Dany Mota: o “Panzer” luso que deu a inédita subida ao Monza

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Dany Mota, avançado que representa os italianos do Monza, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Rafael Leão foi “o” português por excelência na temporada 2021/22 em Itália, sendo mesmo eleito o Melhor Jogador do Ano na Serie A depois de contribuir de forma decisiva para o regresso do AC Milan aos títulos após 11 anos de seca. Não foi, porém, o único luso a terminar a época em festa em terras transalpinas: na Serie B, Dany Mota foi igualmente um dos nomes em maior destaque e no play-off final de promoção ao principal escalão acabaria por se revelar absolutamente decisivo para a primeira presença de sempre do Monza no patamar mais alto do futebol italiano.

Na fase regular do segundo escalão, o avançado nascido há 24 anos no Luxemburgo – ainda que de raízes marcadamente lusitanas – apontou 11 golos e fez uma assistência, com o Monza a deixar fugir o sonho da subida directa na última jornada, ao perder por 1-0 na visita ao reduto do Perugia. O quarto lugar final, em igualdade pontual com o Pisa e a dois pontos da Cremonese, segunda classificada (última posição a garantir a promoção directa), obrigaram o emblema detido desde 2018 pelo mítico Silvio Berlusconi a disputar o play-off, enfrentando nas meias-finais o Brescia, quinto classificado e que nos quartos-de-final afastou precisamente o Perugia.

O Monza entrou na partida da primeira mão, no terreno do adversário, praticamente a perder, mas conseguiria dar a volta ao resultado com uma grande penalidade cometida… sobre Dany Mota, que no seu estilo característico arrancou em grande velocidade do meio-campo e só parou ao ser derrubado na grande área pelo guardião contrário. Estava dado o mote para a segunda mão, ganha pelo mesmo resultado (2-1), embora aí sem influência directa do avançado português… que ficaria guardada para a grande final, diante do Pisa, também ela jogada a duas mãos.

Desta feita o primeiro jogo disputou-se em Monza e, agora sim, Dany Mota chamou a si todo o protagonismo: autor do primeiro golo da partida logo aos 9 minutos, seria também dele o cabeceamento para defesa incompleta do guardião contrário e consequente recarga vitoriosa do colega Gytkjaer (o outro grande destaque da equipa). O golo sofrido já em cima do apito final, porém, deixava tudo em aberto para a segunda mão e a emoção que se esperava não faltou, de facto: aos 9 minutos o Pisa já vencia por 2-0; aos 20 o Monza empatou a eliminatória, com assistência de Dany Mota, e aos 79 passou para a frente com o 2-2 surgido… também a passe de Dany Mota. Um golo dos anfitriões já no minuto 90, porém, levou o jogo para prolongamento, onde o Monza (de cujo plantel faz parte igualmente Pedro Pereira, internacional sub-21 luso que esteve ausente da decisão final mas somou 35 jogos na temporada) se revelou mais capaz, fazendo dois golos logo na primeira parte e confirmando assim a tão desejada subida à Serie A.

A equipa do antigo líder do AC Milan, na verdade, já tinha ficado à porta dessa meta na última temporada – e já com Dany Mota no plantel, onde se podiam encontrar igualmente os mediáticos Kevin-Prince Boateng (25 jogos, 5 golos) ou Balotelli, que chegou a meio da época (14 jogos, 6 golos). Após terminar no terceiro lugar da fase regular, a 5 pontos da Salernitana e 9 do campeão Empoli, acabaria por cair logo nas meias-finais do play-off aos pés do Cittadella, perdendo fora por 3-0 na primeira mão e ganhando 2-0 depois em casa, com Dany Mota a ter também um contributo bem menos vistoso: apenas 6 golos, exactamente metade dos que conseguiu esta época, e as mesmas 3 assistências em 36 jogos, numa temporada que terminou com uma muitíssimo interessante participação no Europeu de sub-21 – 3 golos, 2 dos quais frente à… Itália, na vitória portuguesa por 5-3 após prolongamento (e um deles num magnífico pontapé de bicicleta que acabaria eleito o Melhor Golo do torneio), cotando-se como uma das figuras da selecção lusa que só caiu perante a Alemanha na final de Ljubljana (0-1) e sendo mesmo eleito para a Equipa Ideal da competição.

Até surgir no radar das selecções nacionais jovens, precisamente já nos sub-21, ainda eram poucos os adeptos nacionais que tinham ouvido falar de Dany Mota. Depois de subir ao plantel sénior do CS Pétange com apenas 16 anos, e perseguindo o sonho de fazer carreira profissional, conseguiu por intermédio do empresário Celso Duarte chegar a Itália no verão de 2015 – o destino inicial era a Cremonese, então na Serie C, mas após uma partida diante do Inter de Milão onde se destacou sobremaneira acabou por assinar contrato com o Virtus Entella, que competia no segundo escalão.

Inicialmente actuou acima de tudo nos juniores dos Diavoli Neri, estreando-se na equipa principal poucos dias depois de celebrar o 18º aniversário; em 2016/17 passou para os sub-20, fazendo pelo meio fez 6 jogos e 1 golo na Serie B, mas na época seguinte as oportunidades na equipa principal escassearam e por essa razão em Janeiro seguiu por empréstimo para os sub-20 do Sassuolo, onde marcou 13 golos em 18 jogos. De regresso ao Virtus Entella (entretanto despromovido à Serie C), Dany Mota conseguiu finalmente assumir-se como preponderante e os 13 golos em 39 jogos foram importantíssimos para o título de campeão e consequente regresso ao segundo escalão… do qual não viria a desfrutar: é que o avançado luso foi entretanto contratado pela Juventus para fazer parte da equipa de sub-23 da Vecchia Signora, que compete na Serie C e onde viria a facturar por 7 ocasiões nas 16 partidas que disputou até Janeiro.

Por essa altura seguiu por empréstimo para o Monza, onde faria 6 jogos e 2 golos até à interrupção abrupta e definitiva da Serie C italiana no início de Março devido ao surgimento da pandemia do coronavírus. O acordo de cedência previa a compra obrigatória do seu passe em caso de subida e assim aconteceu: líder (com larga vantagem) do grupo A do terceiro escalão italiano na altura da suspensão da competição, o Monza foi automaticamente promovido à Serie B e Dany Mota ficou assim ligado em definitivo ao clube pelo qual, dois anos depois, celebrou a subida ao principal escalão.

Ao contrário do que erradamente se encontra pelos meios especializados na internet, Dany Mota tem mais um ano de contrato com o Monza – ou seja, até ao verão de 2023. Tudo indica, portanto, que o possante (sobram igualmente muitas dúvidas sobre os registos que lhe apontam 1,80 metros e apenas 74 kg) mas muito móvel avançado luso irá cumprir a sua estreia na Serie A italiana com o clube pelo qual celebrou duas subidas nas últimas 3 temporadas, e que certamente irá investir forte no reforço do plantel para conseguir uma época de estreia tranquila no principal escalão do futebol italiano. Já por diversas vezes, porém, Dany Mota foi associado aos maiores clubes portugueses e o próprio nunca enjeitou essa possibilidade – ainda em Fevereiro último dizia, em entrevista ao Zerozero, que o seu estilo de jogo encaixaria “em qualquer equipa”, e nomeadamente nos três “grandes” do futebol nacional, ainda que noutras ocasiões já tenha confessado ter o sonho de jogar no Benfica, o seu clube do coração por influência familiar, pelo que fica a expectativa para perceber se num futuro breve o campeonato português poderá contar com os préstimos de um dos avançados mais explosivos a surgir no futebol nacional nos últimos anos – bem como a selecção nacional, há muito tempo órfã de um atacante com estas características.