Flávio Silva: a vida de emigrante começa a compensar

flaviosilva

Flávio Silva, ponta de lança que representa o Persik Kediri da Indonésia, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Aos 26 anos, e depois de ter passado toda a carreira em Portugal, Flávio Silva decidiu aventurar-se pela primeira vez no estrangeiro. O destino inicial foi o Luxemburgo, mas a experiência não se revelou positiva: apenas 5 jogos e só uma assistência ao serviço do Mondercange para o avançado nascido em Bissau mas desde muito jovem radicado no nosso país. Em Janeiro, o convite para rumar à Indonésia pareceu ter chegado na melhor altura e Flávio Silva disse “sim”… mas mais uma vez passou 5 jogos em branco, não conseguindo ajudar o Persik Kediri a sair do último lugar do campeonato.

Começava a dar a entender que a vida de emigrante não era para o atacante luso-guineense, até que à jornada 25 chegou finalmente a primeira assistência, ainda que insuficiente para evitar a derrota por 2-1 no reduto do líder PSM Makassar, treinado pelo português Bernardo Tavares. Neste caso, o melhor estava mesmo para vir: na jornada seguinte, Flávio Silva fez finalmente o gosto ao pé, abrindo a contagem na goleada caseira sobre o RANS Nusantara (5-1), voltando a faturar 5 dias depois na histórica vitória em casa do Arema (2-3).

No último fim-de-semana, não houve golo mas houve outra assistência, no caso para o 2-0 final na recepção ao Barito Putera que deixou o Persik Kediri prestes a sair da zona de despromoção pela primeira vez na temporada – viria a consegui-lo com nova vitória pelo mesmo resultado na passada quarta-feira. Com 10 jogos na Liga da Indonésia, Flávio Silva superou assim a desconfiança inicial e figura já como um dos destaques da extraordinária recuperação encetada pelo emblema orientado pelo luso-angolano Divaldo Alves (que só por uma vez relegou o avançado luso-guineense para o banco).

Com percurso formativo dividido maioritariamente por Real SC e Sporting, Flávio Silva chegou ao Torreense no segundo ano de júnior (2014/15) e rapidamente começou a jogar pelos seniores, depois de logo na estreia ter marcado o golo que deu a vitória sobre o… Sporting. Os belíssimos números no Campeonato de Portugal (8 golos em 11 jogos) chamaram a atenção de emblemas com outras aspirações e assim, logo nesse mercado de inverno seria contratado pelo Benfica, integrando numa primeira instância a equipa B dos Encarnados, onde somou 3 jogos na II Liga, mas passando depois a jogar pelos juniores.

Essa acabou por ser a única temporada em que Flávio Silva vestiu de facto a camisola das Águias. No início de 2015/16 seria emprestado ao Covilhã, mas regressaria ao Seixal no mercado de Janeiro, depois de fazer apenas 1 jogo pelo emblema serrano… e acabaria por ver o Benfica rescindir o seu contrato pouco depois. Após alguns meses inactivo, assinou por 5 temporadas com o União da Madeira, dando de tal forma nas vistas ao serviço da equipa B, nas distritais madeirenses (15 golos em apenas 6 jogos), que foi promovido ao plantel principal a meio da temporada, acabando a lutar pela subida à I Liga e totalizando 4 golos em 13 aparições.

Passou depois 3 épocas no segundo escalão do futebol nacional, entre União (1) e Mafra (2), até que no verão de 2020 desceu um patamar para rumar ao Alverca, onde não seria muito feliz (apenas um golo em 8 jogos). Regressou então em Janeiro de 2021 ao Real, o clube onde começara o seu percurso, e voltou aos dias de felicidade, com 5 tentos em 15 partidas – números que lhe valeram a transferência para o Amora, onde pôde jogar a Liga 3 em 2021/22, ainda que não tenha obtido muito sucesso (16 jogos, 0 golos).

Internacional nos escalões jovens de Portugal por 6 ocasiões (3 nos sub-16 e outras tantas nos sub-19, onde marcou 2 golos), Flávio Silva acabou por trilhar um caminho algo distante do que se augurava por essa altura, e nomeadamente aquando da transferência para o Benfica. Ainda assim, o avançado (muitas vezes utilizado como extremo, o que também ajuda a explicar os números pouco auspiciosos em termos de golos nalgumas temporadas) tem ainda muitos anos de futebol pela frente e, como tem vindo a demonstrar nas últimas semanas na Indonésia, pode ainda proporcionar muitos motivos de alegria para os clubes que optarem por procurar os seus serviços – como fez o Persik Kediri, estando agora a colher os frutos dessa aposta.