Marcel Correia: aos 33 anos chegou o primeiro bis do central português de coração

marcel

Marcel Correia, central que representa os alemães do Elversberg, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

São já 33 primaveras e 14 anos de carreira profissional, mas ainda há espaço para feitos inéditos. Foi precisamente o que aconteceu no passado fim-de-semana para Marcel Correia: pela primeira vez na carreira, o central nascido na Alemanha mas de ascendente e coração 100 por cento português apontou dois golos no mesmo jogo, revelando-se decisivo para a vitória do Elversberg em casa do Dynamo Dresden (2-3) na quinta jornada da III Liga alemã.

Esta já é, na verdade, a temporada mais concretizadora da carreira do defesa luso a par de 2018/19, quando marcou dois golos em 30 partidas pelo Jahn Regensburg no segundo escalão do futebol alemão. Celebrar golos em nome próprio, de resto, nunca foi um hábito para Marcel Correia, que em seis temporadas ao serviço do Eintracht Braunschweig só facturou numa ocasião, apontando três tentos em dois anos no Regensburg e um noutras duas épocas pelo Paderborn (no Kaiserslautern, onde passou em 2017/18, ficou em branco).

Marcel Correia, já se disse, nasceu em território germânico (Kaiserslautern) a 16 de Maio de 1989. Filho de pais portugueses, acabou por nunca deter a cidadania alemã, apesar de ali ter passado toda a vida; formado no clube da sua cidade natal, onde chegou com apenas seis anos, só sairia já com 22 após quatro temporadas a actuar na equipa secundária e sem se chegar a estrear oficialmente pelo conjunto principal. Rumou então ao Eintracht Braunschweig e ali foi ganhando o seu espaço, fazendo parte da equipa que fez História em 2012/13 ao conseguir a promoção à Bundesliga 28 anos depois da última presença.

Viria a somar 19 aparições na divisão mais alta do futebol alemão, tendo por essa altura referido em declarações à sua assessoria de imprensa sentir-se “100 por cento português” e ter o sonho de jogar no campeonato luso. “O meu clube preferido é o Benfica. Se um dia tiver oportunidade de ir jogar para Portugal, aceitarei. Jogando aqui na Alemanha, que para mim é a liga mais forte da Europa, ninguém me tira a experiência que ganhei. E com essa experiência acho que podia ter boas possibilidades de jogar em Portugal”, referiu então. Essa temporada, todavia, foi a única da sua carreira na Bundesliga: o Eintracht Braunschweig acabaria por descer (18º e último, com 25 pontos em 34 jogos) e Marcel Correia desceu com o clube, ficando por lá mais três anos (capitão nos últimos dois).

No verão de 2017 surgiu a possibilidade de regressar “a casa”, que é como quem diz ao Kaiserslautern, mas a experiência não correu como o esperado: apenas 11 partidas efectuadas ao longo da temporada e a rescisão no fim da mesma, depois de ter assinado por três épocas, devido a uma cláusula que previa esse cenário em caso de descida de divisão (que se verificou). O central luso manteve-se assim na II Divisão alemã pela mão do Jahn Regensburg, onde realizaria duas temporadas de bom nível, e em 2020/21 mudou-se para o Paderborn, recém-despromovido da Bundesliga, não conseguindo ser mais que uma terceira opção para a posição que ocupa no campo.

Nesse sentido, não surpreendeu a decisão de voltar a mudar de ares, ainda que para um escalão abaixo e para uma equipa acabada de subir dos campeonatos regionais. A verdade, porém, é que o Elversberg está a surpreender tudo e todos neste arranque de temporada, encontrando-se no segundo posto da tabela com quatro vitórias ao fim de cinco jornadas disputadas – e com Marcel Correia a ser titular em três das partidas, a que se junta mais uma na Taça, na incrível vitória por 4-3 sobre o “gigante” Bayer Leverkusen. “A perspectiva de vir para o Elversberg foi entusiasmante para mim. O clube tem muito potencial e, sendo uma equipa recém-promovida, vem cheia de vontade e motivação para fazer uma boa época”, ressalvou na apresentação o central luso, descrito pelo director-desportivo do clube, Ole Book, como “um central extremamente experiente e com perfil de líder, que vem dar mais segurança e estabilidade à equipa. É consistente e agressivo, resolve muitos problemas e com a experiência que ganhou em ligas superiores pode tornar-se um pilar da equipa”.

A todas estas características, Marcel Correia está agora a juntar a fome de golos – e de belo efeito, como se de um avançado se tratasse, vendo pelos tentos que marcou em Dresden (um de pé esquerdo e outro de pé direito). Nome praticamente desconhecido para a maioria dos adeptos nacionais, a verdade é que Marcel Correia tem um trajecto longo e respeitável no futebol alemão e continua a acrescentar-lhe capítulos positivos; aos 33 anos, já será difícil vir a cumprir o sonho de jogar em Portugal (mas não impossível, de todo), mas ainda poderá ser legítimo acreditar na possibilidade de o ver regressar a patamares superiores, seja na Alemanha ou noutro país, até por ter contrato com o Elversberg apenas até ao final da temporada.