(Diogo Runa, de 16 anos, acabou 19/20 como treinador adjunto dos seniores do Penedo Gordo e coordenador da formação do mesmo clube.)
Com apenas 16 anos, Diogo Runa é já um nome conhecido no Distrital da AF Beja: o jovem nascido em Torres Vedras, acabou 2019/2020 como treinador adjunto da equipa sénior do Penedo Gordo e coordenador da formação do mesmo emblema, algo que não é nada comum para um jovem da sua idade.
Além da carreira de treinador, que iniciou há duas épocas nos escalões de formação do Bairro da Conceição, Diogo Runa desempenha funções como scout e na próxima época trabalhará para o departamento de observação do FC Porto.
O “Conversas Redondas” chegou à fala com o jovem, que, naturalmente, começou por nos contar a origem da sua paixão pelo treino, confessando que nunca quis ser jogador:
“Antes de mais, quero agradecer por esta oportunidade de ser entrevistado. Desde muito cedo que tenho uma grande paixão pelo futebol, mas nunca pensei em ser jogador, porque sabia que tecnicamente era muito limitado. O que sentia mesmo era o ‘bichinho’ pela área do treino, que também surgiu muito cedo. Tive a certeza de que era esta área que queria seguir quando um amigo, que é jogador de futebol, e, na altura, era dos poucos que acreditava no meu sonho, me ofereceu o meu primeiro livro de futebol. Desde esse momento, comecei a pesquisar mais sobre a área do treino, a comprar vários livros de futebol e a ouvir opiniões e ideias de jogo de diversos treinadores”, revelou.
Há duas épocas, na parte final de 2017/2018, o sonho de Diogo Runa começou a concretizar-se: convidado a ser adjunto dos Sub-9 do Bairro da Conceição, o jovem, então com 14 anos, aceitou o convite e manteve-se no clube até ao final de 2018/2019, temporada em que assumiu ele próprio o comando do escalão de Sub-9.
Diogo Runa afirma que aceitou o desafio sem pensar duas vezes e faz um balanço muito positivo da primeira experiência que teve como treinador:
“A oportunidade de iniciar a minha carreira de treinador ocorreu de uma forma algo inesperada. Fui ver um treino de uma equipa sénior da cidade, para ver como eram os treinos e o contexto em que estavam inseridos, e reencontrei o treinador e grande amigo Rui Baião, que estava a treinar os escalões de formação do CCD Bairro da Conceição. Ele sabia que eu tinha este interesse pela área do treino e então deu-me a oportunidade de, com apenas 14 anos, integrar a sua equipa técnica. Aceitei sem pensar duas vezes, porque era o concretizar de um dos meus grandes sonhos. Faço um balanço muito positivo dessa temporada: a nível coletivo foi bastante satisfatório, encontrei um grupo fantástico de jogadores, direção, pais e equipa técnica, e, a nível pessoal, permitiu-me evoluir em muitos aspetos”, recordou o jovem que, na época seguinte, como já foi dito, passou a treinador principal, sublinhando que as suas maiores dificuldades foram, principalmente, ao nível de preparação de treinos, pois não tinha ainda experiência suficiente:
“Na época seguinte, em grande parte da temporada, fizemos duas equipas de Sub-9 e eu fiquei com uma delas. As maiores dificuldades que tive foram, sobretudo, no planeamento dos treinos, visto que tinha pouca experiência, mas rapidamente, devido ao conhecimento das necessidades dos jogadores e com a ajuda da restante equipa técnica, fui superando esse problema. Acredito que essa foi uma das experiências que me fez evoluir, juntando à capacidade de comunicação com os pais e jogadores. Apesar de eu gostar de ter uma relação de proximidade com os jogadores e de termos idades bastante próximas, a nível de treino isso não foi um problema”, disse.
(Diogo Runa iniciou o seu percurso como treinador nos Sub-9 do Bairro da Conceição.)
Depois das experiências com os mais pequenos, a experiência com os maiores: 2019/2020 marcou a estreia de Diogo Runa no futebol sénior, com o adolescente a aceitar o desafio de ser treinador adjunto do Penedo Gordo, equipa que chegou à 2ª Eliminatória da Taça de Portugal e que disputou a I Divisão da AF Beja – ocupava o 4º lugar aquando da paralização do campeonato.
Num contexto totalmente diferente daquele a que estava habituado, Diogo Runa salienta que teve uma adaptação rápida ao futebol sénior e que nunca sentiu desconfiança por parte do grupo de trabalho que o acolheu bem:
“A mudança para o Penedo acontece, também, de maneira inesperada, visto que nunca tinha pensado que aos 15 anos poderia ser treinador adjunto de seniores. O convite surgiu no dia seguinte a ter anunciado a minha saída do Bairro da Conceição, por um dos treinadores da equipa, o José Amador, que rapidamente me convenceu a aceitar o convite. A adaptação ao futebol sénior foi rápida, visto que tinha um grupo de jogadores, treinadores e direção bastante unidos, com características familiares e todos eles me acolheram bem. Há sempre alguma desconfiança por parte de pessoas exteriores ao clube, isso é normal, até com os treinadores profissionais isso acontece, mas, aos poucos, fui sentindo que essas dúvidas sobre o meu trabalho foram desaparecendo. Contudo, isso não me preocupou minimamente, visto que senti uma grande confiança no meu trabalho por parte das pessoas que estão dentro do clube – treinadores, jogadores e direção”, frisou Diogo Runa que, paralelamente à função de adjunto, teve como missão liderar a formação do clube e ainda duas equipas de futebol de 5:
“Quando recebi o convite para ingressar no Penedo como adjunto dos seniores, convidaram-me também a ser o responsável pela coordenação dos escalões de formação – há 15 anos que o clube não tinha camadas jovens -, e a ser treinador dos Sub-7 e Sub-9. Foi outro desafio enriquecedor, sobretudo, porque me permitiu aprofundar algumas características em que precisava de evoluir enquanto treinador, e também porque o facto de continuar a treinar meninos, deu-me a possibilidade de melhorar a minha capacidade de comunicação com os pais dos atletas e melhorar, também, a minha capacidade de gestão do plantel”, referiu.
O futebol, já se percebeu, faz parte da vida de Diogo Runa que não se resume a ser treinador e enveredou, em 2018/2019, pela área do scouting, onde começou a trabalhar ao serviço do Sintrense.
Na hora de falar sobre aquela que diz ser a sua outra paixão, Diogo Runa aponta que o cargo de scout em Portugal continua a ser desvalorizado:
“Gosto de chamar à área de scouting o meu segundo amor, sendo que a área do treino é o primeiro. Também desde cedo tive a paixão pela área do scouting, sobretudo na vertente da observação de jogadores. Com os meus 12/13 anos acompanhava regularmente um amigo que era scout para clubes de média dimensão e, aos poucos, fui tendo uma grande paixão por esta área. É uma área bastante interessante e importante, no entanto, acredito que deveria ter uma posição mais destacada numa equipa técnica, sobretudo em Portugal, onde ainda é um cargo pouco valorizado. Acredito que, apesar de ser um cargo algo desvalorizado no nosso País, a curto/médio prazo possa vir ter um papel preponderante nas equipas técnicas”, exprimiu o jovem que na próxima temporada estará ao serviço do FC Porto como scouting no distrito de Beja:
“A oportunidade de trabalhar para o FC Porto surgiu naturalmente, visto que o Rui Marques, que é um dos responsáveis do scouting do FC Porto nesta região, tem acompanhado o meu trabalho e já me tinha abordado para esta possibilidade anteriormente. Aceitei por acreditar que será uma experiência muito boa para a minha aprendizagem e para o meu futuro. As minhas funções serão de scouting e observação de jogadores dos escalões de formação no distrito de Beja”, explicou.
(Diogo Runa cumprimenta o treinador principal do Penedo Gordo, António Calatróia, após o triunfo em casa sobre o Castrense por 1-0.)
Residente em Beja desde os 13 anos, Diogo Runa está no 11º Ano do curso de Línguas e Humanidades na Escola Secundária Diogo de Gouveia, e considera-se um treinador ambicioso, com objetivos definidos e com uma ideia de jogo que passará sempre pela construção e nunca pelo “chuto para a frente”:
“Considero-me um treinador ambicioso, com muita vontade de aprender, com os objetivos bem definidos e muito exigente comigo próprio. Acredito, por exemplo, que por muito bom que tenha sido o trabalho, poderíamos ter feito algo mais para o trabalho ter sido melhor ainda. Em relação ao sistema tático, tenho como preferência o 1-4-3-3, com um médio defensivo e dois médios interiores. No que diz respeito ao modelo de jogo, caso tenha jogadores com características para tal, sou apologista de um jogo de posse de bola, pois ao termos a bola, estamos a controlar o jogo e, consequentemente, estámos mais perto de fazer golo do que os adversários. Também sou apologista de uma construção de jogo a partir de trás (entenda-se a partir do Guarda-Redes, que considero um jogador determinante na construção de jogo), utilizando sempre os três corredores, sem recorrer ao “chutão” para a frente. Outros princípios que tenho no meu modelo de jogo, são a reação rápida à perda da posse de bola e a pressão alta”, desvendou.
Ainda com muita margem de crescimento e com toda uma carreira pela frente, Diogo Runa assume que o seu principal objetivo é tornar-se melhor treinador todos os dias, mas não esconde, por exemplo, que gostava de deixar a sua marca no futebol, ele que tem como referências nomes como Guardiola, José Mourinho ou Carlos Carvalhal:
“O meu principal objetivo enquanto treinador é tornar-me melhor a cada dia que passa. Os outros objetivos passam por chegar a um clube de topo, deixar a minha marca no futebol e, quiçá, ser um dos melhores treinadores do mundo. Claro que tudo isso dependerá sempre de muita coisa, como dedicação, foco ou até sorte, mas estou ciente disso mesmo. Gostava de chegar a um clube de topo mundial, como Liverpool, Borussia Dortmund ou Barcelona, e as minhas referências enquanto treinador são Carlos Carvalhal, Julian Nagellsmann, Bruno Lage, Guardiola, Jurgen Klopp e José Mourinho”, confessou.
Tendo em conta que não é muito normal um jovem de 16 anos querer ser treinador, não podíamos concluir a nossa conversa sem questionarmos Diogo Runa acerca das opiniões que o próprio ouviu das pessoas mais próximas quando revelou as suas ambições e o jovem respondeu afirmativamente, deixando, também, uma mensagem para todos os jovens que estão igualmente a iniciar carreira como técnicos:
“Ao início, as pessoas mais próximas de mim estranhavam esta minha opção, e eu percebo, claro, mas quando perceberam a minha determinação e foco por esta área, apoiaram-me ao máximo. Por vezes, cria-se ou passa-se o estereótipo de que os treinadores têm de ser ex-jogadores ou alguém já com uma certa idade, mas a verdade é que esse paradigma está a mudar e, felizmente, cada vez mais assistimos a jovens treinadores a iniciar funções. Espero com esta entrevista dar uma certa força aos treinadores jovens que estão, tal como eu, a iniciar carreira, para que não desanimem ou não desmoralizem com as críticas, pois isso é normal e vai acontecer durante toda a nossa carreira”, concluiu.
Nascido a 4 de Novembro de 2003, Diogo Runa iniciou então o seu percurso enquanto treinador ao serviço do Bairro da Conceição, antes de chegar ao Penedo Gordo na temporada 2019/2020. Como scout, já desempenhou funções no Sintrense e prepara-se para fazer o mesmo no FC Porto a partir da próxima época.