Rui Pedro: “Merecia este golo”

ruipedro(Rui Pedro entrou da melhor forma na nova temporada, apontando um dos golos com que o Olimpija Ljubljana bateu o Valmiera na 1ª Pré-Eliminatória da Champions.)

Com a nova época, a nossa parceria com a página À bola pelo Mundo terá um novo formato: em vez de um artigo com a descrição da respetiva carreira, a partir de agora, o destaque será feito, sempre que possível, com entrevista ao jogador/treinador escolhido.
E para começar, nada melhor do que o primeiro português a marcar nas competições europeias em 2023/24: Rui Pedro. O ponta de lança apontou o segundo golo com que o Olimpija Ljubljana derrotou o Valmiera da Letónia na 1ª mão da 1ª pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões (2-1), e começou assim da melhor maneira a sua segunda temporada na Eslovénia.
Aos 25 anos, o jogador formado no FC Porto, célebre pelo golo que valeu uma vitória sobre o Braga na sua estreia no campeonato pela equipa principal ainda com 18 anos, e que entretanto passou por clubes como Boavista, Leixões ou Penafiel, recuperou a felicidade em Ljubljana, conforme revelou na entrevista que se segue:

À Bola pelo Mundo/Conversas Redondas: Qual a sensação de ser o primeiro jogador português a marcar numa competição europeia na época?
Rui Pedro: É sempre bom ajudar a equipa a ganhar, neste caso marcando um golo. É sempre bom marcar. Mas temos de ter a noção que 2-0 é diferente de 2-1…

O golo sofrido na parte final do jogo custou um bocadinho… Como vão encarar a segunda mão?
Temos de encarar da mesma forma. Fomos muito superiores o jogo todo e tivemos a infelicidade de não fazer mais golos.

Qual a sensação de marcar na Champions? Isto é, se consideras este um jogo de Champions, tu que até já jogaste na prova propriamente dita…
Não senti grande diferença, é mais um jogo. Fazer um golo é sempre fazer um golo. Claro que há golos especiais, mas não vou dizer que senti que foi especial. Foi especial talvez por sentir que merecia o golo no jogo, pelo jogo que estava a fazer, e fiquei muito contente. Mas ficava ainda mais contente se tivéssemos ganho 2-0 ou 3-0.

(Em Dezembro de 2016, Rui Pedro, ainda júnior, saiu do banco para, aos 90’+5, dar a vitória ao FC Porto na receção ao Sp. Braga válida pela 12ª Jornada da Liga – os dragões preparavam-se para somar o 5º jogo seguido sem marcar!)

Quais os desafios que te movem para esta época, depois de na época de estreia já teres ganho campeonato e Taça?
Espero fazer o mesmo número de jogos ou mais, com as competições europeias. Fazer mais do que 7 golos, mais assistências também, e ganhar os mesmos títulos do ano passado e, se possível, entrarmos numa competição europeia.

A caminhada que o Olimpija tem de fazer até chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões é longa e muito complicada. Acreditam que o vão conseguir, ou já seria positivo para o clube chegar a essa fase noutra das competições da UEFA?
O primeiro passo para tudo é acreditarmos, pelo menos em nós próprios. Se não acreditarmos, quem é que acredita? Agora estamos nesta competição, por isso o objectivo é entrar nesta. Se acabarmos por sair, depois vê-se. Claro que sabemos da dificuldade.

Estás a começar a segunda época na Eslovénia. Qual a tua opinião sobre o futebol do país? Surpreendeu-te de alguma forma?
Surpreendeu-me muito. Não em termos qualitativos, mas de intensidade, de trabalho. A intensidade é alta, trabalha-se muito no aspecto físico, coisa que não fazíamos em Portugal (pelo menos na II Liga). Notei muita diferença aí.

E adaptaste-te bem?
Sim, eu no início da época cheguei fisicamente muito bem. Depois ali em Janeiro tive uma quebra física, senti o cansaço dos jogos, do clima. E como aqui fazemos duas pré-épocas, porque o campeonato pára em Dezembro/Janeiro, essa segunda pré-época custou-me muito.

(Em 17/18, o FC Porto emprestou o avançado ao rival Boavista, mas o desfecho não foi o melhor: apenas 1 golo em 20 jogos.)

O que te levou a aceitar o convite da Eslovénia? Quais as motivações?
Além do querer ganhar títulos, queria sentir-me feliz novamente a jogar futebol, como já não me sentia desde o FC Porto. Agora sinto-me claramente preenchido.

Achas que demoraste demasiado tempo a sair da zona de conforto? Ou seja, a procurar desafios longe do teu habitat natural?
Não. Até acho que saio muito da minha zona de conforto. Não saí mais cedo porque não era o melhor momento, porque perdi o meu pai, tinha o meu irmão, a minha mãe… Não era o momento.

Já disseste várias vezes que “aquele” golo ao Braga foi o momento alto da tua carreira. Mas estamos a falar de um dos primeiros jogos “a sério”. Vês-te a conseguir um momento de igual importância (ou maior) num futuro próximo, ou aconteça o que acontecer, esse será sempre o melhor?
Acho que, aconteça o que acontecer, esse vai ser sempre o momento mais importante da minha carreira. Para além de ser no clube que eu amo, no meu clube, foi um golo ao qual o meu pai ainda pôde assistir, que era algo que ele queria muito e sempre acreditou que poderia acontecer. Não sei o futuro, sabemos que o futebol dá muitas voltas, mas ainda é um sonho voltar ao FC Porto. Sei que é uma realidade mais difícil actualmente, mas… temos de sonhar.

(Antes de rumar ao Olimpija Ljubljana no Verão passado, Rui Pedro representou o Penafiel durante época e meia na II Liga.)

Como é viver aí? O país, as pessoas, o clima, a comida, a comunicação…
No clube falamos em inglês – ao início não falava nada, percebia mas não falava e passava mesmo mal! O clima, agora estão 35 graus, o verão é quente, quente. Mas de inverno é frio, – 10! Só há duas estações. A mim custa-me mais o calor, mas prefiro levantar-me e ter sol do que chuva e neve, que isso rebenta logo com a auto-estima (risos)! As pessoas de Leste são mais frias, mas os jogadores são top connosco, fomos bem recebidos desde que chegámos. Comida? Não se come igual a Portugal em lado nenhum! Como carne, é boa mas… Como peixe, é bom mas…

Onde é que gostaste mais de jogar em termos de futebol jogado? Qual se adequou mais às tuas características?
FC Porto. Tanto na formação como na equipa principal. As características foram mudando, antes era ponta de lança de área, de costas para a baliza, podia fazer falso 9. Agora estou diferente, muito mais rápido, muito mais polivalente. Faço extremo, faço ponta, posso fazer 10. Comecei a perceber que podia fazer a diferença a extremo, não só pela velocidade e inteligência como pela qualidade técnica, e comecei a trabalhar mais a explosividade no ginásio. E aqui ajudou-me muito, fazem trabalho específico e trabalha-se mesmo muito o físico.

No ano passado tiveste o David Sualehe, que já conhecias, e o Samuel Pedro. Agora tens também o Jorge Silva e o treinador – João Henriques. É uma vantagem? Ou dá-te mais pressão ser treinado por um português?
Não sei dizer se é uma vantagem, porque tens de trabalhar na mesma ao máximo e mostrar que estás apto para ele contar contigo. Jogar ou não, a decisão vai ser sempre do treinador, seja português, espanhol, inglês… Antes de tudo, ele quer o melhor para ele e para a equipa, não vai estar a pensar só em ti. Se trabalhares no teu máximo, tens sempre mais possibilidades de jogar.

(Por Portugal, o jogador natural de Pedorido, concelho de Castelo de Paiva, apontou 16 golos em 46 internacionalizações entre os Sub-15 e os Sub-20.)

Em entrevista ao zerozero que deste há uns meses, dizias que tens uma personalidade complicada, mais no sentido de ser exigente com os colegas, e que não te sentias tão focado desde que estavas no FC Porto. Porque achas que te faltou isso nos outros clubes?
Quando te sentes importante na equipa, quando os outros jogadores te mostram isso nos treinos, nos jogos, acreditam em ti, dão-te a bola, começas a ganhar confiança. E quando um jogador tem uma personalidade complicada, pode dar para os dois lados: quando está bem, rebenta com tudo e corre tudo muito bem; quando está mal, faz coisas de que se pode arrepender depois. Tenho uma personalidade muito difícil, sou muito exigente comigo mesmo e com os meus colegas, às vezes levanto os braços a reclamar com eles, e isso não faz sentido nenhum. Tenho de mudar isso, é um facto.

Dizias também que já percebeste que os números importam mais do que as exibições. Continuas a pensar assim? E sentes-te confortável com isso?
Não, não me sinto confortável com isso. Mas tenho de melhorar os números para ser ainda melhor jogador, porque hoje dá-se muito valor a esse tipo de coisas. Se és ponta-de-lança, tens de fazer 15 a 20 golos por época; se fores extremo, tens de marcar 10 e fazer 7 ou 8 assistências. É o que é, o futebol mudou. Antes, tinhas Zidane, Figo como melhor jogador do mundo, até o Cannavaro ganhou; a partir do Ronaldo e do Messi, tinham de distinguir um do outro pelos golos, e por isso o melhor do mundo passou a ser o melhor marcador do mundo…

Ídolos de infância, ou em quem te revias/revês na tua posição?
A minha referência na formação sempre foi o Falcao, era o meu ponta-de-lança preferido por tudo o que fazia em campo. Da actualidade gosto de muitos, não sei dizer um específico… Adoro a equipa do Manchester City toda (risos)!

(Rui Pedro desde cedo se destacou por marcar muitos golos, razão que o fez “saltar” escalões no FC Porto.)

Tu gostas mesmo de futebol, já deu para perceber!
Sou completamente viciado. Vejo jogos repetidos, toda a gente sabe, dizem-me sempre “És mesmo doente!” Adoro mesmo futebol e adoro acompanhar.

Que treinador mais te marcou?
Vou ser mesmo sincero: todos os treinadores que apanhei na formação do FC Porto. Foi uma constante evolução. Não quero ser injusto com nenhum porque adorei mesmo todos. Mas o Nuno Espírito Santo foi o treinador que me lançou na primeira equipa, e o Luís Castro pela pessoa que ele é e pelo treinador que é, que nunca deixou dúvidas a ninguém.

O que ainda tens para atingir na carreira?
Para já, espero conseguir entrar com o Olimpija numa competição europeia. Em termos de futuro não sei dizer, acho que os objectivos são algo que tens de ir colocando consoante o que vai acontecendo na tua vida. Tens de ter objectivos conscientes. É por aí.

Rui Pedro: a ousadia e a genialidade de mãos dadas na Eslovénia

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Rui Pedro, ponta de lança que representa os eslovenos do Olimpija Ljubljana, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

O primeiro bis de Rui Pedro no espaço de quase seis anos teve o seu autor perfeitamente retratado: se o primeiro golo, quase um “roubo” de bola ao colega, foi “cheeky”, expressão que se pode traduzir em português como “ousado”, já o segundo constituiu um apontamento claro da genialidade do artista em questão. O avançado natural de Pedorido, Castelo de Paiva, fez o resultado na recepção do Olimpija ao Tabor Sezana, somando já quatro golos e três assistências em seis jogos realizados no líder incontestado da Liga da Eslovénia, onde encontrou o lugar ideal para se reinventar como jogador e voltar a almejar aos grandes palcos.

Onde, é bom lembrar, já esteve e não há muito tempo. Bem… na verdade, já há algum tempo. De facto, já se ouve falar do nome de Rui Pedro há vários anos, até porque com apenas 16 já brilhava na Youth League pelos juniores do FC Porto e já era presença habitual nos treinos da equipa principal sob as ordens de Julen Lopetegui. Produto quase exclusivo da formação do Porto, ainda que tenha iniciado esse percurso no Sporting Paivense e tenha passado uma época no Padroense, que nos Juvenis funciona como clube-satélite dos Dragões, o atacante seria lançado aos 17 anos na equipa B e acabaria por tocar o céu naquele célebre 3 de Dezembro de 2016, quando saiu do banco ao minuto 75 de um Porto-Braga para, no último suspiro da partida, marcar o golo que deu a vitória ao conjunto na altura orientado por Nuno Espírito Santo após cinco empates consecutivos (e mais de 500 minutos sem golos marcados, no que constituiu a maior seca da História dos azuis-e-brancos).

“Ainda não estou em mim. Foi a melhor coisa que me aconteceu na vida”, dizia no rescaldo desse encontro, que viria a marcar toda a sua carreira – para o bem e para o mal. No que se seguiu dessa temporada 2016/17, continuaria a alternar entre a equipa principal, a B e até os juniores, terminando a época com 18 golos (11 nos juniores, 5 nos bês e 2 na equipa principal, juntando a esse golo ao Braga um tento também a fechar uma vitória caseira diante do Rio Ave (4-2) em Janeiro de 2017. Por essa altura, Rui Pedro era já seguido a nível mundial e cotado como uma das grandes esperanças pelas publicações da especialidade – chegou, de resto, a estar nomeado para o prémio “Golden Boy” em 2017, sendo ainda destacado pela UEFA como um dos 10 nomes a seguir na sequência das prestações no Europeu de sub-19 desse mesmo ano, onde marcou dois golos em quatro jogos, com Portugal a ser derrotado pela Inglaterra na final (1-2).

A chegada de Sérgio Conceição ao comando técnico dos Dragões, porém, significou menos oportunidades (ou nenhuma) para o atacante paivense, que no início de 2017/18 seguiu por empréstimo para o Boavista. Após um total de 20 jogos, sendo apenas 5 como titular, e somente um golo – por entre acusações de falta de “entrega” do jogador por parte do técnico Jorge Simão –, Rui Pedro afirmou mesmo ter vivido “a pior época da carreira”, garantindo no entanto que “voltava a fazer tudo igual”. A verdade é que voltaria a encontrar as portas do Dragão fechadas para 2018/19 e, depois de meia época na equipa B (e sem qualquer protagonismo, com apenas 5 jogos realizados e 1 golo), seguiu para nova cedência, desta feita na II Liga, tendo o Varzim como destino.

“Vou agarrar esta oportunidade como se fosse a última”, disse então. A promessa, todavia, não passou mais uma vez disso mesmo, e 13 jogos e apenas 1 golo depois, Rui Pedro voltou a ter o rótulo de excedentário dos azuis-e-brancos e acabou novamente emprestado, agora para um patamar ainda mais baixo: a II Divisão B espanhola, para reforçar a equipa secundária do Granada. “As coisas não correram como queria. Ainda hoje não percebi o que aconteceu e muitas coisas que se disseram sobre mim. Essas coisas nunca me afetam, mas a verdade é que de um momento para o outro passei dos 100 para o zero”, assumiu na altura.

A aposta, porém, voltou a revelar-se falhada: o avançado fez apenas 2 golos em 14 jogos (só 8 a titular) e a meio da época pediu para voltar a Portugal, juntando-se ao Leixões, onde alinhou em 2 partidas antes da suspensão definitiva da II Liga em Março devido à pandemia do coronavírus. Voltaria a Matosinhos em Setembro, então já em definitivo, deixando sempre no ar a hipótese de um dia poder regressar ao Porto, que nunca escondeu ser o seu clube do coração. Após 2 golos em 15 jogos, a maioria como suplente utilizado, mudar-se-ia em Janeiro de 2021 para o Penafiel, somando 5 golos nas 46 partidas que disputou em época e meia.

Até que chegou o último verão, e com ele o fim da ligação contratual aos durienses. Livre para poder definir o seu futuro, Rui Pedro optou por se aventurar pela segunda vez na carreira no estrangeiro, aceitando o convite do terceiro classificado da última edição da Liga eslovena – e para onde já se tinham transferido poucas semanas antes os portugueses David Sualehe (com quem coincidiu na formação portista) e Samuel Pedro (ex-Benfica e Covilhã) e o luso-guineense Aldair, que se notabilizou em Portugal ao serviço do Penafiel. E dificilmente poderia estar a correr melhor: o avançado já é um dos grandes destaques da equipa e mesmo de todo o campeonato, definindo-se hoje como um jogador muito diferente daquele menino que há 6 anos fez as delícias dos adeptos dos Dragões.

“Se eu fosse treinado pelo Sérgio [Conceição], hoje em dia não tenho dúvidas que ficava comigo. Na altura em que fui treinado por ele cometi alguns erros. Tinha 19 anos. Acho que a minha personalidade é muito parecida com a dele, vivo muito as coisas. Falavam-me mal e eu respondia igual. Agora já não. Sempre tive uma mentalidade muito forte, mas a minha personalidade fez-me andar para trás. Sei que o meu feitio é difícil. Sou um jogador que gosta de ser acarinhado e sou muito exigente também com os meus colegas e isso, em vez de beneficiar a equipa, tinha o efeito contrário. Sou novo, mas já ando nisto há muitos anos e agora que estou fora é que vejo como é difícil”, assume em entrevista recente ao “Zerozero”, apontando também mudanças no aspecto desportivo: “Agora se tiver uma oportunidade para marcar, sinto que é a última, percebes? Estou muito focado nos números, não tanto em jogar. Sou um avançado que não fica só na área, mas agora estou mais preocupado com isso. Percebi que os números importam muito. Não demorei a perceber, mas custa-me ver que os números são mais importantes do que as exibições.”

A verdade é que, no campo, já lá vão 3 jogos a titular, 4 golos e mais 3 assistências, com o ponto alto a ser então o bis do último fim-de-semana (seu primeiro desde o jogo com o Fafe a 28 de Outubro de 2016, para a II Liga). Aos 24 anos, e com contrato válido apenas até ao fim da temporada, Rui Pedro aposta todas as fichas nesta passagem pela Eslovénia para voltar a gozar do estatuto e reconhecimento de outrora; a julgar pelas primeiras impressões, não restam dúvidas de que o avançado que tinha no colombiano Radamel Falcao o seu grande ídolo nos tempos de Porto, está (finalmente) a fazer em campo por merecer novamente o foco mediático – como naquele 3 de Dezembro de 2016, quando viveu o momento mais marcante enquanto futebolista.

Paivense: o outsider que tirou a invencibilidade ao líder

paivense(Paivense está a ser a grande surpresa da Zona Norte da Elite da AF Aveiro.)

Mora em Castelo de Paiva a “equipa sensação” da Zona Norte da Divisão de Elite de Aveiro: com dezassete jornadas decorridas, o Paivense subiu ontem ao segundo lugar da tabela e está agora a apenas dois pontos da liderança, embora tenha mais um jogo do que o terceiro classificado que é a Ovarense.
Num campeonato composto por doze equipas, cujo as quatro primeiras se apuram para a fase de subida, o Paivense não era, de início, apontado aos primeiros lugares, mas tem provado com o decorrer da prova que é uma equipa a ter em conta para esse objetivo e ontem, mais uma vez, voltou a demonstrar a sua força.
Em casa do líder União de Lamas, invicto até então, a formação comandada por Paulo Mendes correspondeu da melhor maneira à exigência do jogo que tinha pela frente e goleou por 4-1, voltando assim a tirar pontos ao histórico emblema unionista, depois do empate a uma bola na primeira volta.
Depois de um arranque considerado normal, em que venceu o Cesarense em casa emprestada (1-0), perdeu em Ovar (0-2) e empatou em Canedo (0-0), o Paivense “embalou” e até ao fim da primeira volta não voltou a perder, somando seis vitórias – três delas consecutivas – e dois empates em oito jogos, desempenho que deixou a equipa no segundo lugar aquando da viragem do campeonato.
Na segunda volta, os azuis começaram por perder em Cesar (3-4), empataram na receção à Ovarense (1-1) e perderam no seu reduto com o Canedo (1-2), naquela que é a única derrota caseira, e têm vindo a “recuperar terreno” nas últimas semanas, graças aos triunfos em Esmoriz (1-0) e Lamas (4-1) e ao empate com o Florgrade (1-1).
No plantel do Paivense, há um nome que se destaca dos demais: Everton, avançado brasileiro de 38 anos, passou sete épocas nos holandeses do Heracles, é, inclusive, o melhor marcador da história do clube, e esta época já leva dez golos em catorze jogos, ao lado de vários jogadores que têm bonitas carreiras nos nossos Campeonatos Nacionais e Distritais, como Eduardo, Gustavo, Gazela, Sanguedo ou Costa Pinto.
A cinco jornadas do fim da fase regular do Campeonato SABSEG, o Paivense está assim em posição privilegiada para atingir a fase de subida, depois de ter arrancado a temporada como “outsider” em relação aos primeiros lugares.

Análise à Divisão de Elite da AF Aveiro 2019/2020

sabseg1920(Logotipo da autoria da AFATV.)

O fim antecipado da temporada 2019/2020 impediu dezenas de festas que aconteceriam em todos os Campeonatos Distritais do nosso País.
Em Aveiro, o meu Distrito, São João de Vêr, na Divisão de Elite; Fermentelos ou Vista Alegre, na I Divisão; Nogueira da Regedoura ou Florgrade, na Zona Norte da II Divisão; e AD Valonguense, Bustos ou Mealhada na Zona Sul da II Divisão, eram as equipas que melhor estavam posicionadas para eventualmente se sagrarem Campeãs Distritais dos respetivos campeonatos.
Por ser a Divisão de Elite da AF Aveiro – também conhecida como Campeonato SABSEG por questões de patrocínio – o campeonato que melhor conheço e mais acompanhei ao longo da época, fica aqui uma pequena análise àquilo que foi a participação das dezoito equipas no campeonato:

1º São João de Vêr (62 pontos)

De longe o melhor plantel do campeonato, desde muito cedo se soube que o São João de Vêr seria o grande candidato à subida ao Campeonato de Portugal. Os “malapeiros” apostaram forte no regresso ao terceiro escalão e por duas vezes atingiram oito vitórias consecutivas, sendo que uma dessas séries foi interrompida pela suspensão dos campeonatos. Com 20 vitórias em 23 jornadas, os sanjoanenses tinham, no dia 10 de Março – quando foi suspensa a época -, treze pontos de vantagem para o segundo classificado e o único dissabor da época foi a eliminação da Taça Distrital aos pés do Estarreja. A subida aos Nacionais por via administrativa é um prémio inteiramente justo para a equipa orientada por Ricardo Maia.

2º Ovarense (49 pontos)

De volta ao topo do futebol aveirense, a histórica Ovarense foi, para mim, a surpresa, revelação e afirmação do campeonato: oito vitórias nas primeiras oito jornadas, nove vitórias em dez jornadas e um segundo lugar final que vale ao clube a presença na Taça de Portugal da próxima época. A juntar a isto, na Taça de Aveiro, os “vareiros” chegaram às Meias Finais e tinham tudo para atingir a final. Tiago Leite, antigo jogador do clube que chegou a atuar pela Ovarense na II Liga, foi o timoneiro do plantel que protagonizou uma excelente temporada e acabou onde poucos acreditariam que acabasse. Em Ovar, já se sonha com o regresso do clube aos Campeonatos Nacionais e até profissionais.

3º União de Lamas (48 pontos)

Um dos principais candidatos à subida a par de São João de Vêr e Pampilhosa, o histórico União de Lamas fez, esta época, uma forte aposta no mercado internacional, contratando muitos jogadores brasileiros e africanos, que se juntaram a jogadores que são já referências do clube como Joel, Sanguedo ou Joca. Orientados por Ricardo Nascimento, os lamacenses andaram muitas jornadas na luta com São João de Vêr e Ovarense, mas começaram a “perder o comboio” justamente depois de uma derrota com o vizinho e rival São João de Vêr. Com apenas um ponto a separar Ovarense e Lamas ao fim da 23ª Jornada, a luta pelo segundo lugar, acredito, seria intensa entre estes dois históricos que merecem estar noutros patamares.

4º Pampilhosa (41 pontos)

Pela terceira época consecutiva, o Pampilhosa competiu na Divisão de Elite da AF Aveiro e pela terceira época consecutiva, a realidade não correspondeu à expetativa. Candidatos à subida, os azuis e brancos estavam já a nove pontos do líder ao fim de nove jornadas, mas seis vitórias nas sete partidas seguintes e um empate com o São João de Vêr, devolveram a esperança aos “ferroviários”. Contudo, o fim da primeira volta e início da segunda foi mortífero para o “Pampi”, que somou dois desaires e um empate e disse adeus à subida. Para piorar a situação, na Taça de Aveiro, os bairradinos perderam por 1-4 em Canedo e ficaram sem objetivos concretos na temporada ainda em Janeiro.

LamasCanedo(U. Lamas 3-1 Canedo, 9ª Jornada. Autoria: facebook U. Lamas.)

5º Cesarense (39 pontos)

Depois de uma época dramática que chegou a colocar em causa a continuidade do clube, o Cesarense reergueu-se e fez um excelente campeonato. À boleia de um protocolo assinado com a Oliveirense, o emblema de Cesar montou um plantel jovem e de qualidade e pôde usar alguns jogadores dos oliveirenses, sendo o caso de maior destaque o capitão Oliveira, que, aos 35 anos, se estreou no Distrital e fez 3 golos em 4 jogos. O 5º lugar final abrilhanta, de certa forma, a campanha dos cesarenses, que chegaram a ter cinco vitórias consecutivas e nos últimos doze jogos oficiais só perderam um. Na Taça, o Cesarense atingiu as Meias-Finais, onde iria defrontar o Alba.

6º Avanca (38 pontos)

Guiado por Cajó, treinador que devolveu o Beira-Mar aos Campeonatos Nacionais, o Avanca manteve-se fiel à sua filosofia de ter um plantel jovem com alguns jogadores experientes e, uma vez mais, colheu os seus “frutos”. Os avanquenses viveram a sua melhor fase no campeonato entre as Jornadas 11 e 17, em que venceram cinco partidas e empataram uma, diante da Ovarense. Apesar de na segunda volta os azuis e brancos terem ganho apenas um dos seis jogos que fizeram, esse registo não apaga a temporada positiva que o Avanca vinha fazendo e que permitiu ao clube “acabar” no sexto lugar a apenas três pontos do quarto classificado.

7º Bustelo (34 pontos)

Há quem defenda que um calendário também dita a sorte de uma equipa e o Bustelo pode-se queixar disso mesmo: nas três primeiras jornadas, a formação de Oliveira de Azeméis defrontou três candidatos à subida, Pampilhosa, U. Lamas e SJ Vêr, perdeu todos os jogos e era a única equipa sem pontos ao fim de 270′ minutos. A partir daí os bustelenses começaram a melhorar aos poucos e conseguiram, entre as Jornadas 11 e 15, cinco vitórias consecutivas que os catapultaram para um lugar tranquilo. Contudo, a segunda volta vinha sendo má para o Bustelo que teve apenas uma vitória e dois empates nas seis jornadas que disputou. Apesar do fim precoce do campeonato, esperava-se mais desta equipa que participou, inclusive, na Taça de Portugal e até avançou a 1ª Eliminatória graças a um triunfo por 3-1 em casa do Manteigas.

8º São Vicente de Pereira (30 pontos)

Desde 2002/2003 que o São Vicente de Pereira não marcava presença no principal campeonato aveirense. Afastado destas lides há muitos anos, o clube pertencente ao concelho de Ovar manteve a base da equipa que se sagrou Campeã da I Divisão na época anterior e juntou-lhe jogadores como Zé Bastos, Vítor Hugo, Charneca, Rúben Gomes ou Luís Vaz, atletas de qualidade reconhecida e habituados a estas andanças e até a outros campeonatos. O arranque dos vicentinos não foi o desejado – uma vitória e cinco empates nas primeiras oito jornadas -, mas a série de quatro triunfos consecutivos entre a 15ª e a 18ª rondas projetou-os para a primeira metade da tabela. A segunda volta estava longe de ser a ideal, com quatro derrotas e um empate nas últimas cinco partidas.

9º Esmoriz (30 pontos)

Uma troca de treinador ainda na pré-época deixou o Esmoriz em alvoroço, mas o que é certo é que os esmorizenses tiveram um arranque muito bom e ao cabo de nove jornadas ocupavam o quarto lugar a seis pontos da liderança. Depois de derrotas e duas vitórias nos quatro jogos seguintes, o emblema da Barrinha começou a cair de produção e nos últimos dez jogos que fez até ao dia 10 de Março, somou seis derrotas, três empates e apenas um triunfo. Eliminado da Taça em casa pelo Arrifanense, da I Divisão, no desempate por penaltis, o fator casa não foi nada favorável ao Esmoriz esta época: duas vitórias em onze jogos oficiais.

fiaesovarense(Fiães 1-1 Ovarense, 11ª Jornada. Autoria: jornal Correio da Feira.)

10º Canedo (29 pontos)

Mudança foi a palavra que marcou a época 2019/2020 para o Canedo: nova direção, nova equipa técnica e novo… plantel: é que do elenco que tinha alcançado a subida meses antes, apenas o médio Bruninho permaneceu de azul e amarelo. Uma mudança drástica no plantel que deu os seus frutos ou não estivessem os canedenses num confortável 10º lugar à data da suspensão dos campeonatos, semanas depois de terem sido eliminados nos Quartos-de-Final da Taça de Aveiro. A contratação de vários jogadores credenciados no futebol aveirense e até nos Campeonatos Nacionais, como Fredy, Letz, Tintim, Marcelo Pinheiro ou Osório, faziam do Canedo um candidato aos lugares cimeiros, mas a campanha canarinha foi bem mais discreta. Ainda assim, foi uma época positiva para o clube do Nordeste de Santa Maria da Feira, que conseguiu o seu grande objetivo: afirmar-se na Divisão de Elite.

11º Alba (28 pontos)

Construir um plantel totalmente de raíz parece tarefa difícil, mas não é impossível. Que o diga o Alba, que não renovou com um único atleta de 2018/2019 e montou uma equipa totalmente nova para atacar esta temporada. Com os olhos postos no futuro, a direção do clube de Albergaria a Velha apostou num rompimento com o passado e na contratação de atletas muito jovens, aos quais juntou meia dúzia de atletas com experiência e três Campeões Distritais em título pelo Beira-Mar – Diogo Lobo, Marco Pais e Mathieu, este último já no decorrer da temporada. A época estava a ser tranquila para os amarelos e azuis que nunca sofreram, por exemplo, mais do que dois golos num jogo e iam disputar o acesso à final da Taça de Aveiro com o Cesarense.

12º Carregosense (27 pontos)

Um dos clubes que mais tarde iniciou a preparação da temporada e mais alterações fez no plantel para a nova época, o Carregosense pagou essa fatura no início do campeonato, já que ao fim de oito jornadas tinha apenas cinco pontos. Esta situação originou uma troca de treinador, regressando ao clube Luís Miguel, que como jogador se sagrou Campeão do Mundo de Sub-20 por Portugal em 1991. Com esta mudança, o plantel também sofreu alterações e a turma de Carregosa começou a recuperar no campeonato, destacando-se as cinco vitórias e três empates que conseguiu nos últimos dez jogos oficiais que fez antes da interrupção da época. A permanência estava bem encaminhada.

13º Fiães (27 pontos)

Rui Lopes, Luís Moreira, Ricardo Correia ou Jonathan. Foram estes alguns dos reforços do Fiães que, pelo passado e qualidade que lhes era e é reconhecida, faziam dos fianenses um candidato aos primeiros lugares. Puro engano. O trajeto da turma do Bolhão foi irregular e nem o facto de por duas vezes terem conseguido vencer duas partidas consecutivas fez com que se estabelecessem na parte superior da tabela. Uma série de seis derrotas consecutivas, entre campeonato e Taça, motivou uma troca de treinador, mas José Pedro, que subiu o clube à II Divisão B em 2004, não conseguiu melhor do que três vitórias nas oito partidas que fez.

14º Gafanha (24 pontos)

À semelhança do Cesarense, o Gafanha teve uma queda “traumática” do Campeonato de Portugal, passando por imensas dificuldades que colocaram igualmente a sobrevivência do clube em causa. O futuro dos azuis foi assegurado através da entrada de um investidor sul-americano que consigo trouxe dezassete atletas do outro lado do Atlântico, entre equatorianos, uruguaios, colombianos ou paraguaios, e um treinador venezuelano. As habituais dificuldades de adaptação a uma nova realidade fizeram-se sentir e o Gafanha tinha apenas duas vitórias em dez jornadas. Os ilhavenses começaram a estabilizar os seus resultados na segunda parte da primeira volta mas a segunda volta estava a ser má: quatro derrotas consecutivas até à época ser suspensa.

EsmorizOlBairro(Esmoriz 0-1 Oliveira do Bairro, 19ª Jornada. Autoria: facebook Ol. Bairro.)

15º Estarreja (22 pontos)

Há não muitos anos o Estarreja dava cartas no CNS e até disputava a subida à II Liga, mas agora a realidade do clube é outra. Com um plantel muito jovem e com uma forte aposta na formação, o Estarreja teve a sua melhor fase sensivelmente a meio da época, em Dezembro, quando conseguiu três vitórias em quatro jogos entre campeonato e Taça – onde cometeu a proeza de afastar o São João de Vêr. No novo ano, o clube entrou de “pé esquerdo” e venceu apenas um dos nove jogos oficiais que fez – contra o Cucujães para o campeonato – e até foi eliminado com surpresa da Taça, em casa, pelo Calvão, que era, naquela altura, último classificado do segundo escalão da AF Aveiro.

16º Paivense (19 pontos)

Para mim outra das desilusões da época, o Paivense vinha, ultimamente, em recuperação no campeonato e ia ter muito que dizer em relação às contas da permanência. Conhecido por ser um clube difícil de superar no seu reduto – apenas o Campeão Beira-Mar e o Pampilhosa na última jornada venceram em Castelo de Paiva em 18/19 -, o Paivense somou oito derrotas nos primeiros oito jogos caseiros que efetuou, sendo que três deles até foram consecutivos, e só se estreou a vencer na prova à 11ª Jornada. A chegada do técnico Carlos Manuel em Novembro e as posteriores contratações dos avançados Mário e Ginho ajudaram a devolver o Paivense à luta pela manutenção, e nas últimas cinco partidas que disputou, a turma de Castelo de Paiva venceu três, a última das quais diante da Ovarense.

17º Oliveira do Bairro (16 pontos)

Com muitas mexidas no plantel, o Oliveira do Bairro chegou ao fim de seis jornadas com seis pontos – uma vitória -, mas a partir daí entrou numa espiral negativa e perdeu, imagine-se, onze jogos consecutivos no campeonato entre as Jornadas 7 e 17. O enguiço foi quebrado na primeira jornada da segunda volta, contra o Canedo, e numa altura em que já tinha chegado ao clube o técnico Maná, com experiência no CNS ao serviço do Mortágua, que consigo trouxe alguns reforços que permitiram aos bairradinos somarem dez pontos em dezoito possíveis na segunda metade do campeonato. A manutenção continuava a ser um objetivo bem possível.

18º Cucujães (13 pontos)

De regresso ao maior escalão de Aveiro após duas épocas de ausência, o Cucujães manteve-se, e muito bem, fiel àquilo que são os seus princípios de há uns anos a esta parte: orçamento baixo e “não dar passos maiores do que a perna”. Apesar de até se ter reforçado com cinco jogadores da Divisão de Elite, os cucujanenses andaram praticamente sempre na zona de descida e na primeira volta fizeram somente dez pontos. Na segunda volta, os registos vinham sendo equilibrados com três empates e três derrotas em seis jogos, que deixaram, ainda assim, a turma oliveirense no último lugar da tabela à data da suspensão dos campeonatos.

Sandro Gonçalves: “É uma vitória muito importante para o nosso futuro”

77411889_2503829489899348_2221414285865648128_n(Sandro Gonçalves cumpre a quarta época consecutiva ao serviço do Paivense e fez dois golos na primeira vitória da sua equipa no campeonato.)

A disputar o escalão mais alto da AF Aveiro pela décima segunda temporada consecutiva, nunca o Paivense tinha tido um arranque tão negativo como o deste ano: dez jogos, dois empates e oito derrotas, seis delas no seu próprio reduto.
Ontem, na 11ª Jornada da Elite aveirense, os paivenses perdiam por 0-2 ao intervalo em Cucujães, mas, na segunda parte, deram o “grito de revolta” e operaram a “remontada” no marcador, vencendo por 3-2 e conquistando assim o primeiro triunfo no campeonato diante de um adversário direto na luta pela permanência.
Sandro Gonçalves, médio ou defesa direito do Paivense, que ontem bisou na conversão de duas grandes penalidades, esteve à conversa com o blog e começou por destacar a fantástica reviravolta da sua equipa na tarde de ontem:
“É uma vitória muito importante para o nosso futuro no campeonato. O jogo não foi muito bem conseguido na primeira parte, estivemos muito aquém do que somos capazes de fazer, mas depois, no intervalo, acho que conseguimos falar e concentrarmo-nos em um só objetivo, que era a vitória, e, graças a Deus, conseguimos. Estou bastante contente pelos dois golos que fiz de penalti e que ajudaram a equipa a finalizar uma reviravolta incrível”, afirmou.
Por tradição, jogar em Castelo de Paiva, é sinónimo de dificuldades para quem visita o Estádio Municipal da Boavista e a temporada passada foi bem sinónimo disso, já que o Paivense apenas sofreu duas derrotas em casa, uma delas diante do futuro Campeão, Beira-Mar.
Contudo, esta época, a história tem sido bem diferente e todas as seis equipas que defrontaram o Paivense na condição de visitante, saíram vencedoras, algo que também ajuda a explicar o atual último lugar dos paivenses na tabela classificativa.
Sandro Gonçalves acredita que a vitória em Cucujães pode ser o “verdadeiro” início de campeonato para a sua equipa, sublinhando que o grupo se agarrou muito à eventual falta de sorte para justificar os maus resultados iniciais:
“(Já tiveram seis jogos em casa e perderam todos…) Sim, não é normal isso acontecer no Paivense, e temos o exemplo do ano passado, em que só perdemos dois jogos em casa. Acho que nos começamos a agarrar muito ao fator de falta de sorte, quando, na realidade, era mais falta de concentração nossa do que outra coisa. A vitória de ontem pode ser o nosso verdadeiro início de campeonato, em que queremos lutar até ao fim e demonstrar aquilo do que o SC Paivense é capaz”, vincou.
A cumprir a quarta temporada consecutiva ao serviço da turma de Castelo de Paiva, Sandro Gonçalves já leva mais de cem jogos pelo Paivense, onde tem vindo a ser um dos jogadores mais utilizados e influentes da equipa ao longo das últimas épocas.
Sobre a época em curso, o jogador luso-venezuelano assume que tinha objetivos estabelecidos a nível pessoal, mas por força da situação incómoda em que a equipa se encontra, o seu foco está em ajudar o clube a dar a volta:
“Tinha certos objetivos pessoais para este ano, mas, por motivo da nossa situação, tive que os mudar e focar-me mais em dar tudo de mim para que a nossa equipa consiga continuar a lutar e para que possamos sair desta situação complicada. Em relação aos objetivos que temos como equipa, passam por lutar jogo a jogo e conseguirmos sempre o melhor, neste caso, a vitória, para atingirmos a manutenção”, frisou o camisola vinte do Paivense, que destacou a aprendizagem que tem tido ao serviço do clube e realçou, também, o apoio e a presença da massa adepta paivense:
“O SC Paivense tem sido um clube de muita aprendizagem para mim a todos os níveis. Acho que me deparei com pessoas muito competentes no futebol, que têm sido impecáveis comigo a nível desportivo e pessoal. Os adeptos são bastante fiéis ao clube e, apesar de tudo, apoiam sempre os jogadores, coisa que não acontece em todo o lado. Penso que, nesta divisão, o Paivense precisava de mais um bocadinho de respeito e valor por parte de algumas instituições, porque apesar das dificuldades até agora, tem sido sempre um ambiente incrível”, elogiou.
Em Portugal desde 2015, Sandro Gonçalves tem, no seu curriculum, um jogo na I Divisão venezuelana, onde alinhou pelo Deportivo Petare, mas, no nosso País, ainda só jogou nos Campeonatos Distritais da AF Porto e da AF Aveiro.
Numa breve viagem ao seu passado desportivo, o atleta destaca precisamente o momento em que se estreou no topo do futebol venezuelano como o momento mais positivo da sua carreira e lembra os problemas que teve para poder jogar em Portugal devido à transferência do certificado internacional:
“Na Venezuela, tive a oportunidade de jogar um jogo na Primeira Divisão de lá antes de ter a infelicidade de ter uma lesão e alguns problemas por causa dela. Acho que o melhor momento que já tive foi mesmo o meu primeiro jogo como profissional, na Venezuela, e também incluo o meu primeiro golo na Europa, com o São Félix da Marinha. A chegada a Portugal não foi difícil, tive muito apoio familiar e fiz amigos muito depressa. O ingresso no São Félix da Marinha não foi fácil, por causa do chamado certificado internacional, que era muito caro, mas com ajuda de muita gente interna no clube, conseguimos concretizar a inscrição para que eu pudesse jogar a segunda volta completa”, recordou.
Dono de uma polivalência assinalável, já que pode jogar como defesa direito, médio e até extremo direito, Sandro Gonçalves tem agora dez jogos e dois golos na Divisão de Elite da AF Aveiro 2019/2020.
Atualmente com 24 anos, o atleta não esconde que tem objetivos para a sua carreira e que gostava de alcançar outros patamares, afirmando que, para isso, tem de continuar a trabalhar e também ter um pouco de sorte na sua carreira:
“Sim, sem dúvida que um ponto a favor que tenho, é que consigo ser bastante polivalente e fazer algumas posições. Tenho muitos objetivos que gostava de cumprir, sei que alguns estão mais ‘longe’ do que outros, mas, para já, gostava de conseguir alcançar patamares diferentes ou equipas com expetativas e objetivos diferentes. Mas, para isso, tenho de esforçar-me e trabalhar ainda mais, pois nada se consegue sem sacrifício, e claro, é necessário ter um bocado de sorte e alguma confiança que possam depositar em mim”, concluiu.
Sandro Gonçalves começou o seu percurso futebolístico na Venezuela, onde representou Deportivo Galicia, Deportivo Petare e Hermandad Gallega. O São Félix da Marinha, em 2015/2016, foi o seu primeiro clube em Portugal, seguindo-se a mudança para o Paivense, onde se mantém até aos dias de hoje.