(A foto oficial do plantel e staff de Portugal que vai disputar o Mundial do Qatar.)
Inicia-se esta quinta-feira a oitava participação de Portugal em Campeonatos do Mundo, aquela que é para muitos a competição mais apaixonante do planeta em termos futebolísticos. A expectativa em torno do que os comandados de Fernando Santos podem conseguir no sui generis Mundial do Qatar é moderada, em comparação com o que já aconteceu noutras alturas, mas ainda assim relativamente optimista, apesar de se esperarem dificuldades num grupo onde se inserem também Gana, Uruguai e Coreia do Sul.
Deste modo, e até com o intuito de transmitir energias positivas para a comitiva que vai representar mais de 11 milhões de pessoas no exótico (e polémico) destino árabe nas próximas semanas (todos esperamos que seja até dia 18 de Dezembro, data da final), aqui ficam o que considero ser os momentos altos das anteriores sete participações nacionais na maior prova de selecções do mundo. Nem todas são vitórias, mas todas, de uma maneira ou de outra, ficaram marcadas na História da seleção nacional e gravadas na memória colectiva – fazendo votos de que, no fim desta edição, haja bem mais momentos para aumentar o leque.
Mundial 1966: Portugal 5-3 Coreia do Norte
Absolutamente incontornável. Na primeira participação de sempre de Portugal em fases finais de grandes competições, a seleção nacional fez um brilharete na fase de grupos da prova inglesa, vencendo os três jogos com chapa 3: Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e Brasil, bicampeão mundial em título (3-1). A partida que apaixonaria o mundo e colocaria Eusébio para sempre nos anais da História do futebol, porém, chegou nos quartos-de-final: pela frente uma Coreia do Norte que havia espantado tudo e todos ao vencer a Itália (1-0), atirando os campeões mundiais de 1934 e 1938 para fora da prova, mas com a equipa das Quinas ainda assim a justificar o estatuto de favorita.
Qual não foi o espanto, assim, quando se começaram a acumular os golos… norte-coreanos: ainda nem um minuto havia sido jogado e já venciam, ainda nem ao 25º minuto de jogo se tinha chegado e já o placard mostrava um inacreditável 3-0. A recuperação lusitana começaria com bis de Eusébio ainda antes do intervalo, com a mesma dose a ser servida nos segundos 45 minutos. José Augusto, aos 80, fecharia as contas de um 5-3 que se tornou eterno.
(Eusébio foi decisivo na vitória sobre a Coreia do Norte em 1966.)
Mundial 1986: Portugal 1-0 Inglaterra
O jogo mais épico nesta participação foi, garantidamente, o que valeu o apuramento para a prova: a vitória por 1-0 na Alemanha Ocidental com “aquele” golo de Carlos Manuel. O criativo do Benfica, porém, acabaria por assinar também o que seria o único momento positivo de Portugal no México: o golo que valeu a vitória logo a abrir diante de Inglaterra. O que se seguiu é do conhecimento comum e em nada dignifica os envolvidos, redundando em derrotas ante a Polónia (0-1) e Marrocos (1-3) e eliminação precoce da competição.
(Carlos Manuel “resolveu” o jogo com a Inglaterra em 1986.)
Mundial 2002: Portugal 4-0 Polónia
A clara tendência de complicar o que à partida parecia simples já vem de trás, como se pode facilmente constatar com o exemplo da primeira participação, e agudizou-se ainda mais na terceira vez que Portugal chegou à fase final de um Mundial. A entrada na prova asiática foi negativa, com a derrota por 3-2 diante dos Estados Unidos, mas a resposta foi à altura: uma goleada sem apelo nem agravo com a chancela de Pauleta, que puxou dos galões de ponta-de-lança e se tornou o segundo português de sempre a marcar um hat-trick no certame.
Esse seria, porém, o ponto alto de um desempenho global muito, muito baixo: por entre polémicas extra-campo, Portugal voltou a desiludir também fora dele, perdendo novamente na última jornada, ante a anfitriã Coreia do Sul (0-1), num jogo marcado por duas expulsões e com uma equipa a mostrar-se completamente perdida nomeadamente a nível emocional. Não estranhou, portanto, mais um afastamento precoce, ainda que desta feita numa selecção que no início da prova até era apontada como candidata à conquista do troféu.
(Pauleta apontou um hat-trick à Polónia em 2002 e festejou à sua maneira, que é como quem diz, fazendo o célebre “voo do açor”.)
Mundial 2006: Portugal 0-0 Inglaterra (3-1 g.p.)
O encontro mais memorável de Portugal nesta edição terá sido o dos oitavos-de-final, para sempre lembrado como a Batalha de Nuremberga devido à chuva de cartões mostrados pelo árbitro russo Valentin Ivanov (16 cartões amarelos e quatro vermelhos), com a selecção portuguesa a celebrar no fim devido a um golo solitário de Maniche ante a então ainda denominada Holanda. A eliminatória seguinte, porém, seria ainda mais emocionante: pela segunda grande competição consecutiva, Portugal e Inglaterra encontravam-se nos quartos-de-final… e pela segunda competição consecutiva, Portugal levaria a melhor no desempate por grandes penalidades, depois do 0-0 teimar até ao apito final do tempo regulamentar e prolongamento.
Desta feita não houve Panenka de Postiga nem Ricardo a defender sem luvas ou a bater o pontapé decisivo, mas ainda assim a selecção orientada por Luiz Felipe Scolari logrou novo apuramento mercê dos três penaltys desperdiçados pelo conjunto inglês – um dos quais por Carragher, que havia entrado no penúltimo minuto do prolongamento especificamente para essa tarefa –, com Cristiano Ronaldo a dar a estocada final e a colocar Portugal nas meias-finais 40 anos depois.
(Embora decidido nos penaltis, o Portugal – Inglaterra de 2006 teve muita emoção antes de chegar ao momento decisivo.)
Mundial 2010: Portugal 7-0 Coreia do Norte
A participação portuguesa em 2010, no primeiro Mundial realizado em solo africano, foi agridoce. A equipa orientada por Carlos Queiroz entrou de forma morna, com um nulo ante a Costa do Marfim onde não pareceu fazer grande esforço para mudar o rumo dos acontecimentos, mas a contenção dessa primeira ronda daria lugar à abundância do jogo seguinte, num reencontro com a Coreia do Norte que voltava ao certame 44 anos depois daquele brilharete em Inglaterra. Esta partida, porém, não teria muito que contar além da sucessão de golos portugueses, destacando-se o bis de Tiago (único nas suas 66 internacionalizações) e o golo que fechou as contas, apontado por Cristiano Ronaldo, uma semana depois da célebre frase “Os golos são como o ketchup, quando aparece é tudo de uma vez” e numa altura em que estava há 16 meses sem marcar pela selecção nacional.
Depois, chegaria novo 0-0, diante do Brasil, e a derrota pela margem mínima contra Espanha em mais duas partidas onde foi notória a abordagem conservadora de Portugal, que assim saiu da prova na África do Sul com sentimento de que algo ficou por cumprir.
(Raúl Meireles abriu o ativo com a Coreia do Norte em 2010 e deu início a uma goleada histórica.)
Mundial 2014: Portugal 2-2 Estados Unidos
Não é engano: o grande momento da participação portuguesa no Mundial do Brasil foi mesmo um empate. Após estreia calamitosa (derrota por 4-0 com a Alemanha e Pepe expulso por comportamento anti-desportivo), Portugal até entrou a vencer diante dos Estados Unidos mas acabaria por permitir a reviravolta dos norte-americanos durante a segunda parte. O golo de Varela ao quinto minuto de descontos, porém, devolveu (alguma) esperança às hostes lusas: tornava-se imperioso golear o Gana na última ronda e esperar que Alemanha e Estados Unidos não empatassem. O segundo desfecho verificou-se, de facto (os alemães venceram por 1-0); o primeiro, não: Portugal venceu apenas por 2-1 e, apesar de terminar com os mesmos pontos da equipa norte-americana, despediu-se da prova mais uma vez com um sentimento de amargura e de missão não cumprida.
(Varela é cumprimentado por Éder após fazer o golo do empate contra os EUA em 2014.)
Mundial 2018: Portugal 3-3 Espanha
Outro empate, mas este bem mais saboroso, ditou o tom da participação portuguesa em 2018. Já com Fernando Santos ao leme, Portugal esteve duas vezes em vantagem, com bis de Cristiano Ronaldo, mas acabaria por sofrer três golos e chegar aos minutos finais a perder; aí, o capitão da selecção nacional chegou-se à frente e assinaria um golaço de livre directo com o qual selou o seu hat-trick e garantiu o celebrado empate final. Este foi de longe o momento mais alto de Portugal na Rússia: seguiram-se uma vitória magra sobre Marrocos (1-0), um empate tardio com o Irão de Carlos Queiroz (1-1) que resultou na perda do 1º lugar do grupo e depois a derrota por 2-1 com o Uruguai nos quartos-de-final, cortesia do bicho-papão Cavani (que por sorte é hoje já um veterano e deverá começar no banco na partida da segunda ronda da fase de grupos no Qatar).
(Cristiano Ronaldo já bateu o livre que assinou o seu hat-trick e respetivo 3-3 diante da Espanha em 2018.)
*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.