Rafael Floro: “O que me dá mais prazer é jogar com os estádios cheios”

floronovi(Rafael Floro precisou de pouco tempo na Sérvia para fazer um grande golo.)

Foi com um autêntico golaço que Rafael Floro se estreou a marcar pelo Novi Pazar: contratado no último Verão pelo emblema sérvio, o lateral esquerdo abriu caminho à vitória da sua equipa sobre o Vojvodina (3-1), somando, até ao momento, 8 jogos pelo atual 6º classificado da I Liga a par do Cukaricki.
Quem olha para a carreira do futebolista natural de Quarteira, repara de imediato que este gosta de desafios: com passagens pela formação de Sporting e FC Porto, o esquerdino já atuou em Inglaterra ao serviço do Sheffield Wednesday e mais recentemente somou experiências na Lituânia (Stumbras e Panevezys) e na Finlândia (AC Oulu), tendo ainda representado Belenenses, Gil Vicente ou Olhanense.
Atualmente com 29 anos, Rafael Floro, que foi 8 vezes internacional por Portugal entre os Sub-18 e os Sub-20 e disputou o prestigiado Torneio de Toulon em 2014, confessa nesta entrevista que gostava de jogar na nossa I Liga, mas admite que, caso não consiga atingir esse objetivo, a sua vontade passa por continuar em Países cujo futebol é vivido de forma intensa como acontece na Sérvia:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Estreaste-te a marcar na Sérvia com um golaço. A tua ideia foi sempre rematar, ou decidiste arriscar apenas no momento?
Rafael Floro: O guarda-redes esticou na frente, o central cortou a bola e eu estava ali próximo, porque normalmente apoio sempre o extremo para a segunda bola. Ela sobrou para mim, eu dominei de peito e entretanto o Adem [Ljajic], que jogou na Fiorentina, Inter de Milão, Besiktas, fez o overlap e pensei em dar-lhe a bola, mas depois vi que nenhum defesa estava a vir, tinha espaço para rematar e decidi tentar a minha sorte. De vez em quando acerto ali de longas distâncias (risos) e fiz um bom golo. Depois fui festejar com os adeptos que nós temos, que são fantásticos.

Pode dizer-se que foi um bocadinho o teu cartão de visita para os adeptos? Achas que agora ficaste apresentado?
Não sei, aqui temos de ir jogo a jogo. Eu estive muito tempo parado, por isso é normal não estar logo a 100 por cento quando cheguei. Tive de recuperar tudo, o ritmo de jogo, a confiança.

Quais são os objectivos para a época, individuais e colectivos?
A nível individual, é fazer assistências, golos, minutos. Colectivamente, eles falam muito da Liga Europa, mas eu cada vez mais percebo que aqui tem de se ir jogo a jogo, porque os jogos aqui são muito equilibrados, as equipas não são muito consistentes. Na nossa equipa entraram agora vários jogadores de enorme qualidade que estiveram vários meses parados e estão a recuperar a forma, o treinador também é novo, leva sempre algum tempo até impor as suas ideias, mas já estamos a jogar melhor futebol, estamos mais unidos também, com uma energia mais positiva, e os resultados estão a começar a aparecer, mesmo contra equipas fortes. Agora é ver se damos continuidade, ainda que os dois próximos jogos sejam muito difíceis, contra o TSC, que defrontou o Braga, e depois o Partizan em casa, num jogo que vai ser à porta fechada.

floropanevezys(Ao serviço do FK Panevezys, o esquerdino conquistou a Taça e a Supertaça da Lituânia.)

Porquê?
Porque eles aqui gostam muito de futebol, na nossa cidade (na Sérvia deve ser o Red Star, o Partizan e depois nós que temos as maiores claques), e gostam de atirar petardos, tochas, fogo de artifício, e houve um jogo, depois da nossa segunda derrota, em que atiraram para o campo e acertaram no nosso guarda-redes e no central. Depois a federação decretou dois jogos à porta fechada. Mas pelo que me dizem, aqui é normal (risos)! Aqui são adeptos fervorosos, não só no futebol, no basquetebol por exemplo também.

Já vais tendo algum conhecimento do futebol na Sérvia. Que tens a dizer da qualidade? Surpreendeu-te de alguma forma?
Quando estive no Panevezys já tinha jogado na Conference League contra o Vojvodina, curiosamente a equipa a quem marquei agora. O futebol tem intensidade, tacticamente é bom, fisicamente também. Mas é mais do mesmo, o futebol hoje em dia é tudo muito igual, com o conhecimento que há hoje.

E adaptaste-te bem?
No início não foi assim muito fácil, porque nem toda a gente aqui fala inglês. Mas tive de ver como são as coisas, também já tenho a experiência de outros países, sei como são as coisas. Faço à minha maneira, vou com calma, pensamento positivo e as coisas acontecem na hora em que têm de acontecer.

florogil(O Gil Vicente é um dos clubes que o lateral já representou no nosso País.)

Já tens alguma história curiosa para contar aí?
Depois de um treino ofereceram-nos um jantar num restaurante e os donos puseram uns cachecóis do clube à volta da mesa, na parede, e depois começaram a mandar petardos, a acender tochas e a cantar no meio do jantar! Até partilhei nas minhas redes sociais. Dá um ambiente diferente, em Portugal acho que é proibido, mas aqui qualquer treino, qualquer jogo até choram para atirar petardos e tochas (risos)! Quando fomos ao Red Star, estavam cerca de 35 mil adeptos no estádio, eles fizeram a coreografia, ficou um ambiente que eu nunca tinha vivido e que vou levar para a vida. Até gravei.

Qual é a vossa média de adeptos em casa?
Os nossos primeiros dois jogos foram à porta fechada (risos). Depois tivemos um jogo com 4 mil, depois no outro foram 6 ou 7 mil. Dizem que costuma ser à volta disso. O estádio leva 10 mil. Os nossos adeptos têm uma espécie de pacto com o Fenerbahçe, nesta cidade há muitos turcos. No nosso estádio costumamos ter muitos adeptos com a camisola do Fenerbahçe, às vezes é metade-metade.

E como é a vida aí? O clima, a comida, as pessoas…
Por acaso até me surpreendi com as pessoas, fazem-me lembrar um bocado os brasileiros. São muito abertos, sempre a sorrir e a querer brincar. Na cidade, como somos jogadores, querem-nos sempre pagar tudo, não nos deixam pagar nada. Querem sempre tirar fotografias… Eles adoram mesmo o clube da cidade. Os sérvios são fixes (risos)! Na Lituânia e na Finlândia é diferente, são mais frios, mais fechados e não ligam tanto ao futebol. Em termos de clima também me surpreendeu, faz-me lembrar Portugal. No jogo deste fim de semana estavam 26 graus, mas como é uma região montanhosa, à noite pode fazer 3 ou 4 graus. A diferença é grande. Acho que agora vai começar a fazer mais frio, à tarde vai estar por volta de 14 graus e à noite 0 ou 1. Mas no verão andava sempre à volta dos 35, 36. Eu estava habituado às temperaturas da Finlândia e da Lituânia, para mim foi espectacular, porque não gosto de frio. Mas com o que passei lá, já nenhum frio me afecta (risos)! Comida, gosto de todo o tipo, mas eles têm algumas coisas específicas como hambúrgueres ou salsichas que eles fazem com as carnes deles. E como é uma zona com muitos muçulmanos, fazem muito kebab e assim, mas com um toque sérvio. Eu gosto da comida deles. Eles têm um pequeno almoço que se chama “mantie”. Não sou muito de comer doces, mas às vezes no fim dos jogos como qualquer coisa e eles fazem doces parecidos com os portugueses, metem muito açúcar como eu gosto (risos). Mais uma vez, prefiro a comida deles à dos lituanos ou dos finlandeses.

florosheffield(O Sheffield Wednesday foi o primeiro clube que Floro representou no estrangeiro.)

Como surgiu a oportunidade de ires para a Sérvia?
Eles viram-me quando joguei contra o Vojvodina, e entretanto conheci um empresário com contactos cá. Ele falou com o treinador, que gostou do meu perfil, viu jogos meus e quis que eu viesse, mas queria saber como é que eu estava fisicamente. Vim, estive 5 dias a treinar, eles gostaram, viram que eu estava bem, e fiquei.

Tu não tens medo de arriscar e partir à aventura, o teu currículo fala por si. Depois de vários clubes na formação, entre os quais o Sporting e o FC Porto, foste para o Sheffield Wednesday logo com 19 anos. Como aconteceu essa mudança?
O clube mostrou interesse, falou com o Porto e eles aceitaram, ficaram com uma percentagem de futura transferência. O Capucho, que era o treinador dos juniores, queria apostar no Rafa Soares e eu falei com o Luís Castro, que era o coordenador, para sair, porque tinha equipas da I Liga interessadas, mas ele não deixou. Quando és júnior de segundo ano, se não jogas, é difícil dar o passo seguinte, pelo menos na altura era. E eu tinha o desejo de continuar a ir à selecção e jogar a um nível alto, e graças a Deus apareceu a hipótese de ir para Inglaterra, numa liga espectacular em comparação com a II ou até mesmo a I portuguesa, e foi das melhores experiências que tive na vida. E espero um dia voltar, seja como jogador ou treinador. Inglaterra é mesmo o mundo do futebol.

E como foi o impacto de jogar no futebol inglês no primeiro ano de sénior?
Era um miúdo, não tinha noção nenhuma, cheguei lá e era um mundo à parte. Fomos fazer um jogo-treino, que em Portugal normalmente é à porta fechada, ali contra uma equipa da League Two ou League One, o estádio a levar 10, 12 mil pessoas! Eu estava habituado a jogar nos juniores com 400, 500 pessoas… Mas adaptei-me. Fiz 2 jogos, treinava com a equipa principal e jogava nas reservas. Depois pronto, às vezes não temos calma, queremos as coisas para ontem e tomamos más decisões. Errei nesse aspecto.

rafaelfloro(Antes de se mudar para a Sérvia, o lateral atuou nos finlandeses do AC Oulu.)

Estás a referir-te à saída para o Belenenses no verão de 2015.
Sim. Havia ofertas de clubes da League One, mas vários empresários contactaram-me a informar do interesse do Belenenses, fizeram-me a oferta, o presidente [Rui Pedro Soares] disse-me que o Filipe Ferreira ia ser vendido para a Grécia e que eu iria jogar. Assinei por 4 anos, e se calhar foi um dos maiores erros que eu fiz. Mas é assim, quando somos novos, se não tivermos o acompanhamento correcto, tomamos decisões precipitadas e depois temos de correr atrás.

Acabaste por fazer apenas uma pré-época lá, certo?
Não, eu estive lá 6 meses. Eles queriam-me inscrever, mas depois contrataram jogadores a mais, tiveram de rescindir com 2 para abrir vaga, uma confusão… E depois sobrou para mim, o miúdo. Abri a vaga, continuei a treinar com a equipa e depois queriam-me emprestar, mas com o Casa Pia foi mais uma confusão. Foi só confusões no Belenenses! Fui para o Casa Pia, fiz uns quantos jogos, até marquei, mas depois o Belenenses chamou-me de volta e o presidente não quis que eu voltasse para o Casa Pia. Em Janeiro chegou um treinador novo, o Júlio Velázquez, e disse que contava comigo; chegou ao último dia do mercado e disse que já não contava, porque só podiam inscrever 5 novos jogadores. O presidente queria-me mandar para o Bragança e eu já andava ali há 6 meses de um lado para o outro, uma confusão do caraças, então decidi: ‘Vou para o pé da minha família, preciso de pôr a cabeça no lugar’, e fui para o Almancilense. Acho que no Belenenses ficaram chateados, mas é assim a vida.

Depois vais para o Louletano já sem vínculo com o Belenenses?
Sim. Joguei lá 6 meses e depois fui para o Gil Vicente, apareceu a oportunidade de ir para a II Liga.

E depois do Cova da Piedade, como surge a possibilidade de ires para a Lituânia?
No Cova da Piedade não joguei muito. Entretanto acabou o campeonato, eu não queria voltar para o CNS, queria manter-me numa liga profissional, fiquei à espera, até que apareceu um empresário com a proposta do Stumbras. Eu não tinha mais nada e fui experimentar. Era um clube quase português, o Mariano Barreto era tipo o dono. Foi uma experiência diferente, o campeonato até me surpreendeu, não conhecia nada. Qualificámo-nos para a Liga Europa e queriam que eu ficasse para o ano seguinte, mas eles atrasavam sempre nos pagamentos e por isso decidi voltar para Portugal, apesar de ter gostado muito do treinador, que mais tarde voltei a apanhar no Panevezys [João Luís Martins] e também alguns colegas.

florobelem(A experiência do algarvio no Belenenses não lhe correu como desejava.)

Vieste acabar a época 2018/19 no Felgueiras.
Sim. Fiz lá 2 bons meses, fiz golos e assistências, estive na Equipa do Mês logo no primeiro mês e no fim do segundo fui eleito para a Equipa do Ano. Depois o campeonato lá terminou, fiquei á espera de algo melhor, não apareceu nada e entretanto apareceu o Felgueiras, que queria subir. Não aconteceu, e depois apareceu o Olhanense, perto de casa, salário bom para o nível do CNS. Fizemos uma equipa do caraças, chegámos a ter 10 pontos de avanço, mas mais uma vez as histórias que acontecem em Portugal: primeiro disseram que era para jogar eu, porque o miúdo que lá estava [Leonardo Lelo] ia ser vendido, já estava tudo certo para o Benfica; entretanto não o venderam e tinha de jogar, porque era um activo do clube e queriam vendê-lo, e sobrou para mim, que tinha de arranjar clube porque tinha um salário alto. Acabou por aparecer novamente a Lituânia, com um clube que tinha acabado de subir à I Liga e tinha um projecto de ir à Liga Europa; pensei que podia ser engraçado e fui, porque não tenho medo de arriscar. Só preciso de ter a bola no pé, de resto está tudo bem (risos)!

Nessa segunda passagem pela Lituânia ganhas a Taça e a Supertaça. Foi a melhor fase da tua carreira?
Em termos colectivos, sim. Ao início foi complicado porque tínhamos um treinador moldavo que treinava à moda antiga: correr, subir bancadas, subir montanhas. Depois mandaram-no embora, porque não tínhamos resultados, e veio o João, que nos pôs a jogar futebol. Ganhámos a Taça que ninguém estava à espera, porque éramos dos últimos no campeonato, qualificámo-nos para a Conference, a primeira edição, e depois ganhámos a Supertaça e ficámos em quarto, qualificámo-nos novamente para a Europa. Joguei grande parte da época a lateral-direito, porque lá há limite de estrangeiros e o anterior treinador tinha ido buscar dois estrangeiros para a mesma posição. Então o mister João quis usar os 2 e pôs-me à direita. Eu não gostava muito, nos primeiros 4 ou 5 jogos estava um bocado chateado porque não podia fazer as minhas movimentações normais, mas evoluí noutros aspectos: a defender, a trabalhar outra parte do corpo, e depois comecei a ver que podia rematar de fora da área, comecei a marcar uns golos engraçados (risos) e a achar piada à posição, podia rematar mais puxando para dentro – a lateral-esquerdo não tenho tanta hipótese. Depois fui para a Finlândia e aí foi a melhor época em termos individuais.

Como se deu essa mudança para a Finlândia?
Eu quero estar sempre em campeonatos melhores, onde o futebol seja mais valorizado. Lá vivem mais o futebol, há melhores estádios, é mais competitivo. O treinador também era português, contava comigo, e o salário também era um bocadinho melhor. Além disso, no Panevezys o treinador ia embora, para o Marítimo, e com essa incerteza e o convite da Finlândia, arrisquei e acho que foi a melhor opção.

floroporto(Rafael Floro, aqui em ação pelos Juniores do FC Porto num amigável diante do Paivense em Novembro de 2012, esteve duas épocas nos “dragões”.)

Qual foi o sítio onde gostaste mais de jogar? Qual se adaptou melhor às tuas características?
O que mais gostei foi em Inglaterra. Claro que gostei de jogar nos ‘grandes’, Sporting, FC Porto, mas nessa altura era muito novo. Hoje, com outra experiência de vida, penso que se jogasse em Inglaterra com esta experiência as coisas seriam diferentes. Eu aproveitei cada momento ao máximo, gostei de todos, mas se pudesse voltar atrás, teria ficado sempre em Inglaterra, porque é onde se vive o futebol a 200 por cento. Apesar de ter sido mais feliz na Lituânia. Aqui na Sérvia está a ser fantástico, sou muito acarinhado pelas pessoas na rua, também pelo facto de ser português, fazem sempre referência ao Ronaldo, os mais novos estão sempre a gritar ‘Siiiiim’. Por isso gosto bastante de estar aqui. Vamos ver como corre.

Como te descreves enquanto jogador? Quais as tuas maiores qualidades e onde achas que ainda podes melhorar?
Remato bem, sou rápido, dinâmico. Melhorar… Há sempre alguma coisa. Aspectos tácticos, jogo aéreo, trabalhar mais o pé direito. Com o passar dos anos melhorei bastante a concentração, o jogo defensivo. Antes era um lateral muito ofensivo, hoje vou mais pela certa, pelo menos aqui na Sérvia, como jogamos com extremos não posso arriscar muito nem subir tanto.

Quais os teus ídolos de infância? Em quem te revias/revês na tua posição?
O meu jogador preferido sempre foi o Roberto Carlos. Depois, queria ser extremo e gostava do Ronaldo na altura do Manchester United, do Quaresma, íamos para a rua fazer as fintas deles. Depois quando comecei a jogar a lateral comecei a gostar muito do Marcelo. Gosto muito do Cancelo, que foi meu colega [nas selecções jovens].

floropt(A 23 de Maio de 2012, Rafael Floro, que é o número 5, somou a segunda de oito internacionalizações por Portugal no Restelo. Em cima, da esquerda para a direita: Jorge Azevedo, Tobias Figueiredo, Carlos Daniel, Luis Cortez, Fábio Cardoso e José Costa; em baixo, pela mesma ordem: Rafael Floro, Frédéric Maciel, João Teixeira, Filipe Chaby e Iuri Medeiros.)

Que treinador mais te marcou?
Bruno Saraiva, no Inter de Almancil. Depois de sair do Sporting, fui para a Académica e depois voltei ao Algarve e queria desistir do futebol. Acabei por ir para o Inter de Almancil e ele mudou a minha mentalidade, a minha maneira de pensar, fez com que acreditasse em mim e desde então foi sempre a subir, consegui ser profissional de futebol. Teve muita influência para eu conseguir cumprir o meu sonho e tentei sempre levar para a minha vida esses ensinamentos dele. Ajudou-me bastante, e depois fui para o FC Porto. E depois tive outros treinadores de quem também gostei muito, como o João Luís Martins. O Luís Castro não foi meu treinador mas agora gosto muito dele como treinador, se calhar teria desfrutado se o tivesse tido como treinador na altura. Gosto da maneira como ele lida com os jogadores.

Que objectivos ainda esperas atingir na carreira?
Eu quero atingir o nível mais alto que conseguir. Se calhar a minha ideia não será a mais lógica para outras pessoas, mas eu quero tentar chegar a um nível que poderia ter chegado mais cedo. Gostava de jogar na I Liga portuguesa, mas sei como funcionam as coisas. Se der, melhor; se não, que seja uma liga que viva o futebol, que encha os estádios. Claro que o salário é importante, mas a mim o que me dá mais prazer é jogar com os estádios cheios, num ambiente onde as pessoas da cidade gostem do clube, como aqui na Sérvia. Se puder jogar sempre nesses ambientes assim, é o que eu mais quero. O melhor que levamos quando terminar a carreira são as memórias, a adrenalina de jogar com os estádios cheios. Nesse aspecto, sempre desejei jogar na Sérvia e graças a Deus consegui. Agora é continuar e esperar que não haja muitos mais jogos à porta fechada (risos)!

Liga 3: mudança de ano trouxe uma nova Académica

academica(O onze inicial escolhido por Zé Nando para defrontar a União de Leiria no passado dia 15 de Janeiro. Créditos de imagem: facebook da Académica.)

Após um início de época negativo, a Académica vive, atualmente, o seu melhor momento em 22/23: ao derrotar esta manhã o Fontinhas, por 1-0, a “Briosa” somou o segundo triunfo consecutivo e venceu o terceiro dos últimos quatro jogos que disputou, ocupando agora o oitavo lugar na Série B da Liga 3.
Em estreia absoluta no terceiro escalão do nosso futebol, os “estudantes” não entraram da melhor forma na Liga 3, registando uma vitória e seis derrotas nas primeiras sete partidas, desempenho que originou a troca de treinador, com Miguel Valença a deixar o cargo no final de Outubro e a ser rendido por Zé Nando, nome histórico do clube enquanto jogador.
A “chicotada psicológica” resultou de imediato, com o até então diretor desportivo a vencer o Vitória FC por 3-0 logo na sua estreia, contudo, até ao final do ano civil de 2022, a equipa não voltou a ganhar, registando dois empates e duas derrotas que a deixaram no último lugar com apenas oito pontos e a doze de distância do quarto classificado, que, como se sabe, dá acesso ao play-off de subida.
Mas com a chegada do novo ano, veio também uma “nova” Académica: logo no primeiro jogo que disputou em 2023, no passado dia 7, o emblema de Coimbra foi ganhar à casa do líder, Amora, por 4-3; na jornada seguinte perdeu no seu reduto com a União de Leiria (1-3); e depois voltou à senda das vitórias, derrotando o Sporting B em Alcochete (3-1) e o Fontinhas em casa, alcançando assim, pela primeira vez na época, dois triunfos consecutivos.
Neste momento, a faltarem seis partidas para o fim da primeira fase, a “Briosa” subiu ao oitavo posto, com dezassete pontos, e está, provisoriamente, a oito dos lugares que dão direito a lutar pela subida, embora essa distância possa, no final desta ronda, ser de nove pontos, dado que Belenenses e União de Leiria encerram hoje a Jornada 16, e, em caso de triunfo, os “azuis do Restelo” ascendem ao quarto lugar com vinte e seis pontos.
Ainda com legítimas aspirações de garantir uma vaga na fase de promoção, a Académica parece estar, finalmente, no caminho certo, depois de ter feito uma primeira metade de campeonato bem aquém das expetativas.

Rafael Lopes: em busca de engrandecer o palmarés

rafaellopes

Rafael Lopes, ponta de lança que representa os cipriotas do AEK Larnaca, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

É um dos portugueses que mais tem deixado marca no estrangeiro nas últimas épocas e aos poucos tem vindo a ganhar o seu espaço no AEK Larnaca, para onde se transferiu no último verão após três épocas na Polónia. Rafael Lopes soma 6 golos no conjunto cipriota, com o que apontou na pretérita jornada a ser garantidamente o mais bonito, num remate acrobático que abriu a vitória por 2-0 em casa do Paralimni na ronda 13 do campeonato.

Esta é já a quinta temporada do avançado natural de Gemeses, concelho de Esposende, a jogar longe de Portugal. Tudo começou em 2017/18, quando deixou o Chaves para rumar ao Omonia, um dos principais emblemas cipriotas. Marcou 7 golos em 27 jogos e regressou ao nosso país no fim da temporada para representar o Boavista, mas no verão de 2019 voltou a emigrar, desta feita para a Polónia, assinando por dois anos com o Cracóvia.

Ali seria imensamente feliz, apontando 13 golos (segunda melhor marca da carreira) e levantando a Taça como capitão após vitória por 3-2 sobre o Lechia Gdansk na final (curiosamente também capitaneado por um português, Flávio Paixão). A belíssima temporada acabaria por precipitar a mudança para o bem mais ambicioso Legia, o maior clube do país, sagrando-se desde logo campeão pela primeira vez na carreira (e única até ao momento), contabilizando 25 jogos, divididos de forma quase igual entre a titularidade e a condição de suplente utilizado, e 5 golos.

A segunda época já não seria tão positiva: o Legia terminou o campeonato num modesto décimo lugar, sendo que até meio da temporada andou abaixo da linha de água, chegando mesmo a registar-se episódios de violência dos adeptos para com os jogadores. Rafael Lopes até fez mais jogos (44) e mais golos (7) que no ano anterior, mas acabou por sair no fim da temporada e voltar ao Chipre, assinando por 2 anos com o AEK Larnaca, vice-campeão em 2021/22.

Ali, o ponta-de-lança luso tem vindo a impor-se aos poucos, sendo parte importante de um grupo que já fez História esta temporada. Apesar de não ter conseguido superar a segunda pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões (caiu nos penáltis diante dos dinamarqueses do Midtjylland, que depois defrontariam o Benfica e agora irão enfrentar o Sporting na Liga Europa), o AEK Larnaca chegou à fase de grupos da Liga Europa após eliminar Partizan de Belgrado e Dnipro e terminou no terceiro posto num grupo com Fenerbahçe (de Jorge Jesus), Rennes e Dínamo de Kiev, garantindo assim presença nos 16-avos-de-final da Liga da Conferência, onde irá defrontar… novamente o Dnipro no próximo mês de Fevereiro.

No campeonato, o emblema de Larnaca subiu na última ronda ao segundo posto, em igualdade pontual com o até aqui líder Paphos, e agora a dois pontos do APOEL, que venceu no reduto deste último por 2-1 e assim ascendeu ao topo da tabela. Está também em competição na Taça, tendo encontro marcado com o também primodivisionário Nea Salamis para 11 de Janeiro. A concorrência para Rafael Lopes é feroz, desde logo pelas presenças do histórico Ivan Trickovski, internacional macedónio que cumpre a oitava temporada no clube, de Ádám Gyurcsó, internacional húngaro, e de Omri Altman, internacional por Israel que iniciou a última temporada no Arouca. Ainda assim, o avançado português tem conseguido intrometer-se na luta pela titularidade e registou mesmo no último mês a melhor sequência da temporada, com 4 jogos seguidos a começar de início – marcou no primeiro e no último.

Aos 31 anos, Rafael Lopes está na fase de maior maturidade de uma carreira iniciada no Esposende, o clube da sua terra, mas que começou realmente a decolar com a mudança para o Varzim, no segundo ano de juvenil. A primeira época de sénior foi belíssima, com 31 jogos (28 como titular) e 11 golos na II Liga e a convocatória para representar Portugal no Mundial de sub-20, tendo sido titular no primeiro jogo e suplente utilizado noutros três na caminhada lusa rumo à final com o Brasil (aí não saiu do banco).

Sem surpresa, foi contratado de imediato por um clube primodivisionário – no caso, o Vitória FC –, somando 29 aparições e 4 golos pelo emblema sadino em 2011/12. Mudar-se-ia para o Moreirense na temporada seguinte, mas a experiência em Moreira de Cónegos revelou-se penosa: Rafael Lopes foi titular apenas 4 vezes em toda a época (e nunca no campeonato), não marcou qualquer golo e o emblema minhoto acabaria por descer de divisão.

O avançado decidiu então dar um passo atrás e voltou à II Liga, agora pela porta do Penafiel. E ali voltaram também os golos: foram 15 em apenas meia época, que proporcionaram o regresso ao escalão principal logo em Janeiro via Académica. Em Coimbra não conseguiria marcar qualquer golo até ao fim da temporada (13 jogos), somando 10 nas duas épocas seguintes, e em 2016/17, após a queda dos Estudantes no segundo escalão, mudou-se para o recém-promovido Chaves.

Em Trás-os-Montes somaria 5 golos em 35 jogos, antes de viajar para o Chipre pela primeira vez. No regresso a Portugal faria 3 golos em 28 jogos pelo Boavista, encetando depois nova aventura que dura até hoje – primeiro na Polónia, agora novamente no Chipre. Internacional jovem apenas nos sub-20, na tal caminhada que culminou com o vice-campeonato mundial em 2011, Rafael Lopes acabou por não voltar à rota das selecções nacionais, traçando ainda assim um percurso sólido em Portugal e entretanto também em divisões principais de outros dois países europeus, onde construiu currículo, marcou golos e ganhou troféus; o objectivo passará agora por continuar a engrandecer o palmarés, de preferência já a começar na temporada actual.

Académica: Taça foi o último grande momento

briosa(O momento em que os jogadores da Académica ergueram a Taça de Portugal em 2012.)

Fundada a 3 de Novembro de 1887, a Associação Académica de Coimbra é um dos clubes mais antigos de Portugal e do Mundo, possuindo uma longa história e tradição que vai muito para além do futebol e do próprio desporto em geral.
Porém, apesar desta quinta-feira festejar o 135º aniversário, o momento desportivo do emblema popularmente conhecido por “Briosa”, como se sabe, não é o melhor: sem disputar a I Liga desde 2015, os conimbricenses ocupam, atualmente, o último lugar da Série B da Liga 3, depois de na última temporada não terem evitado a descida de divisão.
Muito longe do fulgor de outros tempos, a Académica conseguiu o seu último grande feito há dez anos, quando conquistou a Taça de Portugal na época 11/12, e é precisamente toda essa campanha sob o comando técnico de Pedro Emanuel que recordamos hoje, num dia tão especial, e de festa, para um dos clubes mais míticos do nosso País.
Numa temporada em que só confirmou a permanência no principal escalão na derradeira jornada, com triunfo sobre o Vitória em Guimarães (2-1), a Briosa brilhou na “prova rainha” do nosso futebol, estreando-se na competição na terceira eliminatória com triunfo “magro” sobre o Oriental, por 1-0, valendo o golo do austríaco Markus Berger para derrotar os lisboetas que disputavam o terceiro escalão.
Posteriormente, na quarta ronda, os “estudantes” receberam e venceram o FC Porto por claros 3-0, com Marinho, Adrien e Diogo Valente a apontarem os golos que eliminaram os “dragões”; seguiu-se a deslocação ao Estádio do Mar, para defrontar o Leixões da II Liga nos Oitavos-de-Final, e a partida só se resolveu no prolongamento, com vitória por 5-2 – tentos de Adrien (2), Fábio Luís (2) e Éder; e nos Quartos-de-Final, no Estádio Municipal de Coimbra, a turma da casa bateu o Aves, que estava na segunda divisão, por 3-2, com Éder, Berger e Abdoulaye a faturarem.
Nas Meias-Finais, a Briosa “evitou” defrontar Nacional ou Sporting, e viu sair-lhe “em sorte” a Oliveirense, da II Liga, naquele que era, naturalmente, o sorteio teoricamente mais acessível para os academistas, que dentro de campo acabaram por confirmar esse favoritismo mas com algumas dificuldades: na primeira mão, em Coimbra, um golo tardio do senegalês Pape Sow (90’+5) assegurou que a vitória ficava em casa (1-0); e na segunda mão, jogada em Santa Maria da Feira e não em Oliveira de Azeméis, os “estudantes” estiveram a perder por duas vezes, mas chegaram sempre à igualdade por Marinho, que bisou e confirmou a passagem à final (2-2).
Primeiro clube a vencer a Taça de Portugal, em 1939, a Académica perdeu as finais de 1951, 1967 e 1969, e a 20 de Maio de 2012, quarenta e três anos depois da sua última final, voltou ao relvado do Jamor para disputar a conquista do troféu e cometeu a proeza de derrotar o Sporting, por 1-0, cabendo novamente a Marinho assumir o papel principal da partida, apontando o único golo logo aos 4 minutos.
Desde então, o melhor que a Briosa já conseguiu na Taça foi chegar aos Quartos-de-Final nas edições de 12/13, 13/14 e 16/17 – esta época caiu na 2ª Eliminatória diante do Tondela, num embate resolvido nas grandes penalidades após 1-1 no fim de 120 minutos.

Académica: aposta na mística para inverter o rumo

academica(Plantel da Académica para a época 22/23. Créditos de imagem: Jornal Notícias de Coimbra.)

A viver, provavelmente, o pior momento da sua história, dado que pela primeira vez vai competir no terceiro escalão do nosso futebol, a Académica surge na nova época com a intenção clara de recuperar a mística que tanto a caracteriza e a composição do plantel foi feita nesse sentido.
Para começar, a direção dos “estudantes” apostou num técnico que conhece bem a casa: natural de Coimbra, Miguel Valença, de 32 anos, passou pela formação do clube enquanto jogador e tem agora a missão de guiar a “Briosa” na estreia na Liga 3, depois de passagens bem sucedidas por Oliveira do Hospital e Anadia.
No que diz respeito ao plantel, a direção academista operou uma autêntica revolução no mesmo e contratou nada mais nada menos do que vinte jogadores, sendo que sete deles têm passado pelo clube: Nivaldo, David Teles e Diogo Ribeiro jogaram na formação e na equipa sénior – o primeiro venceu a Taça de Portugal em 11/12; enquanto que Luís Pedro, Bernardo Ferreira, David Caiado e David Brás alinharam nas camadas jovens.
Ao extenso lote de contratações, juntam-se apenas quatro jogadores da última temporada: Bernardo Santos, João Tiago e Vasco Gomes foram promovidos dos Sub-23 à equipa principal durante 21/22 – os dois primeiros representaram a Académica na formação e nos Sub-23; e
Hugo Seco, além de ter sido maioritariamente formado na “Briosa”, está na segunda passagem pelos seniores.
Caras novas no plantel são também Xavier Venâncio e Diogo Machado: o primeiro regressa a Coimbra após um ano de empréstimo ao Olhanense e de ter militado nos Sub-23 academistas; e o segundo sobe a sénior esta temporada, pese embora também tenha jogado nos Sub-23 em 21/22. “Sobram” então os juniores: Diogo Amaro, Diogo Cardoso e Francisco Lopes têm todos já vários anos na formação da Académica e deverão “saltar” entre os Juniores e a equipa A na presente época.
Contas feitas, dos vinte e nove jogadores que compõem o elenco à disposição de Miguel Valença – Hugo Seco e Xavier Venâncio são ausências prolongadas devido a lesão -, dezasseis têm passado no clube, seja a nível de formação, na equipa sénior ou nos Sub-23, o que sustenta a ideia de que a Académica quer
inverter o rumo dos acontecimentos apostando na “prata da casa”.
A estreia dos “estudantes” na Liga 3 está marcada para este sábado e logo com jogo grande a abrir a Série B: Académica e Belenenses vão reeditar um duelo histórico bem longe dos palcos que merecem ocupar.

Gil Vicente: o 26º representante luso na Europa

gilvicente(A festa dos jogadores gilistas após Boselli marcar o golo do empate na partida de ontem.)

Agora sim, é oficial: ao empatar ontem na Letónia, diante do Riga FC (1-1), a contar para a 1ª mão da 3ª Eliminatória da Conference League, o Gil Vicente tornou-se no vigésimo sexto clube português a disputar uma prova europeia reconhecida pela UEFA – o Barreirense fica fora desta contabilidade precisamente porque participou na Taça das Cidades com Feira, competição não reconhecida pelo organismo que tutela o futebol europeu.
A formação comandada por Ivo Vieira até entrou a perder na estreia, cortesia do brasileiro Douglas Aurélio (17′), mas no segundo tempo conseguiu restabelecer a igualdade graças a um golaço histórico do urugaio Juan Boselli: o avançado contratado ao Tondela, além de permitir à sua equipa obter um bom resultado, apontou o primeiro golo da história do Gil Vicente em competições europeias.
De resto, a última vez que Portugal havia estreado um clube nas provas da UEFA foi há seis anos: em 2016, o Arouca, que tal como os gilistas em 21/22 fez um campeonato sensacional em 15/16, começou por eliminar os neerlandeses do Heracles na 3ª Eliminatória de acesso à Liga Europa (empate 1-1 fora e 0-0 em casa); e no play-off, depois de perder no seu estádio com o “todo poderoso” Olympiacos (0-1), conseguiu vencer no Georgios Karaiskakis ao fim de 90 minutos, contudo, perdeu no prolongamento (1-2).
Sem surpresa, Benfica, FC Porto e Sporting são os clubes lusos com mais presenças e mais jogos nas provas da UEFA, e logo atrás deles surge outro trio que não surpreende: Sp. Braga, Boavista e Vitória SC têm todos vinte ou mais participações europeias, sendo que, destes seis, apenas o emblema de Guimarães não conseguiu disputar a fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo-se ficado pelo play-off em 08/09.
A partir daqui, surgem várias equipas com ligeiras diferenças entre si: Belenenses e Vitória FC já foram ambos à Europa por quinze vezes; o Marítimo soma nove presenças; a União de Leiria conseguiu oito apuramentos; CUF, Nacional e Paços de Ferreira já experimentaram competições internacionais por cinco ocasiões; Académica, Leixões e Rio Ave têm quatro participações; enquanto que Estoril, Estrela da Amadora e Santa Clara contam com duas experiências europeias.
Com apenas uma presença em provas europeias surgem mais seis clubes para além do Gil Vicente: Arouca, Beira-Mar, Desp. Chaves, Farense, Salgueiros e Portimonense ainda procuram repetir o feito, sendo que, à exceção dos beiramarenses que venceram a Taça de Portugal e por isso garantiram a vaga na então Taça UEFA, todos os outros conseguiram lugar na “Europa do futebol” graças a belíssimas performances na I Divisão.
Ainda relativamente às estreias, nota para o facto do Santa Clara, que na época passada disputou a Conference League, não se ter estreado em provas europeias em 21/22: os açorianos fizeram-no em 2002, na já extinta Taça Intertoto, prova reconhecida e organizada pela UEFA, na qual participaram vários clubes lusos, tais como Sporting, Vitória FC, Vitória SC, Sp. Braga, U. Leiria, Belenenses, Estrela da Amadora e CUF.
Contas feitas, entre Taça dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões, Taça UEFA/Liga Europa, Taça das Taças, Taça Intertoto e Conference League, Portugal já “deu” vinte e seis clubes às competições europeias, e a lista pode aumentar já na próxima temporada.

Liga 3: concentração de históricos na Série B

historicos(Vitória FC, Académica, Alverca, U. Leiria e Belenenses vão disputar o mesmo campeonato em 22/23.)

A segunda edição da Liga 3 vai ser um autêntico “desfile” de históricos na Série B: Académica, Alverca, Belenenses, União de Leiria e Vitória FC são cinco das doze equipas que compõem o grupo mais a Sul da competição, pelo que é garantido que os confrontos entre elas vão proporcionar muitas viagens ao passado.
Com Alverca, Leiria e Vitória a transitarem da última época, as “novidades” são as chegadas de Académica e Belenenses: como se sabe, a “Briosa” caiu da II Liga e vai fazer a sua estreia no terceiro escalão; enquanto que os “Azuis do Restelo” deram mais um passo rumo ao regresso ao topo e deixaram o Campeonato de Portugal.
De resto, esta será a primeira vez que os cinco emblemas se encontrarão no mesmo campeonato: no máximo, encontrámos edições da I Liga com quatro destes clubes, a última delas em 09/10, quando Leiria (9º), Académica (11º) e Vitória (14º) perderam a “companhia” do Belenenses, 15º e penúltimo classificado, e por isso despromovido.
Deste lote, o Alverca foi o último a chegar aos campeonatos profissionais, em 1995, e foi também o primeiro a dizer-lhes adeus até à data de hoje: quando os ribatejanos se estrearam na I Liga, em 98/99, encontraram apenas Vitória, Leiria e Académica, já que o Belenenses andava pela II Liga; e em 03/04, despediram-se do topo do futebol português numa edição que não contou com os sadinos – os alverquenses ainda disputaram a II Liga em 04/05 antes de terminarem o futebol sénior.
A seguir ao Alverca, a União de Leiria é quem tem maior “jejum” em relação à I Liga: os leirienses despediram-se em 2012, com um final de época muito turbulento, e não mais conseguiram disputar uma prova profissional. Segue-se a Académica, despromovida em 15/16 e que este ano não evitou a queda à Liga 3; dois anos depois, o Belenenses separou-se da SAD e iniciou a sua caminhada nos Distritais; e em 2020, o Vitória FC caiu diretamente ao terceiro escalão por via administrativa.
Atualmente, já se sabe, a realidade é outra, mas todos estes clubes encaram a nova época com a ambição de subir e encurtar distâncias para o patamar mais alto do futebol nacional, sendo que, para além deles, a Série B da Liga 3 é composta por Amora, Caldas, Fontinhas, Moncarapachense, Oliveira do Hospital, Real e Sporting B.
Curiosamente, a jornada inaugural, que está agendada para o dia 20 de Agosto, fica marcada por dois clássicos: o Belenenses estreia-se na prova jogando em casa diante da Académica; ao passo que, em Leiria, a União recebe o Vitória – o Alverca deslocar-se-á ao terreno do Amora, outro clube com pergaminhos no nosso futebol e que também disputou a I Divisão, à semelhança do que acontece com o Caldas.

Vitória FC – Académica: o jogo mais longo do futebol português

6667(Em cima, a equipa do Vitória que disputou a final; e em baixo, os jogadores da Académica no relvado durante o intervalo entre os prolongamentos.)

Vitória FC e Académica são dois dos maiores clubes portugueses e em comum partilham também o facto de terem disputado o jogo mais longo da história do futebol nacional: a 9 de Julho de 1967, em plena final da Taça de Portugal, sadinos e estudantes levaram a partida até aos… 144 minutos!
Num tempo em que as regras ditavam que os jogos, em caso de irem a prolongamento e não terem vencedor ao fim de 120 minutos, teriam de continuar até haver “golo de ouro”, Vitória e Académica precisaram de 54 minutos de “tempo extra”, com os setúbalenses a triunfarem por 3-2.
Vice-Campeã Nacional a apenas três pontos do Campeão, Benfica, a “Briosa” alcançou em 66/67 a terceira final da sua história e tentava repetir a conquista de 1939, por sinal, na primeira edição da Taça de Portugal; enquanto que os vitorianos, que haviam terminado a I Divisão no 5º lugar, estavam já na sua sexta final, embora só tivessem saído vencedores em 64/65.
Tal como manda a tradição, o Estádio Nacional recebeu um encontro no qual participaram vários nomes ilustres do futebol português, e logo aos 5 minutos surgiu o primeiro golo, com Celestino a adiantar a Académica, vantagem que durou até perto do intervalo, mais concretamente até aos 43 minutos, altura em que José Maria restabeleceu a igualdade.
Como o 1-1 persistiu até ao minuto 90, a partida seguiu para prolongamento e aí houve mais dois golos, um para cada lado: Félix Guerreiro marcou para o Vitória (97′) e Ernesto para a Académica (117′). Com tudo empatado, houve então um novo prolongamento que só acabaria quando surgisse o golo da vitória. E foi assim que, aos 144 minutos!, Jacinto João fez o 3-2 final e o Vitória ganhou a segunda Taça do seu palmarés.
Ao fim de duas horas e vinte e quatro minutos, o árbitro lisboeta Salvador Garcia lá conseguiu dar o jogo por terminado, ele que, a determinada altura, terá dito aos capitães das duas equipas para marcarem um golo e resolverem a questão, dado que já nem ele aguentava o cansaço.
Em 1967, é preciso assinalar, ainda não eram permitidas substituições dos jogadores de campo, pelo que os vinte e dois futebolistas que começaram a partida também a terminaram. Do lado do Vitória, o treinador Fernando Vaz fez alinhar: Vital; Conceição, Leiria, Herculano e Carriço; Tomé, Vítor Baptista e Guerreiro; José Maria, Pedras e Jacinto João; enquanto que Mário Wilson, timoneiro da Académica, foi a jogo com: Maló; Celestino, Rui Rodrigues, Vieira Nunes e Marques; Toni e Rocha; Crispim, Ernesto, Artur Jorge e Vítor Campos.
O jogo mais longo da história do nosso futebol cumpre hoje 55 anos.

Rafael Floro: o agitador português no misterioso campeonato da Finlândia

rafaelfloro

Rafael Floro, defesa esquerdo que representa os finlandeses do AC Oulu, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

O campeonato principal da Finlândia ganhou nesta edição de 2022 novos motivos de interesse para os adeptos nacionais. Já lá estava Rui Modesto, ala-direito natural de Vendas Novas que no fim de 2020 rumara ao Honka – e que até começou o ano a conquistar a Taça da Liga –, e entretanto chegaram mais 4 atletas lusos para dar nova cor a uma Liga ainda bastante desconhecida para os portugueses, sendo Beto obviamente o nome de maior destaque: o guardião internacional por 16 ocasiões assinou pelo HIFK em Fevereiro, pouco depois do lateral-direito André Farinha e do treinador Bernardo Tavares (ambos entretanto já abandonaram o clube e o país), e de imediato assumiu a titularidade e até a braçadeira de capitão, tendo mesmo sido já decisivo para o apuramento da sua equipa para os 16-avos-de-final da Taça ao defender uma grande penalidade no desempate final após o 1-1 registado no tempo regulamentar.

O grande agitador lusitano nestas primeiras semanas de competição, porém, chama-se Rafael Floro. O esquerdino nascido em Janeiro de 1994 em Quarteira chegou juntamente com o compatriota Sandro Embaló para reforçar o plantel do AC Oulu às ordens de Ricardo Duarte (que na época passada conseguiu manter a equipa no principal escalão) e soma já 3 golos e 2 assistências em 9 partidas disputadas, tendo sido por exemplo instrumental na vitória conseguida na jornada 7 do campeonato sobre o Honka (2-1) ao bisar na partida – o segundo dos tentos surgiu mesmo em cima do minuto 90 na conversão de uma grande penalidade.

Esta é já a quarta aventura de Rafael Floro fora de Portugal. Nome sobejamente conhecido para os amantes de futebol que gostam de estar atentos às jovens promessas, o lateral-esquerdo iniciou a sua formação no Quarteirense mas rapidamente se mudou para o Sporting, passando depois por Académica, Louletano e Internacional de Almancil até chegar ao FC Porto, onde fez os últimos 2 anos como júnior; no verão de 2013, com 19 anos e finda a ligação aos Dragões, foi à experiência treinar ao Sheffield Wednesday e agradou, passando dois anos no histórico clube inglês, com 2 partidas pela equipa principal em 2013/14 (uma na Taça da Liga e outra no Championship) e o resto do tempo na formação secundária dos Owls.

Regressou em 2015 a Portugal pela porta do Belenenses, acabando por ser de imediato cedido: primeiro ao Casa Pia, depois ao Almancilense. No verão seguinte desvinculou-se dos Azuis do Restelo e assinou pelo Louletano, sendo contratado a meio da temporada pelo Gil Vicente, onde se estrearia na II Liga; permaneceria nesse escalão para 2017/18, ainda que agora ao serviço do Cova da Piedade, até que no verão de 2018 surgiu a possibilidade de voltar a emigrar quando recebeu o convite do Stumbras, emblema lituano que estava ligado ao conjunto de Almada por via de Mariano Barreto (director-geral de ambos os clubes e treinador da equipa da Lituânia).

Rafael Floro aceitou o desafio e partiu então para aquele país do Báltico, onde a temporada já ia longa (na Lituânia o campeonato disputa-se em anos civis, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus), pegando de imediato de estaca: somou 10 jogos, sempre como titular, apontando 2 golos e fazendo 3 assistências jogando tanto a lateral como a extremo-esquerdo e acabando por ter 1 forte contributo naquela que foi a melhor campanha da História do Stumbras no campeonato lituano – terminou no quarto lugar, chegando ainda à final da Taça pelo segundo ano consecutivo (perdeu por 3-0 com o Zalgiris). Finda a temporada na Lituânia, o atleta algarvio optou por regressar a Portugal, cumprindo o resto de 2018/19 no Felgueiras, que terminaria no quinto lugar da Série A do Campeonato de Portugal, a 6 pontos do play-off de acesso à II Liga.

Em 2019/20 voltou ao Algarve por intermédio do Olhanense, mas após 7 jogos e 1 golo (apontado precisamente no seu último encontro pelo clube) no Campeonato de Portugal, o esquerdino decidiu emigrar novamente e outra vez para a Lituânia, desta feita tendo como destino o Panevezys, onde viria a conquistar o primeiro troféu da carreira enquanto sénior, batendo inclusivamente uma das grandes penalidades no desempate que sorriu à sua equipa na final da Taça da Lituânia diante do Suduva (5-4 depois do 1-1 no tempo regulamentar). Aos 19 jogos (e 2 golos) em 2020 somou mais 40 (e 4) em 2021, celebrando também a conquista da Supertaça – e novamente após grandes penalidades, ainda que tenha desta feita falhado o seu pontapé (o Panevezys, então orientado pelo madeirense João Luís Martins, actual director-geral da SAD do Marítimo, venceu o Zalgiris por 5-4 após o 2-2 no fim dos 90 minutos).

Finda a ligação ao emblema lituano, e totalmente livre para decidir o seu futuro, Rafael Floro optou por viver uma nova experiência na sua carreira e rumou assim à Finlândia, onde para já se vai cotando como um dos destaques do actual quinto classificado, que está ainda em prova também na Taça, após bater o modesto TP-47 fora por 4-0 com o canhoto português a fechar as contas de penalty, no que foi o seu primeiro golo naquele país nórdico. Aos 28 anos, Rafael Floro pode já não vir a chegar aos patamares mais altos que se lhe chegaram a augurar na fase em que assinou pelo Porto e depois pelo Sheffield Wednesday (por essa altura somou 8 internacionalizações entre os sub-18 e os sub-20, registando mesmo uma presença no Torneio de Toulon em 2014), mas continua ainda assim a ter margem de manobra para poder por exemplo ainda vir a estrear-se na I Liga portuguesa, assim continue no bom registo das últimas temporadas.

Taça de Portugal: as finais sem grandes

CampomaiorenseBMarfinaltaça9899(Rogério Matias e Fusco durante a final da Taça em 98/99.)

Iniciada em 38/39 (foi a “herdeira” do extinto Campeonato de Portugal), a Taça de Portugal é uma prova especial para todos os intervenientes: desde jogadores a adeptos, não há quem não tenha um carinho diferente por aquela que é considera a “prova rainha” do nosso futebol.
Mesmo sendo uma competição propícia a (muitas) surpresas, a Taça tem sido, normalmente, conquistada pelos ditos “grandes”, sendo que pelo menos um deles costuma chegar à final, tendência que se tem acentuado nas últimas décadas: é que a última final sem a presença de um dos três maiores clubes aconteceu em 98/99.
Por isso, e já que estamos na véspera de uma final inédita entre FC Porto e Tondela (é a primeira vez que o clube beirão chega tão longe na prova), recordamos hoje todas as seis finais da Taça de Portugal que não tiveram os considerados “grandes”:

1941/1942: Belenenses 2-0 Vitória SC (Estádio do Lumiar, Lisboa)

A 12 de Julho de 1942, Belenenses e Vitória SC encontraram-se no Lumiar para a final da Taça de Portugal, algo que já era habitual para o clube de Belém: aquela era a terceira final consecutiva dos azuis, que anteriormente acabaram derrotados por Benfica (1-3, 1940) e Sporting (1-4, 1941). O clube do Restelo aplicou a velha máxima de que “à terceira é de vez” e venceu os minhotos com golos de Artur Quaresma (40′) e Gilberto (46′).

1965/1966: Sp. Braga 1-0 Vitória FC (Estádio Nacional, Lisboa)

O Vitória FC é um dos clubes que mais tradição tem na Taça: vencedores em três ocasiões, os sadinos já disputaram outras sete finais e só na década de 60 jogaram quatro de forma consecutiva. Esta foi a segunda final dessa sequência, mas, contrariamente ao que tinha acontecido na época anterior (3-1 ao Benfica), o emblema de Setúbal acabou por perder com o Braga. Um golo do argentino Perrichon, ao minuto 77 daquela tarde de 22 de Maio de 1966, deu a primeira Taça da história aos bracarenses.

1966/1967: Vitória FC 3-2 Académica – após prolongamento (Estádio Nacional, Lisboa)

Um ano depois da derrota com o Braga, o Vitória viajou novamente até ao Jamor para discutir a Taça de Portugal, a 9 de Julho de 1967, agora diante da Académica. Num jogo épico – e já se vai perceber porquê -, os setubalenses levaram de vencida a Briosa com recurso a (um grande) prolongamento. Na primeira parte, dois golos: Celestino para os estudantes (5′) e José Maria para os sadinos (43′). Como o 1-1 persistiu até ao minuto 90, a partida seguiu para prolongamento e aí houve mais dois golos, um para cada lado: Félix Guerreiro (97′) marcou para o Vitória; Ernesto para a Académica (117′). Com tudo empatado, houve um novo prolongamento que só acabaria quando surgisse o golo da vitória. E foi assim que, aos 144 minutos!!!, Jacinto João fez o 3-2 final e o Vitória ganhou a segunda Taça do seu palmarés.

farenseestrela(Pitico, do Farense, tenta ultrapassar um jogador do Estrela durante a final de 1990.)

1975/1976: Boavista 2-1 Vitória SC (Estádio das Antas, Porto)

Pela segunda vez, a Taça de Portugal decidia-se no Estádio das Antas, com Boavista e Vitória SC a medirem forças num duelo que se previa equilibrado. Orientados por José Maria Pedroto, os axadrezados chegaram ao 2-0 por intermédio de Salvador (10′ e 49′), mas pouco depois viram Rui Lopes reduzir para a turma de Fernando Caiado (62′). O resultado não mais se alterou, e os boavisteiros puderam levantar a Taça na sua cidade no dia 13 de Junho de 1976.

1989/1990: Estrela da Amadora 1-1 Farense – após prolongamento / Estrela da Amadora 2-0 Farense (Estádio Nacional, Lisboa)

Mais uma final inédita aconteceu em 1990: Estrela da Amadora e Farense jogaram ambos a primeira final das suas histórias – e única até agora -, sendo que no caso dos algarvios a façanha é ainda maior, dado que o emblema de Faro disputava a II Divisão Nacional – subiu nessa mesma época ao primeiro escalão. A 27 de Maio de 1990, estrelistas e farenses defrontaram-se no Jamor para a tão esperada final mas anularam-se: golos só no prolongamento e um para cada lado, com Nélson Borges a marcar para os da Amadora (93′) e Fernando Cruz a repôr a igualdade aos 117′. Com isto, teve de se realizar uma finalíssima na semana seguinte no mesmo palco (3 de Junho), e aí os tricolores não vacilaram e venceram por 2-0, com Paulo Bento (30′) e Ricardo Lopes (63′) a “oferecerem” a Taça ao Estrela.

1998/1999: Beira-Mar 1-0 Campomaiorense (Estádio Nacional, Lisboa)

E já lá vão 23 anos da última final da Taça de Portugal sem a presença de pelo menos um “grande”: a 19 de Julho de 1999, Beira-Mar e Campomaiorense foram ao Jamor disputar uma final que teve tanto de inédita como de inesperada. Os aveirenses, que semanas antes tinham consumado a descida à Liga de Honra, acabaram por “bater o pé” aos alentejanos, bastando um golo de Ricardo Sousa (70′) para a festa se fazer em tons de amarelo e preto.