Márcio Sousa: o Campeão Europeu que encontrou a felicidade em Tondela

o-i-maradoninha-i-que-brilhou-na-final-europeia-de-2003-nem-(Márcio Sousa, à esquerda, em ação diante da Áustria no Euro Sub-17 em 2003.)

Viseu, 17 de Maio 2003: o Estádio do Fontelo recebe a final do Euro Sub-17 entre Portugal e Espanha. São titulares, entre outros, nomes como Paulo Machado, Vieirinha, Miguel Veloso, Jurado, António Adán ou David Silva. Ficam no banco João Moutinho, Bruno Gama, Hélder Barbosa ou o guardião espanhol Roberto.
No meio de tanta qualidade e tantos craques, outro nome, e português, se destaca: Márcio Sousa. São dele os dois golos de Portugal nessa final que fazem da nossa seleção Campeã da Europa de Sub-17 – David Silva marcou, pelo meio, para a equipa de “nuestros hermanos”.
Apontado desde muito cedo como uma grande promessa do nosso futebol, Márcio Sousa brilhava, por essa altura, nos Juvenis do FC Porto, que o “pescou” no Vitória SC juntamente com Vieirinha, sendo que ambos rumaram às Antas envolvidos no negócio da ida do brasileiro Rafael para Guimarães.
Campeão Europeu e com um futuro risonho à sua frente, Márcio Sousa é convocado, na época seguinte, por José Mourinho para um jogo da Taça de Portugal – não saiu do banco diante do Maia – e fica nos “dragões” até meio de 05/06, altura em que é emprestado ao Covilhã, e deixa o clube em definitivo no Verão seguinte sem nunca ter jogado pela primeira equipa portista.
Seguiram-se passagens por Vizela, Rio Maior, Nelas, Penafiel e Esmoriz, até assinar pelo Tondela em 2010: em cinco temporadas nos “beirões”, Márcio Sousa ganha o seu espaço, contribui para duas subidas do clube, uma delas à I Liga, e reencontra-se com a felicidade, ironia das ironias, perto do sítio onde anos antes tinha feito uma grande exibição na final do Euro.
Apesar da marca que deixa em Tondela, não segue com o clube para a I Liga, e representa, depois disso, Farense, Lusitano VRSA, Limianos, Moncarapachense, Torcatense, Ninense, Vilaverdense e Os Sandinenses, clube onde iniciou a atual época.
Apelidado de Maradona desde criança, Márcio Sousa nunca gostou da alcunha apesar das semelhanças com o argentino: baixa estatura, pé esquerdo de inegável qualidade, e uma capacidade técnica formidável.
Há um ano entrevistei Márcio Sousa e encontrei alguém bem resolvido, sem mágoas de nada e ninguém, sem qualquer tipo de frustração por não ter chegado onde se esperava que chegaria, e orgulhoso por tudo o que conseguiu ao longo da sua carreira.
O médio ofensivo, que em tempos espalhou magia e classe pelas camadas jovens em Portugal e ajudou o nosso País a vencer um título europeu, completa hoje 35 anos e uma certeza perdurará: o seu nome estará sempre na história do futebol nacional.

Análise à Divisão de Elite da AF Aveiro 2019/2020

sabseg1920(Logotipo da autoria da AFATV.)

O fim antecipado da temporada 2019/2020 impediu dezenas de festas que aconteceriam em todos os Campeonatos Distritais do nosso País.
Em Aveiro, o meu Distrito, São João de Vêr, na Divisão de Elite; Fermentelos ou Vista Alegre, na I Divisão; Nogueira da Regedoura ou Florgrade, na Zona Norte da II Divisão; e AD Valonguense, Bustos ou Mealhada na Zona Sul da II Divisão, eram as equipas que melhor estavam posicionadas para eventualmente se sagrarem Campeãs Distritais dos respetivos campeonatos.
Por ser a Divisão de Elite da AF Aveiro – também conhecida como Campeonato SABSEG por questões de patrocínio – o campeonato que melhor conheço e mais acompanhei ao longo da época, fica aqui uma pequena análise àquilo que foi a participação das dezoito equipas no campeonato:

1º São João de Vêr (62 pontos)

De longe o melhor plantel do campeonato, desde muito cedo se soube que o São João de Vêr seria o grande candidato à subida ao Campeonato de Portugal. Os “malapeiros” apostaram forte no regresso ao terceiro escalão e por duas vezes atingiram oito vitórias consecutivas, sendo que uma dessas séries foi interrompida pela suspensão dos campeonatos. Com 20 vitórias em 23 jornadas, os sanjoanenses tinham, no dia 10 de Março – quando foi suspensa a época -, treze pontos de vantagem para o segundo classificado e o único dissabor da época foi a eliminação da Taça Distrital aos pés do Estarreja. A subida aos Nacionais por via administrativa é um prémio inteiramente justo para a equipa orientada por Ricardo Maia.

2º Ovarense (49 pontos)

De volta ao topo do futebol aveirense, a histórica Ovarense foi, para mim, a surpresa, revelação e afirmação do campeonato: oito vitórias nas primeiras oito jornadas, nove vitórias em dez jornadas e um segundo lugar final que vale ao clube a presença na Taça de Portugal da próxima época. A juntar a isto, na Taça de Aveiro, os “vareiros” chegaram às Meias Finais e tinham tudo para atingir a final. Tiago Leite, antigo jogador do clube que chegou a atuar pela Ovarense na II Liga, foi o timoneiro do plantel que protagonizou uma excelente temporada e acabou onde poucos acreditariam que acabasse. Em Ovar, já se sonha com o regresso do clube aos Campeonatos Nacionais e até profissionais.

3º União de Lamas (48 pontos)

Um dos principais candidatos à subida a par de São João de Vêr e Pampilhosa, o histórico União de Lamas fez, esta época, uma forte aposta no mercado internacional, contratando muitos jogadores brasileiros e africanos, que se juntaram a jogadores que são já referências do clube como Joel, Sanguedo ou Joca. Orientados por Ricardo Nascimento, os lamacenses andaram muitas jornadas na luta com São João de Vêr e Ovarense, mas começaram a “perder o comboio” justamente depois de uma derrota com o vizinho e rival São João de Vêr. Com apenas um ponto a separar Ovarense e Lamas ao fim da 23ª Jornada, a luta pelo segundo lugar, acredito, seria intensa entre estes dois históricos que merecem estar noutros patamares.

4º Pampilhosa (41 pontos)

Pela terceira época consecutiva, o Pampilhosa competiu na Divisão de Elite da AF Aveiro e pela terceira época consecutiva, a realidade não correspondeu à expetativa. Candidatos à subida, os azuis e brancos estavam já a nove pontos do líder ao fim de nove jornadas, mas seis vitórias nas sete partidas seguintes e um empate com o São João de Vêr, devolveram a esperança aos “ferroviários”. Contudo, o fim da primeira volta e início da segunda foi mortífero para o “Pampi”, que somou dois desaires e um empate e disse adeus à subida. Para piorar a situação, na Taça de Aveiro, os bairradinos perderam por 1-4 em Canedo e ficaram sem objetivos concretos na temporada ainda em Janeiro.

LamasCanedo(U. Lamas 3-1 Canedo, 9ª Jornada. Autoria: facebook U. Lamas.)

5º Cesarense (39 pontos)

Depois de uma época dramática que chegou a colocar em causa a continuidade do clube, o Cesarense reergueu-se e fez um excelente campeonato. À boleia de um protocolo assinado com a Oliveirense, o emblema de Cesar montou um plantel jovem e de qualidade e pôde usar alguns jogadores dos oliveirenses, sendo o caso de maior destaque o capitão Oliveira, que, aos 35 anos, se estreou no Distrital e fez 3 golos em 4 jogos. O 5º lugar final abrilhanta, de certa forma, a campanha dos cesarenses, que chegaram a ter cinco vitórias consecutivas e nos últimos doze jogos oficiais só perderam um. Na Taça, o Cesarense atingiu as Meias-Finais, onde iria defrontar o Alba.

6º Avanca (38 pontos)

Guiado por Cajó, treinador que devolveu o Beira-Mar aos Campeonatos Nacionais, o Avanca manteve-se fiel à sua filosofia de ter um plantel jovem com alguns jogadores experientes e, uma vez mais, colheu os seus “frutos”. Os avanquenses viveram a sua melhor fase no campeonato entre as Jornadas 11 e 17, em que venceram cinco partidas e empataram uma, diante da Ovarense. Apesar de na segunda volta os azuis e brancos terem ganho apenas um dos seis jogos que fizeram, esse registo não apaga a temporada positiva que o Avanca vinha fazendo e que permitiu ao clube “acabar” no sexto lugar a apenas três pontos do quarto classificado.

7º Bustelo (34 pontos)

Há quem defenda que um calendário também dita a sorte de uma equipa e o Bustelo pode-se queixar disso mesmo: nas três primeiras jornadas, a formação de Oliveira de Azeméis defrontou três candidatos à subida, Pampilhosa, U. Lamas e SJ Vêr, perdeu todos os jogos e era a única equipa sem pontos ao fim de 270′ minutos. A partir daí os bustelenses começaram a melhorar aos poucos e conseguiram, entre as Jornadas 11 e 15, cinco vitórias consecutivas que os catapultaram para um lugar tranquilo. Contudo, a segunda volta vinha sendo má para o Bustelo que teve apenas uma vitória e dois empates nas seis jornadas que disputou. Apesar do fim precoce do campeonato, esperava-se mais desta equipa que participou, inclusive, na Taça de Portugal e até avançou a 1ª Eliminatória graças a um triunfo por 3-1 em casa do Manteigas.

8º São Vicente de Pereira (30 pontos)

Desde 2002/2003 que o São Vicente de Pereira não marcava presença no principal campeonato aveirense. Afastado destas lides há muitos anos, o clube pertencente ao concelho de Ovar manteve a base da equipa que se sagrou Campeã da I Divisão na época anterior e juntou-lhe jogadores como Zé Bastos, Vítor Hugo, Charneca, Rúben Gomes ou Luís Vaz, atletas de qualidade reconhecida e habituados a estas andanças e até a outros campeonatos. O arranque dos vicentinos não foi o desejado – uma vitória e cinco empates nas primeiras oito jornadas -, mas a série de quatro triunfos consecutivos entre a 15ª e a 18ª rondas projetou-os para a primeira metade da tabela. A segunda volta estava longe de ser a ideal, com quatro derrotas e um empate nas últimas cinco partidas.

9º Esmoriz (30 pontos)

Uma troca de treinador ainda na pré-época deixou o Esmoriz em alvoroço, mas o que é certo é que os esmorizenses tiveram um arranque muito bom e ao cabo de nove jornadas ocupavam o quarto lugar a seis pontos da liderança. Depois de derrotas e duas vitórias nos quatro jogos seguintes, o emblema da Barrinha começou a cair de produção e nos últimos dez jogos que fez até ao dia 10 de Março, somou seis derrotas, três empates e apenas um triunfo. Eliminado da Taça em casa pelo Arrifanense, da I Divisão, no desempate por penaltis, o fator casa não foi nada favorável ao Esmoriz esta época: duas vitórias em onze jogos oficiais.

fiaesovarense(Fiães 1-1 Ovarense, 11ª Jornada. Autoria: jornal Correio da Feira.)

10º Canedo (29 pontos)

Mudança foi a palavra que marcou a época 2019/2020 para o Canedo: nova direção, nova equipa técnica e novo… plantel: é que do elenco que tinha alcançado a subida meses antes, apenas o médio Bruninho permaneceu de azul e amarelo. Uma mudança drástica no plantel que deu os seus frutos ou não estivessem os canedenses num confortável 10º lugar à data da suspensão dos campeonatos, semanas depois de terem sido eliminados nos Quartos-de-Final da Taça de Aveiro. A contratação de vários jogadores credenciados no futebol aveirense e até nos Campeonatos Nacionais, como Fredy, Letz, Tintim, Marcelo Pinheiro ou Osório, faziam do Canedo um candidato aos lugares cimeiros, mas a campanha canarinha foi bem mais discreta. Ainda assim, foi uma época positiva para o clube do Nordeste de Santa Maria da Feira, que conseguiu o seu grande objetivo: afirmar-se na Divisão de Elite.

11º Alba (28 pontos)

Construir um plantel totalmente de raíz parece tarefa difícil, mas não é impossível. Que o diga o Alba, que não renovou com um único atleta de 2018/2019 e montou uma equipa totalmente nova para atacar esta temporada. Com os olhos postos no futuro, a direção do clube de Albergaria a Velha apostou num rompimento com o passado e na contratação de atletas muito jovens, aos quais juntou meia dúzia de atletas com experiência e três Campeões Distritais em título pelo Beira-Mar – Diogo Lobo, Marco Pais e Mathieu, este último já no decorrer da temporada. A época estava a ser tranquila para os amarelos e azuis que nunca sofreram, por exemplo, mais do que dois golos num jogo e iam disputar o acesso à final da Taça de Aveiro com o Cesarense.

12º Carregosense (27 pontos)

Um dos clubes que mais tarde iniciou a preparação da temporada e mais alterações fez no plantel para a nova época, o Carregosense pagou essa fatura no início do campeonato, já que ao fim de oito jornadas tinha apenas cinco pontos. Esta situação originou uma troca de treinador, regressando ao clube Luís Miguel, que como jogador se sagrou Campeão do Mundo de Sub-20 por Portugal em 1991. Com esta mudança, o plantel também sofreu alterações e a turma de Carregosa começou a recuperar no campeonato, destacando-se as cinco vitórias e três empates que conseguiu nos últimos dez jogos oficiais que fez antes da interrupção da época. A permanência estava bem encaminhada.

13º Fiães (27 pontos)

Rui Lopes, Luís Moreira, Ricardo Correia ou Jonathan. Foram estes alguns dos reforços do Fiães que, pelo passado e qualidade que lhes era e é reconhecida, faziam dos fianenses um candidato aos primeiros lugares. Puro engano. O trajeto da turma do Bolhão foi irregular e nem o facto de por duas vezes terem conseguido vencer duas partidas consecutivas fez com que se estabelecessem na parte superior da tabela. Uma série de seis derrotas consecutivas, entre campeonato e Taça, motivou uma troca de treinador, mas José Pedro, que subiu o clube à II Divisão B em 2004, não conseguiu melhor do que três vitórias nas oito partidas que fez.

14º Gafanha (24 pontos)

À semelhança do Cesarense, o Gafanha teve uma queda “traumática” do Campeonato de Portugal, passando por imensas dificuldades que colocaram igualmente a sobrevivência do clube em causa. O futuro dos azuis foi assegurado através da entrada de um investidor sul-americano que consigo trouxe dezassete atletas do outro lado do Atlântico, entre equatorianos, uruguaios, colombianos ou paraguaios, e um treinador venezuelano. As habituais dificuldades de adaptação a uma nova realidade fizeram-se sentir e o Gafanha tinha apenas duas vitórias em dez jornadas. Os ilhavenses começaram a estabilizar os seus resultados na segunda parte da primeira volta mas a segunda volta estava a ser má: quatro derrotas consecutivas até à época ser suspensa.

EsmorizOlBairro(Esmoriz 0-1 Oliveira do Bairro, 19ª Jornada. Autoria: facebook Ol. Bairro.)

15º Estarreja (22 pontos)

Há não muitos anos o Estarreja dava cartas no CNS e até disputava a subida à II Liga, mas agora a realidade do clube é outra. Com um plantel muito jovem e com uma forte aposta na formação, o Estarreja teve a sua melhor fase sensivelmente a meio da época, em Dezembro, quando conseguiu três vitórias em quatro jogos entre campeonato e Taça – onde cometeu a proeza de afastar o São João de Vêr. No novo ano, o clube entrou de “pé esquerdo” e venceu apenas um dos nove jogos oficiais que fez – contra o Cucujães para o campeonato – e até foi eliminado com surpresa da Taça, em casa, pelo Calvão, que era, naquela altura, último classificado do segundo escalão da AF Aveiro.

16º Paivense (19 pontos)

Para mim outra das desilusões da época, o Paivense vinha, ultimamente, em recuperação no campeonato e ia ter muito que dizer em relação às contas da permanência. Conhecido por ser um clube difícil de superar no seu reduto – apenas o Campeão Beira-Mar e o Pampilhosa na última jornada venceram em Castelo de Paiva em 18/19 -, o Paivense somou oito derrotas nos primeiros oito jogos caseiros que efetuou, sendo que três deles até foram consecutivos, e só se estreou a vencer na prova à 11ª Jornada. A chegada do técnico Carlos Manuel em Novembro e as posteriores contratações dos avançados Mário e Ginho ajudaram a devolver o Paivense à luta pela manutenção, e nas últimas cinco partidas que disputou, a turma de Castelo de Paiva venceu três, a última das quais diante da Ovarense.

17º Oliveira do Bairro (16 pontos)

Com muitas mexidas no plantel, o Oliveira do Bairro chegou ao fim de seis jornadas com seis pontos – uma vitória -, mas a partir daí entrou numa espiral negativa e perdeu, imagine-se, onze jogos consecutivos no campeonato entre as Jornadas 7 e 17. O enguiço foi quebrado na primeira jornada da segunda volta, contra o Canedo, e numa altura em que já tinha chegado ao clube o técnico Maná, com experiência no CNS ao serviço do Mortágua, que consigo trouxe alguns reforços que permitiram aos bairradinos somarem dez pontos em dezoito possíveis na segunda metade do campeonato. A manutenção continuava a ser um objetivo bem possível.

18º Cucujães (13 pontos)

De regresso ao maior escalão de Aveiro após duas épocas de ausência, o Cucujães manteve-se, e muito bem, fiel àquilo que são os seus princípios de há uns anos a esta parte: orçamento baixo e “não dar passos maiores do que a perna”. Apesar de até se ter reforçado com cinco jogadores da Divisão de Elite, os cucujanenses andaram praticamente sempre na zona de descida e na primeira volta fizeram somente dez pontos. Na segunda volta, os registos vinham sendo equilibrados com três empates e três derrotas em seis jogos, que deixaram, ainda assim, a turma oliveirense no último lugar da tabela à data da suspensão dos campeonatos.

Esmoriz 1-0 Espinho – Taça de Aveiro

esmorizespinhotaca(Pipa observa o duelo entre João Pinto e Vando. Foto: Diário de Aveiro)

Jogou-se, ontem, domingo, o jogo grande dos Oitavos-de-Final da Taça de Aveiro: Esmoriz – Sp. Espinho.

Um derby animadíssimo, com muitos adeptos presentes no Estádio da Barrinha, com muita entrega e muita luta, com cartões das duas cores, e com apenas um golo, de Vando, a decidir, à beira do intervalo, o encontro entre os vizinhos situados à beira-mar.

Este era um jogo que antevia muita expectativa e não era só pelo facto de ser, como já disse, um duelo entre dois velhos conhecidos, vizinhos e rivais. Este jogo colocou, frente-a-frente, nada mais, nada menos, do que os dois primeiros classificados da I Divisão Distrital da AF Aveiro.

Líderes exaequos no campeonato, Esmoriz e Espinho desde cedo demonstraram que vinham “com tudo” para o jogo. E Batista, do Esmoriz, até foi “com tudo” demasiado cedo e acabou expulso à passagem do minuto quinze.

Os primeiros minutos foram equilibrados, com o Esmoriz a tentar fazer-se valer da força e velocidade dos seus avançados Vando e Koneh, e com o Espinho a tentar colocar mais a bola no chão, inicialmente guiados pelo pé esquerdo de Rui Lopes, que fez a formação em Alcochete, ao lado de, por exemplo, Adrien Silva.

Como já disse, não tardou até que Cláudio Pereira, o árbitro com carreira de futebolista que chegou a jogar na antiga III Divisão Nacional, expulsasse Batista, do Esmoriz, no espaço de segundos, com dois cartões amarelos.

O público espinhense presente na Barrinha animou-se, mas, ao contrário do que se pensou, os forasteiros não conseguiram marcar: ameaçaram várias vezes, é verdade, mas, importa dizê-lo, não aproveitaram a intranquilidade de Ricardo Pinto, guarda-redes do Esmoriz, que teve algumas saídas em falso da sua baliza.

À beira do intervalo, e na sequência de um lance de bola parada, Agenor levantou para a área, o esférico sobrou para Gonçalo, este fez um compasso de espera pela entrada de Vando, e tocou ao lado para que o ponta-de-lança abrisse o ativo.

Natural de Espinho e formado no clube, inclusive fez lá a primeira época de sénior na II Divisão B – atual CNS -, o jogador do Esmoriz nem sequer festejou o golo.

Para a segunda parte, Carlos Manuel, treinador do Espinho, tornou a equipa mais ofensiva e lançou o extremo Rui João para o lugar do médio Joel Alves, mas o Espinho voltou a esbarrar na concretização – ou na falta dela, melhor dizendo.

Rui João teve uma excelente entrada em jogo, tentou levar a equipa ao empate, mas não teve o devido “acompanhamento” de Van Zeller e Lima, seus colegas da frente de ataque, que passaram ao lado do jogo, o segundo ainda mais que o primeiro.

Com a entrada de Carlitos, o Espinho ficou ainda mais ofensivo, mas confirmou uma exibição desinspirada e não conseguiu ter o discernimento necessário para empatar o jogo, enviando ainda uma bola ao poste, e podendo-se queixar da falta de sorte, ou não tivesse Ricardo Pinto defendido uma bola com o corpo já dentro dos últimos dez minutos regulamentares.

Por sua vez, a equipa da casa, obrigada a um enorme esforço físico por estar com dez durante grande parte do encontro, teve, também, as suas chances para “matar” o encontro, mas Koneh, por exemplo, não conseguiu aproveitar um mau atraso de Bruno Gomes para Renato.

Em suma, na minha opinião, o Espinho tem melhores “recursos”, criou mais oportunidades, foi superior, mas, a meu ver, teve uma exibição coletiva algo desinspirada, não conseguindo superar a entrega e união da formação da casa que, desde cedo reduzida a dez elementos, se uniu em busca do triunfo que acabou por alcançar.

O Esmoriz segue em frente na Taça, e elimina, pelo segundo ano consecutivo, o seu velho rival da competição. A julgar pelo que se viu ontem, o campeonato promete até ao fim.

Destaques:

Vando (Esmoriz): Fortíssimo fisicamente e dotado tecnicamente, o ponta-de-lança do Esmoriz deu muito que fazer à defesa adversária e trabalhou bastante defensivamente. Ficou na história do jogo com o golo que marcou, num claro exemplo de frieza na hora de finalizar.

Koneh (Esmoriz): Endiabrado. É o que se pode dizer da exibição deste camaronês. Jogador rapidíssimo, Koneh deu nas vistas não só pela velocidade super-sónica que possui, mas, principalmente, pela enorme qualidade técnica que tem, ficando na memória de quem viu, as duas “cuecas” que fez ainda na primeira parte.

Rui Lopes (Espinho): Como disse anteriormente, Rui Lopes fez a sua formação no Sporting, onde jogou ao lado de Adrien Silva. Foi um dos melhores atletas da sua equipa, mais não seja pela qualidade de passe que incutiu no jogo. Foi “desaparecendo” com o passar dos minutos, mas, ainda assim, foi dos melhores do Espinho.

Rui João (Espinho): Quarenta e cinco minutos em campo e, para mim, o melhor jogador do Espinho nesta partida. Entrou fortíssimo e cedo mostrou ao que vinha: agitador com a bola colada ao pé, fez cruzamentos, fez diagonais, e chegou a ir compensar o lado direito da defesa. Se Rui Lopes lhe tem passado a bola num lance já perto do fim, poderia ter empatado o encontro. Fica, para finalizar, a pergunta: o que estava a fazer no banco?

Ficha de Jogo:

Estádio: da Barrinha, em Esmoriz
Árbitro: Cláudio Pereira, da AF Aveiro

Esmoriz (3-5-2)
: Ricardo Pinto; Agenor, Ricardo Correia e Ruca; Tiago Ferreira, Batista, Pedro Godinho, Jeff (Bruno Sousa 60′) e Gonçalo (Luís 65′); Koneh (Fred 78′) e Vando.
Treinador: Narciso Ratinho.

Sp. Espinho (4-4-2): Renato; Carela, Pipa (Carlitos 65′), João Pinto e Bruno Gomes; Carlos Manuel, Ministro, Joel Alves (Rui João 45′) e Rui Lopes; Lima e Van Zeller.
Treinador: Carlos Manuel.

Disciplina:
Amarelos: Batista 17′ e 17′; Joel Alves 24′; Pedro Godinho 54′; Agenor 77′; Ricardo Pinto 90+3′.
Vermelhos: Batista 17′.

Marcador: 1-0 Vando 41′.