Rui Pedro: “Merecia este golo”

ruipedro(Rui Pedro entrou da melhor forma na nova temporada, apontando um dos golos com que o Olimpija Ljubljana bateu o Valmiera na 1ª Pré-Eliminatória da Champions.)

Com a nova época, a nossa parceria com a página À bola pelo Mundo terá um novo formato: em vez de um artigo com a descrição da respetiva carreira, a partir de agora, o destaque será feito, sempre que possível, com entrevista ao jogador/treinador escolhido.
E para começar, nada melhor do que o primeiro português a marcar nas competições europeias em 2023/24: Rui Pedro. O ponta de lança apontou o segundo golo com que o Olimpija Ljubljana derrotou o Valmiera da Letónia na 1ª mão da 1ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões (2-1), e começou assim da melhor maneira a sua segunda temporada na Eslovénia.
Aos 25 anos, o jogador formado no FC Porto, célebre pelo golo que valeu uma vitória sobre o Braga na sua estreia no campeonato pela equipa principal ainda com 18 anos, e que entretanto passou por clubes como Boavista, Leixões ou Penafiel, recuperou a felicidade em Ljubljana, conforme revelou na entrevista que se segue:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Qual a sensação de ser o primeiro jogador português a marcar numa competição europeia na época?
Rui Pedro: É sempre bom ajudar a equipa a ganhar, neste caso marcando um golo. É sempre bom marcar. Mas temos de ter a noção que 2-0 é diferente de 2-1…

O golo sofrido na parte final do jogo custou um bocadinho… Como vão encarar a segunda mão?
Temos de encarar da mesma forma. Fomos muito superiores o jogo todo e tivemos a infelicidade de não fazer mais golos.

Qual a sensação de marcar na Champions? Isto é, se consideras este um jogo de Champions, tu que até já jogaste na prova propriamente dita…
Não senti grande diferença, é mais um jogo. Fazer um golo é sempre fazer um golo. Claro que há golos especiais, mas não vou dizer que senti que foi especial. Foi especial talvez por sentir que merecia o golo no jogo, pelo jogo que estava a fazer, e fiquei muito contente. Mas ficava ainda mais contente se tivéssemos ganho 2-0 ou 3-0.

(Em Dezembro de 2016, Rui Pedro, ainda júnior, saiu do banco para, aos 90’+5, dar a vitória ao FC Porto na receção ao Sp. Braga válida pela 12ª Jornada da Liga – os dragões preparavam-se para somar o 5º jogo seguido sem marcar!)

Quais os desafios que te movem para esta época, depois de na época de estreia já teres ganho campeonato e Taça?
Espero fazer o mesmo número de jogos ou mais, com as competições europeias. Fazer mais do que 7 golos, mais assistências também, e ganhar os mesmos títulos do ano passado e, se possível, entrarmos numa competição europeia.

A caminhada que o Olimpija tem de fazer até chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões é longa e muito complicada. Acreditam que o vão conseguir, ou já seria positivo para o clube chegar a essa fase noutra das competições da UEFA?
O primeiro passo para tudo é acreditarmos, pelo menos em nós próprios. Se não acreditarmos, quem é que acredita? Agora estamos nesta competição, por isso o objectivo é entrar nesta. Se acabarmos por sair, depois vê-se. Claro que sabemos da dificuldade.

Estás a começar a segunda época na Eslovénia. Qual a tua opinião sobre o futebol do país? Surpreendeu-te de alguma forma?
Surpreendeu-me muito. Não em termos qualitativos, mas de intensidade, de trabalho. A intensidade é alta, trabalha-se muito no aspecto físico, coisa que não fazíamos em Portugal (pelo menos na II Liga). Notei muita diferença aí.

E adaptaste-te bem?
Sim, eu no início da época cheguei fisicamente muito bem. Depois ali em Janeiro tive uma quebra física, senti o cansaço dos jogos, do clima. E como aqui fazemos duas pré-épocas, porque o campeonato pára em Dezembro/Janeiro, essa segunda pré-época custou-me muito.

(Em 17/18, o FC Porto emprestou o avançado ao rival Boavista, mas o desfecho não foi o melhor: apenas 1 golo em 20 jogos.)

O que te levou a aceitar o convite da Eslovénia? Quais as motivações?
Além do querer ganhar títulos, queria sentir-me feliz novamente a jogar futebol, como já não me sentia desde o FC Porto. Agora sinto-me claramente preenchido.

Achas que demoraste demasiado tempo a sair da zona de conforto? Ou seja, a procurar desafios longe do teu habitat natural?
Não. Até acho que saio muito da minha zona de conforto. Não saí mais cedo porque não era o melhor momento, porque perdi o meu pai, tinha o meu irmão, a minha mãe… Não era o momento.

Já disseste várias vezes que “aquele” golo ao Braga foi o momento alto da tua carreira. Mas estamos a falar de um dos primeiros jogos “a sério”. Vês-te a conseguir um momento de igual importância (ou maior) num futuro próximo, ou aconteça o que acontecer, esse será sempre o melhor?
Acho que, aconteça o que acontecer, esse vai ser sempre o momento mais importante da minha carreira. Para além de ser no clube que eu amo, no meu clube, foi um golo ao qual o meu pai ainda pôde assistir, que era algo que ele queria muito e sempre acreditou que poderia acontecer. Não sei o futuro, sabemos que o futebol dá muitas voltas, mas ainda é um sonho voltar ao FC Porto. Sei que é uma realidade mais difícil actualmente, mas… temos de sonhar.

(Antes de rumar ao Olimpija Ljubljana no Verão passado, Rui Pedro representou o Penafiel durante época e meia na II Liga.)

Como é viver aí? O país, as pessoas, o clima, a comida, a comunicação…
No clube falamos em inglês – ao início não falava nada, percebia mas não falava e passava mesmo mal! O clima, agora estão 35 graus, o verão é quente, quente. Mas de inverno é frio, – 10! Só há duas estações. A mim custa-me mais o calor, mas prefiro levantar-me e ter sol do que chuva e neve, que isso rebenta logo com a auto-estima (risos)! As pessoas de Leste são mais frias, mas os jogadores são top connosco, fomos bem recebidos desde que chegámos. Comida? Não se come igual a Portugal em lado nenhum! Como carne, é boa mas… Como peixe, é bom mas…

Onde é que gostaste mais de jogar em termos de futebol jogado? Qual se adequou mais às tuas características?
FC Porto. Tanto na formação como na equipa principal. As características foram mudando, antes era ponta de lança de área, de costas para a baliza, podia fazer falso 9. Agora estou diferente, muito mais rápido, muito mais polivalente. Faço extremo, faço ponta, posso fazer 10. Comecei a perceber que podia fazer a diferença a extremo, não só pela velocidade e inteligência como pela qualidade técnica, e comecei a trabalhar mais a explosividade no ginásio. E aqui ajudou-me muito, fazem trabalho específico e trabalha-se mesmo muito o físico.

No ano passado tiveste o David Sualehe, que já conhecias, e o Samuel Pedro. Agora tens também o Jorge Silva e o treinador – João Henriques. É uma vantagem? Ou dá-te mais pressão ser treinado por um português?
Não sei dizer se é uma vantagem, porque tens de trabalhar na mesma ao máximo e mostrar que estás apto para ele contar contigo. Jogar ou não, a decisão vai ser sempre do treinador, seja português, espanhol, inglês… Antes de tudo, ele quer o melhor para ele e para a equipa, não vai estar a pensar só em ti. Se trabalhares no teu máximo, tens sempre mais possibilidades de jogar.

(Por Portugal, o jogador natural de Pedorido, concelho de Castelo de Paiva, apontou 16 golos em 46 internacionalizações entre os Sub-15 e os Sub-20.)

Em entrevista ao zerozero que deste há uns meses, dizias que tens uma personalidade complicada, mais no sentido de ser exigente com os colegas, e que não te sentias tão focado desde que estavas no FC Porto. Porque achas que te faltou isso nos outros clubes?
Quando te sentes importante na equipa, quando os outros jogadores te mostram isso nos treinos, nos jogos, acreditam em ti, dão-te a bola, começas a ganhar confiança. E quando um jogador tem uma personalidade complicada, pode dar para os dois lados: quando está bem, rebenta com tudo e corre tudo muito bem; quando está mal, faz coisas de que se pode arrepender depois. Tenho uma personalidade muito difícil, sou muito exigente comigo mesmo e com os meus colegas, às vezes levanto os braços a reclamar com eles, e isso não faz sentido nenhum. Tenho de mudar isso, é um facto.

Dizias também que já percebeste que os números importam mais do que as exibições. Continuas a pensar assim? E sentes-te confortável com isso?
Não, não me sinto confortável com isso. Mas tenho de melhorar os números para ser ainda melhor jogador, porque hoje dá-se muito valor a esse tipo de coisas. Se és ponta-de-lança, tens de fazer 15 a 20 golos por época; se fores extremo, tens de marcar 10 e fazer 7 ou 8 assistências. É o que é, o futebol mudou. Antes, tinhas Zidane, Figo como melhor jogador do mundo, até o Cannavaro ganhou; a partir do Ronaldo e do Messi, tinham de distinguir um do outro pelos golos, e por isso o melhor do mundo passou a ser o melhor marcador do mundo…

Ídolos de infância, ou em quem te revias/revês na tua posição?
A minha referência na formação sempre foi o Falcao, era o meu ponta-de-lança preferido por tudo o que fazia em campo. Da actualidade gosto de muitos, não sei dizer um específico… Adoro a equipa do Manchester City toda (risos)!

(Rui Pedro desde cedo se destacou por marcar muitos golos, razão que o fez “saltar” escalões no FC Porto.)

Tu gostas mesmo de futebol, já deu para perceber!
Sou completamente viciado. Vejo jogos repetidos, toda a gente sabe, dizem-me sempre “És mesmo doente!” Adoro mesmo futebol e adoro acompanhar.

Que treinador mais te marcou?
Vou ser mesmo sincero: todos os treinadores que apanhei na formação do FC Porto. Foi uma constante evolução. Não quero ser injusto com nenhum porque adorei mesmo todos. Mas o Nuno Espírito Santo foi o treinador que me lançou na primeira equipa, e o Luís Castro pela pessoa que ele é e pelo treinador que é, que nunca deixou dúvidas a ninguém.

O que ainda tens para atingir na carreira?
Para já, espero conseguir entrar com o Olimpija numa competição europeia. Em termos de futuro não sei dizer, acho que os objectivos são algo que tens de ir colocando consoante o que vai acontecendo na tua vida. Tens de ter objectivos conscientes. É por aí.

Goleadores: Ramos é o melhor… mas a concorrência também não abunda

326470994_714116960305047_3954056350052743531_n(Gonçalo Ramos, Leonardo Rocha, Hugo Firmino, Rafael Leão e Nuno Tavares são alguns dos portugueses que têm demonstrado a sua veia goleadora em 22/23.)

O derby de Lisboa terminou como começou, mas apenas no que toca ao distribuir de pontos entre Benfica e Sporting. Num jogo interessante e bem disputado, sobressaiu mais uma vez a capacidade goleadora de Gonçalo Ramos, que bisou e assim se voltou a isolar na liderança da tabela dos melhores marcadores da Liga portuguesa (11 tentos). Decorrida que está praticamente metade da temporada no calendário europeu, e depois de até já ter havido lugar a uma inédita paragem para um Mundial disputado em Novembro/Dezembro, resolvemos fazer o ponto de situação em relação aos goleadores portugueses pela Europa em 2022/23.

A grande conclusão a que se chega, ao analisar as ligas europeias, é que… há poucos. Muito poucos, na verdade. Com estes dois golos, de resto, Gonçalo Ramos tornou-se mesmo o melhor marcador português na temporada e inclusivamente o único a já ter ultrapassado a barreira dos 10 golos (isto tendo em conta apenas golos no campeonato, e referindo-nos apenas a divisões principais).

Outra conclusão que se retira facilmente desta análise é a de que os avançados-centro, denominados de forma clássica como ponta-de-lança, com registo goleador escasseiam ainda mais. Aliás, basta olhar para a tabela dos artilheiros portugueses do nosso campeonato para confirmar essa ideia: Pedro Gonçalves e Ricardo Horta surgem logo a seguir a Gonçalo Ramos, com 8 golos, e João Mário com 7. É preciso descer aos 6 para encontrar de facto um avançado: Vitinha (que até partilha o lugar com Rafa).

Tendo em conta apenas as principais ligas europeias, os dois maiores goleadores estão ambos em acção em Itália: Rafael Leão leva 8 tentos e Beto 7. De resto, nesse universo do top-5 europeu, surgem apenas Podence, na Premier League… e Nuno Tavares na Ligue 1, campeonato onde não actua nenhum avançado português – ainda assim, obviamente não deixa de ser surpreendente o registo goleador do ala-esquerdo cedido pelo Arsenal ao Marselha.

Alargando o espectro aos outros campeonatos espalhados pela Europa, o melhor marcador joga na Arménia: Hugo Firmino, que na época passada se sagrou o terceiro melhor marcador da competição com 16 golos (festejou o título de campeão), já leva 9 na actual temporada, ocupando o segundo lugar na lista de artilheiros da prova. Em terceiro no respectivo campeonato está Nélson Oliveira, autor de 7 disparos certeiros pelo PAOK – o mesmo número de tentos apontados por Fábio Silva na Bélgica, ao serviço do Anderlecht.

Jota (Escócia), Flávio Paixão (Polónia) e Rui Pedro (Eslovénia) somam 6, e de resto apenas mais 2 portugueses apontaram já uma mão cheia de golos nesta temporada: Miguel Cardoso, na Turquia, e Rafael Lopes, no Chipre. João Félix, com 4 golos em Espanha pelo Atlético de Madrid na primeira metade da época, é quem está mais perto de alcançar esse patamar, ainda que agora em Inglaterra, dado o empréstimo ao Chelsea, tal como Luís Machado na Polónia.

Por falar em Polónia, pode incluir-se aqui o caso de Leonardo Rocha, que liderava a tabela de artilheiros da II Liga belga, com 12 golos, e acaba de se mudar para o Radomiak Radom, onde será colega precisamente de Luís Machado. Fica a expectativa para ver como o gigante ponta-de-lança luso responderá a um desafio de primeiro escalão, depois de ter fracassado nesses intentos no futebol belga. Ainda em contexto de segundas divisões, destaque também para Marco Paixão, que com 11 golos é o vice-líder da tabela dos melhores marcadores da II Liga turca – prova onde já se sagrou artilheiro máximo em três ocasiões consecutivas; em Portugal, Paulinho, do Estrela da Amadora, é igualmente segundo, com 9 golos.

Uma menção também para Pedro Eugénio, mais que improvável melhor marcador da Liga do Cazaquistão, que terminou em Novembro – o campeonato daquela antiga república soviética joga-se com as datas do ano civil. 18 foi o número de golos apontados pelo extremo luso (lateral na primeira fase da carreira), revelando-se instrumental para o título de campeão do Astana (conseguido precisamente na última jornada da prova).

[355723] SUPERLEAGUE 2022-2023 / ΠΑΟΚ - ΠΑΟ (ΒΑΣΙΛΗΣ ΒΕΡΒΕΡΙΔΗΣ / MOTION TEAM)(18 jogos, 7 golos para Nélson Oliveira ao serviço do PAOK na principal Liga Grega.)

Pode, assim, dizer-se que o cenário não é muito animador, até tendo em conta uma possível renovação das opções para a selecção nacional, agora que se iniciará um novo ciclo dada a chegada de Roberto Martínez. Gonçalo Ramos estará mais que certo em todas as convocatórias a partir de agora, não restam dúvidas sobre isso, e Rafael Leão idem; todos os restantes nomes que os acompanharão enquanto elementos mais adiantados são por agora uma completa incógnita – até mesmo o de Cristiano Ronaldo, que está em vias de começar a sua aventura pela Arábia Saudita e daqui a sensivelmente três semanas festeja o 38º aniversário.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Rui Pedro: a ousadia e a genialidade de mãos dadas na Eslovénia

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Rui Pedro, ponta de lança que representa os eslovenos do Olimpija Ljubljana, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

O primeiro bis de Rui Pedro no espaço de quase seis anos teve o seu autor perfeitamente retratado: se o primeiro golo, quase um “roubo” de bola ao colega, foi “cheeky”, expressão que se pode traduzir em português como “ousado”, já o segundo constituiu um apontamento claro da genialidade do artista em questão. O avançado natural de Pedorido, Castelo de Paiva, fez o resultado na recepção do Olimpija ao Tabor Sezana, somando já quatro golos e três assistências em seis jogos realizados no líder incontestado da Liga da Eslovénia, onde encontrou o lugar ideal para se reinventar como jogador e voltar a almejar aos grandes palcos.

Onde, é bom lembrar, já esteve e não há muito tempo. Bem… na verdade, já há algum tempo. De facto, já se ouve falar do nome de Rui Pedro há vários anos, até porque com apenas 16 já brilhava na Youth League pelos juniores do FC Porto e já era presença habitual nos treinos da equipa principal sob as ordens de Julen Lopetegui. Produto quase exclusivo da formação do Porto, ainda que tenha iniciado esse percurso no Sporting Paivense e tenha passado uma época no Padroense, que nos Juvenis funciona como clube-satélite dos Dragões, o atacante seria lançado aos 17 anos na equipa B e acabaria por tocar o céu naquele célebre 3 de Dezembro de 2016, quando saiu do banco ao minuto 75 de um Porto-Braga para, no último suspiro da partida, marcar o golo que deu a vitória ao conjunto na altura orientado por Nuno Espírito Santo após cinco empates consecutivos (e mais de 500 minutos sem golos marcados, no que constituiu a maior seca da História dos azuis-e-brancos).

“Ainda não estou em mim. Foi a melhor coisa que me aconteceu na vida”, dizia no rescaldo desse encontro, que viria a marcar toda a sua carreira – para o bem e para o mal. No que se seguiu dessa temporada 2016/17, continuaria a alternar entre a equipa principal, a B e até os juniores, terminando a época com 18 golos (11 nos juniores, 5 nos bês e 2 na equipa principal, juntando a esse golo ao Braga um tento também a fechar uma vitória caseira diante do Rio Ave (4-2) em Janeiro de 2017. Por essa altura, Rui Pedro era já seguido a nível mundial e cotado como uma das grandes esperanças pelas publicações da especialidade – chegou, de resto, a estar nomeado para o prémio “Golden Boy” em 2017, sendo ainda destacado pela UEFA como um dos 10 nomes a seguir na sequência das prestações no Europeu de sub-19 desse mesmo ano, onde marcou dois golos em quatro jogos, com Portugal a ser derrotado pela Inglaterra na final (1-2).

A chegada de Sérgio Conceição ao comando técnico dos Dragões, porém, significou menos oportunidades (ou nenhuma) para o atacante paivense, que no início de 2017/18 seguiu por empréstimo para o Boavista. Após um total de 20 jogos, sendo apenas 5 como titular, e somente um golo – por entre acusações de falta de “entrega” do jogador por parte do técnico Jorge Simão –, Rui Pedro afirmou mesmo ter vivido “a pior época da carreira”, garantindo no entanto que “voltava a fazer tudo igual”. A verdade é que voltaria a encontrar as portas do Dragão fechadas para 2018/19 e, depois de meia época na equipa B (e sem qualquer protagonismo, com apenas 5 jogos realizados e 1 golo), seguiu para nova cedência, desta feita na II Liga, tendo o Varzim como destino.

“Vou agarrar esta oportunidade como se fosse a última”, disse então. A promessa, todavia, não passou mais uma vez disso mesmo, e 13 jogos e apenas 1 golo depois, Rui Pedro voltou a ter o rótulo de excedentário dos azuis-e-brancos e acabou novamente emprestado, agora para um patamar ainda mais baixo: a II Divisão B espanhola, para reforçar a equipa secundária do Granada. “As coisas não correram como queria. Ainda hoje não percebi o que aconteceu e muitas coisas que se disseram sobre mim. Essas coisas nunca me afetam, mas a verdade é que de um momento para o outro passei dos 100 para o zero”, assumiu na altura.

A aposta, porém, voltou a revelar-se falhada: o avançado fez apenas 2 golos em 14 jogos (só 8 a titular) e a meio da época pediu para voltar a Portugal, juntando-se ao Leixões, onde alinhou em 2 partidas antes da suspensão definitiva da II Liga em Março devido à pandemia do coronavírus. Voltaria a Matosinhos em Setembro, então já em definitivo, deixando sempre no ar a hipótese de um dia poder regressar ao Porto, que nunca escondeu ser o seu clube do coração. Após 2 golos em 15 jogos, a maioria como suplente utilizado, mudar-se-ia em Janeiro de 2021 para o Penafiel, somando 5 golos nas 46 partidas que disputou em época e meia.

Até que chegou o último verão, e com ele o fim da ligação contratual aos durienses. Livre para poder definir o seu futuro, Rui Pedro optou por se aventurar pela segunda vez na carreira no estrangeiro, aceitando o convite do terceiro classificado da última edição da Liga eslovena – e para onde já se tinham transferido poucas semanas antes os portugueses David Sualehe (com quem coincidiu na formação portista) e Samuel Pedro (ex-Benfica e Covilhã) e o luso-guineense Aldair, que se notabilizou em Portugal ao serviço do Penafiel. E dificilmente poderia estar a correr melhor: o avançado já é um dos grandes destaques da equipa e mesmo de todo o campeonato, definindo-se hoje como um jogador muito diferente daquele menino que há 6 anos fez as delícias dos adeptos dos Dragões.

“Se eu fosse treinado pelo Sérgio [Conceição], hoje em dia não tenho dúvidas que ficava comigo. Na altura em que fui treinado por ele cometi alguns erros. Tinha 19 anos. Acho que a minha personalidade é muito parecida com a dele, vivo muito as coisas. Falavam-me mal e eu respondia igual. Agora já não. Sempre tive uma mentalidade muito forte, mas a minha personalidade fez-me andar para trás. Sei que o meu feitio é difícil. Sou um jogador que gosta de ser acarinhado e sou muito exigente também com os meus colegas e isso, em vez de beneficiar a equipa, tinha o efeito contrário. Sou novo, mas já ando nisto há muitos anos e agora que estou fora é que vejo como é difícil”, assume em entrevista recente ao “Zerozero”, apontando também mudanças no aspecto desportivo: “Agora se tiver uma oportunidade para marcar, sinto que é a última, percebes? Estou muito focado nos números, não tanto em jogar. Sou um avançado que não fica só na área, mas agora estou mais preocupado com isso. Percebi que os números importam muito. Não demorei a perceber, mas custa-me ver que os números são mais importantes do que as exibições.”

A verdade é que, no campo, já lá vão 3 jogos a titular, 4 golos e mais 3 assistências, com o ponto alto a ser então o bis do último fim-de-semana (seu primeiro desde o jogo com o Fafe a 28 de Outubro de 2016, para a II Liga). Aos 24 anos, e com contrato válido apenas até ao fim da temporada, Rui Pedro aposta todas as fichas nesta passagem pela Eslovénia para voltar a gozar do estatuto e reconhecimento de outrora; a julgar pelas primeiras impressões, não restam dúvidas de que o avançado que tinha no colombiano Radamel Falcao o seu grande ídolo nos tempos de Porto, está (finalmente) a fazer em campo por merecer novamente o foco mediático – como naquele 3 de Dezembro de 2016, quando viveu o momento mais marcante enquanto futebolista.

Ricardo Alves: a saída a mal que veio mesmo por bem

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O médio Ricardo Alves, que venceu a II Divisão da Rússia pelo Krylya Sovetov, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Findo o mercado de Janeiro, parecia não haver luz no fundo do túnel para Ricardo Alves. Sem clube desde o início de Outubro, quando rescindiu com o Orenburg, onde iniciava a terceira temporada consecutiva, citando problemas irremediáveis na relação com a direcção do clube russo, o médio nascido há 28 anos em São João de Ver aparentava estar a caminho de uma época perdida numa altura em que deveria estar a atingir o auge da carreira.

Chegou então o convite que viria a mudar por completo a época do antigo internacional jovem luso – e quem sabe todo o resto da sua carreira: Ricardo Alves assinou até ao fim da temporada com o Krylya Sovetov, que tinha como objectivo declarado regressar rapidamente ao principal escalão do futebol russo e que seguia por essa altura numa luta taco-a-taco com o Nizhny Novgorod… e o Orenburg. Suplente utilizado nos dois primeiros jogos no emblema de Samara, o médio português rapidamente agarrou a titularidade e viria a revelar-se um elemento fundamental na conquista retumbante do título da II Liga russa por parte do Krylya Sovetov, contribuindo com quatro assistências nos 12 jogos realizados pela equipa que se sagrou campeã com 101 pontos em 42 jornadas – mais sete que o segundo, precisamente o Orenburg que também subiu ao primeiro escalão um ano depois de ter caído de lá.

A subida era, de facto, a grande meta estabelecida para a temporada do conjunto de Samara. Mas, a partir de certa altura, deixou de ser a única: o Krylya Sovetov foi superando eliminatória atrás de eliminatória, deixando para trás quatro equipas do escalão principal (Rotor Volgograd, Khimki, Dínamo de Moscovo e Akhmat Grozny), e chegou de forma surpreendente à final da Taça, tendo pela frente o todo-poderoso Lokomotiv (de Éder). No jogo decisivo, disputado poucos dias depois das celebrações do título no campeonato, o emblema secundário ainda conseguiu fazer o golo do empate depois de praticamente ter entrado a perder, mas acabaria por soçobrar no segundo tempo (1-3) e ver esfumar-se o sonho de conquistar o troféu.

Um final inglório de uma temporada que marca mais um capítulo na já bastante movimentada carreira de Ricardo Alves. Com formação dividida entre Lusitânia de Lourosa, Porto e Boavista (com passagens por Pasteleira e Padroense pelo meio ao abrigo de parcerias destes clubes com os axadrezados e os dragões), o médio iniciou o percurso sénior no Belenenses em 2012/13 e logo nessa época viria a sagrar-se campeão nacional da II Liga, onde jogaria novamente na temporada seguinte em representação do Portimonense por empréstimo dos azuis do Restelo. Em 2014/15 resolveu partir à aventura para a Roménia, juntando-se ao Rapid de Bucareste, e no verão de 2015 chegou à Eslovénia para assinar pelo Olimpija Ljubljana onde acabaria por conquistar dois campeonatos e uma Taça em três temporadas até que em 2018/19 entendeu por bem ter chegado o momento de voltar a mudar de ares e aceitou o convite do Orenburg, que se encontrava então apenas pela segunda vez na sua história no principal escalão do futebol russo.

Ali somou 35 jogos e 6 golos em duas épocas, com a segunda a terminar com uma aziaga descida de divisão. Ricardo Alves manteve-se ainda assim no Orenburg para o ataque ao primeiro escalão em 2020/21, totalizando oito partidas e um golo até ao já referido diferendo com a direcção do clube que levou à rescisão por mútuo acordo em Outubro. Passados sete meses, pode dizer-se que tudo correu pelo melhor para o médio cujo futuro imediato está ainda no segredo dos deuses: a ligação inicial ao Krylya Sovetov era válida apenas até ao fim da temporada e ainda não há a indicação oficial de que tenha sido estendida, embora tudo aponte para esse sentido; caso esse cenário não se venha a verificar, porém, o antigo internacional jovem por todos os escalões dos sub-15 aos sub-20 (esteve inclusivamente presente no Mundial deste escalão em 2013) não deverá certamente voltar a passar pelo sufoco de estar vários meses sem clube, dada a belíssima segunda metade de temporada que realizou – e com uma medalha de campeão e outra de finalista vencido da Taça a comprová-lo.