Sp. Braga: Sequeira de regresso oito meses depois

sequeira(Sequeira está de regresso aos relvados após oito meses de paragem.)

O primeiro teste da pré-época do Sporting de Braga ficou marcado por um regresso especial: oito meses depois de se ter lesionado com gravidade, Nuno Sequeira voltou a competir, ainda que não tenha sido de forma oficial.
Segundo revelou o emblema bracarense nas suas redes sociais, o lateral esquerdo participou no amigável realizado contra a Oliveirense, que decorreu esta manhã no Complexo Desportivo de Fão, pelo que está totalmente recuperado e à disposição do técnico Artur Jorge para a temporada que se avizinha.
Jogador do Sp. Braga desde 2017, o esquerdino, após uma primeira época de pouca utilização em que também esteve lesionado durante algum tempo, arrancou para três temporadas de grande nível, afirmando-se como uma das grandes referências dos minhotos até Novembro do ano passado, altura em que sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo.
Em cinco anos ao serviço dos “Guerreiros do Minho”, o futebolista natural de Matosinhos soma, até ao momento, 145 jogos (um golo), e contribuiu para as conquistas da Taça da Liga (19/20) e da Taça de Portugal (20/21), sendo que esse desempenho lhe valeu a convocatória para a Seleção A em Outubro de 2020.
Formado entre Senhora da Hora e Leixões, Sequeira foi emprestado a Leça (III Divisão) e Fafe (II Divisão) antes de se afirmar na primeira equipa dos “Bebés do Mar”, bastando depois uma época na II Liga para chamar a atenção do Nacional, por quem atuou durante quatro temporadas e de onde se transferiu para Braga.
A pouco mais de um mês de completar 32 anos, Nuno Sequeira superou assim aquela que terá sido, muito provavelmente, a pior fase da sua carreira, e está de regresso aos relvados para dar continuidade a um trajeto regular e ascendente.

Sequeira: da III Divisão à Europa com qualidade e regularidade

sequeira(Sequeira já conquistou dois títulos pelo Sp. Braga.)

Nuno Sequeira é um dos bons exemplos atuais no futebol português: o jogador do Sp. Braga iniciou o seu trajeto sénior em divisões amadoras por empréstimo do Leixões; agarrou uma oportunidade nos matosinhenses; chegou à I Liga “pela mão” do Nacional; e da Madeira mudou-se para Braga, onde se tornou peça fundamental nos últimos anos.
Com formação iniciada no Senhora da Hora e concluída no Leixões, o esquerdino foi emprestado ao Leça nas duas primeiras temporadas como sénior, alinhando na III Divisão pelo histórico emblema verde e branco, voltando a ser cedido em 11/12, desta feita ao Fafe, que disputava a II Divisão.
Após três anos a ser emprestado, Sequeira agarrou, finalmente, o seu lugar nos “Bebés do Mar” em 12/13: com Horácio Gonçalves no comando técnico dos leixonenses, o defesa esquerdo “pegou de estaca” em Matosinhos, fazendo quarenta e dois jogos entre Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga, quarenta e um deles a titular, transferindo-se logo no final dessa temporada para o Nacional.
Na Choupana, as duas primeiras temporadas serviram de “ambientação” a Sequeira, que, após ser utilizado “a espaços”, aproveitou a saída de Marçal para o Benfica, em 2015, para se fixar no onze alvi negro, somando, sempre como titular, trinta e seis jogos em 15/16 e trinta em 16/17.
A regularidade e qualidade demonstradas no Nacional chamaram a atenção do Sp. Braga, que avançou para a sua contratação no Verão de 2017: no Minho, ainda arrancou a titular sob a orientação de Abel Ferreira, mas uma lesão sofrida diante dos turcos do Basaksehir, na Liga Europa, não só lhe tirou dois meses de competição como também lhe “roubou” protagonismo até final da época, fazendo apenas doze jogos.
Seguiram-se, depois disso, três temporadas a um grande nível: só em 18/19, Sequeira registou dez assistências em quarenta jogos; na época seguinte fez nove passes para golo em quarenta e uma partidas; e na última época conseguiu três assistências em trinta e nove encontros; contribuindo, e de que maneira, para que o Braga conquistasse uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal neste período.
Na corrente época, os dados estavam lançados para mais um belo desempenho do lateral, que somava já duas assistências em treze jogos, onze como titular, entre Liga, Supertaça, Taça da Liga e Liga Europa, mas no passado domingo, contra o Benfica, sofreu uma grave lesão no joelho esquerdo que o obriga a terminar precocemente 21/22, segundo informou o Sp. Braga.
Atualmente com 31 anos, Sequeira enfrenta agora a maior paragem forçada de uma carreira que, como se pode perceber, é um bonito exemplo para todos: começou “por baixo”, chegou ao patamar principal do nosso futebol e por lá se fixou ao serviço de um clube que tem sempre ambições altas. Mérito, qualidade e regularidade são as palavras que definem o trajeto do esquerdino.

Ricardo Oliveira: “Fazer a ‘dobradinha’ é uma sensação única”

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Ricardo Oliveira é um dos mais recentes portugueses a sagrar-se Campeão no estrangeiro: o ponta de lança festejou o título em Andorra pelo Inter Escaldes, por quem fez, ainda, a “dobradinha” em 2019/2020.
O jogador, de 24 anos, precisou de apenas meia época em terras andorranas para ser bem sucedido, depois de ter iniciado a temporada no Lorca, da III Divisão Espanhola, onde foi orientado pelo uruguaio Walter Pandiani, ex-jogador de clubes como Deportivo, Birmingham e Osasuna.
Produto da “cantera” do Boavista, o avançado passou também pela formação de Senhora da Hora e Padroense; e, como sénior, já teve quatro experiências no Campeonato de Portugal – Sanjoanense, Sertanense, Fátima e Torcatense; e duas no Distrital da AF Aveiro, por Alvarenga e Lourosa, tendo sido Campeão Distrital por este último.
Em entrevista ao nosso blog, Ricardo Oliveira falou dos títulos que conseguiu recentemente, confessou a sua admiração por Pandiani e assumiu-se como uma pessoa que não gosta de fazer planos:

Conversas Redondas: Acaba de conquistar uma “dobradinha” em Andorra pelo Inter Escaldes. Qual é a sensação?
Ricardo Oliveira: A sensação é única. Fizemos história porque foi o primeiro título de Campeão do clube e interrompemos a hegemonia do Santa Coloma, que ganhou o campeonato seis anos seguidos, e creio que não houve, nos últimos anos, muitas equipas a conseguir juntar a Taça ao campeonato, portanto, foi muito bom. Até pela situação da pandemia, que nos levou a ter o dobro ou o triplo do trabalho, estas conquistas têm um outro sabor.

CR: Qual dos títulos foi mais importante para si? O campeonato ou a Taça?
RO: O campeonato, sem dúvida. Primeiro porque foi o meu primeiro título fora do País e é um “sinal” de que o meu trabalho foi reconhecido/recompensado. Depois, porque, na minha opinião, vencer um campeonato é mais difícil do que vencer uma Taça. No campeonato tens que ser regular, trabalhas semana a semana a pensar nele e quando o conquistas, todo o teu trabalho e o teu esforço durante o ano foram premiados.

CR: Celebraram a conquista do campeonato apenas na última jornada.
RO: Sim, tivemos três “match points” e só no último é que demos o “xeque mate” no campeonato. O Santa Coloma era um rival forte, com muita capacidade e qualidade, uma equipa que joga junta há muitos anos apesar de ter jogadores relativamente jovens, muitos da minha idade, mas quase todos eles internacionais, e já tinham conseguido, noutros anos, assumir a liderança nas últimas jornadas. Na minha equipa tinhamos jogadores muito experientes e essa experiência foi fundamental para que conseguissemos controlar as emoções dia após dia num período em que jogávamos quarta e domingo. Não é uma situação fácil de gerir, mas graças à experiência desses atletas, que já passaram por situações similares, e ao grupo forte que tinhamos, conseguimos o título e terminámos com a hegemonia do nosso rival.

117037516_323427072353156_54752725171051303_n(Ricardo Oliveira cumpriu a segunda metade da época 18/19 ao serviço do Torcatense na Série A do Campeonato de Portugal.)

CR: Com que opinião ficou do Campeonato em Andorra?
RO: Tem duas/três equipas com um nível bom, como era o nosso caso, o do Santa Coloma e o do Engordany; tem o Sant Julià que tem um nível mediano; e depois as outras equipas já não são tão fortes, são semi-profissionais, têm menos condições e menos “matéria prima” do que as que falei. É um campeonato composto por oito equipas que depois parte em dois grupos de quatro e há apuramento de Campeão e luta pela manutenção. Em relação aos campeonatos que já joguei, acho que a grande diferença ali é o ritmo. O jogo parte mais cedo, por volta dos 60’/70′ minutos e fica um jogo mais de transição. Acredito que, às vezes, nem é a tática que resolve os jogos, é a dimensão física e técnica dos jogadores. Um jogador que for mais esclarecido ou mais rápido, pode ajudar a fazer a diferença nos minutos finais e acho que isso é a principal diferença que encontrei. Em termos de jogadores há muita qualidade. Aliás, eu digo sempre que qualidade existe em todo o lado e ali não é diferente. Na minha equipa, por exemplo, há jogadores internacionais Sub-21 por Espanha; o Genís, que foi o melhor marcador do campeonato e jogava comigo na frente, não é internacional mas fez uma grande carreira em Espanha na IIB e na III Divisão; o Marc Pujol e o Ildefons Lima são internacionais por Andorra e o Lima jogou até em clubes de bom nível em Itália, Espanha e Grécia; ou seja, há muita qualidade individual. Eu digo sempre que quando o grupo é forte e quem joga à tua volta tem muita qualidade, tu consegues sobressair também, se tiveres, claro, empenho e dedicação. Para mim, quando assim é, fica mais fácil as coisas correrem bem e estámos mais perto de ganhar. E foi o que aconteceu no Inter.

CR Chegou a Andorra a meio da temporada proveniente do Lorca de Espanha. Porquê esta mudança?
RO: Eu sou uma pessoa que gosta de ter um objetivo claro: é para ganhar, é para ganhar, não gosto de andar por andar. E foi o que aconteceu no Lorca: tinhamos o objetivo de subir, mas ali em Novembro/Dezembro estávamos em 4º ou 5º lugar, já tinhamos estado em 2º ou 3º, e senti que ia ser difícil subirmos porque só sobe um direto e o resto vai ao play-off. Apareceram-me algumas propostas e falei com o mister e com a direção do Lorca para sair porque tinha a ambição de ganhar um título numa I Liga. Eles respeitaram a minha ambição e a minha vontade e só tenho de lhes agradecer por terem facilitado a minha saída.

CR: E porquê o Inter Escaldes?
RO: Quando as pessoas do clube me contactaram e apresentaram o projeto, senti que era mesmo o clube certo para poder singrar e ganhar mais um título. Quando falei com o presidente a primeira vez senti logo que podia estar ali algo de bom e nem quis saber de mais nada, prontamente decidi que era para ali que ia. Eles transmitiram-me que era um projeto que já tinha cinco anos e que o grande objetivo desses cinco anos era uma qualificação para as competições europeias, algo que garantimos umas jornadas antes da fase regular terminar. Mas como estávamos “na calha” para ganhar o título, como o clube nunca tinha sido Campeão e podíamos fazer história, apesar de ter uma proposta do clube rival, e de, naquela altura, estarmos dois pontos atrás do Santa Coloma, achei que poderíamos vencer, e, graças a Deus, não me enganei.

CR: Deduzo que tenha tido uma adaptação fácil pelas semelhanças que existem entre Andorra e Espanha.
RO: Sim, foi fácil. Apesar de ser uma troca de País e haver sempre diferenças, a língua era a mesma e encontrei no plantel alguns jogadores portugueses como o Bruninho que foi formado no Sporting e o Rui Beja que jogou no Farense. Por isso, não tive dificuldades em adaptar-me.

CR: Ao fim de pouco tempo em Andorra surgiu a pandemia. Como foram esses tempos?
RO: Em Andorra não se falava muito sobre isso. Por todo o Mundo falava-se nesse assunto, ali também, claro, mas não era alarmante. Lembro-me que na semana em que tudo sucedeu, estava com a minha namorada em Andorra e, na altura, o clube disse que podiam ser suspensos os treinos e que provavelmente não ia haver jogo naquele fim de semana – até era com o Santa Coloma. Passado um dia, suspenderam toda a atividade do clube e disseram-nos que, à partida, o campeonato ia ser suspenso. No dia seguinte, o primeiro ministro de Andorra disse que as fronteiras iam ser fechadas e, nessa manhã, consegui viajar para Portugal porque o clube facilitou, passei cá a quarentena e, posteriormente, voltei a Andorra. Durante esse período tive a sorte de estar num clube que me ajudou em tudo, foram cinco estrelas connosco. Tinhamos planos de treino, fazíamos video-chamadas… Estivemos sempre acompanhados em tudo e mais alguma coisa, nunca nos faltou nada, fosse apoio psicológico, monetário, etc. Cumpriram connosco a 100% e só tenho de elogiar o esforço que o presidente e todo o staff do clube fizeram para manterem os compromissos. Isso é de louvar, ainda para mais, porque hoje em dia e dada a situação, não é fácil os clubes conseguirem cumprir com todos os seus funcionários e isso foi importante para nós mantermos o foco e a motivação nos nossos objetivos. Se já tinhamos que estar motivados por estarmos perto de fazer história, isso deu-nos ainda mais força e sentido de responsabilidade. Isso e, ainda, o facto de podermos igualmente fazer história dentro de todas estas dificuldades. Infelizmente foi uma situação que nos abalou a todos em Portugal e também em todo o Mundo, e eu tive a sorte de estar num clube sério e isso facilitou. Por isso, mais uma vez, fica aqui o meu agradecimento ao Inter, ao presidente e à restante estrutura.

116876653_762758374537735_5325093803167703628_n(Depois de representar Senhora da Hora e Padroense, Ricardo Oliveira concluiu a sua formação no Boavista, onde esteve três épocas – 12/13 a 14/15.)

CR: Voltando ao início desta época, teve a sua primeira experiência no estrangeiro, ao serviço do Lorca na III Divisão de Espanha. Emigrar era um objetivo?
RO: Sim, desde que me lembro de começar a pensar a sério em fazer vida do futebol, que o meu grande sonho era ir jogar para fora. Era uma ambição pessoal, sei que as coisas nem sempre correm bem, mas, até agora, graças a Deus, estas duas experiências oficiais no estrangeiro correram-me muito bem. Conheci pessoas do bem. Pessoas que me ajudaram a melhorar. 

CR: Como surgiu o Lorca?
RO: O Lorca surgiu através de um contacto direto do Pandiani, que me ligou a dizer quem era e eu até pensei que não era verdade, que era alguma brincadeira (risos). Lembro-me bem dele a jogar, via-o na TV, era um jogador com quem me identificava e estava a falar com um ídolo. Ele mostrou que queria contar comigo, disse o que pretendia de mim, que me conhecia melhor do que eu imaginava e eu aceitei ir. Depois foi fácil chegar a um entendimento com a direção, também por esse interesse que ele demonstrou.

CR: Como é Walter Pandiani enquanto treinador?
RO: É um treinador exigente, que é muito sincero e direto e procura sempre tirar o melhor dos jogadores. Sabemos bem da dificuldade que é para um português jogar em Espanha, mas ele acreditou em mim como jogador e como pessoa e ajudou-me a melhorar aspetos físicos e até psicológicos, ao nível da concentração para o jogo e da maneira como reagir às diferentes situações de jogo, um golo falhado ou um passe mal feito, por exemplo. Tudo isso são emoções que ganhas durante o jogo e que tens de saber controlar, porque errar toda gente erra, mas temos de trabalhar para errar o menos possível. Ele ensinou-me que a prática leva à perfeição e passámos horas e horas a praticar, de manhã, de tarde e até à noite se fosse preciso. Melhorei muito como jogador. Tudo o que eu tinha a nível de crer, ambição e resiliência, ele ajudou-me a reforçar tudo isso. 

CR: Já percebi que foi especial para o Ricardo trabalhar com “El Rifle”.
RO: Foi, foi especial porque já me identificava com o carácter dele enquanto jogador e, quando o conheci, provou tudo isso: é uma pessoa lutadora, que dá tudo e quer sempre mais, ambiciona fazer sempre mais e melhor pela equipa e identifico-me plenamente com isso. Como já disse, qualidade existe sempre muita em todo lado onde vais, mas, com ele, aprendi que aquilo que diferencia os jogadores de um patamar de muito bom para excelente ou de bom para muito bom é a capacidade de trabalho e a capacidade de reação às situações menos boas. Porque sobre vitórias é fácil de trabalhar: tens motivação. Difícil é quando não corre bem ou quando precisamos de fazer mais, precisamos de arranjar motivação e arranjar maneiras de trabalhar para sermos bem sucedidos. O Pandiani ensinou-me tudo isso e, quando ganhei estes títulos em Andorra, foi das primeiras pessoas a quem agradeci pelos ensinamentos, pelas conversas extra- futebol e pelo que me ajudou a crescer como pessoa e como jogador. Quando ouves conselhos de uma referência, de alguém que viste jogar e que sabes que naquilo que ele fala podes confiar a 200%, porque sabes que passou por aquilo, é algo que marca. É uma pessoa com quem é fácil conversar, muito humilde, sem interrogações na fala e que quando gosta gosta, quando não gosta não gosta. Identifico-me com ele igualmente por isso, porque também sou assim.

CR: Há alguma história com ele que possa partilhar?
RO: Por acaso até há (risos). Quando viajei para Espanha, a pré-época já decorria há uma semana. Fui de avião e depois apanhei um autocarro e quando cheguei ao clube era de manhã cedo. E pensei: “vou aproveitar esta manhã para descansar”. Entretanto recebo um telefonema do diretor desportivo para me deslocar ao hotel onde ia ficar e pousei as minhas coisas pronto para descansar. Nisto liga-me o Pandiani a perguntar onde estava e eu disse que tinha acabado de chegar e que ia descansar, ao que ele me responde que não havia tempo para descansar, para me preparar rapidamente e deslocar-me ao centro de estágio. E pronto, vieram-me buscar e pensei que ia fazer um treino mais leve ou assim, mas nada disso aconteceu (risos). Pôs-me a manhã toda a correr à volta do estádio sem parar, com mudanças de velocidade, corrida contínua, etc., sempre com a supervisão dele e a “provocar-me” dizendo que naquela semana tinha de encontrar o ritmo dos meus colegas. Isto marcou-me pela ambição, pelo carácter dele e pelo foco no trabalho e ao mesmo tempo foi um “alerta” para mim, isto é, percebi logo que não ia “de férias” nem ia “passear” e que para ser melhor do que os outros tinha de trabalhar mais do que eles.

117231891_1499512810222802_2638962915420469469_n(Ricardo Oliveira foi orientado por Pandiani no Lorca e gostou de trabalhar com o uruguaio que se notabilizou, como jogador, ao serviço do Deportivo.)

CR: A experiência em Espanha foi curta mas enriquecedora, portanto.
RO: Sim, sem dúvida. Como disse, decidi sair porque pressenti que íamos ter dificuldade em subir de divisão. Tinhamos um grupo com qualidade, mas que era jovem e estávamos a ter dificuldade em acompanhar o ritmo de duas ou três equipas mais fortes, com planteis mais experientes e só o 1º classificado é que garantia a subida. Concretizei o sonho de miúdo de querer jogar fora e ter estas experiências, conheci alguém que era e será sempre uma referência para mim e que me ajudou e ensinou bastante, e não esqueço que atenderam a minha ambição e deixaram-me sair.

CR: Antes de emigrar, em 18/19, viveu, certamente, uma época difícil: primeiro está no Fátima onde lida com salários em atraso; depois ruma ao Torcatense e não evitam a descida aos Distritais…
RO: Já nessa época estava à procura de emigrar mas não sucedeu. Quando tenho a oportunidade de ir para o Fátima, fui tentar saber um pouco mais da história do clube, e sabia que era um clube importante, mas não sabia como se encontrava. Quando cheguei estava tudo muito bem, foram sempre corretos, mas depois houve coisas extra-futebol que dificultaram a minha continuidade e quando decidi vir embora, não apanhei a pior fase que “sobrou” para alguns colegas. E tenho pena que tenha ficado pior depois. Mas claro que tiro coisas boas, conheci pessoas excelentes como o mister Kata, uma pessoa espetacular, integra e direta, que tem muito da minha personalidade, é introvertido mas é muito simples e muito puro, e ajudou-me num momento difícil; e o Laranjeiro, grande pessoa e grande jogador que trato por “Sir”, e que também me ajudou porque foi quase uma mudança radical na minha vida. Como vi que não havia solução para os problemas do clube, achei por bem procurar a minha felicidade noutro lugar e balançou o facto de poder ficar perto de casa, da família e dos amigos. Procurei uma solução que me satisfizesse, apareceu o Torcatense, infelizmente aconteceu o que aconteceu e descemos, mas isso faz parte do futebol e temos de levantar a cabeça porque dentro dessa fase aconteceu muita coisa boa também.

CR: Em 17/18 foi Campeão Distrital de Aveiro pelo Lusitânia de Lourosa, por quem venceu, também, a Supertaça Distrital. Fizeram uma época regular e tinham um plantel fantástico, recheado de jogadores com muita qualidade.
RO: É verdade, mas é como eu digo: quando juntas um lote de jogadores em que todos têm qualidade, estás mais perto de ganhar. E foi isso que sucedeu. Não era só o Ricardo Oliveira, o Koneh ou o Léo que tinham qualidade. Todos tinham qualidade. Não tivemos só momentos bons ao longo do ano, também passámos momentos difíceis no início, e quando se está a iniciar um projeto dessa envergardura, qualquer “abanão” pode ser fatal. Tinhamos um grupo unido, forte e de qualidade, soubemos ser humildes, trabalhar e perceber que tinhamos de ir passo a passo. Toda a gente dizia que estava ganho mas nada está ganho até se conseguir. Foi uma época espetacular, em que houve uma grande simbiose entre todos, desde estrutura, jogadores e adeptos, e conseguimos o grande objetivo do clube.

CR: Foi mais fácil para si aceitar o convite dado o projeto que o clube estava a iniciar e os objetivos que tinham para aquela época?
RO: Sim, q
uando tive a primeira conversa com o presidente e com o José Carlos, que era o diretor desportivo, achei logo que era a oportunidade certa. O clube estava a começar um projeto que vai dar ainda mais “cartas” do que as que já deu porque têm condições, porque as pessoas querem e percebem, têm ambição e é um clube com muitos adeptos. Ainda hoje recebo mensagens de adeptos e de pessoas que sempre me trataram bem e que guardo no meu coração. Não nasci lá mas aprendi a gostar, aprendi a sentir, é algo que tento fazer sempre em todas as camisolas que visto porque penso nas pessoas que vão ver os jogos e ali não iam algumas, iam muitas e a todo o lado, fosse em casa ou fora, perto ou longe, e até a treinos iam. E, no fim, isso também foi muito importante para conseguirmos o grande objetivo. Essa época foi uma grande alegria e espero que o clube continue a subir porque aquelas pessoas merecem.

CR: Curiosamente, já tinha conhecido o Campeonato Distrital de Aveiro na segunda metade de 16/17 em representação do Alvarenga, onde integrou um plantel maioritariamente composto por brasileiros, fruto da SAD do clube ser detida precisamente por investidores brasileiros. Isto surpreendeu-o de alguma forma?
RO: Não. Eu gosto de estar informado do contexto que vou encontrar e quando abordei a situação com o mister Pedro Costa, ele prontamente me explicou o projeto e eu próprio procurei saber mais sobre ele. Sabia que ao aceitar, e conhecendo o mister, a exigência no treino seria máxima pelo que não ia perder ritmo, antes pelo contrário, poderia mantê-lo e procurei, dentro da minha cabeça, ajudar esses miúdos que têm o sonho de chegar a outro nível. Alguns têm muita qualidade, outros têm muita vontade, mas tinhamos um coletivo muito forte porque o mister Pedro Costa é uma pessoa do coletivo e potenciava isso, fazíamos muitos convívios regularmente e falávamos imenso uns com os outros. Havia dois ou três jogadores com quem tinha uma grande “química” dentro de campo, como o Luisinho e o Milton, e fizemos uma excelente campanha na Taça, em que passámos uma eliminatória difícil nas Meias-Finais, com o Paivense, e esse jogo catapultou-nos, ficámos com uma moral grande, e, na final, acabámos por perder nos penaltis contra uma grande equipa do Esmoriz. Merecíamos mais, estivemos muito perto, mas é futebol.

116877352_302011844378184_8711552659388615575_n(Ricardo Oliveira em ação durante o Alverca 0-1 Fátima da 3ª Jornada da Série C do Campeonato de Portugal 2018/2019.)

CR: Gostou do nível da AF Aveiro?
RO: Para a realidade que é, o nível é bom. Existe de tudo, como é lógico, mas penso que não existe regularidade nas equipas porque um jogador que sobressair numa equipa mediana, na próxima época vai para uma boa e as equipas que descem aos Distritais estão sempre mais perto de subir novamente. É difícil haver continuidade nos planteis a este nível e isso prejudica muitos clubes. E têm a AFATV, que é um projeto que eu tenho de parabenizar. Se houvessem mais assim, o futebol seria melhor. É um projeto que dinamiza, ajuda os jogadores a evoluírem, as gravações de jogos são em alta definição e isso também é importante para trazer outra competitividade ao próprio campeonato, porque se fala, se aborda e estimula os jogadores. 

CR: O Ricardo mudou-se para o Alvarenga oriundo do Sertanense, onde fez apenas um jogo em cerca de quatro meses, e até fez um golo nesse jogo no Campeonato de Portugal. Como surgiu este convite e o que falhou nessa passagem?
RO: O convite surgiu através do treinador, Gonçalo Monteiro, que me conhecia e entrou em contacto comigo. Nessa altura em que fui para a Sertã estava numa altura conturbada por causa da morte de um dos meus melhores amigos – Diogo Gomes. Era um assunto que ainda estava “fresco” na minha cabeça e senti que não estava com dimensão psicológica para esse desafio, até fiz um golo no único jogo que fiz, mas não estava bem e precisava de ir para a beira de casa. Naquele momento o futebol não era o mais importante. Aquele acontecimento marcou a minha vida para sempre. Por isso, achei que precisava de estar perto de casa, da minha família e dos meus amigos e decidir sair do Sertanense. Depois apareceu o convite do mister Pedro Costa, que tinha jogado comigo no Boavista e até foi meu treinador nos Juniores durante alguns meses, e foi espetacular comigo: ajudou-me a ser melhor e retirou o melhor de mim. Foi um grande jogador, é um grande treinador e deu-me a possibilidade de estar perto dos meus quando mais precisava.

CR: O Distrito de Aveiro está bem presente na sua carreira: foi ao serviço da Sanjoanense que se estreou como sénior, então no Campeonato de Portugal, mas imagino que tenha sido um primeiro ano de sénior bem longe daquilo que certamente queria e idealizava…
RO: Posso-te dizer que tive uma espécie de duas épocas dentro de uma: primeiro, com o Ricardo Sousa, as coisas correram bem, porque jogava e sentia-me confiante, a gente andava bem, tinhamos um plantel com muita qualidade, com jogadores como André Pereira e Ronan, por exemplo, e os treinos de conjunto à quinta-feira eram como se fossem jogos porque a competitividade era brutal. Então até Janeiro estava bem, com uma pessoa conhecedora do futebol, com grandes métodos e que me transmitiu ensinamentos sobre o futebol profissional, tanto ele como o Cândido Costa, que era o adjunto. Entretanto dá-se a saída deles, eu tenho até uma oportunidade de sair para um patamar diferente, não interessa agora para onde porque não aconteceu, e isso, parece-me, criou mau estar junto do treinador seguinte, que foi o Flávio das Neves. Na segunda volta faço dois jogos, num deles faço golo ao Mortágua e só volto a jogar na segunda fase, na fase de manutenção, também contra o Mortágua, ou seja, passados uns oito ou dez jogos. Tive duas experiências no mesmo ano, mas aprendi com os dois e isso fez-me perceber como são as coisas no futebol. Comecei a época a dar continuidade ao que fiz nos Juniores, a ter minutos e depois na segunda metade senti necessidade de ter de trabalhar mais no silêncio e esperar oportunidades. O futebol é mesmo assim, umas vezes um treinador acha que és peça importante e outro acha que és peça secundária. Mesmo assim trabalhei sempre para poder ter oportunidades e quando tive respondi. Gostei muito de jogar na Sanjoanense, um clube espetacular, e foi um primeiro passo importante no futebol sénior.

CR: Dividiu a sua formação entre Senhora da Hora (Escolas e Infantis), Padroense (Iniciados e Juvenis) e Boavista (Juvenis e Juniores). Ou seja, conheceu três realidades diferentes dentro do próprio futebol de formação.
RO: Até comecei no futsal do Boavista, onde conheci o Diogo Gomes, e fui Campeão nas Escolinhas. Mas queria experimentar o futebol de 11 porque os meus amigos jogavam todos e tive até a oportunidade de ir para o FC Porto, onde estive uma semana. Só que não me identifiquei. Não tinha amigos lá e não quis ficar. Como praticamente todos os meus amigos e alguns vizinhos jogavam no Senhora da Hora, decidi ir para lá e foi importante porque naquela altura eu queria era ser feliz. O futebol não era profissão, nem eu tinha noção dessa realidade logicamente, era um passatempo e queria era divertir-me. Estava perto de casa, fazia o que queria e estava com os meus amigos. Isso era o mais importante. Depois vem o convite do Padroense, um clube a crescer, que no período em que lá estive lutou até para subir à II Liga, e aprendi muito lá. É uma grande escola, com grandes treinadores, o Dr. Vasco Pinho e o Sr. Germano Pinho, presidente e vice-presidente na altura, eram pessoas espetaculares, sempre presentes junto dos jovens e que tinham a formação como principal objetivo do clube, e, hoje em dia, temos a prova de que isso é importante no futebol. Sabia que era um sítio ótimo para me desenvolver como pessoa e como jogador, já tinham saído de lá jogadores como Arsénio e André Simões, e como era perto de minha casa, foi uma escolha acertada, e ganhei, também, dois títulos, um nos Iniciados e outro nos Juvenis. Depois quando surgiu o Boavista, tive mais dois clubes interessados mas optei pelo Boavista porque as pessoas demonstraram mais interesse. E como andava na Escola Clara de Resende, que é ao lado do Bessa, achei que era a situação certa e a oportunidade ideal. Até jogava a 8 ou a 10 no primeiro ano de Juvenil, mas depois, através do Almeidinha, que foi um grande jogador do Boavista, passei a avançado porque ele acreditou que tinha características para jogar a avançado e potenciou-me nesse sentido, ajudou a mentalizar-me disso. E curiosamente no primeiro jogo que fiz na frente marquei golo e nunca mais saí dali. Fiz muitos jogos e muitos golos nesse ano desde a entrada dele, numa altura em que o Boavista, em seniores, ainda estava naquela realidade diferente de jogar na II Divisão. Acabei por, mais tarde, treinar e jogar com os seniores e fiz um jogo contra o Estarreja em que substitui o Fary e isso foi muito simbólico. Senti o sonho ali e foi importante porque deu-me ainda mais vontade e ambição.

116884358_630265957910807_5583823827815890492_n(Foi chegar, ver e vencer: em pouco mais de seis meses ao serviço do Inter D’Escaldes, Ricardo Oliveira conquistou dois títulos em Andorra.)

CR: Quando concluiu a formação já o Boavista tinha voltado à I Liga. Acreditava que podia integrar o plantel sénior ou pelo menos fazer a pré-época?
RO: Não, porque, na altura, percebi que o meu caminho não seria ali mas sim noutro lado. Muitas das vezes, no futebol de alto nível, as oportunidades não são dadas só pela qualidade do jogador e do trabalho dele, mas sim por outras coisas. Então, por força de muitas situações que foram acontecendo no meu último ano de Júnior, percebi que não seria aposta do clube. Mas não me esqueço de agradecer ao Boavista, porque foi uma escola muito importante para mim tanto a nível pessoal como profissional, num período coincidente com a minha juventude. E também não sou pessoa de querer saber as razões e os porquês das coisas. Se não aconteceu é porque não tinha de acontecer, o mais importante foi olhar em frente naquele momento, até porque para a frente é que é o caminho, como se costuma dizer. Tive as oportunidades no clube que as pessoas acharam convenientes para mim e, depois, fui à luta, que é isso que gosto e é a minha maneira de estar na vida e no futebol. Tive dentro do clube nos tempos difíceis dele, sei como foi difícil para darem a volta por cima e as pessoas sempre foram lutadoras, autênticas guerreiras, iam buscar forças onde não tinham para que o clube sobrevivesse. Tenho, enquanto jogador, muito daquilo que é o “ADN” do Boavista: raça, crer e ambição, e lá reforcei muito isso. Ajudaram-me a formar como jogador e, sobretudo, como Homem, por isso, só tenho coisas boas a dizer do clube e das pessoas que lá estavam na altura. Passava muito tempo no Bessa e no Boavista e foi uma passagem muito importante para mim, onde pude completar a educação que tive em casa e que os meus pais me deram. Lá ensinaram-me que a persistência é o caminho do êxito e é isso que levo para a minha vida. Guardo muito carinho e muita estima pelo Boavista, uma casa onde fui muito feliz e onde passei três anos muito bons.

CR: Voltando à atualidade e ao seu futuro: vai continuar no Inter Escaldes?
RO: Não. O meu contrato acaba dia 15 de Agosto, tenho algumas abordagens, sobretudo do estrangeiro, que é onde desejo continuar, e ainda estou a analisar o que será melhor para mim.

CR: Porque razão não quis renovar?
RO: Foi intuição minha. A vida passa rápido e a de jogador ainda mais. Temos de correr atrás dos nossos sonhos, das nossas ambições, e como ali já ganhei tudo o que tinha para ganhar, decidi dar um novo rumo à minha carreira. Sentia-me muito bem no clube, mas não sou pessoa de me acomodar. Conversei com a minha família, principalmente com o meu Pai, que é uma pessoa muito importante na minha vida, e cheguei à conclusão que estava na altura de procurar outro desafio.

CR: Em relação ao futuro mais longínquo, quais são os seus objetivos? Tem alguma meta ou competição que gostasse especialmente de jogar?
RO: Sou muito de pensar no passo seguinte. Sou sonhador mas não penso muito para além daquilo que posso. Não penso no futuro longínquo, penso sempre no “amanhã”. Para mim, o desafio mais importante é sempre o seguinte. Nem tenho ambição de jogar nesta Liga, neste País, neste clube ou nesta competição. Vou para onde me querem, onde acho que vou retirar o melhor de mim, onde me vou sentir bem e onde posso evoluír, porque estamos constantemente em evolução. Penso muito assim: em integrar um projeto onde acho que me vou sentir bem, onde posso ajudar e onde posso ganhar, sobretudo isso, ganhar. Ainda tenho muito que trabalhar e “andar”, por isso, só quero parar quando já não der mais, que espero que seja muito mais lá para a frente (risos).

CR: Há mais alguma história que possa partilhar?
RO: Lembro-me de uma no Boavista, quando era júnior e ia treinar aos seniores, em que eles me queriam rapar o cabelo. Eu, na altura, usava o cabelo grande e quem me safou foi o Frechaut, que me avisou a tempo (risos). Então, naquele dia, eu em vez de me equipar no balneário da equipa principal, equipei-me noutro e só me apresentei para treinar já no relvado (risos).

CR: Quer deixar uma mensagem final?
RO: Quero agradecer-te a oportunidade de partilhar a minha história e dar-te os parabéns pelo trabalho, que é um trabalho que devia ser feito mais vezes e que faz falta ao “Mundo do futebol”. E quero igualmente agradecer aos meus pais, que são pessoas muito importantes na minha vida, à minha familia, à minha namorada e aos meus amigos, mas, principalmente, ao meu seio familiar, porque me respeitam e ajudam a concretizar os meus sonhos e isso é muito importante para mim, porque me sinto seguro e tranquilo a fazer o que gosto, e faz com que, dia após dia, lute pelo meus sonhos, pois são os sonhos que nos mantêm “vivos” e que nos fazem querer sempre mais e melhor.

116875528_852890128450754_4099018614304956931_n(Ricardo Oliveira ajudou o Lusitânia de Lourosa a vencer o Campeonato Distrital e a Supertaça da AF Aveiro em 2017/2018.)

De Primeira

CR: Qual o melhor momento da sua carreira até agora?
RO: A ‘dobradinha’, por terem sido os primeiros troféus fora do País.

CR: Qual o adversário mais difícil que já defrontou?
RO: Nicolás Medina.

CR: Qual o melhor jogador com quem já jogou?
RO: Gabriel Cichero e Bruninho.

CR: Que treinador mais o marcou até hoje?
RO: Pedro Costa e Walter Pandiani.

CR: Em que ponta de lança atual se revê?
RO: Karim Benzema.