(Rui Pedro entrou da melhor forma na nova temporada, apontando um dos golos com que o Olimpija Ljubljana bateu o Valmiera na 1ª Pré-Eliminatória da Champions.)
Com a nova época, a nossa parceria com a página À bola pelo Mundo terá um novo formato: em vez de um artigo com a descrição da respetiva carreira, a partir de agora, o destaque será feito, sempre que possível, com entrevista ao jogador/treinador escolhido.
E para começar, nada melhor do que o primeiro português a marcar nas competições europeias em 2023/24: Rui Pedro. O ponta de lança apontou o segundo golo com que o Olimpija Ljubljana derrotou o Valmiera da Letónia na 1ª mão da 1ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões (2-1), e começou assim da melhor maneira a sua segunda temporada na Eslovénia.
Aos 25 anos, o jogador formado no FC Porto, célebre pelo golo que valeu uma vitória sobre o Braga na sua estreia no campeonato pela equipa principal ainda com 18 anos, e que entretanto passou por clubes como Boavista, Leixões ou Penafiel, recuperou a felicidade em Ljubljana, conforme revelou na entrevista que se segue:
À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Qual a sensação de ser o primeiro jogador português a marcar numa competição europeia na época?
Rui Pedro: É sempre bom ajudar a equipa a ganhar, neste caso marcando um golo. É sempre bom marcar. Mas temos de ter a noção que 2-0 é diferente de 2-1…
O golo sofrido na parte final do jogo custou um bocadinho… Como vão encarar a segunda mão?
Temos de encarar da mesma forma. Fomos muito superiores o jogo todo e tivemos a infelicidade de não fazer mais golos.
Qual a sensação de marcar na Champions? Isto é, se consideras este um jogo de Champions, tu que até já jogaste na prova propriamente dita…
Não senti grande diferença, é mais um jogo. Fazer um golo é sempre fazer um golo. Claro que há golos especiais, mas não vou dizer que senti que foi especial. Foi especial talvez por sentir que merecia o golo no jogo, pelo jogo que estava a fazer, e fiquei muito contente. Mas ficava ainda mais contente se tivéssemos ganho 2-0 ou 3-0.
(Em Dezembro de 2016, Rui Pedro, ainda júnior, saiu do banco para, aos 90’+5, dar a vitória ao FC Porto na receção ao Sp. Braga válida pela 12ª Jornada da Liga – os dragões preparavam-se para somar o 5º jogo seguido sem marcar!)
Quais os desafios que te movem para esta época, depois de na época de estreia já teres ganho campeonato e Taça?
Espero fazer o mesmo número de jogos ou mais, com as competições europeias. Fazer mais do que 7 golos, mais assistências também, e ganhar os mesmos títulos do ano passado e, se possível, entrarmos numa competição europeia.
A caminhada que o Olimpija tem de fazer até chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões é longa e muito complicada. Acreditam que o vão conseguir, ou já seria positivo para o clube chegar a essa fase noutra das competições da UEFA?
O primeiro passo para tudo é acreditarmos, pelo menos em nós próprios. Se não acreditarmos, quem é que acredita? Agora estamos nesta competição, por isso o objectivo é entrar nesta. Se acabarmos por sair, depois vê-se. Claro que sabemos da dificuldade.
Estás a começar a segunda época na Eslovénia. Qual a tua opinião sobre o futebol do país? Surpreendeu-te de alguma forma?
Surpreendeu-me muito. Não em termos qualitativos, mas de intensidade, de trabalho. A intensidade é alta, trabalha-se muito no aspecto físico, coisa que não fazíamos em Portugal (pelo menos na II Liga). Notei muita diferença aí.
E adaptaste-te bem?
Sim, eu no início da época cheguei fisicamente muito bem. Depois ali em Janeiro tive uma quebra física, senti o cansaço dos jogos, do clima. E como aqui fazemos duas pré-épocas, porque o campeonato pára em Dezembro/Janeiro, essa segunda pré-época custou-me muito.
(Em 17/18, o FC Porto emprestou o avançado ao rival Boavista, mas o desfecho não foi o melhor: apenas 1 golo em 20 jogos.)
O que te levou a aceitar o convite da Eslovénia? Quais as motivações?
Além do querer ganhar títulos, queria sentir-me feliz novamente a jogar futebol, como já não me sentia desde o FC Porto. Agora sinto-me claramente preenchido.
Achas que demoraste demasiado tempo a sair da zona de conforto? Ou seja, a procurar desafios longe do teu habitat natural?
Não. Até acho que saio muito da minha zona de conforto. Não saí mais cedo porque não era o melhor momento, porque perdi o meu pai, tinha o meu irmão, a minha mãe… Não era o momento.
Já disseste várias vezes que “aquele” golo ao Braga foi o momento alto da tua carreira. Mas estamos a falar de um dos primeiros jogos “a sério”. Vês-te a conseguir um momento de igual importância (ou maior) num futuro próximo, ou aconteça o que acontecer, esse será sempre o melhor?
Acho que, aconteça o que acontecer, esse vai ser sempre o momento mais importante da minha carreira. Para além de ser no clube que eu amo, no meu clube, foi um golo ao qual o meu pai ainda pôde assistir, que era algo que ele queria muito e sempre acreditou que poderia acontecer. Não sei o futuro, sabemos que o futebol dá muitas voltas, mas ainda é um sonho voltar ao FC Porto. Sei que é uma realidade mais difícil actualmente, mas… temos de sonhar.
(Antes de rumar ao Olimpija Ljubljana no Verão passado, Rui Pedro representou o Penafiel durante época e meia na II Liga.)
Como é viver aí? O país, as pessoas, o clima, a comida, a comunicação…
No clube falamos em inglês – ao início não falava nada, percebia mas não falava e passava mesmo mal! O clima, agora estão 35 graus, o verão é quente, quente. Mas de inverno é frio, – 10! Só há duas estações. A mim custa-me mais o calor, mas prefiro levantar-me e ter sol do que chuva e neve, que isso rebenta logo com a auto-estima (risos)! As pessoas de Leste são mais frias, mas os jogadores são top connosco, fomos bem recebidos desde que chegámos. Comida? Não se come igual a Portugal em lado nenhum! Como carne, é boa mas… Como peixe, é bom mas…
Onde é que gostaste mais de jogar em termos de futebol jogado? Qual se adequou mais às tuas características?
FC Porto. Tanto na formação como na equipa principal. As características foram mudando, antes era ponta de lança de área, de costas para a baliza, podia fazer falso 9. Agora estou diferente, muito mais rápido, muito mais polivalente. Faço extremo, faço ponta, posso fazer 10. Comecei a perceber que podia fazer a diferença a extremo, não só pela velocidade e inteligência como pela qualidade técnica, e comecei a trabalhar mais a explosividade no ginásio. E aqui ajudou-me muito, fazem trabalho específico e trabalha-se mesmo muito o físico.
No ano passado tiveste o David Sualehe, que já conhecias, e o Samuel Pedro. Agora tens também o Jorge Silva e o treinador – João Henriques. É uma vantagem? Ou dá-te mais pressão ser treinado por um português?
Não sei dizer se é uma vantagem, porque tens de trabalhar na mesma ao máximo e mostrar que estás apto para ele contar contigo. Jogar ou não, a decisão vai ser sempre do treinador, seja português, espanhol, inglês… Antes de tudo, ele quer o melhor para ele e para a equipa, não vai estar a pensar só em ti. Se trabalhares no teu máximo, tens sempre mais possibilidades de jogar.
(Por Portugal, o jogador natural de Pedorido, concelho de Castelo de Paiva, apontou 16 golos em 46 internacionalizações entre os Sub-15 e os Sub-20.)
Em entrevista ao zerozero que deste há uns meses, dizias que tens uma personalidade complicada, mais no sentido de ser exigente com os colegas, e que não te sentias tão focado desde que estavas no FC Porto. Porque achas que te faltou isso nos outros clubes?
Quando te sentes importante na equipa, quando os outros jogadores te mostram isso nos treinos, nos jogos, acreditam em ti, dão-te a bola, começas a ganhar confiança. E quando um jogador tem uma personalidade complicada, pode dar para os dois lados: quando está bem, rebenta com tudo e corre tudo muito bem; quando está mal, faz coisas de que se pode arrepender depois. Tenho uma personalidade muito difícil, sou muito exigente comigo mesmo e com os meus colegas, às vezes levanto os braços a reclamar com eles, e isso não faz sentido nenhum. Tenho de mudar isso, é um facto.
Dizias também que já percebeste que os números importam mais do que as exibições. Continuas a pensar assim? E sentes-te confortável com isso?
Não, não me sinto confortável com isso. Mas tenho de melhorar os números para ser ainda melhor jogador, porque hoje dá-se muito valor a esse tipo de coisas. Se és ponta-de-lança, tens de fazer 15 a 20 golos por época; se fores extremo, tens de marcar 10 e fazer 7 ou 8 assistências. É o que é, o futebol mudou. Antes, tinhas Zidane, Figo como melhor jogador do mundo, até o Cannavaro ganhou; a partir do Ronaldo e do Messi, tinham de distinguir um do outro pelos golos, e por isso o melhor do mundo passou a ser o melhor marcador do mundo…
Ídolos de infância, ou em quem te revias/revês na tua posição?
A minha referência na formação sempre foi o Falcao, era o meu ponta-de-lança preferido por tudo o que fazia em campo. Da actualidade gosto de muitos, não sei dizer um específico… Adoro a equipa do Manchester City toda (risos)!
(Rui Pedro desde cedo se destacou por marcar muitos golos, razão que o fez “saltar” escalões no FC Porto.)
Tu gostas mesmo de futebol, já deu para perceber!
Sou completamente viciado. Vejo jogos repetidos, toda a gente sabe, dizem-me sempre “És mesmo doente!” Adoro mesmo futebol e adoro acompanhar.
Que treinador mais te marcou?
Vou ser mesmo sincero: todos os treinadores que apanhei na formação do FC Porto. Foi uma constante evolução. Não quero ser injusto com nenhum porque adorei mesmo todos. Mas o Nuno Espírito Santo foi o treinador que me lançou na primeira equipa, e o Luís Castro pela pessoa que ele é e pelo treinador que é, que nunca deixou dúvidas a ninguém.
O que ainda tens para atingir na carreira?
Para já, espero conseguir entrar com o Olimpija numa competição europeia. Em termos de futuro não sei dizer, acho que os objectivos são algo que tens de ir colocando consoante o que vai acontecendo na tua vida. Tens de ter objectivos conscientes. É por aí.