria suplente utilizado, tal como diante do Rio Ave duas semanas depois, mas em Janeiro receberia o primeiro grande prémio: lançado em campo aos 63 minutos da recepção ao Torreense, para os oitavos-de-final da Taça de Portugal, acabaria por ser o escolhido para bater a grande penalidade que converteu para o 5-0 final (contributo que lhe valeria o primeiro troféu da carreira, dado que o Braga acabaria por conquistar a prova).

5 dias depois, renovou com os Guerreiros do Minho até 2024. No resto da temporada acabaria por somar apenas mais 1 minuto na equipa principal, sendo mesmo opção em 3 jogos da equipa de sub-23 (com 4 golos nos primeiros 2, acabando por se lesionar no terceiro, nas meias-finais da Taça, terminando aí a época). Para 2021/22, manteve o estatuto de jogador de equipa principal, sendo suplente utilizado na final da Supertaça perdida para o Sporting (1-2), mas desceu depois novamente à Liga 3, representando a equipa B durante 1 mês (3 golos marcados em 4 jogos realizados).

A partir da jornada 7, porém, regressou à equipa principal e não mais de lá voltaria a sair. Ao todo, foram 14 golos (e 3 assistências) até ao fim da temporada, com destaque para o tento na estreia como titular (que valeu o triunfo caseiro sobre o Gil Vicente por 1-0 na ronda 9), o poker nos 6-0 ao Santa Clara na quarta eliminatória da Taça de Portugal e o hat-trick em Arouca na jornada 16, em novo 6-0 dos bracarenses.

Previa-se uma época 2022/23 com ainda mais preponderância, apesar da saída de Carvalhal – ou até por isso, dada a subida ao comando técnico de Artur Jorge, que já havia orientado Vitinha nos sub-23. E assim aconteceu: foram 13 golos (e 5 assistências) em 27 jogos até ao dia 21 de Janeiro, entre os quais o hat-trick perfeito apontado na primeira parte do encontro na Bélgica frente ao St. Gilloise, na fase de grupos da Liga Europa, que lhe valeu a eleição por parte da UEFA para Jogador da Semana da competição.

Sem surpresa, com a chegada do mercado de inverno começaram os rumores e as associações a clubes de campeonatos de maior nomeada. Com contrato válido até 2027, após renovação do vínculo em Agosto, e cláusula de rescisão de 30 milhões de euros, acabaria por ser o Marseille a ganhar a corrida pelo promissor avançado luso, com a transferência a ser oficializada precisamente 1 dia depois de Vitinha ser agraciado com a distinção de Revelação do Ano na Gala Legião de Ouro, o certame anual organizado pelo Braga.

As primeiras impressões no gigante francês não foram as mais positivas, tendo sido necessário o treinador e o presidente do clube fazerem por mais que uma vez pedidos de paciência aos adeptos – titular logo na estreia, foi substituído ao intervalo, sendo opção inicial apenas mais 2 vezes desde então, a última das quais precisamente no último sábado. Tudo poderá ser diferente a partir de agora para o avançado minhoto, que estará inclusivamente sob observação atenta do staff comandado por Roberto Martínez, ainda que continue à espera da primeira chamada à selecção A – internacional nos sub-18 (3 jogos, zero golos) e sub-21 (8 jogos, 4 tentos), esteve na lista alargada de pré-convocados por Fernando Santos para o Mundial do Qatar mas acabaria por ficar de fora das escolhas finais. Se mantiver a evolução no actual vice-líder da Ligue 1, a espera poderá ter os dias contados muito em breve.

Paulinho: a estrela da Reboleira já brilha na Dinamarca

paulinho

Paulinho, ponta de lança que representa os dinamarqueses do Viborg, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Agora sim: após 5 jogos, Paulinho já se pode gabar de ter marcado um golo num escalão principal do futebol europeu. O avançado que trocou no mercado de inverno o Estrela da Amadora pelo Viborg selou a vitória clara da sua equipa em casa do Brondby (0-3), no último domingo, poucos minutos depois de ter saído do banco, estreando-se assim a marcar na Liga da Dinamarca pelo terceiro classificado da fase de campeão (a 5 pontos do líder Copenhaga).

Começa, assim, a apresentar-se aos nórdicos um jogador que protagonizou uma ascensão meteórica no espaço de 3 anos. Natural de Braga, Paulo Rafael Pereira Araújo teve um percurso formativo algo atípico, com passagem por 6 clubes diferentes (Ferreirense, Braga, Arsenal da Devesa, Alegrienses, Vizela e Merelinense), e a carreira sénior iniciou-a nos distritais de Braga, ao serviço do modesto S. Paio d’Arcos, em 2018/19.

Os 21 golos marcados na segunda época chamaram a atenção de clubes de patamares superiores, e assim chegou ao Fafe no verão de 2020, apontando 10 tentos numa campanha que terminou com a festa da promoção à Liga 3. Apesar de não ser titular indiscutível, os desempenhos de Paulinho voltaram a aguçar o apetite de equipas de um escalão acima, com o renovado Estrela da Amadora a ganhar a corrida e a assinar um contrato válido até 2023 com o avançado bracarense.

Utilizado maioritariamente como arma secreta a sair do banco no decorrer das partidas, Paulinho voltou a festejar 10 golos em 2021/22 (6 na II Liga), com os amadorenses a terminarem num difícil 14º posto, escapando ao play-off de despromoção por 1 ponto. Para a época em curso, porém, o Estrela da Amadora apostou forte na subida e, quando se podia esperar um decréscimo de utilização do ponta-de-lança minhoto, aconteceu exactamente o oposto: Paulinho arrancou a época como titular e cumpriu em toda a linha, apontando 7 golos nas primeiras 7 jornadas.

Uma lesão afastou-o dos relvados por 4 jogos, regressando à 12ª ronda… com um golo após sair do banco. Acabaria por ser nessa condição que viria a registar mais 4 aparições (e 1 golo), até que em Janeiro chegou a proposta do Viborg, na ordem dos 900 mil euros por 65 por cento do passe – mais baixa que o valor da cláusula de rescisão, cifrado em 3 milhões de euros na renovação de contrato feita em Dezembro, mas ainda assim suficiente para se tornar na maior venda da História do clube da Reboleira.

Na Dinamarca, Paulinho tem sido mais uma vez visto como um super-suplente, tendo saído do banco em 6 das 7 ocasiões em que foi utilizado – foi titular apenas no empate caseiro diante do Nordsjaelland (1-1), na penúltima jornada da fase regular do campeonato. Na mira do avançado luso está, obviamente, a conquista da titularidade no Viborg, mas também a vertente colectiva, que passa pela luta pelo título (ou, no mínimo, o segundo ou o terceiro lugares, que garantem o acesso à Liga da Conferência da próxima temporada).

Aos 23 anos, Paulinho vai construindo uma carreira a pulso, da qual chegou a duvidar na fase da subida a sénior – motivo que o levou a frequentar (e concluir com sucesso) a licenciatura em Engenharia Biológica. Com contrato com o Viborg válido até ao fim de 2025/26, espera-se que o goleador bracarense surja na próxima temporada já completamente adaptado à realidade dinamarquesa e que “rebente” em definitivo, assumindo-se assim definitivamente como um dos grandes valores ofensivos do futebol nacional – e, quem sabe, podendo começar a imiscuir-se nas opções às ordens de Roberto Martínez para a selecção nacional, no que seria ainda mais extraordinário dada a total ausência de internacionalizações nas camadas jovens.

Vitória – Braga: cinco jogadores que trocaram diretamente de rival

331873798_885137292782326_570516392084854443_n(Quim Machado, Edmilson, Abel, Paulo Sérgio e Custódio são alguns dos futebolistas que trocaram diretamente os eternos rivais do Minho.)

É, sem dúvida, o grande jogo da 22ª Jornada da Liga: Vitória SC e Sp. Braga encontram-se esta noite no Dom Afonso Henriques, naquele que será o 128º confronto entre os velhos rivais a contar para o nosso principal campeonato.
Ora, naturalmente, ao longo da história, vários são os atletas e também treinadores que representaram os dois emblemas, independentemente de o terem feito de forma direta ou “intervalada”, como é mais frequente acontecer.
Tendo em conta o derby de hoje, a nossa página aproveita a oportunidade para recordar cinco jogadores que se mudaram diretamente de um rival para o outro:

Quim Machado, 1991: num defeso que ficou marcado por três “trocas” entre os rivais, ressalvamos o agora treinador dos sauditas do Al-Orobah FC. No Verão de 1991, Chiquinho Carlos e Nando deixaram Guimarães para jogarem no Braga; e, em sentido inverso, Quim Machado trocou o 1º de Maio pelo Dom Afonso Henriques. Após duas épocas nos bracarenses, o lateral direito rumou aos vimaranenses e cumpriu igualmente duas temporadas de “Rei ao peito”, nas quais somou 57 jogos e 2 golos, saindo para o Estrela da Amadora já com 93/94 em andamento.

Edmilson, 2000: mais uma vez, o Braga “pescou” em dose dupla no vizinho e rival. Entre os vários reforços que contratou para “atacar” a época 00/01, o emblema vermelho e branco apostou nos brasileiros Edmilson e Riva, avançados já com um certo estatuto no Vitória e com experiência no futebol português. Transferido para os sauditas do Al Hilal no princípio da temporada 01/02 – já depois de ter feito um golo em três jogos -, Edmilson teve mais sucesso nos bracarenses que o compatriota, apontando, só na primeira época, 12 golos em 35 jogos – em Guimarães, chegou aos 30 tentos em 96 partidas divididas por três temporadas.

Abel, 2004: aquele que é um dos técnicos portugueses mais conceituados do momento, transitou diretamente de Guimarães para Braga no Verão de 2004. Jogador dos vimaranenses durante quatro temporadas, o então lateral direito, após terminar o contrato, aceitou o convite do rival e mudou-se a custo zero para um clube que estava a começar a dar os primeiros passos para ser aquilo que é hoje. Durante época e meia, Abel foi titular indiscutível na “Pedreira” e o seu desempenho chamou a atenção do Sporting, que avançou para a sua contratação a meio de 05/06 – no total, fez 51 jogos pelo Sp. Braga.

Paulo Sérgio, 2005: em tempos uma promessa do nosso futebol, Paulo Sérgio foi o primeiro jogador a trocar diretamente o Braga pelo Vitória depois de Quim Machado em 1991. Reforço dos “arsenalistas” em 2003, após três anos nos franceses do Montpellier, o extremo fez duas épocas nos bracarenses e registou 6 golos e 5 assistências em 63 jogos, mudando-se depois para Guimarães, onde estaria apenas uma temporada. Em 31 partidas, o lisboeta conseguiu fazer somente um golo e uma assistência numa época que será sempre de má memória para os vitorianos, já que desceram de divisão.

Custódio, 2010: natural de Guimarães, o antigo médio defensivo iniciou o seu trajeto futebolístico na formação do Vitória, de onde “saltou” para o Sporting, regressando a casa já com 25 anos na segunda metade da temporada 08/09. Em 2010, numa altura em que a época já decorria, trocou, surpreendentemente, os “conquistadores” pelos “guerreiros do Minho”, devido a, alegadamente, não ser uma peça fulcral para Manuel Machado. E assim, depois de 36 jogos em cerca de época e meia pelo clube da sua cidade, Custódio rumou ao Braga e por lá viria a tornar-se numa das principais referências, chegando mesmo a capitão de equipa – entre 10/11 e a primeira metade de 14/15 apontou 11 golos em 126 jogos e conquistou uma Taça da Liga além de ter ido à final da Liga Europa, sendo, atualmente, treinador da equipa B bracarense.

Jorge Costa vs. FC Porto: à procura da primeira vitória

Treino do Académico de Viseu(Jorge Costa tem feito um belíssimo trabalho ao serviço do Académico de Viseu.)

Falar de Jorge Costa sem falar do FC Porto é praticamente impossível: afinal, foi nos “dragões” que o antigo central construiu a maior parte da sua carreira de futebolista, capitaneando o clube durante largos anos e contribuindo para várias conquistas a nível nacional e internacional.
Treinador principal desde Fevereiro de 2007, Jorge Costa cruzou-se poucas vezes com o seu clube do coração nestas funções e não tem propriamente razões para sorrir: até ao momento, defrontou o FC Porto por seis ocasiões e ao serviço de quatro clubes diferentes, e o melhor que conseguiu foi um empate obtido em pleno Estádio do Dragão.
Após “pendurar as chuteiras” no final da temporada 05/06, o outrora internacional português passou de imediato a treinador, começando por ser adjunto de Rogério Gonçalves no Sp. Braga, experiência que durou apenas cerca de três meses e que lhe mudaria o rumo da nova carreira: os resultados menos conseguidos proporcionaram a saída do seu “líder”, e António Salvador confiou o comando dos bracarenses ao “Bicho”.
Com uma estreia auspiciosa enquanto técnico principal – venceu o Parma em Itália, por 1-0, e apurou-se para os Oitavos-de-Final da Taça UEFA -, Jorge Costa fez o primeiro jogo na Liga Portuguesa contra… o FC Porto, perdendo por 0-1 no Dragão, a 3 de Março de 2007, graças a um golo de Adriano; e cinco meses depois, na primeira jornada do Campeonato 07/08, o Sp. Braga perderia na receção aos “dragões”, com o bis de Quaresma a sobrepôr-se ao tento de João Pinto (2-1).
Despedido dos bracarenses no decorrer de 07/08, rumou ao Olhanense para a época 08/09 e conseguiu a subida à I Liga logo na estreia, reencontrando o FC Porto em 09/10: na primeira volta, 7ª Jornada, perdeu em casa por 0-3 com golos de Falcao (2) e Bruno Alves; mas depois, no Dragão, guiou os algarvios a um empate histórico que podia ter sido vitória: Djalmir bisou (13′ e 17′) e colocou 0-2 no marcador; Falcao reduziu aos 81′; e Guarín fez o tento da igualdade aos 90’+3!
Depois disso, Jorge Costa e o FC Porto não foram adversários durante mais de dez anos, com o reencontro a acontecer na época 20/21: já ao comando do Farense, num jogo que ficou marcado pela célebre troca de palavras entre si e Pepe, o técnico averbou uma pesada derrota, 1-5, com Taremi (2), Toni Martínez, Luís Díaz, João Mário e Licá a inscreverem os nomes na lista de marcadores.
Finalmente, há duas semanas, Académico de Viseu e FC Porto tiveram o primeiro de dois “rounds” válidos pelas Taças: em Leiria, na Meia-Final da Taça da Liga, os pupilos de Sérgio Conceição não vacilaram e venceram por 3-0 com tentos de Stephen Eustáquio, Namaso e Bernardo Folha; e esta noite, já no Fontelo, os dois emblemas terão novo duelo, desta feita para os Quartos-de-Final da Taça de Portugal.
Logo mais, a partir das 20h45, Jorge Costa terá então a sétima oportunidade de se estrear a vencer diante do FC Porto enquanto treinador.

Tiago Castro: a jóia mais reluzente da “outra” colónia lusa em Paris

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Tiago Castro, médio ofensivo que representa os franceses do Paris Atlético, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Sim, é verdade: falar de um clube de futebol de Paris remete automaticamente qualquer adepto para o gigante Paris Saint-Germain, de interesse até mais redobrado para o público português na presente temporada devido à presença de 4 atletas lusos no plantel (Nuno Mendes, Danilo, Renato Sanches e Vitinha), a que se juntou entretanto também Luís Campos enquanto dirigente. Uma menor fatia terá conhecimento, porém, de outra “colónia” lusa existente num clube da capital francesa a competir no terceiro escalão, o denominado National.

Falamos do Paris Atlético, que no final da última temporada festejou a inédita subida ao terceiro patamar mais alto da hierarquia futebolística em França. Desse feito fizeram parte Luís Simão, lateral-direito que decidiu permanecer no quarto escalão para 2022/23, reforçando os Lusitanos de Saint-Maur, e Tiago Castro, médio ofensivo que se manteve no plantel do emblema parisiense para a inédita aventura no National. Não ficaria, porém, sem compatriotas, pois entretanto chegaram ao clube João Lucas, lateral-esquerdo ex-Académica, e Nuno Valente, médio proveniente do Varzim.

João Lucas ainda por lá se mantém, embora não seja utilizado desde 9 de Dezembro (10 jogos no total); Nuno Valente já voltou a Portugal neste mercado de inverno, pela porta da Oliveirense, depois de apenas 6 partidas efectuadas em França. Tiago Castro, por seu lado, mantém-se de pedra e cal no clube e tem mesmo dado nas vistas pela qualidade dos golos já apontados no decorrer da temporada – 4 no total: 2 no campeonato, o último dos quais na derrota caseira na última jornada diante do Cholet (1-3) e outros tantos na Taça.

Natural de Guimarães, Tiago Castro dividiu o percurso formativo pelo Vitória minhoto, o Sporting, o Braga (altura em que somou as 9 internacionalizações pelas selecções nacionais que apresenta no currículo, entre os sub-15 e os sub-16) e novamente o Vitória, tendo cumprido os primeiros 3 anos e meio como sénior na equipa B dos vimaranenses. Em Janeiro de 2019 trocaria de Vitória, assinando por 2 anos e meio pelo histórico de Setúbal, e foi aí que se estreou na I Liga, registando 5 aparições até ao fim dessa temporada; em 2019/20, todavia, faria apenas mais 2 jogos na equipa principal do emblema sadino, às quais juntou 8 pelos sub-23, acabando por rescindir prematuramente a ligação com o clube entretanto despromovido ao terceiro escalão do futebol nacional por motivos administrativos.

Após alguns meses sem clube, assinou em Fevereiro de 2021 pela União de Leiria, somando 10 partidas no Campeonato de Portugal, e no final da época surgiu a possibilidade de emigrar pela primeira vez. Mesmo tratando-se de um convite para jogar numa quarta divisão, Tiago Castro resolveu aceitar e acabou a época de estreia em França a festejar a tão desejada subida, tendo sido peça fulcral nesse objectivo: 26 jogos, 8 golos e 6 assistências no National 2.

A época em curso não começou de forma fulgurante: titular em 4 ocasiões de forma consecutiva entre a quinta e a oitava jornadas, Tiago Castro acabou por perder o lugar a partir daí, somando mais 4 aparições como suplente utilizado até ao fim de 2022 – pelo meio foi opção inicial nas 2 partidas disputadas pelo clube na Taça, marcando em ambos os jogos. Na partida do último fim-de-semana, primeira do Paris Atlético em 2023, o médio luso surgiu enfim na ficha de jogo entre os titulares e voltou a fazer o gosto ao pé, apontando o único golo da sua equipa num remate de belo efeito à entrada da área.

Aos 26 anos, Tiago Castro está na fase mais madura da carreira e tem demonstrado, quando lhe são concedidas oportunidades para tal, estar preparado para desafios em patamares quiçá mais elevados – ou pelo menos em equipas com outras ambições. O Paris Atlético está neste momento no 15º lugar do National, sendo a terceira de seis equipas em zona de despromoção – as duas primeiras equipas em zona segura, o US Orléans e o Nancy, estão 4 pontos acima –, e será esse o objectivo pelo qual irá lutar arduamente até ao fim da temporada; o médio vimaranense terá certamente papel importante nessa caminhada, finda a qual poderá abrir os horizontes e procurar novas oportunidades, novamente no estrangeiro ou quiçá com o regresso a Portugal.

Goleadores: Ramos é o melhor… mas a concorrência também não abunda

326470994_714116960305047_3954056350052743531_n(Gonçalo Ramos, Leonardo Rocha, Hugo Firmino, Rafael Leão e Nuno Tavares são alguns dos portugueses que têm demonstrado a sua veia goleadora em 22/23.)

O derby de Lisboa terminou como começou, mas apenas no que toca ao distribuir de pontos entre Benfica e Sporting. Num jogo interessante e bem disputado, sobressaiu mais uma vez a capacidade goleadora de Gonçalo Ramos, que bisou e assim se voltou a isolar na liderança da tabela dos melhores marcadores da Liga portuguesa (11 tentos). Decorrida que está praticamente metade da temporada no calendário europeu, e depois de até já ter havido lugar a uma inédita paragem para um Mundial disputado em Novembro/Dezembro, resolvemos fazer o ponto de situação em relação aos goleadores portugueses pela Europa em 2022/23.

A grande conclusão a que se chega, ao analisar as ligas europeias, é que… há poucos. Muito poucos, na verdade. Com estes dois golos, de resto, Gonçalo Ramos tornou-se mesmo o melhor marcador português na temporada e inclusivamente o único a já ter ultrapassado a barreira dos 10 golos (isto tendo em conta apenas golos no campeonato, e referindo-nos apenas a divisões principais).

Outra conclusão que se retira facilmente desta análise é a de que os avançados-centro, denominados de forma clássica como ponta-de-lança, com registo goleador escasseiam ainda mais. Aliás, basta olhar para a tabela dos artilheiros portugueses do nosso campeonato para confirmar essa ideia: Pedro Gonçalves e Ricardo Horta surgem logo a seguir a Gonçalo Ramos, com 8 golos, e João Mário com 7. É preciso descer aos 6 para encontrar de facto um avançado: Vitinha (que até partilha o lugar com Rafa).

Tendo em conta apenas as principais ligas europeias, os dois maiores goleadores estão ambos em acção em Itália: Rafael Leão leva 8 tentos e Beto 7. De resto, nesse universo do top-5 europeu, surgem apenas Podence, na Premier League… e Nuno Tavares na Ligue 1, campeonato onde não actua nenhum avançado português – ainda assim, obviamente não deixa de ser surpreendente o registo goleador do ala-esquerdo cedido pelo Arsenal ao Marselha.

Alargando o espectro aos outros campeonatos espalhados pela Europa, o melhor marcador joga na Arménia: Hugo Firmino, que na época passada se sagrou o terceiro melhor marcador da competição com 16 golos (festejou o título de campeão), já leva 9 na actual temporada, ocupando o segundo lugar na lista de artilheiros da prova. Em terceiro no respectivo campeonato está Nélson Oliveira, autor de 7 disparos certeiros pelo PAOK – o mesmo número de tentos apontados por Fábio Silva na Bélgica, ao serviço do Anderlecht.

Jota (Escócia), Flávio Paixão (Polónia) e Rui Pedro (Eslovénia) somam 6, e de resto apenas mais 2 portugueses apontaram já uma mão cheia de golos nesta temporada: Miguel Cardoso, na Turquia, e Rafael Lopes, no Chipre. João Félix, com 4 golos em Espanha pelo Atlético de Madrid na primeira metade da época, é quem está mais perto de alcançar esse patamar, ainda que agora em Inglaterra, dado o empréstimo ao Chelsea, tal como Luís Machado na Polónia.

Por falar em Polónia, pode incluir-se aqui o caso de Leonardo Rocha, que liderava a tabela de artilheiros da II Liga belga, com 12 golos, e acaba de se mudar para o Radomiak Radom, onde será colega precisamente de Luís Machado. Fica a expectativa para ver como o gigante ponta-de-lança luso responderá a um desafio de primeiro escalão, depois de ter fracassado nesses intentos no futebol belga. Ainda em contexto de segundas divisões, destaque também para Marco Paixão, que com 11 golos é o vice-líder da tabela dos melhores marcadores da II Liga turca – prova onde já se sagrou artilheiro máximo em três ocasiões consecutivas; em Portugal, Paulinho, do Estrela da Amadora, é igualmente segundo, com 9 golos.

Uma menção também para Pedro Eugénio, mais que improvável melhor marcador da Liga do Cazaquistão, que terminou em Novembro – o campeonato daquela antiga república soviética joga-se com as datas do ano civil. 18 foi o número de golos apontados pelo extremo luso (lateral na primeira fase da carreira), revelando-se instrumental para o título de campeão do Astana (conseguido precisamente na última jornada da prova).

[355723] SUPERLEAGUE 2022-2023 / ΠΑΟΚ - ΠΑΟ (ΒΑΣΙΛΗΣ ΒΕΡΒΕΡΙΔΗΣ / MOTION TEAM)(18 jogos, 7 golos para Nélson Oliveira ao serviço do PAOK na principal Liga Grega.)

Pode, assim, dizer-se que o cenário não é muito animador, até tendo em conta uma possível renovação das opções para a selecção nacional, agora que se iniciará um novo ciclo dada a chegada de Roberto Martínez. Gonçalo Ramos estará mais que certo em todas as convocatórias a partir de agora, não restam dúvidas sobre isso, e Rafael Leão idem; todos os restantes nomes que os acompanharão enquanto elementos mais adiantados são por agora uma completa incógnita – até mesmo o de Cristiano Ronaldo, que está em vias de começar a sua aventura pela Arábia Saudita e daqui a sensivelmente três semanas festeja o 38º aniversário.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Pedro Monteiro: em busca da terceira Taça com dotes de goleador

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Pedro Monteiro, defesa central que representa os georgianos do Torpedo Kutaisi, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Até ao último mês de Agosto, havia apenas registo de um futebolista português a actuar na principal Liga da Geórgia (Ricardo Ferreira, lateral-esquerdo que representa neste momento o Villarrobledo, da quinta divisão espanhola). Essa foi uma realidade que se alterou com a contratação de Pedro Monteiro por parte do Torpedo Kutaisi: aos 28 anos, após uma época extenuante no Académico de Viseu e depois de gorada a possibilidade de ir jogar para o Kuwait, o central natural de Paços de Ferreira decidiu aceitar o convite do emblema daquele país do Cáucaso, depois de em 2015/16 ter actuado no Apollon Limassol por empréstimo do Braga.

No Chipre, sob o comando de Pedro Emanuel, viria a celebrar a conquista da Taça – cumpriu apenas uma partida na competição, alinhando na 1ª mão da meia-final diante do Apoel, e foi suplente não utilizado em 4, incluindo na final (2-1 ao Omonia). Curiosamente, nessa mesma temporada festejou igualmente a vitória na Taça de Portugal, efectuando uma partida no início da caminhada triunfal dos Guerreiros do Minho (3-0 ao Académico de Viseu, logo na terceira eliminatória) às ordens de Paulo Fonseca.

A esses 2 troféus que vai ostentando no palmarés, Pedro Monteiro poderá agora juntar novo troféu – e nova Taça: o Torpedo Kutaisi está na final da competição, onde irá defrontar o Lokomotiv Tbilisi… B. É mesmo verdade: se a equipa principal do emblema da capital foi afastada logo nos oitavos-de-final, o conjunto secundário acabou por ir superando todos os obstáculos e garantiu a presença no jogo de todas as decisões, onde terá pela frente o clube onde alinha o central luso, uma das grandes figuras da equipa nas duas eliminatórias anteriores – marcou 2 golos no triunfo por 4-2 em casa do Metalurgi Rustavi, nos quartos-de-final, depois de ter entrado em campo apenas ao minuto 60, e abriria a contagem na vitória caseira sobre o Dinamo Tbilisi (2-0) que ditou o apuramento para o jogo decisivo, a jogar-se na próxima quarta-feira.

Esta será a última hipótese de conquista de um troféu esta temporada por parte do Torpedo Kutaisi – e consequentemente de garantir o apuramento para uma competição europeia –, depois de ter terminado o campeonato no quinto lugar (na Geórgia a época decorre em ano civil, ao contrário do que acontece na maioria dos campeonatos europeus). O emblema de Kutaisi não conquista um troféu desde 2019 (Supertaça), tendo vencido pela última vez a Taça na época anterior e o campeonato em 2017.

Para Pedro Monteiro, a luta pela conquista de troféus é uma espécie de regresso às origens. Após início do processo formativo no Paços da sua terra natal e breve passagem pelo Porto em iniciados, o central chegou ao Freamunde com 14 anos e ali concluiu a formação, estreando-se pela equipa principal com 19 – e festejando a conquista do então denominado CNS logo nesse primeiro ano de sénior, somando 20 jogos (todos como titular) e apontando 4 golos (ainda hoje a melhor marca da sua carreira).

Manteve-se como indiscutível no regresso dos Capões à II Liga, chegando a Janeiro de 2015 com 25 jogos disputados (e 1 golo), o que levou o Braga a avançar para a sua contratação logo nesse mercado de inverno. Teve como destino a equipa B dos minhotos, somando ali mais 20 partidas (e 1 golo), tendo ainda tido a oportunidade de disputar 2 jogos pela equipa principal, então orientada por Sérgio Conceição, e curiosamente com vitória e “clean sheet” em ambos: 1-0 ao Moreirense em casa para a Liga e 2-0 ao Rio Ave em Vila do Conde na Taça da Liga.

Em 2015/16 divide-se então por Braga B e Apollon Limassol (com 2 jogos pela equipa principal do Braga de permeio, entre os quais a tal vitória em Viseu para a Taça de Portugal), e na época seguinte é cedido pelos bracarenses ao “seu” Paços de Ferreira, onde acaba por fazer uma temporada aquém do esperado: apenas 12 jogos. No verão de 2017, “seduzido” pelo convite de Pedro Emanuel, rescinde a ligação contratual ao Braga e ruma a título definitivo ao Estoril, assumindo-se de imediato como titular – condição que ainda manteve nos primeiros 2 meses sob o comando de Ivo Vieira, que assumiu o comando técnico dos Canários em Novembro, mas que perderia completamente na segunda metade da temporada, horrível também em termos colectivos (culminaria na descida de divisão).

Ainda começaria 2018/19 na equipa da Linha, mas após apenas 1 jogo realizado na II Liga (e depois de ser suplente não utilizado numa partida da equipa de… sub-23) optou por rumar ao Leixões, também no segundo escalão. Pelos Bebés de Matosinhos faria 24 jogos (só 1 como suplente utilizado), mas na temporada seguinte teria utilização residual: 11 partidas e apenas 6 como titular, ainda que 2 delas consecutivas… precisamente no momento em que a competição seria suspensa de forma abrupta e definitiva após o surgimento da pandemia do coronavírus.

Findo o vínculo com os matosinhenses, voltou a reencontrar um antigo treinador, mudando-se para o Feirense treinado por Filipe Rocha, que o havia orientado em 2014/15 em Freamunde. Em Santa Maria da Feira totalizaria 17 jogos (12 como titular), não conseguindo ainda assim afirmar-se em absoluto num conjunto que falhou o objectivo da subida por 7 pontos, e em 2021/22 rumou então ao Académico de Viseu onde aí sim se estabeleceu como titular indiscutível (34 jogos, só 2 como suplente utilizado), acabando a temporada a celebrar a obtenção da permanência no segundo escalão por 1 ponto em relação ao play-off de descida e 2 pontos para a primeira equipa em zona de despromoção directa (Varzim).

Chegou então o convite geórgio e Pedro Monteiro seguiu para o desconhecido. E não se tem dado nada mal: após ser suplente não utilizado no primeiro jogo e entrar ao minuto 52 no segundo, o central pacense ganhou a titularidade e não mais de lá saiu, a não ser no tal jogo dos quartos-de-final da Taça em que começou no banco e entrou aos 60’ a tempo de fazer os 2 golos que puseram a sua equipa na fase seguinte. Ao todo, fez 15 jogos no campeonato e 3 na Taça – que se transformarão em 4 com a tal final a ser jogada daqui a 3 dias.