Imortal – Farense: derby marcado por saudosismo

311452117_654132569660010_5619949964925625384_n(Fernando Barata e Paco Fortes marcaram uma era no Farense, mas também fizeram história no Imortal.)

O sorteio da terceira eliminatória da Taça de Portugal ditou alguns jogos interessantes, entre os quais, um derby algarvio que não acontece oficialmente desde 2005: Imortal e Farense defrontam-se amanhã, em Albufeira (15h30), naquele que será apenas o quarto encontro “a sério” entre ambos.
Apesar da história a nível oficial pouco unir Farense e Imortal, existem, pelo menos, duas figuras marcantes na vida dos dois clubes: Fernando Barata e Paco Fortes foram, respetivamente, presidente e treinador de ambos, embora tenham tido muito maior impacto nos “Leões de Faro”.
Conhecido empresário hoteleiro da região do Algarve, Fernando Barata, que faleceu em Março deste ano aos 84 anos, começou por ser presidente do Farense entre 1981 e 1988, e nesse período subiu o emblema preto e branco à I Divisão por duas ocasiões, tendo sido Campeão Nacional do segundo escalão em 1983; e na década seguinte, assumiu os destinos do Imortal com o objetivo de levar a formação de Albufeira à I Liga, mas não concretizou as suas ambições, ficando-se pela subida à II Liga em 98/99.
Foi, de resto, sob a presidência de Fernando Barata que Paco Fortes chegou ao Farense: em 1984, o espanhol, ainda como jogador, reforçou os algarvios, e cinco anos depois assumiu o cargo de treinador principal, função que desempenhou até aos primeiros meses da temporada 98/99, e que voltaria a assumir por algum tempo nas épocas 01/02 e 02/03 – entre outros feitos, foi à final da Taça de Portugal em 89/90 e conseguiu a única qualificação europeia do clube em 94/95.
Contratado novamente por Barata em Setembro de 1999, agora para comandar o Imortal, Fortes garantiu a permanência dos vermelho e brancos na II Liga de 99/00, mas o mau arranque no campeonato seguinte ditou a saída, curiosamente, poucos dias depois de ter defrontado o “seu” Farense na 4ª Eliminatória da Taça de Portugal 00/01, naquele que foi o primeiro jogo oficial da história entre ambos e que terminou com vitória da turma de Faro (2-1).
Atualmente, Imortal e Farense estão separados por duas divisões (Campeonato de Portugal e II Liga respetivamente), e o jogo deste sábado, mais do que proporcionar um sempre apetecível derby algarvio, será também um excelente motivo para os adeptos dos dois clubes recordarem os bons momentos vividos com Fernando Barata e Paco Fortes.

Leandro Pimenta: de volta às origens para relançar a carreira

leandropimenta(Leandro Pimenta voltou ao Imortal dezasseis anos depois de ter saído ainda na formação.)

Após um ano de inatividade, Leandro Pimenta voltou esta temporada aos relvados e logo no clube que o viu nascer para o futebol: Imortal.
O médio, natural precisamente de Albufeira, esteve toda a época passada sem jogar, depois de ter alinhado pelo Covilhã na II Liga, entre 2018 e 2020, e em Setembro último oficializou o seu regresso “a casa” dezasseis anos depois de ter rumado ao Benfica.
Foi em 1999, então com nove anos, que Leandro Pimenta começou o seu trajeto no futebol: o esquerdino cumpriu seis temporadas no Imortal, desde as Escolinhas aos Iniciados, despertou a atenção de Benfica e Sporting, e em 2005, acabou mesmo por se mudar para as “águias”, onde completou a formação.
Desde cedo apontado como uma promessa dos encarnados, nunca teve uma oportunidade na equipa principal, somou empréstimos a Beira-Mar (Campeão da II Liga em 2010), Fátima e Atlético, e em 12/13, aquando da inclusão das equipas B no segundo escalão, fez 34 jogos (um golo) sob o comando de Norton de Matos e ao lado de nomes como Ivan Cavaleiro, Lindelof, João Cancelo, André Almeida ou André Gomes.
Já sem contrato com o Benfica, cumpriu o sonho de jogar na I Liga com a camisola do Gil Vicente, passando depois por Freamunde, Fafe e Covilhã, sendo que a experiência nos “serranos” ficou marcada por uma lesão que o privou de competir durante largos meses.
20/21, já se disse, foi de interregno para Leandro Pimenta, que esta época acedeu então ao convite do “seu” Imortal, somando, até ao momento, nove jogos: depois de se ter estreado contra a Juventude de Évora, em Outubro, o médio só voltou a jogar em Janeiro, e daí para cá foi titular em seis dos oito jogos que disputou.
Estreante no Campeonato de Portugal, o emblema de Albufeira encontra-se a lutar pela permanência – está na Série 12 juntamente com Louletano e Esperança de Lagos -, e no passado domingo venceu por 1-0 a turma de Loulé em pleno Estádio do Algarve.
Atualmente com 31 anos, Leandro Pimenta, 43 vezes internacional por Portugal entre os Sub-16 e os Sub-21, voltou “a casa” com um duplo objetivo: segurar o Imortal nos Nacionais e relançar uma carreira que nos últimos anos tem sido apoquentada por lesões.

2021: o ano que pôs fim a muito jejum

2021(Sporting, Itália, Atlético Mineiro e Vizela voltaram a festejar após longo período de “seca”.)

2021 será sempre um ano lembrado por motivos menos bons, mas, no que ao futebol diz respeito, acabou por revelar-se um ano talismã por esse Mundo fora, visto que culminou com o fim de um longo “jejum” de títulos em vários clubes e até Seleções.
Na Europa, e começando por Portugal, claro, o Sporting conquistou a Liga após dezanove anos de “seca”; o segundo maior “jejum” foi quebrado pelos dinamarqueses do Brøndby, que voltaram a conquistar o Campeonato dezasseis anos depois; e em Itália, o azul e o preto tornaram a ser as cores dominantes, com o Inter a ser Campeão pela primeira vez desde 2010.
Escócia e França assistiram ao “ressurgimento” de Rangers e Lille: “The Teddy Bears” e “Les Dogues” ergueram de novo o principal título do seu País após dez anos de “travessia no deserto”; enquanto que em Espanha, oito anos depois da última vez, o Atlético de Madrid conquistou a La Liga.
Contudo, foi na América que 2021 significou o fim de grandes períodos de “seca”, sendo que no México, Cruz Azul e Atlas uniram-se em busca do que há muito lhes escapava: os “cementeros” venceram o Torneio Guardianes na primeira metade do ano e voltaram a festejar o título vinte e quatro anos depois; e os “zorros” venceram, já no último semestre, o Torneo Apertura, acabando com uma espera de setenta (!) anos.
Não muito longe dali, no Equador, o Independiente del Valle, treinado pelo português Renato Paiva, voltou a ser Campeão após sessenta e três anos sem o conseguir; e no Brasil, o Atlético Mineiro conquistou o segundo Brasileirão da sua história exatos cinquenta anos depois de ter conseguido o primeiro.
No que diz respeito a Seleções, Julho marcou a redenção de Itália e Argentina: os italianos sagraram-se Campeões da Europa após um “jejum” de cinquenta e três anos; e os argentinos ergueram novamente a Copa América, algo que não conseguiam desde 1993, ou seja, há vinte e oito anos.
Ainda em Portugal, se olharmos aos outros campeonatos, nota para o regresso do Vizela à I Liga após uma ausência de trinta e seis anos; e para o Trofense, que voltou a ser Campeão Nacional treze anos depois, vencendo desta feita o Campeonato de Portugal – tinha ganho a II Liga em 2008; enquanto que clubes como Forjães (quarenta e dois), Idanhense (catorze) e Imortal (treze) festejaram o regresso aos Campeonatos Nacionais após vários anos de afastamento.

Luís Romão: “Queremos ficar nos seis primeiros e depois logo vemos”

LuisRomao(Luís Romão joga no Imortal desde 2002 e cumpre, atualmente, a décima primeira temporada na equipa principal da turma de Albufeira.)

Longe dos tempos em que competiu na II Liga e teve uma SAD com nomes ilustres, entre os quais o antigo ponta de lança Fernando Gomes, José Veiga ou Álvaro Braga Júnior, o Imortal deu no passado sábado início à sua décima primeira participação consecutiva na I Divisão da AF Algarve.
Afastado dos Campeonatos Nacionais desde 2008, o clube de Albufeira até começou, nesse mesmo ano, do “zero”, passando diretamente da extinta III Divisão para o segundo escalão do futebol algarvio.
Luís Romão, defesa direito e jogador do Imortal há dezassete anos, esteve à conversa com o blog, onde começou por falar da sua já longa história com os vermelho e brancos, assumindo que tem o sonho de se sagrar Campeão pelo clube:
“Ingressei no Imortal quando subi a Iniciado, para jogar no Nacional, e fui lá ficando até agora. O que me vai fazendo ficar no clube, é a paixão que tenho por ele. Não tem explicação aquilo que sinto. É um orgulho vestir esta camisola e tenho o sonho de ser Campeão pelo Imortal. Como objetivos pessoais para esta época, quero ajudar a equipa, dentro ou fora de campo, a alcançar o maior número de vitórias, e, se possível, gostava de fazer uma época sem lesões”, disse.
Ao longo destes onze anos a disputar os Distritais, o Imortal já conseguiu um segundo lugar, em 2012/2013, e dois terceiros lugares, o último dos quais na época passada, terminando a apenas dois pontos do Campeão, Esperança de Lagos.
Luís Romão realça que não é fácil ser-se Campeão Distrital no Algarve, apontando a ida à fase de subida como o objetivo primordial do Imortal para esta temporada, prometendo uma equipa a lutar pelos três pontos em todos as partidas:
“É verdade que já tivemos algumas vezes para subir, sendo que no ano passado, foi a época em que tivemos mais perto de alcançar esse feito. Não é fácil ser Campeão neste campeonato. Podes chegar a ficar em primeiro na primeira fase, com dez pontos de avanço, e no final, ficares em quarto ou em quinto. O campeonato está muito competitivo, em que qualquer equipa que vá à fase de Apuramento de Campeão, pode conseguir subir. Aliás, sinceramente, neste formato de campeonato a duas fases, qualquer equipa das doze pode ser campeã. Isto porque há jogadores de qualidade, com experiência de Nacional em praticamente todas as equipas, algo que noutros anos não havia. E nestes últimos dois/três anos, a qualidade e a competitividade deste campeonato tem vindo a aumentar, e acredito que o Campeão vai ser definido por pormenores. Por isso, o nosso objetivo é ficar nos seis primeiros e depois logo se vê. O que podemos prometer ao nossos adeptos, é um Imortal a lutar pela vitória em todos os jogos, até ao último minuto”, vincou.
Com um grande histórico de participações nos Campeonatos Nacionais, o Imortal saltou para a ribalta no final da década de 90, quando conseguiu chegar à Segunda Liga, campeonato que disputou por apenas duas épocas.
Nesses dois anos de II Liga, passaram pelo Imortal nomes como os de Paco Fortes, Kassoumov, Paixão, Cândido, Sérgio Marquês e Miguel Serôdio, mas o que é certo, é que os algarvios não se conseguiram aguentar nos Campeonatos Profissionais, e depois viveram alguma instabilidade entre a II Divisão B e a III Divisão, acabando por descer aos Distritais, em definitivo, em 2007/2008, somando, inclusive, a segunda descida consecutiva.
Luís Romão viveu parte dessa fase do clube e sublinha que só nos últimos anos é que o Imortal tem entrado no caminho certo, tendo uma forte aposta na formação e na criação de condições para todos os seus atletas, algo que não acontecia nos anos anteriores:
“Sim, é verdade que o Imortal andou muitos anos nos Nacionais, onde se apostava forte, gastando-se muito dinheiro em ordenados, que, para a altura, eram elevados. Raro eram os anos em que conseguiam manter uma base e a aposta na formação era escassa. Albufeira é uma cidade muito movimentada e procurada, mas muita gente não é de cá. A maioria são pessoas de fora, que vêm para cá trabalhar e fazer a sua vida, não tendo ligação ao clube da terra. O que faltava nesses tempos, é o que têm feito nestes últimos anos. Não estão a entrar em loucuras, estão a apostar forte na formação, assim como nas instalações do clube, para que nada falte ao futebol de formação e ao futebol sénior. E com isto, as conquistas têm aparecido, e, por consequência, as pessoas têm aparecido cada vez mais para apoiar o Imortal. O que para nós, jogadores, é um fator importante. Jogar com as bancadas cheias é o melhor que pode acontecer para um jogador”, salientou.
Outrora extremo, Luís Romão, que responde por Canito no ‘mundo do futebol’, baixou no terreno e joga agora como lateral e até central, ele que nunca conheceu outro clube como sénior.
Atualmente com 30 anos, o atleta do Imortal afirma que se sente bem consigo mesmo, pois tem cuidados com a sua alimentação e preparação física, reafirmando, ainda, o seu desejo de ser campeão pela turma de Albufeira:
“Como sénior nunca joguei no Nacional, pois no meu primeiro ano de sénior, o Imortal, que na altura era SAD, terminou, e então o clube teve que começar de novo na Segunda Distrital. No entanto, como Júnior, ainda cheguei a jogar na II Divisão B e na III Divisão Nacional. Tenho 30 anos, mas sinto-me como se tivesse 20, pois cuido do corpo com treino de ginásio, aliado a uma boa alimentação e descanso como deve de ser, o que é muito importante para que um jogador consiga jogar muito mais anos. Como referi há pouco, tenho um sonho no futebol, que é ser Campeão pelo Imortal”, explicou o jogador, que não terminou a nossa entrevista sem nos explicar a origem da alcunha pela qual é conhecido desde os tempos de criança:
“Essa alcunha surgiu quando estava no Padernense. Eu era Escolinha, mas treinava sempre com os Infantis, e houve um treino que acabou por não acontecer, já não me recordo porquê. Então, nesse dia, era dia de treino dos Iniciados e eu fui treinar com eles. Ora, eu, com idade de Escolinha, ir treinar com os Iniciados, queria dar tudo e comecei a correr sempre atrás da bola, até que houve um colega meu que disse que eu parecia um cão de caça a correr atrás dela. E a partir daí, fiquei o Canito até hoje (risos)”, finalizou.
Luís Romão começou o seu percurso no futebol ao serviço do Padernense, com nove anos, onde esteve quatro épocas, entre Escolinhas e Infantis. Em 2002, mudou-se para os Iniciados do Imortal, e iniciou aí, sem imaginar, um percurso que já vai em dezassete anos ao serviço do emblema de Albufeira.