Daniel Carriço: numa carreira com 7 vidas, Sevilla teve a cor mais especial

70313296_2676945928990477_7873061634984378368_n(Daniel Carriço conquistou 4 Ligas Europa pelo Sevilla e é, inclusivamente, o futebolista que mais vezes ganhou o troféu.)

Agora sim, o ponto final. Sem clube desde o fim da última temporada, Daniel Carriço anunciou oficialmente o fim da carreira profissional na passada sexta-feira, a 4 meses de completar o 35º aniversário. O último capítulo foi escrito em Espanha, país onde viveu os melhores momentos enquanto futebolista, e igualmente bem sucedido, ainda que noutra dimensão: se no Sevilla festejou a conquista de 4 Ligas Europa (recordista de vitórias na prova), no Almería acabou a celebrar o título de campeão da II Liga, no último de 5 troféus conquistados enquanto sénior.

Com formação iniciada no Estoril, o central natural de Cascais rumou ao Sporting com 11 anos e por lá ficaria até aos 24, sagrando-se campeão nacional de iniciados, juvenis e juniores. Estreou-se na equipa principal com 20 anos, depois de uma primeira época como profissional em que rodou no Olhanense, então na II Liga, e nos cipriotas do AEL Limassol, e de leão ao peito somou redondos 150 jogos oficiais (e 5 golos), sendo titular indiscutível nas primeiras 3 temporadas; em 2011/12, com Domingos Paciência e Ricardo Sá Pinto ao leme, perdeu o estatuto (curiosamente numa altura em que era já um dos capitães) e até foi utilizado em várias ocasiões como médio defensivo.

carricoscp(O Sporting foi o clube onde o agora antigo jogador mais tempo permaneceu: foram 13 épocas e meia de ligação entre camadas jovens e equipa principal.)

Em 2012/13, a utilização tornou-se residual: Carriço registou apenas três aparições como suplente utilizado entre Agosto e Setembro e, com o vínculo contratual a terminar no fim da temporada, os Leões chegariam a acordo para a sua transferência a título imediato para o Reading no último dia do ano, por um valor a raiar o irrisório (750 mil euros). O central luso viajou para Inglaterra cheio de ilusões, cumprindo o sonho de actuar na Premier League, mas acabaria por somar igualmente somente três partidas pelos Royals, que viriam inclusivamente a descer de divisão após terminar no 19º lugar.

Seria curta a sua estadia em Inglaterra: nesse verão, materializou-se finalmente o longo namoro com o Sevilla, cuja cidade se canta ter “un color especial”, num empréstimo que se transformaria em compra definitiva no fim da época, após a conquista da Liga Europa depois “daquela” final contra o Benfica, em Turim, onde cumpriu os 120 minutos. Uma celebração que viria a repetir precisamente um ano depois, então após vitória por 3-2 sobre os ucranianos do Dnipro (onde também fez o jogo de forma integral)… e um ano depois, aí no triunfo sobre o Liverpool, já de Jurgen Klopp (3-1).

2016/17 e 2017/18 não correram tão bem, dada a ausência de troféus colectivos mas principalmente pelo calvário das lesões, que o arredaram dos relvados durante largos meses, mas em 2018/19 Carriço voltou a ser titular na maioria dos jogos do Sevilla ao longo da temporada. Permaneceria no plantel para a época que se seguiu, mas em Fevereiro, a poucos meses de terminar o contrato (renovado em 3 ocasiões) e depois de apenas 12 aparições na temporada (entre as quais uma na Liga Europa, o que lhe valeria nova conquista da prova após a vitória andaluza na final com o Inter de Milão, num recorde absoluto de 4 vitórias), chegaria o anúncio da sua transferência para o Wuhan Zall, emblema chinês sediado precisamente no epicentro do surgimento da pandemia do coronavírus.

carricoselecao(Internacional A apenas por uma ocasião, Carriço somou 71 partidas pela Seleção Nacional entre os Sub-16 e os Sub-23, tendo apontado quatro golos.)

Daniel Carriço ficaria um ano e meio na China, até que em Agosto de 2021 foi oficializado como reforço do Almería, num regressso à Andaluzia que se cifrou também ele em sucesso, dada a conquista da II Liga espanhola e consequente subida ao escalão principal. O central luso, que havia assinado por um ano com outro de opção, acabou por ser utilizado em apenas 6 ocasiões (metade como titular) e não teria o contrato renovado para a época em curso, gorando-se assim o regresso a La Liga. Seguiram-se alguns meses sem clube, onde deu claramente mostras de já estar a encerrar o capítulo enquanto futebolista, com a confirmação oficial a surgir então na passada semana.

“Chegou o dia de vos anunciar que termino a minha carreira enquanto jogador de futebol profissional. Sou realmente um privilegiado por ter realizado o meu sonho! O futebol deu-me os melhores momentos da minha vida, muitas conquistas e muitas emoções inesquecíveis. Obrigado a todos os clubes que representei: Estoril, Sporting, Olhanense, AEL Limassol, Reading, Sevilla, Wuhan Zall e Almería. Foi uma honra vestir a vossa camisola! Obrigado à Federação Portuguesa de Futebol, por ter-me permitido jogar com as 5 quinas ao peito. Representar o meu País foi o realizar de um sonho de criança. Foi uma honra e um orgulho!”, escreveu na publicação onde anunciou o adeus.

carricoalmeria(O Almería foi o último clube da carreira de Daniel Carriço.)

Internacional por Portugal em 72 ocasiões, passou por todos os escalões das selecções nacionais desde os sub-16, registando uma presença num Europeu de sub-19 em 2007 (no qual marcou 2 golos em 3 jogos, com Portugal a ficar-se pela fase de grupos). Pelos AA, jogaria uma única vez: a 16 de Junho de 2015, num particular contra a Itália ganho com golo de Eder, o seu primeiro pela selecção (1-0). Voltaria a figurar apenas numa outra convocatória de Fernando Santos, sendo suplente não utilizado ante Sérvia e Lituânia em Setembro de 2019, ficando a sensação de que poderia ter conseguido um número bastante superior de internacionalizações. Ainda assim, Daniel Carriço construiu uma carreira que não está ao alcance de muitos jogadores, tendo para sempre o seu nome marcado no clube da cidade que tem uma cor especial.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

José Embaló: em ponto de rebuçado na altura ideal

embalo

José Embaló, avançado que representa o Alashkert, da Arménia, é o jogador em destaque esta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

2021 está a ser provavelmente o melhor ano da História do Alashkert, emblema arménio fundado em 1990 e que, depois de ter fechado as portas no início do século/milénio, ganhou uma nova vida em 2011, ao ser adquirido por um empresário da região de Martuni – que entretanto comprou o estádio Nairi em Yerevan, capital da Arménia para onde o clube se mudou. Campeão nacional pela quarta vez no fim da última temporada, ganhou o direito a jogar as pré-eliminatórias de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões e até passou a primeira, caindo depois para a Liga Europa onde chegaria ao play-off final, garantindo assim presença na fase de grupos da recém-criada Liga Conferência, no patamar mais alto alguma vez alcançado em competições europeias.

A todos estes feitos juntou também a conquista da Supertaça na última sexta-feira, e mais uma vez com um nome a repetir-se nas celebrações: José Embaló. O avançado nascido há 28 anos em Lisboa foi contratado no início da temporada depois de apontar 15 golos no terceiro escalão da Polónia em 2020/21, ao serviço do Olimpia Grudziadz, e de imediato se estabeleceu como titular indiscutível; não chegou a facturar nas duas pré-eliminatórias da Champions, mas foi a grande figura do apuramento para o play-off da Liga Europa ante o Kairat Almaty ao apontar 2 golos na vitória por 3-2 após prolongamento.

A cereja no topo do bolo surgiu então na final da Supertaça, na qual o Alashkert enfrentou o rival Ararat Yerevan, com José Embaló a apontar o único golo do encontro e que valeu então a conquista do troféu para a sua equipa. Na semana anterior havia já sido também ele a marcar o primeiro golo de sempre dos Yellows na Liga Conferência, na derrota por 4-1 contra o Maccabi Telaviv, e entretanto facturou também no desaire caseiro desta quinta-feira diante do HJK Helsínquia (2-4). Ao todo, o ponta-de-lança luso-guineense soma já 6 golos nos 16 jogos realizados pelo campeão arménio, que por culpa do foco nas competições europeias acaba por estar a registar um começo de temporada atípico ao nível do campeonato – é neste momento nono e penúltimo classificado, com apenas 5 pontos em 6 jogos, embora tenha ainda duas partidas em atraso (caso as vença subirá ao quinto posto, mas ainda assim já muito longe do líder Ararat Armenia, que leva já 22 pontos em 8 jornadas).

Pouco conhecido do comum adepto português, José Embaló tem um percurso bastante peculiar. Com formação dividida entre clubes da capital (Belas, Algés e Casa Pia), a primeira época como sénior foi passada… no AEL Limassol, campeão cipriota em título nessa temporada de 2012/13 e que teve Jorge Costa durante alguns meses no comando técnico, num plantel onde constavam ainda Rui Miguel, Jorge Monteiro, Paulo Sérgio e Orlando Sá. Embaló acabaria assim por dispor de muito pouco espaço, fazendo apenas 5 jogos, e no fim da época seguinte (na qual fez apenas 3 partidas, estreando-se ainda assim a marcar precisamente no último jogo que fez no Chipre) regressou a Portugal pela porta do Beira-Mar, depois de goradas as negociações para assinar pelo Vitória SC, onde deveria começar pela equipa B.

Em Aveiro também não se pode dizer que tenha sido muito feliz, somando apenas 7 aparições (só uma vez titular na II Liga) em toda a época – curiosamente a última do histórico emblema aveirense nas divisões profissionais. Aventurou-se então novamente no estrangeiro, dividindo-se em 2015/16 pelas II Ligas de Roménia (Rapid Bucareste, 10 jogos e 2 golos) e Islândia (KF Fjarðabyggðar, 13 jogos e 4 golos). Seguiu-se um regresso ao Chipre com números interessantes no Ayia Napa, no segundo escalão (11 golos em 26 jogos) e em 2017/18 a primeira incursão pela Polónia para representar o Rakow, com 5 golos em 26 partidas disputadas no segundo escalão.

No verão de 2018, seduzido pelo apelo “de casa”, José Embaló voltou a Portugal e ao “seu” Casa Pia com sucesso retumbante: 32 jogos (praticamente metade como titular), 9 golos e o título de campeão do Campeonato de Portugal – e consequente subida do emblema de Pina Manique aos campeonatos profissionais, muitas décadas após a última presença. O avançado lisboeta, contudo, não acompanhou os Gansos nessa demanda, preferindo regressar à II Liga polaca para jogar no Puszcza Niepolomice, que trocaria a meio da época pelo Olimpia Grudziadz (ao todo, somava 26 jogos e 7 golos até ao momento da paragem abrupta das competições devido ao eclodir da pandemia do coronavírus).

2020/21 foi de facto a melhor temporada da carreira de José Embaló em termos de golos – os números assim o dizem. 2021/22, porém, está a revelar-se ainda mais risonho no que respeita a objectivos e metas cumpridas: possante, rápido e incisivo na hora de atirar à baliza, o avançado português (também elegível para a selecção da Guiné-Bissau por ascendência familiar) estreou-se a disputar jogos de competições europeias (e a marcar também), conquistou já o primeiro troféu alusivo a um escalão principal (e com um golo em nome próprio) e caminha a passos largos para bater esse tal recorde de 15 golos numa época. Fica agora a expectativa para perceber até onde pode chegar um jogador que ainda tem vários anos de futebol pela frente e que parece estar neste momento finalmente a atingir o ponto desejável de maturidade e capacidade futebolística.

André Teixeira: à conquista do Chipre com a selecção no horizonte

André Teixeira

André Teixeira, defesa central do AEL Limassol, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

A sexta vitória do AEL Limassol nos últimos oito jogos para o campeonato do Chipre começou a ser escrita após um passe com conta, peso e medida de André Teixeira, um autêntico esteio no eixo da defesa mas que também não enjeita assumir o papel de primeiro construtor do jogo da sua equipa. No horizonte mais próximo do central nascido há 27 anos no Porto está um objectivo muito claro: ser campeão nacional no país que o acolheu no verão de 2017 – até porque já conquistou a Taça logo na segunda temporada por terras cipriotas.

Após os anos de formação, iniciada no Candal e completada no Porto (com curta passagem pelo Padroense, satélite dos Dragões, pelo meio), André Teixeira iniciou o seu percurso sénior no Belenenses, onde logo no primeiro ano no futebol “dos grandes” viria a sagrar-se campeão da II Liga. Por empréstimo dos azuis do Restelo passaria depois por Leixões, Trofense e Mafra, regressando a Matosinhos em 16/17 numa passagem bem mais feliz: os 47 jogos efectuados, com direito até a entrada na hierarquia dos capitães, chamaram a atenção de Bruno Baltazar, treinador português então à frente dos destinos do AEL; o convite não demorou a surgir e André Teixeira resolveu arriscar-se para fora do país pela primeira vez na carreira.

A primeira época foi mais de adaptação à nova realidade, com 11 jogos disputados e 1 golo apontado; a segunda, por seu lado, foi a de afirmação total: o central portuense tornou-se titular indiscutível, somando 29 jogos e 1 tento, e foi peça fulcral na conquista da Taça (a primeira do clube em 30 anos), com o AEL a bater na final o todo-poderoso APOEL por 2-0 – e André Teixeira a titular, como sempre.

Estatuto, de resto, que manteve para 19/20, somando 26 jogos e 3 golos numa época que se revelou menos risonha em termos colectivos – além de ter perdido a Supertaça para o APOEL e caído logo na segunda pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga Europa, o AEL seguia no sexto (e último) lugar da fase de campeão, já a 15 pontos dos líderes Anorthosis e Omonia, quando a federação cipriota decidiu suspender de forma definitiva todas as competições nacionais devido à pandemia do coronavírus (entre as quais a Taça, na qual o conjunto de Limassol iria defrontar o Apollon nas meias-finais).

A corrente temporada está a correr melhor em termos colectivos, com o AEL a seguir no segundo lugar da fase de campeão, apenas um ponto atrás do líder Omonia, tendo esta quarta-feira garantido também o apuramento para as meias-finais da Taça; a nível individual, André Teixeira totaliza por agora 26 jogos (só um como suplente utilizado), um golo e duas assistências.

Aos 27 anos, pode dizer-se que o central nascido no Porto já atingiu a maturação completa e necessária para qualquer futebolista mas principalmente para a posição que este ocupa em campo, mostrando estar mais que preparado para actuar em patamares competitivos superiores – ainda que tenha contrato válido com o AEL por mais ano e meio. Até devido a um aspecto muito específico: a chegada à selecção nacional A, ele que foi internacional português em todos os escalões dos sub-16 aos sub-20, com participações num Europeu de sub-17 e noutro de sub-19. O sonho comanda a vida, já dizia o poeta, e André Teixeira vai fazendo por confirmar essa teoria.