Zé Leite: fim do calvário deixou água na boca

zeleite(Zé Leite é um dos reforços da Oliveirense para a nova época.)

A 3ª Jornada da II Liga ficou marcada pelo regresso de Zé Leite aos relvados: após nove meses de “calvário” devido a uma lesão sofrida em Novembro do ano passado, o extremo voltou finalmente a alinhar numa partida oficial, estreando-se, ao mesmo tempo, com a camisola da Oliveirense diante do FC Porto B (0-2).
Sem jogar oficialmente desde o dia 7 de Novembro de 2021, então ao serviço do Felgueiras, Zé Leite foi lançado aos 64 minutos por Fábio Pereira na partida que decorreu no Centro de Formação do Olival, e teve uma estreia muito positiva num escalão profissional, já que a sua entrada mexeu claramente com o jogo ofensivo da Oliveirense, que ficou perto de marcar numa jogada criada por si.
Sendo certo que as lesões nunca são bem-vindas na carreira de um atleta, a que afetou o futebolista natural de Vale de Cambra não poderia ter chegado em pior timing: reforço do Felgueiras para 21/22, o extremo estava a ser um dos destaques dos durienses no início da temporada, tendo sido titular em nove jogos, sete na Liga 3 e dois na Taça de Portugal, nos quais registou duas assistências e um golo.
De regresso aos treinos em Abril passado, Zé Leite não voltou a jogar pelo Felgueiras, mas a qualidade que já tinha demonstrado ao serviço do emblema azul-grená e não só, foi o suficiente para merecer a confiança dos responsáveis da Oliveirense, que apesar da longa paragem que o jogador enfrentou, não tiveram dúvidas na sua contratação.
Curiosamente, o jovem de 22 anos iniciou o seu trajeto no futsal, ao serviço do GDC Lordelo, e até teve uma curta passagem pela formação da Oliveirense antes de se mudar para o Feirense, onde cumpriu grande parte do percurso formativo – passou ainda por FC Porto, Sanjoanense e Cesarense. Como sénior, além dos clubes já citados, representou Avanca, Lusitânia de Lourosa e Sanjoanense.
Jogador muito talentoso e com margem de progressão, Zé Leite tem tudo para ser uma das revelações da II Liga 22/23, e o seu regresso à competição no passado domingo deixou “água na boca” dos adeptos do clube que representa e não só.

Sanjoanense – Oliveirense: último derby acentuou o recente domínio azul e vermelho

SanjoanenseOliveirense2122(Michel Lima e Rui Pedro durante o Sanjoanense 1-2 Oliveirense do passado sábado. Créditos de imagem: facebook da AD Sanjoanense.)

É um dos derby’s mais “escaldantes” do Distrito de Aveiro: Sanjoanense e Oliveirense têm uma rivalidade quase centenária, e esta temporada, após quatro anos de “desencontro”, voltaram-se a defrontar na recém-criada Liga 3.
Adversários pela última vez em 16/17, no Campeonato de Portugal, os emblemas de São João da Madeira e Oliveira de Azeméis seguiram caminhos bem diferentes nas últimas décadas, e este reencontro na nova competição prova isso mesmo, dado que a Sanjoanense foi promovida e a Oliveirense “caiu” da II Liga.
No último sábado, a Oliveirense, que na primeira volta tinha ganho o derby por 2-0 em sua casa, fez uma curta viagem até ao Conde Dias Garcia e voltou a sorrir, apesar de ter ficado reduzida a dez ainda antes da meia-hora de jogo – quando Filipe Marques viu o segundo amarelo, aos 28′, já Michel Lima tinha adiantado os forasteiros (26′).
A Sanjoanense, que até teve boas situações para empatar, logrou fazê-lo à beira do intervalo e com alguma sorte à mistura, visto que foi um auto-golo de Simão Fernandes a restabelecer a igualdade. No segundo tempo, um penalti convertido por Luizinho, aos 52′, acabou por fixar o resultado em 1-2 favorável à Oliveirense, que assim segue em posição de acesso à fase de subida.
De resto, as duas vitórias da Oliveirense sobre o seu maior rival na presente época, acentuam o seu domínio nos últimos confrontos: os oliveirenses somaram a terceira vitória consecutiva diante da Sanjoanense; conseguiram o quinto triunfo nos últimos dez jogos; e têm onze vitórias nos últimos vinte derby’s.
A década de 90 e o início do novo milénio tornaram este derby regional um “habitué” da antiga II Divisão B: desde a introdução do campeonato, em 1990, até 2005, ano em que formato e nome se alteraram, Sanjoanense e Oliveirense só não se defrontaram em 95/96 – ficaram na Zona Norte e Centro respetivamente – e em 01/02, aqui porque a turma de Oliveira de Azeméis disputou a II Liga.
As mudanças introduzidas na competição voltaram a mudar os rivais de série em 05/06, e até ao reencontro em 16/17, os “vizinhos” só por uma vez foram adversários de forma oficial, em 06/07, na 2ª Eliminatória da Taça de Portugal, partida que terminou 3-0 a favor da Oliveirense.
Nota ainda para a última vitória da Sanjoanense sobre o seu rival, que foi justamente no Carlos Osório, por 2-0 em 2016, e para o facto de pertencer à turma de São João da Madeira a vantagem nos confrontos já realizados em provas nacionais: de acordo com os dados disponibilizados, os aurinegros têm trinta e duas vitórias contra trinta do rival em oitenta jogos – dezoito empates

Secretário: no futebol como na vida, um exemplo de superação

secretariofcp(Carlos Secretário esteve ligado ao FC Porto durante onze épocas e meia.)

Nasceu em São João da Madeira, foi rejeitado duas vezes antes de conseguir finalmente entrar na equipa da terra, passou pelas escolas do Sporting antes de chegar ao Porto e andou cinco anos a “marinar” em várias equipas da II e I Divisão – Gil Vicente, Penafiel, Famalicão e Braga – até se firmar nos Dragões. Nas Antas bastaram três temporadas de alto nível para chegar ao topo do mundo e se tornar o primeiro português a representar o Real Madrid, numa experiência que não correu de feição – apesar da medalha de campeão espanhol no bolso – e que o fez regressar à casa de sempre, de onde só sairia já aos 34 anos para fazer uma última temporada no Maia, na II Liga, a pedido do técnico do clube maiato (Mário Reis, seu padrinho de casamento). Como treinador somou passagens por vários clubes nas divisões secundárias, guiando por exemplo o Salgueiros no regresso do histórico emblema aos Nacionais em 2011/12, mas foi em França que deixou o maior legado, tendo conseguido duas subidas de divisão e sendo um ídolo para a comunidade lusa que acompanha o Créteil-Lusitanos.

secretariopt(Secretário representou Portugal em dois Europeus – 1996 e 2000.)

Até que chegou o dia 18 de Dezembro de 2020 e um anúncio que deixou todos no clube bastante abalados: Carlos Secretário decidiu abandonar o comando técnico da equipa devido a um “grave problema de saúde”. “É um dia muito triste para mim. O clube deu-me tudo, mas tenho um grave problema de saúde. Preciso de me curar. A prioridade tem de ser a saúde. Não sei durante quanto tempo estarei afastado dos relvados. Primeiro preciso de conversar com o meu médico. Quem sabe… talvez possa um dia voltar aqui. É uma decisão muito dura na minha carreira, mas eu amo muito a vida”, disse então em conferência de imprensa logo após o empate caseiro com o Concarneau (1-1), referente à 16ª jornada do National, o terceiro escalão do futebol francês, numa altura em que o Créteil-Lusitanos seguia no sétimo posto, a seis pontos da zona de subida directa – neste momento, e já depois de ter visto o seu sucessor, o francês Richard Déziré, despedir-se também, o clube está a ser orientado por Manuel Ramos (ex-adjunto de Secretário) e ocupa a nona posição na tabela, encontrando-se a 16 pontos do segundo posto (último a garantir a subida directa à Ligue 2).

secretarioreal(Secretário foi contratado pelo Real Madrid em 1996.)

Este estava longe de ser um cenário novo na vida de Secretário, na verdade. Nos últimos anos de carreira o antigo lateral/ala direito já tinha atravessado um período muito complicado devido a uma severa depressão, que se terá iniciado com o falecimento do pai em 1998 e agravado com outros problemas pessoais que se seguiram e que afectaram em grande escala a sua segunda passagem pelo Porto – sob o comando de José Mourinho, por exemplo, já pouco jogou, embora o Special One nunca tenha prescindido dele nas convocatórias devido à tão conhecida mística portista e espírito de grupo que o atleta sanjoanense personificava na perfeição.

Depois de vários anos a combater a doença, Secretário recuperou o rumo para a sua vida, abraçando então a carreira de treinador e conhecendo momentos de felicidade com as já referidas subidas de divisão consecutivas quer no Salgueiros (dos Distritais à III Divisão e depois da III à II B), quer em França (primeiro no Lusitanos de Saint-Maur, que levou à quarta divisão francesa, e depois no Créteil-Lusitanos, onde subiu ao terceiro escalão). Há pouco mais de um ano, em entrevista ao Expresso, o antigo internacional português (35 jogos e 1 golo na selecção A, com participações nos Europeus de 96 e 2000) garantia estar preparado para assumir um desafio na II ou até na I Liga portuguesa; o anúncio feito em Dezembro, todavia, voltou a trazer as interrogações em relação à sua saúde… que podem ter ficado desfeitas com a mensagem que publicou no passado dia 17 de Fevereiro, através da sua conta pessoal de Facebook: “Saudades… ⚽ Mas já estou pronto para voltar ao activo”.

160218347_252333629866598_2015020771192142951_n(Secretário fez um excelente trabalho em França ao serviço de Lusitanos e Créteil.)

Por aqui fazemos votos de que o outrora atleta com cujos golos e arrancadas pelo flanco direito tantas vezes vibrámos, hoje com 50 anos e um treinador bem sucedido e estimado por todos os que com ele já trabalharam, supere as questões de saúde com que se tem vindo a debater e que volte em breve ao activo – quem sabe num emblema dos escalões profissionais nacionais, como era seu desejo. Muita força, mister, estamos todos consigo!

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Sanjoanense: a equipa que mais empata em Portugal

Sanjoanense2021(A festa dos jogadores da Sanjoanense após uma vitória na presente temporada. Créditos da foto: AD Sanjoanense.)

Dez empates em dezasseis jornadas fazem da Sanjoanense a equipa com mais empates em Portugal: o emblema que disputa a Série D do Campeonato de Portugal tem tido uma forte tendência para empatar, e só nos últimos sete jogos, registou seis igualdades.
Naturalmente, o “resultado moda” do conjunto de São João da Madeira é, como não poderia deixar de ser, um empate: 1-1. Este resultado já aconteceu por cinco vezes, sendo que quatro empates terminaram sem golos e apenas um teve mais do que um golo para cada lado: o Espinho – Sanjoanense acabou 3-3.
Apesar de tantos empates, a Sanjoanense ocupa, neste momento, o último lugar de acesso à luta pelo apuramento para a III Liga: os “auri negros” estão no 5º lugar com 25 pontos, e, a seis jornadas do fim, a disputa promete ser intensa, já que o 6º classificado, Beira-Mar, soma 23 pontos e tem ainda dois jogos em atraso – e, curiosamente, é treinado por Ricardo Sousa, um sanjoanense de gema.
Por outro lado, a formação orientada por Sérgio Machado, que enquanto jogador representou Vizela e Sp. Covilhã na II Liga além de ter passado pelo Boavista, soma cinco vitórias e somente uma derrota no campeonato, tendo esse único desaire acontecido precisamente diante do Beira-Mar em Aveiro (0-2).
Nota ainda para outro facto curioso: é que dos seis empates com golos que a Sanjoanense já obteve, cinco deles aconteceram nos descontos, para o bem e para o mal. Nas receções ao Anadia e ao Espinho, a equipa que “mora” no Estádio Conde Dias Garcia, empatou à beira do fim; enquanto que nas visitas ao reduto de Espinho, Águeda e Castro Daire, os últimos instantes foram fatais para os sanjoanenses.
E já que estámos a falar de curiosidades, a Sanjoanense empatou os dois jogos que fez diante de São João de Ver, Castro Daire e Espinho, e o mesmo ainda pode acontecer com Lusitano Vildemoinhos, Anadia e Águeda.
Amanhã, os Homens de São João da Madeira até podem ser alcançados na lista dos “empatas” pelo Vilafranquense, da II Liga, que soma já nove empates, tantos quantos B SAD e Boavista na I Liga e Praiense no Campeonato de Portugal.

Ricardo Oliveira: “Fazer a ‘dobradinha’ é uma sensação única”

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Ricardo Oliveira é um dos mais recentes portugueses a sagrar-se Campeão no estrangeiro: o ponta de lança festejou o título em Andorra pelo Inter Escaldes, por quem fez, ainda, a “dobradinha” em 2019/2020.
O jogador, de 24 anos, precisou de apenas meia época em terras andorranas para ser bem sucedido, depois de ter iniciado a temporada no Lorca, da III Divisão Espanhola, onde foi orientado pelo uruguaio Walter Pandiani, ex-jogador de clubes como Deportivo, Birmingham e Osasuna.
Produto da “cantera” do Boavista, o avançado passou também pela formação de Senhora da Hora e Padroense; e, como sénior, já teve quatro experiências no Campeonato de Portugal – Sanjoanense, Sertanense, Fátima e Torcatense; e duas no Distrital da AF Aveiro, por Alvarenga e Lourosa, tendo sido Campeão Distrital por este último.
Em entrevista ao nosso blog, Ricardo Oliveira falou dos títulos que conseguiu recentemente, confessou a sua admiração por Pandiani e assumiu-se como uma pessoa que não gosta de fazer planos:

Conversas Redondas: Acaba de conquistar uma “dobradinha” em Andorra pelo Inter Escaldes. Qual é a sensação?
Ricardo Oliveira: A sensação é única. Fizemos história porque foi o primeiro título de Campeão do clube e interrompemos a hegemonia do Santa Coloma, que ganhou o campeonato seis anos seguidos, e creio que não houve, nos últimos anos, muitas equipas a conseguir juntar a Taça ao campeonato, portanto, foi muito bom. Até pela situação da pandemia, que nos levou a ter o dobro ou o triplo do trabalho, estas conquistas têm um outro sabor.

CR: Qual dos títulos foi mais importante para si? O campeonato ou a Taça?
RO: O campeonato, sem dúvida. Primeiro porque foi o meu primeiro título fora do País e é um “sinal” de que o meu trabalho foi reconhecido/recompensado. Depois, porque, na minha opinião, vencer um campeonato é mais difícil do que vencer uma Taça. No campeonato tens que ser regular, trabalhas semana a semana a pensar nele e quando o conquistas, todo o teu trabalho e o teu esforço durante o ano foram premiados.

CR: Celebraram a conquista do campeonato apenas na última jornada.
RO: Sim, tivemos três “match points” e só no último é que demos o “xeque mate” no campeonato. O Santa Coloma era um rival forte, com muita capacidade e qualidade, uma equipa que joga junta há muitos anos apesar de ter jogadores relativamente jovens, muitos da minha idade, mas quase todos eles internacionais, e já tinham conseguido, noutros anos, assumir a liderança nas últimas jornadas. Na minha equipa tinhamos jogadores muito experientes e essa experiência foi fundamental para que conseguissemos controlar as emoções dia após dia num período em que jogávamos quarta e domingo. Não é uma situação fácil de gerir, mas graças à experiência desses atletas, que já passaram por situações similares, e ao grupo forte que tinhamos, conseguimos o título e terminámos com a hegemonia do nosso rival.

117037516_323427072353156_54752725171051303_n(Ricardo Oliveira cumpriu a segunda metade da época 18/19 ao serviço do Torcatense na Série A do Campeonato de Portugal.)

CR: Com que opinião ficou do Campeonato em Andorra?
RO: Tem duas/três equipas com um nível bom, como era o nosso caso, o do Santa Coloma e o do Engordany; tem o Sant Julià que tem um nível mediano; e depois as outras equipas já não são tão fortes, são semi-profissionais, têm menos condições e menos “matéria prima” do que as que falei. É um campeonato composto por oito equipas que depois parte em dois grupos de quatro e há apuramento de Campeão e luta pela manutenção. Em relação aos campeonatos que já joguei, acho que a grande diferença ali é o ritmo. O jogo parte mais cedo, por volta dos 60’/70′ minutos e fica um jogo mais de transição. Acredito que, às vezes, nem é a tática que resolve os jogos, é a dimensão física e técnica dos jogadores. Um jogador que for mais esclarecido ou mais rápido, pode ajudar a fazer a diferença nos minutos finais e acho que isso é a principal diferença que encontrei. Em termos de jogadores há muita qualidade. Aliás, eu digo sempre que qualidade existe em todo o lado e ali não é diferente. Na minha equipa, por exemplo, há jogadores internacionais Sub-21 por Espanha; o Genís, que foi o melhor marcador do campeonato e jogava comigo na frente, não é internacional mas fez uma grande carreira em Espanha na IIB e na III Divisão; o Marc Pujol e o Ildefons Lima são internacionais por Andorra e o Lima jogou até em clubes de bom nível em Itália, Espanha e Grécia; ou seja, há muita qualidade individual. Eu digo sempre que quando o grupo é forte e quem joga à tua volta tem muita qualidade, tu consegues sobressair também, se tiveres, claro, empenho e dedicação. Para mim, quando assim é, fica mais fácil as coisas correrem bem e estámos mais perto de ganhar. E foi o que aconteceu no Inter.

CR Chegou a Andorra a meio da temporada proveniente do Lorca de Espanha. Porquê esta mudança?
RO: Eu sou uma pessoa que gosta de ter um objetivo claro: é para ganhar, é para ganhar, não gosto de andar por andar. E foi o que aconteceu no Lorca: tinhamos o objetivo de subir, mas ali em Novembro/Dezembro estávamos em 4º ou 5º lugar, já tinhamos estado em 2º ou 3º, e senti que ia ser difícil subirmos porque só sobe um direto e o resto vai ao play-off. Apareceram-me algumas propostas e falei com o mister e com a direção do Lorca para sair porque tinha a ambição de ganhar um título numa I Liga. Eles respeitaram a minha ambição e a minha vontade e só tenho de lhes agradecer por terem facilitado a minha saída.

CR: E porquê o Inter Escaldes?
RO: Quando as pessoas do clube me contactaram e apresentaram o projeto, senti que era mesmo o clube certo para poder singrar e ganhar mais um título. Quando falei com o presidente a primeira vez senti logo que podia estar ali algo de bom e nem quis saber de mais nada, prontamente decidi que era para ali que ia. Eles transmitiram-me que era um projeto que já tinha cinco anos e que o grande objetivo desses cinco anos era uma qualificação para as competições europeias, algo que garantimos umas jornadas antes da fase regular terminar. Mas como estávamos “na calha” para ganhar o título, como o clube nunca tinha sido Campeão e podíamos fazer história, apesar de ter uma proposta do clube rival, e de, naquela altura, estarmos dois pontos atrás do Santa Coloma, achei que poderíamos vencer, e, graças a Deus, não me enganei.

CR: Deduzo que tenha tido uma adaptação fácil pelas semelhanças que existem entre Andorra e Espanha.
RO: Sim, foi fácil. Apesar de ser uma troca de País e haver sempre diferenças, a língua era a mesma e encontrei no plantel alguns jogadores portugueses como o Bruninho que foi formado no Sporting e o Rui Beja que jogou no Farense. Por isso, não tive dificuldades em adaptar-me.

CR: Ao fim de pouco tempo em Andorra surgiu a pandemia. Como foram esses tempos?
RO: Em Andorra não se falava muito sobre isso. Por todo o Mundo falava-se nesse assunto, ali também, claro, mas não era alarmante. Lembro-me que na semana em que tudo sucedeu, estava com a minha namorada em Andorra e, na altura, o clube disse que podiam ser suspensos os treinos e que provavelmente não ia haver jogo naquele fim de semana – até era com o Santa Coloma. Passado um dia, suspenderam toda a atividade do clube e disseram-nos que, à partida, o campeonato ia ser suspenso. No dia seguinte, o primeiro ministro de Andorra disse que as fronteiras iam ser fechadas e, nessa manhã, consegui viajar para Portugal porque o clube facilitou, passei cá a quarentena e, posteriormente, voltei a Andorra. Durante esse período tive a sorte de estar num clube que me ajudou em tudo, foram cinco estrelas connosco. Tinhamos planos de treino, fazíamos video-chamadas… Estivemos sempre acompanhados em tudo e mais alguma coisa, nunca nos faltou nada, fosse apoio psicológico, monetário, etc. Cumpriram connosco a 100% e só tenho de elogiar o esforço que o presidente e todo o staff do clube fizeram para manterem os compromissos. Isso é de louvar, ainda para mais, porque hoje em dia e dada a situação, não é fácil os clubes conseguirem cumprir com todos os seus funcionários e isso foi importante para nós mantermos o foco e a motivação nos nossos objetivos. Se já tinhamos que estar motivados por estarmos perto de fazer história, isso deu-nos ainda mais força e sentido de responsabilidade. Isso e, ainda, o facto de podermos igualmente fazer história dentro de todas estas dificuldades. Infelizmente foi uma situação que nos abalou a todos em Portugal e também em todo o Mundo, e eu tive a sorte de estar num clube sério e isso facilitou. Por isso, mais uma vez, fica aqui o meu agradecimento ao Inter, ao presidente e à restante estrutura.

116876653_762758374537735_5325093803167703628_n(Depois de representar Senhora da Hora e Padroense, Ricardo Oliveira concluiu a sua formação no Boavista, onde esteve três épocas – 12/13 a 14/15.)

CR: Voltando ao início desta época, teve a sua primeira experiência no estrangeiro, ao serviço do Lorca na III Divisão de Espanha. Emigrar era um objetivo?
RO: Sim, desde que me lembro de começar a pensar a sério em fazer vida do futebol, que o meu grande sonho era ir jogar para fora. Era uma ambição pessoal, sei que as coisas nem sempre correm bem, mas, até agora, graças a Deus, estas duas experiências oficiais no estrangeiro correram-me muito bem. Conheci pessoas do bem. Pessoas que me ajudaram a melhorar. 

CR: Como surgiu o Lorca?
RO: O Lorca surgiu através de um contacto direto do Pandiani, que me ligou a dizer quem era e eu até pensei que não era verdade, que era alguma brincadeira (risos). Lembro-me bem dele a jogar, via-o na TV, era um jogador com quem me identificava e estava a falar com um ídolo. Ele mostrou que queria contar comigo, disse o que pretendia de mim, que me conhecia melhor do que eu imaginava e eu aceitei ir. Depois foi fácil chegar a um entendimento com a direção, também por esse interesse que ele demonstrou.

CR: Como é Walter Pandiani enquanto treinador?
RO: É um treinador exigente, que é muito sincero e direto e procura sempre tirar o melhor dos jogadores. Sabemos bem da dificuldade que é para um português jogar em Espanha, mas ele acreditou em mim como jogador e como pessoa e ajudou-me a melhorar aspetos físicos e até psicológicos, ao nível da concentração para o jogo e da maneira como reagir às diferentes situações de jogo, um golo falhado ou um passe mal feito, por exemplo. Tudo isso são emoções que ganhas durante o jogo e que tens de saber controlar, porque errar toda gente erra, mas temos de trabalhar para errar o menos possível. Ele ensinou-me que a prática leva à perfeição e passámos horas e horas a praticar, de manhã, de tarde e até à noite se fosse preciso. Melhorei muito como jogador. Tudo o que eu tinha a nível de crer, ambição e resiliência, ele ajudou-me a reforçar tudo isso. 

CR: Já percebi que foi especial para o Ricardo trabalhar com “El Rifle”.
RO: Foi, foi especial porque já me identificava com o carácter dele enquanto jogador e, quando o conheci, provou tudo isso: é uma pessoa lutadora, que dá tudo e quer sempre mais, ambiciona fazer sempre mais e melhor pela equipa e identifico-me plenamente com isso. Como já disse, qualidade existe sempre muita em todo lado onde vais, mas, com ele, aprendi que aquilo que diferencia os jogadores de um patamar de muito bom para excelente ou de bom para muito bom é a capacidade de trabalho e a capacidade de reação às situações menos boas. Porque sobre vitórias é fácil de trabalhar: tens motivação. Difícil é quando não corre bem ou quando precisamos de fazer mais, precisamos de arranjar motivação e arranjar maneiras de trabalhar para sermos bem sucedidos. O Pandiani ensinou-me tudo isso e, quando ganhei estes títulos em Andorra, foi das primeiras pessoas a quem agradeci pelos ensinamentos, pelas conversas extra- futebol e pelo que me ajudou a crescer como pessoa e como jogador. Quando ouves conselhos de uma referência, de alguém que viste jogar e que sabes que naquilo que ele fala podes confiar a 200%, porque sabes que passou por aquilo, é algo que marca. É uma pessoa com quem é fácil conversar, muito humilde, sem interrogações na fala e que quando gosta gosta, quando não gosta não gosta. Identifico-me com ele igualmente por isso, porque também sou assim.

CR: Há alguma história com ele que possa partilhar?
RO: Por acaso até há (risos). Quando viajei para Espanha, a pré-época já decorria há uma semana. Fui de avião e depois apanhei um autocarro e quando cheguei ao clube era de manhã cedo. E pensei: “vou aproveitar esta manhã para descansar”. Entretanto recebo um telefonema do diretor desportivo para me deslocar ao hotel onde ia ficar e pousei as minhas coisas pronto para descansar. Nisto liga-me o Pandiani a perguntar onde estava e eu disse que tinha acabado de chegar e que ia descansar, ao que ele me responde que não havia tempo para descansar, para me preparar rapidamente e deslocar-me ao centro de estágio. E pronto, vieram-me buscar e pensei que ia fazer um treino mais leve ou assim, mas nada disso aconteceu (risos). Pôs-me a manhã toda a correr à volta do estádio sem parar, com mudanças de velocidade, corrida contínua, etc., sempre com a supervisão dele e a “provocar-me” dizendo que naquela semana tinha de encontrar o ritmo dos meus colegas. Isto marcou-me pela ambição, pelo carácter dele e pelo foco no trabalho e ao mesmo tempo foi um “alerta” para mim, isto é, percebi logo que não ia “de férias” nem ia “passear” e que para ser melhor do que os outros tinha de trabalhar mais do que eles.

117231891_1499512810222802_2638962915420469469_n(Ricardo Oliveira foi orientado por Pandiani no Lorca e gostou de trabalhar com o uruguaio que se notabilizou, como jogador, ao serviço do Deportivo.)

CR: A experiência em Espanha foi curta mas enriquecedora, portanto.
RO: Sim, sem dúvida. Como disse, decidi sair porque pressenti que íamos ter dificuldade em subir de divisão. Tinhamos um grupo com qualidade, mas que era jovem e estávamos a ter dificuldade em acompanhar o ritmo de duas ou três equipas mais fortes, com planteis mais experientes e só o 1º classificado é que garantia a subida. Concretizei o sonho de miúdo de querer jogar fora e ter estas experiências, conheci alguém que era e será sempre uma referência para mim e que me ajudou e ensinou bastante, e não esqueço que atenderam a minha ambição e deixaram-me sair.

CR: Antes de emigrar, em 18/19, viveu, certamente, uma época difícil: primeiro está no Fátima onde lida com salários em atraso; depois ruma ao Torcatense e não evitam a descida aos Distritais…
RO: Já nessa época estava à procura de emigrar mas não sucedeu. Quando tenho a oportunidade de ir para o Fátima, fui tentar saber um pouco mais da história do clube, e sabia que era um clube importante, mas não sabia como se encontrava. Quando cheguei estava tudo muito bem, foram sempre corretos, mas depois houve coisas extra-futebol que dificultaram a minha continuidade e quando decidi vir embora, não apanhei a pior fase que “sobrou” para alguns colegas. E tenho pena que tenha ficado pior depois. Mas claro que tiro coisas boas, conheci pessoas excelentes como o mister Kata, uma pessoa espetacular, integra e direta, que tem muito da minha personalidade, é introvertido mas é muito simples e muito puro, e ajudou-me num momento difícil; e o Laranjeiro, grande pessoa e grande jogador que trato por “Sir”, e que também me ajudou porque foi quase uma mudança radical na minha vida. Como vi que não havia solução para os problemas do clube, achei por bem procurar a minha felicidade noutro lugar e balançou o facto de poder ficar perto de casa, da família e dos amigos. Procurei uma solução que me satisfizesse, apareceu o Torcatense, infelizmente aconteceu o que aconteceu e descemos, mas isso faz parte do futebol e temos de levantar a cabeça porque dentro dessa fase aconteceu muita coisa boa também.

CR: Em 17/18 foi Campeão Distrital de Aveiro pelo Lusitânia de Lourosa, por quem venceu, também, a Supertaça Distrital. Fizeram uma época regular e tinham um plantel fantástico, recheado de jogadores com muita qualidade.
RO: É verdade, mas é como eu digo: quando juntas um lote de jogadores em que todos têm qualidade, estás mais perto de ganhar. E foi isso que sucedeu. Não era só o Ricardo Oliveira, o Koneh ou o Léo que tinham qualidade. Todos tinham qualidade. Não tivemos só momentos bons ao longo do ano, também passámos momentos difíceis no início, e quando se está a iniciar um projeto dessa envergardura, qualquer “abanão” pode ser fatal. Tinhamos um grupo unido, forte e de qualidade, soubemos ser humildes, trabalhar e perceber que tinhamos de ir passo a passo. Toda a gente dizia que estava ganho mas nada está ganho até se conseguir. Foi uma época espetacular, em que houve uma grande simbiose entre todos, desde estrutura, jogadores e adeptos, e conseguimos o grande objetivo do clube.

CR: Foi mais fácil para si aceitar o convite dado o projeto que o clube estava a iniciar e os objetivos que tinham para aquela época?
RO: Sim, q
uando tive a primeira conversa com o presidente e com o José Carlos, que era o diretor desportivo, achei logo que era a oportunidade certa. O clube estava a começar um projeto que vai dar ainda mais “cartas” do que as que já deu porque têm condições, porque as pessoas querem e percebem, têm ambição e é um clube com muitos adeptos. Ainda hoje recebo mensagens de adeptos e de pessoas que sempre me trataram bem e que guardo no meu coração. Não nasci lá mas aprendi a gostar, aprendi a sentir, é algo que tento fazer sempre em todas as camisolas que visto porque penso nas pessoas que vão ver os jogos e ali não iam algumas, iam muitas e a todo o lado, fosse em casa ou fora, perto ou longe, e até a treinos iam. E, no fim, isso também foi muito importante para conseguirmos o grande objetivo. Essa época foi uma grande alegria e espero que o clube continue a subir porque aquelas pessoas merecem.

CR: Curiosamente, já tinha conhecido o Campeonato Distrital de Aveiro na segunda metade de 16/17 em representação do Alvarenga, onde integrou um plantel maioritariamente composto por brasileiros, fruto da SAD do clube ser detida precisamente por investidores brasileiros. Isto surpreendeu-o de alguma forma?
RO: Não. Eu gosto de estar informado do contexto que vou encontrar e quando abordei a situação com o mister Pedro Costa, ele prontamente me explicou o projeto e eu próprio procurei saber mais sobre ele. Sabia que ao aceitar, e conhecendo o mister, a exigência no treino seria máxima pelo que não ia perder ritmo, antes pelo contrário, poderia mantê-lo e procurei, dentro da minha cabeça, ajudar esses miúdos que têm o sonho de chegar a outro nível. Alguns têm muita qualidade, outros têm muita vontade, mas tinhamos um coletivo muito forte porque o mister Pedro Costa é uma pessoa do coletivo e potenciava isso, fazíamos muitos convívios regularmente e falávamos imenso uns com os outros. Havia dois ou três jogadores com quem tinha uma grande “química” dentro de campo, como o Luisinho e o Milton, e fizemos uma excelente campanha na Taça, em que passámos uma eliminatória difícil nas Meias-Finais, com o Paivense, e esse jogo catapultou-nos, ficámos com uma moral grande, e, na final, acabámos por perder nos penaltis contra uma grande equipa do Esmoriz. Merecíamos mais, estivemos muito perto, mas é futebol.

116877352_302011844378184_8711552659388615575_n(Ricardo Oliveira em ação durante o Alverca 0-1 Fátima da 3ª Jornada da Série C do Campeonato de Portugal 2018/2019.)

CR: Gostou do nível da AF Aveiro?
RO: Para a realidade que é, o nível é bom. Existe de tudo, como é lógico, mas penso que não existe regularidade nas equipas porque um jogador que sobressair numa equipa mediana, na próxima época vai para uma boa e as equipas que descem aos Distritais estão sempre mais perto de subir novamente. É difícil haver continuidade nos planteis a este nível e isso prejudica muitos clubes. E têm a AFATV, que é um projeto que eu tenho de parabenizar. Se houvessem mais assim, o futebol seria melhor. É um projeto que dinamiza, ajuda os jogadores a evoluírem, as gravações de jogos são em alta definição e isso também é importante para trazer outra competitividade ao próprio campeonato, porque se fala, se aborda e estimula os jogadores. 

CR: O Ricardo mudou-se para o Alvarenga oriundo do Sertanense, onde fez apenas um jogo em cerca de quatro meses, e até fez um golo nesse jogo no Campeonato de Portugal. Como surgiu este convite e o que falhou nessa passagem?
RO: O convite surgiu através do treinador, Gonçalo Monteiro, que me conhecia e entrou em contacto comigo. Nessa altura em que fui para a Sertã estava numa altura conturbada por causa da morte de um dos meus melhores amigos – Diogo Gomes. Era um assunto que ainda estava “fresco” na minha cabeça e senti que não estava com dimensão psicológica para esse desafio, até fiz um golo no único jogo que fiz, mas não estava bem e precisava de ir para a beira de casa. Naquele momento o futebol não era o mais importante. Aquele acontecimento marcou a minha vida para sempre. Por isso, achei que precisava de estar perto de casa, da minha família e dos meus amigos e decidir sair do Sertanense. Depois apareceu o convite do mister Pedro Costa, que tinha jogado comigo no Boavista e até foi meu treinador nos Juniores durante alguns meses, e foi espetacular comigo: ajudou-me a ser melhor e retirou o melhor de mim. Foi um grande jogador, é um grande treinador e deu-me a possibilidade de estar perto dos meus quando mais precisava.

CR: O Distrito de Aveiro está bem presente na sua carreira: foi ao serviço da Sanjoanense que se estreou como sénior, então no Campeonato de Portugal, mas imagino que tenha sido um primeiro ano de sénior bem longe daquilo que certamente queria e idealizava…
RO: Posso-te dizer que tive uma espécie de duas épocas dentro de uma: primeiro, com o Ricardo Sousa, as coisas correram bem, porque jogava e sentia-me confiante, a gente andava bem, tinhamos um plantel com muita qualidade, com jogadores como André Pereira e Ronan, por exemplo, e os treinos de conjunto à quinta-feira eram como se fossem jogos porque a competitividade era brutal. Então até Janeiro estava bem, com uma pessoa conhecedora do futebol, com grandes métodos e que me transmitiu ensinamentos sobre o futebol profissional, tanto ele como o Cândido Costa, que era o adjunto. Entretanto dá-se a saída deles, eu tenho até uma oportunidade de sair para um patamar diferente, não interessa agora para onde porque não aconteceu, e isso, parece-me, criou mau estar junto do treinador seguinte, que foi o Flávio das Neves. Na segunda volta faço dois jogos, num deles faço golo ao Mortágua e só volto a jogar na segunda fase, na fase de manutenção, também contra o Mortágua, ou seja, passados uns oito ou dez jogos. Tive duas experiências no mesmo ano, mas aprendi com os dois e isso fez-me perceber como são as coisas no futebol. Comecei a época a dar continuidade ao que fiz nos Juniores, a ter minutos e depois na segunda metade senti necessidade de ter de trabalhar mais no silêncio e esperar oportunidades. O futebol é mesmo assim, umas vezes um treinador acha que és peça importante e outro acha que és peça secundária. Mesmo assim trabalhei sempre para poder ter oportunidades e quando tive respondi. Gostei muito de jogar na Sanjoanense, um clube espetacular, e foi um primeiro passo importante no futebol sénior.

CR: Dividiu a sua formação entre Senhora da Hora (Escolas e Infantis), Padroense (Iniciados e Juvenis) e Boavista (Juvenis e Juniores). Ou seja, conheceu três realidades diferentes dentro do próprio futebol de formação.
RO: Até comecei no futsal do Boavista, onde conheci o Diogo Gomes, e fui Campeão nas Escolinhas. Mas queria experimentar o futebol de 11 porque os meus amigos jogavam todos e tive até a oportunidade de ir para o FC Porto, onde estive uma semana. Só que não me identifiquei. Não tinha amigos lá e não quis ficar. Como praticamente todos os meus amigos e alguns vizinhos jogavam no Senhora da Hora, decidi ir para lá e foi importante porque naquela altura eu queria era ser feliz. O futebol não era profissão, nem eu tinha noção dessa realidade logicamente, era um passatempo e queria era divertir-me. Estava perto de casa, fazia o que queria e estava com os meus amigos. Isso era o mais importante. Depois vem o convite do Padroense, um clube a crescer, que no período em que lá estive lutou até para subir à II Liga, e aprendi muito lá. É uma grande escola, com grandes treinadores, o Dr. Vasco Pinho e o Sr. Germano Pinho, presidente e vice-presidente na altura, eram pessoas espetaculares, sempre presentes junto dos jovens e que tinham a formação como principal objetivo do clube, e, hoje em dia, temos a prova de que isso é importante no futebol. Sabia que era um sítio ótimo para me desenvolver como pessoa e como jogador, já tinham saído de lá jogadores como Arsénio e André Simões, e como era perto de minha casa, foi uma escolha acertada, e ganhei, também, dois títulos, um nos Iniciados e outro nos Juvenis. Depois quando surgiu o Boavista, tive mais dois clubes interessados mas optei pelo Boavista porque as pessoas demonstraram mais interesse. E como andava na Escola Clara de Resende, que é ao lado do Bessa, achei que era a situação certa e a oportunidade ideal. Até jogava a 8 ou a 10 no primeiro ano de Juvenil, mas depois, através do Almeidinha, que foi um grande jogador do Boavista, passei a avançado porque ele acreditou que tinha características para jogar a avançado e potenciou-me nesse sentido, ajudou a mentalizar-me disso. E curiosamente no primeiro jogo que fiz na frente marquei golo e nunca mais saí dali. Fiz muitos jogos e muitos golos nesse ano desde a entrada dele, numa altura em que o Boavista, em seniores, ainda estava naquela realidade diferente de jogar na II Divisão. Acabei por, mais tarde, treinar e jogar com os seniores e fiz um jogo contra o Estarreja em que substitui o Fary e isso foi muito simbólico. Senti o sonho ali e foi importante porque deu-me ainda mais vontade e ambição.

116884358_630265957910807_5583823827815890492_n(Foi chegar, ver e vencer: em pouco mais de seis meses ao serviço do Inter D’Escaldes, Ricardo Oliveira conquistou dois títulos em Andorra.)

CR: Quando concluiu a formação já o Boavista tinha voltado à I Liga. Acreditava que podia integrar o plantel sénior ou pelo menos fazer a pré-época?
RO: Não, porque, na altura, percebi que o meu caminho não seria ali mas sim noutro lado. Muitas das vezes, no futebol de alto nível, as oportunidades não são dadas só pela qualidade do jogador e do trabalho dele, mas sim por outras coisas. Então, por força de muitas situações que foram acontecendo no meu último ano de Júnior, percebi que não seria aposta do clube. Mas não me esqueço de agradecer ao Boavista, porque foi uma escola muito importante para mim tanto a nível pessoal como profissional, num período coincidente com a minha juventude. E também não sou pessoa de querer saber as razões e os porquês das coisas. Se não aconteceu é porque não tinha de acontecer, o mais importante foi olhar em frente naquele momento, até porque para a frente é que é o caminho, como se costuma dizer. Tive as oportunidades no clube que as pessoas acharam convenientes para mim e, depois, fui à luta, que é isso que gosto e é a minha maneira de estar na vida e no futebol. Tive dentro do clube nos tempos difíceis dele, sei como foi difícil para darem a volta por cima e as pessoas sempre foram lutadoras, autênticas guerreiras, iam buscar forças onde não tinham para que o clube sobrevivesse. Tenho, enquanto jogador, muito daquilo que é o “ADN” do Boavista: raça, crer e ambição, e lá reforcei muito isso. Ajudaram-me a formar como jogador e, sobretudo, como Homem, por isso, só tenho coisas boas a dizer do clube e das pessoas que lá estavam na altura. Passava muito tempo no Bessa e no Boavista e foi uma passagem muito importante para mim, onde pude completar a educação que tive em casa e que os meus pais me deram. Lá ensinaram-me que a persistência é o caminho do êxito e é isso que levo para a minha vida. Guardo muito carinho e muita estima pelo Boavista, uma casa onde fui muito feliz e onde passei três anos muito bons.

CR: Voltando à atualidade e ao seu futuro: vai continuar no Inter Escaldes?
RO: Não. O meu contrato acaba dia 15 de Agosto, tenho algumas abordagens, sobretudo do estrangeiro, que é onde desejo continuar, e ainda estou a analisar o que será melhor para mim.

CR: Porque razão não quis renovar?
RO: Foi intuição minha. A vida passa rápido e a de jogador ainda mais. Temos de correr atrás dos nossos sonhos, das nossas ambições, e como ali já ganhei tudo o que tinha para ganhar, decidi dar um novo rumo à minha carreira. Sentia-me muito bem no clube, mas não sou pessoa de me acomodar. Conversei com a minha família, principalmente com o meu Pai, que é uma pessoa muito importante na minha vida, e cheguei à conclusão que estava na altura de procurar outro desafio.

CR: Em relação ao futuro mais longínquo, quais são os seus objetivos? Tem alguma meta ou competição que gostasse especialmente de jogar?
RO: Sou muito de pensar no passo seguinte. Sou sonhador mas não penso muito para além daquilo que posso. Não penso no futuro longínquo, penso sempre no “amanhã”. Para mim, o desafio mais importante é sempre o seguinte. Nem tenho ambição de jogar nesta Liga, neste País, neste clube ou nesta competição. Vou para onde me querem, onde acho que vou retirar o melhor de mim, onde me vou sentir bem e onde posso evoluír, porque estamos constantemente em evolução. Penso muito assim: em integrar um projeto onde acho que me vou sentir bem, onde posso ajudar e onde posso ganhar, sobretudo isso, ganhar. Ainda tenho muito que trabalhar e “andar”, por isso, só quero parar quando já não der mais, que espero que seja muito mais lá para a frente (risos).

CR: Há mais alguma história que possa partilhar?
RO: Lembro-me de uma no Boavista, quando era júnior e ia treinar aos seniores, em que eles me queriam rapar o cabelo. Eu, na altura, usava o cabelo grande e quem me safou foi o Frechaut, que me avisou a tempo (risos). Então, naquele dia, eu em vez de me equipar no balneário da equipa principal, equipei-me noutro e só me apresentei para treinar já no relvado (risos).

CR: Quer deixar uma mensagem final?
RO: Quero agradecer-te a oportunidade de partilhar a minha história e dar-te os parabéns pelo trabalho, que é um trabalho que devia ser feito mais vezes e que faz falta ao “Mundo do futebol”. E quero igualmente agradecer aos meus pais, que são pessoas muito importantes na minha vida, à minha familia, à minha namorada e aos meus amigos, mas, principalmente, ao meu seio familiar, porque me respeitam e ajudam a concretizar os meus sonhos e isso é muito importante para mim, porque me sinto seguro e tranquilo a fazer o que gosto, e faz com que, dia após dia, lute pelo meus sonhos, pois são os sonhos que nos mantêm “vivos” e que nos fazem querer sempre mais e melhor.

116875528_852890128450754_4099018614304956931_n(Ricardo Oliveira ajudou o Lusitânia de Lourosa a vencer o Campeonato Distrital e a Supertaça da AF Aveiro em 2017/2018.)

De Primeira

CR: Qual o melhor momento da sua carreira até agora?
RO: A ‘dobradinha’, por terem sido os primeiros troféus fora do País.

CR: Qual o adversário mais difícil que já defrontou?
RO: Nicolás Medina.

CR: Qual o melhor jogador com quem já jogou?
RO: Gabriel Cichero e Bruninho.

CR: Que treinador mais o marcou até hoje?
RO: Pedro Costa e Walter Pandiani.

CR: Em que ponta de lança atual se revê?
RO: Karim Benzema.

Gazela: “Faltou-nos regularidade e maturidade”

Gazela(Gazela assinou dois golos em vinte e sete encontros ao serviço da Sanjoanense no Campeonato de Portugal.)

Clube com história no futebol português, a Sanjoanense voltou a protagonizar um campeonato tranquilo no Campeonato de Portugal, fechando a temporada no sexto lugar da Série B.
A turma de São João da Madeira, que garantiu a sexta presença consecutiva no terceiro escalão do nosso futebol, teve um bom arranque de campeonato, em que chegou a ocupar os lugares de acesso ao Play-Off, acabando, depois, por cimentar a sua posição sempre na primeira metade da tabela.
Gazela, extremo da formação auri-negra, foi o convidado do “Conversas Redondas” para falar sobre a temporada da Sanjoanense, e começou por contar aquilo que faltou à equipa para que não atingisse melhor classificação:
“Penso que o que nos faltou esta época, foi regularidade e maturidade. O plantel tinha qualidade, e, por isso, fizemos um campeonato sempre a lutar pelos dois primeiros lugares, mas éramos um plantel muito jovem, e, por vezes, não conseguimos ter a regularidade que era preciso. E neste campeonato tão competitivo, as equipas mais regulares, por norma, são as que têm mais sucesso”, disse.
O sexto lugar final da Sanjoanense não reflete, todavia, a instabilidade que a equipa teve a nível de comando técnico: foram três os treinadores que passaram, esta época, pelo popular clube de São João da Madeira.
Apesar das trocas de treinador, a equipa esteve sempre no topo da tabela, como provam os 55 pontos alcançados, fruto de quinze vitórias, dez empates e nove derrotas, quarenta e quatro golos marcados e trinta e quatro sofridos.
Gazela sublinha que as mudanças de treinador mexem sempre com os plantéis, seja em que equipa for, e afirma que a equipa conseguiu ter sucesso com os três técnicos:
“Seja onde for, as mudanças mexem sempre com um plantel, seja para o bem ou para o mal. Nós não somos diferentes e claro que sentimos um pouco com as mudanças ocorridas, ainda por cima, sendo três treinadores bastante diferentes em muitos aspetos. Mas penso que conseguimos corresponder com sucesso a todos eles”, frisou.
Na Taça de Portugal, a Sanjoanense começou por eliminar a AD Nogueirense, da Série C do CNS, com uma vitória caseira, por 2-0, “saindo de cena” na ronda seguinte, após perder no desempate por grandes penalidades com o Vila Real, dos Distritais.
Na opinião de Gazela, a “entrada em falso” que a equipa teve na segunda parte do encontro em Trás-os-Montes, custou-lhe caro na lotaria dos penaltis, lembrando que podia ter sido a Sanjoanense a receber o FC Porto na terceira eliminatória:
“Em relação à Taça de Portugal, infelizmente, tenho pouco a dizer, porque fomos eliminados na segunda eliminatória. No primeiro jogo, calhou-nos a AD Nogueirense, uma equipa de outra série, sobre a qual não tínhamos muitas informações, mas fizemos um bom jogo e ganhamos 2-0. Na segunda eliminatória, fomos a Vila Real, mudaram o jogo para o sintético, e as coisas até nos estavam a correr bem, estávamos a ganhar 2-0 ao intervalo, mas, na segunda parte, entramos mal e sofremos logo o 1-2, e, perto do fim, eles fizeram o 2-2. Deixamos o jogo ir para a lotaria das grandes penalidades e aí acontecem muitas surpresas, e foi o que nos aconteceu. Quando saiu o FC Porto ao Vila Real, toda a gente começou a falar que podíamos estar a jogar contra o FC Porto, em nossa casa, mas, para isso, tínhamos que ter vencido o jogo em Vila Real, e não o fizemos, por culpa nossa”, afirmou.
Sobre os momentos mais marcantes da temporada, o extremo aponta à série de jogos em que a equipa só perdeu por uma vez como o melhor momento, destacando, pela negativa, o empate caseiro com o Leça, que “matou” o sonho de chegarem ao Play-Off:
“O melhor momento da época, foi quando conseguimos estar quinze jogos com apenas uma derrota e estávamos muito perto de conseguir atingir o segundo lugar, que nos dava acesso ao Play-Off. O pior momento, tem que ser o empate em casa, frente ao Leça, pois penso que esse jogo foi uma ‘facada’ muito forte para nós”, elegeu.
Gazela, alcunha de Jorge Santos, fez vinte e sete encontros no campeonato, dezanove deles como titular, tendo marcado dois golos, precisamente no mesmo jogo, diante do Penalva do Castelo, números aos quais juntou mais dois jogos na Taça de Portugal.
Em relação ao seu futuro, o atleta ainda não sabe onde vai jogar em 2019/2020, não escondendo o desejo de obter o melhor para a sua carreira:
“Ainda não tenho nada definido para a próxima temporada. Não sei onde irei jogar, mas claro que queremos sempre o melhor para nós e estaria a mentir se dissesse que não queria algo melhor para mim”, terminou.
Gazela, de 26 anos, começou a jogar futebol nos Infantis do FC Porto, onde chegou proveniente do futsal. Dos “dragões” mudou-se para o Padroense, nos Iniciados, clube onde cumpriu o resto da formação e pelo qual subiu a sénior. Como sénior, além do Padroense, já representou Sporting B, Salgueiros, Gondomar e Benfica de Castelo Branco, antes de chegar à Sanjoanense esta temporada.