Marrocos: o novo membro africano dos Quartos-de-Final

marrocos(Os festejos dos jogadores marroquinos durante o desempate por penaltis diante da Espanha.)

O Mundial 2022 tem tido algumas surpresas até agora, mas nenhuma supera a dimensão da que aconteceu ontem: num duelo entre “vizinhos”, Marrocos cometeu a proeza de afastar a Espanha nos Oitavos-de-Final (0-0/3-0 em penaltis) e chega, pela primeira vez na sua história, aos Quartos-de-Final da competição.
E para além de eliminarem os espanhóis, que por si só já é um feito extraordinário, os marroquinos entraram igualmente para a história do futebol africano, já que são apenas a quarta Seleção daquele Continente a chegar aos Quartos no Campeonato do Mundo, repetindo as prestações de Camarões (1990), Senegal (2002) e Gana (2010) – curiosamente, nenhum destes Países passou depois às Meias-Finais.
Num Mundial que teve dois momentos icónicos protagonizados por Roger Milla – a dança junto à bandeirola de canto e o roubo de bola a Higuita que resultou em golo -, os camaroneses cedo mostraram ao que iam no Itália ’90: logo na partida inaugural, derrotaram a Argentina (1-0), que era a Campeã do Mundo em título, e venceram o grupo que contava ainda com Roménia e URSS. Nos Oitavos, superaram a Colômbia no prolongamento (2-1), mas depois já não conseguiram vencer a Inglaterra (2-3 após tempo-extra).
Doze anos depois, em 2002, o Senegal fez a estreia absoluta em Mundiais e teve uma entrada em grande: tal como os camaroneses, os senegaleses derrotaram na partida inaugural o Campeão do Mundo em título, que era a França (1-0), e empataram de seguida com Dinamarca e Uruguai, terminando no segundo lugar do grupo. Na fase a eliminar, os africanos ainda afastaram a Suécia no prolongamento (2-1), mas nos Quartos-de-Final foram derrotados pela Turquia (0-1).
Finalmente, em 2010, o Gana ficou atrás da Alemanha e superou a concorrência de Austrália e Sérvia na fase de grupos, sendo que nos Oitavos-de-Final, derrotou os Estados Unidos por 2-1, numa partida que também precisou de 120 minutos para ser resolvida, à semelhança do que havia acontecido com Camarões e Senegal. A campanha ganesa, porém, não passaria da eliminatória seguinte: no célebre jogo em que Luís Suárez foi expulso por fazer uma defesa que resultou num penalti falhado por Asamoah Gyan, os africanos acabaram derrotados pelo Uruguai… nas grandes penalidades (1-1/2-4).
No próximo sábado, dia 10, Marrocos terá então, contra Portugal, a oportunidade de continuar a fazer história e tornar-se na primeira equipa africana a atingir as Meias-Finais de um Campeonato do Mundo.

Mundial 2010: o último tango de El Pibe imortal

maradonaselecionador(Diego Maradona levou a sua Argentina ao Mundial 2010, mas não conseguiu repetir a proeza de 1986.)

Em plena altura de Mundial, ainda que este tenha contornos absolutamente inéditos na História do futebol, é inevitável puxar a cassete atrás e recordar memórias de edições passadas que se tornaram para sempre parte do nosso imaginário, na que é indubitavelmente a mais apaixonante competição de futebol que existe. Os mais antigos recordam a epopeia doa Magriços em 1966, o incrível futebol “joga bonito” do Brasil em 1970 (deu tri) e 1982 (deu… desilusão), o torneio ganho “por Maradona” em 1986 (mais o famigerado caso Saltillo) ou a loucura de Higuita/bailado de Roger Milla em 1990; os da minha geração vão ao Mundial francês de 1998 ou ao primeiro asiático de sempre, em 2002, de má memória para as nossas cores mas sinónimo de penta nos nossos irmãos canarinhos; os mais novos… bem, esses só querem saber de Cristiano Ronaldo, Messi e Mbappé, por isso, não entram nestas contas! eheheh

Podia ir pelo caminho simples e lembrar o primeiro Mundial que vi, que normalmente é sempre aquele que mais nos apaixona – e neste caso não foge à regra: o França 98. Mas não o vou fazer. E também não vou falar de 1986, pois ainda nem sequer tinha vindo ao mundo – vi mais tarde, nas velhinhas VHS, os feitos do mais genial futebolista de todos os tempos, bons e maus mas sempre bons porque feitos por ele. Mas sim, vou falar do Mundial onde tive o privilégio de ver de facto Maradona em acção, ainda que de uma perspectiva diferente: o África do Sul 2010.

maradonamessi(Messi e Maradona são, inequivocamente, as grandes figuras do futebol argentino.)

Com uma “carreira” de treinador pífia (cingia-se a duas experiências muito breves no Textil Mandiyú e no Racing Avellaneda nos anos 90, tendo ainda voltado aos relvados pelo Boca Juniors nas épocas seguintes), Maradona teve a oportunidade de uma vida quando, em 2008, Alfio Basile se demitiu do cargo de seleccionador argentino. El Pibe candidatou-se de imediato ao lugar e Julio Grondona acabou mesmo por contratá-lo, apesar do mar de críticas que se levantaram pelo currículo quase inexistente enquanto técnico – de facto, nem os maiores heróis escapam ao crivo popular.

A verdade é que o antigo astro dos relvados acabou por conseguir levar a sua avante e qualificar a Argentina para o Mundial 2010, algo que esteve realmente em perigo até apenas duas jornadas do fim da fase de apuramento. Ficará para sempre na memória a célebre conferência de imprensa após a obtenção do objectivo, cujas palavras de Maradona não irei aqui repetir, embora vá para sempre lembrar: aquilo era Maradona, puro e duro como sempre foi.

Chegamos assim ao primeiro Mundial africano da História, que foi de facto um dos que mais me apaixonou até hoje. Do golo inaugural de Tshabalala à inacreditável defesa de Casillas perante um Robben isolado que valeu o inédito título a Espanha, passando pela derrocada da campeã mundial em título Itália (eliminada na fase de grupos, terminando atrás de Eslováquia, Paraguai e Nova Zelândia), a presença da Coreia do Norte no grupo de Portugal ou a “defesa” de Luis Suárez que valeu um vermelho… e a passagem uruguaia às meias-finais – ou até mesmo o facto de ter sido o primeiro Mundial que segui em trabalho enquanto jornalista, tudo fez com que ficasse na minha memória como dos melhores que vi. E sim, até tendo em conta as inenarráveis vuvuzelas…

higuain(Higuaín apontou um hat-trick à Coreia do Sul e foi um dos principais destaques argentinos no Mundial realizado na África do Sul.)

E depois, no meio de tudo isso, havia a Argentina de Maradona – o mister Maradona, de fato e gravata, barba farta e uma figura um bocadinho mais avantajada que nos tempos de jogador mas ainda assim a aparentar bem mais saúde do que em anos passados. Uma Argentina que, diga-se, deslizou pela fase de grupos qual bailarina ao som de Tchaikovski: se o 1-0 inaugural à Nigéria foi para aquecer, o 4-1 à Coreia do Sul mostrou ao que vinham os pupilos de El Pibe, que rejubilou com o hat-trick de Higuaín. E ainda houve tempo para ver o “velhinho” Palermo estrear-se em Mundiais… com um golo, pois claro: 2-0 à Grécia e fase de grupos imaculada, que de repente transformava os argentinos num dos principais candidatos à conquista do troféu – a velha história do 8 e do 80, pois claro.

Seguiu-se o México, sempre incómodo… mas também com a garantia de que chega aos oitavos-de-final e por ali se fica. E ficou: 3-1 para a Argentina, com futebol de primeira água e encontro marcado para os quartos-de-final com a poderosa Alemanha, que tinha acabado de despachar a eterna candidata Inglaterra por claros 4-1. Esperavam-se dificuldades para a alvi-celeste mas num jogo renhido e equilibrado – verificou-se apenas a primeira: se ao intervalo ainda estava tudo em aberto, mercê do golo madrugador de Muller (um dos melhores jogadores e marcadores da prova), já na segunda parte bastaram seis minutos para os alemães arrumarem de vez com a eliminatória, havendo ainda tempo para o fenómeno Klose bisar e aumentar ainda mais a sua lenda em Mundiais rumo ao topo dos marcadores de todos os tempos.

AlemanhaArgentinaMundial2010(O momento em que Miroslav Klose se prepara para fazer o 4-0 final com que a Alemanha derrotou os argentinos nos Quartos-de-Final do Mundial 2010.)

Na altura ainda não se sabia, mas este viria a ser o último episódio de Maradona enquanto actor principal num Mundial. É verdade que a selecção argentina foi recebida em festa no seu país, com o seleccionador a ser quase tão celebrado como 34 anos antes, e durante algumas semanas a sua continuidade no cargo até 2014 era dada como certa; a 27 de Julho, porém, Grondona anunciou que o contrato não iria ser renovado, explicando que tal se deveu a recusa liminar de Maradona em proceder a alterações na composição da sua equipa técnica.

El Pibe tinha então 49 anos e pouco depois foi oficializado como técnico do Al Wasl, nos Emirados Árabes Unidos. Por lá ficou um ano, até que em 2017 regressou àquele país árabe para assumir o comando do secundário Al-Fujairah. Falhado o objectivo da subida de divisão, rumou no ano seguinte ao México, também para o segundo escalão, ficando muito perto de conseguir a promoção no Dorados de Sinaloa, o qual abandonaria no fim da época por motivos de saúde. Após uma mediática e inusitada passagem meteórica pela presidência do Dynamo Brest, da Bielorrússia, regressou aos comandos de uma equipa do seu país em 2019 pela porta do Gimnasia de la Plata, cargo que manteve até ao dia do falecimento, a 25 de Novembro de 2020.

maradona86(Diego Armando Maradona guiou, como se sabe, o “País das Pampas” ao título Mundial em 1986.)

Maradona é Mundial e falar de Mundiais é falar de Maradona. Todos recordam (ou pelo menos conhecem) a lenda de 1986 e o seu seguimento quatro anos depois, onde ainda que com menor fulgor voltou a guiar a sua Argentina amada à final do maior palco futebolístico do mundo. 20 anos volvidos, porém, ainda houve outra vez Maradona: sim, o show foi menor e mais comedido e o desfecho não foi o mais estrondoso, mas não se pode pôr um preço ao que significa Maradona novamente na maior competição de futebol do planeta. Infelizmente será irrepetível; felizmente, aconteceu.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Portugal em Mundiais: os sete pontos altos

portugal2022(A foto oficial do plantel e staff de Portugal que vai disputar o Mundial do Qatar.)

Inicia-se esta quinta-feira a oitava participação de Portugal em Campeonatos do Mundo, aquela que é para muitos a competição mais apaixonante do planeta em termos futebolísticos. A expectativa em torno do que os comandados de Fernando Santos podem conseguir no sui generis Mundial do Qatar é moderada, em comparação com o que já aconteceu noutras alturas, mas ainda assim relativamente optimista, apesar de se esperarem dificuldades num grupo onde se inserem também Gana, Uruguai e Coreia do Sul.

Deste modo, e até com o intuito de transmitir energias positivas para a comitiva que vai representar mais de 11 milhões de pessoas no exótico (e polémico) destino árabe nas próximas semanas (todos esperamos que seja até dia 18 de Dezembro, data da final), aqui ficam o que considero ser os momentos altos das anteriores sete participações nacionais na maior prova de selecções do mundo. Nem todas são vitórias, mas todas, de uma maneira ou de outra, ficaram marcadas na História da seleção nacional e gravadas na memória colectiva – fazendo votos de que, no fim desta edição, haja bem mais momentos para aumentar o leque.

Mundial 1966: Portugal 5-3 Coreia do Norte

Absolutamente incontornável. Na primeira participação de sempre de Portugal em fases finais de grandes competições, a seleção nacional fez um brilharete na fase de grupos da prova inglesa, vencendo os três jogos com chapa 3: Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e Brasil, bicampeão mundial em título (3-1). A partida que apaixonaria o mundo e colocaria Eusébio para sempre nos anais da História do futebol, porém, chegou nos quartos-de-final: pela frente uma Coreia do Norte que havia espantado tudo e todos ao vencer a Itália (1-0), atirando os campeões mundiais de 1934 e 1938 para fora da prova, mas com a equipa das Quinas ainda assim a justificar o estatuto de favorita.
Qual não foi o espanto, assim, quando se começaram a acumular os golos… norte-coreanos: ainda nem um minuto havia sido jogado e já venciam, ainda nem ao 25º minuto de jogo se tinha chegado e já o placard mostrava um inacreditável 3-0. A recuperação lusitana começaria com bis de Eusébio ainda antes do intervalo, com a mesma dose a ser servida nos segundos 45 minutos. José Augusto, aos 80, fecharia as contas de um 5-3 que se tornou eterno.

1966(Eusébio foi decisivo na vitória sobre a Coreia do Norte em 1966.)

Mundial 1986: Portugal 1-0 Inglaterra

O jogo mais épico nesta participação foi, garantidamente, o que valeu o apuramento para a prova: a vitória por 1-0 na Alemanha Ocidental com “aquele” golo de Carlos Manuel. O criativo do Benfica, porém, acabaria por assinar também o que seria o único momento positivo de Portugal no México: o golo que valeu a vitória logo a abrir diante de Inglaterra. O que se seguiu é do conhecimento comum e em nada dignifica os envolvidos, redundando em derrotas ante a Polónia (0-1) e Marrocos (1-3) e eliminação precoce da competição.

1986(Carlos Manuel “resolveu” o jogo com a Inglaterra em 1986.)

Mundial 2002: Portugal 4-0 Polónia

A clara tendência de complicar o que à partida parecia simples já vem de trás, como se pode facilmente constatar com o exemplo da primeira participação, e agudizou-se ainda mais na terceira vez que Portugal chegou à fase final de um Mundial. A entrada na prova asiática foi negativa, com a derrota por 3-2 diante dos Estados Unidos, mas a resposta foi à altura: uma goleada sem apelo nem agravo com a chancela de Pauleta, que puxou dos galões de ponta-de-lança e se tornou o segundo português de sempre a marcar um hat-trick no certame.
Esse seria, porém, o ponto alto de um desempenho global muito, muito baixo: por entre polémicas extra-campo, Portugal voltou a desiludir também fora dele, perdendo novamente na última jornada, ante a anfitriã Coreia do Sul (0-1), num jogo marcado por duas expulsões e com uma equipa a mostrar-se completamente perdida nomeadamente a nível emocional. Não estranhou, portanto, mais um afastamento precoce, ainda que desta feita numa selecção que no início da prova até era apontada como candidata à conquista do troféu.

2002(Pauleta apontou um hat-trick à Polónia em 2002 e festejou à sua maneira, que é como quem diz, fazendo o célebre “voo do açor”.)

Mundial 2006: Portugal 0-0 Inglaterra (3-1 g.p.)

O encontro mais memorável de Portugal nesta edição terá sido o dos oitavos-de-final, para sempre lembrado como a Batalha de Nuremberga devido à chuva de cartões mostrados pelo árbitro russo Valentin Ivanov (16 cartões amarelos e quatro vermelhos), com a selecção portuguesa a celebrar no fim devido a um golo solitário de Maniche ante a então ainda denominada Holanda. A eliminatória seguinte, porém, seria ainda mais emocionante: pela segunda grande competição consecutiva, Portugal e Inglaterra encontravam-se nos quartos-de-final… e pela segunda competição consecutiva, Portugal levaria a melhor no desempate por grandes penalidades, depois do 0-0 teimar até ao apito final do tempo regulamentar e prolongamento.
Desta feita não houve Panenka de Postiga nem Ricardo a defender sem luvas ou a bater o pontapé decisivo, mas ainda assim a selecção orientada por Luiz Felipe Scolari logrou novo apuramento mercê dos três penaltys desperdiçados pelo conjunto inglês – um dos quais por Carragher, que havia entrado no penúltimo minuto do prolongamento especificamente para essa tarefa –, com Cristiano Ronaldo a dar a estocada final e a colocar Portugal nas meias-finais 40 anos depois.

2006(Embora decidido nos penaltis, o Portugal – Inglaterra de 2006 teve muita emoção antes de chegar ao momento decisivo.)

Mundial 2010: Portugal 7-0 Coreia do Norte

A participação portuguesa em 2010, no primeiro Mundial realizado em solo africano, foi agridoce. A equipa orientada por Carlos Queiroz entrou de forma morna, com um nulo ante a Costa do Marfim onde não pareceu fazer grande esforço para mudar o rumo dos acontecimentos, mas a contenção dessa primeira ronda daria lugar à abundância do jogo seguinte, num reencontro com a Coreia do Norte que voltava ao certame 44 anos depois daquele brilharete em Inglaterra. Esta partida, porém, não teria muito que contar além da sucessão de golos portugueses, destacando-se o bis de Tiago (único nas suas 66 internacionalizações) e o golo que fechou as contas, apontado por Cristiano Ronaldo, uma semana depois da célebre frase “Os golos são como o ketchup, quando aparece é tudo de uma vez” e numa altura em que estava há 16 meses sem marcar pela selecção nacional.
Depois, chegaria novo 0-0, diante do Brasil, e a derrota pela margem mínima contra Espanha em mais duas partidas onde foi notória a abordagem conservadora de Portugal, que assim saiu da prova na África do Sul com sentimento de que algo ficou por cumprir.

2010(Raúl Meireles abriu o ativo com a Coreia do Norte em 2010 e deu início a uma goleada histórica.)

Mundial 2014: Portugal 2-2 Estados Unidos

Não é engano: o grande momento da participação portuguesa no Mundial do Brasil foi mesmo um empate. Após estreia calamitosa (derrota por 4-0 com a Alemanha e Pepe expulso por comportamento anti-desportivo), Portugal até entrou a vencer diante dos Estados Unidos mas acabaria por permitir a reviravolta dos norte-americanos durante a segunda parte. O golo de Varela ao quinto minuto de descontos, porém, devolveu (alguma) esperança às hostes lusas: tornava-se imperioso golear o Gana na última ronda e esperar que Alemanha e Estados Unidos não empatassem. O segundo desfecho verificou-se, de facto (os alemães venceram por 1-0); o primeiro, não: Portugal venceu apenas por 2-1 e, apesar de terminar com os mesmos pontos da equipa norte-americana, despediu-se da prova mais uma vez com um sentimento de amargura e de missão não cumprida.

2014(Varela é cumprimentado por Éder após fazer o golo do empate contra os EUA em 2014.)

Mundial 2018: Portugal 3-3 Espanha

Outro empate, mas este bem mais saboroso, ditou o tom da participação portuguesa em 2018. Já com Fernando Santos ao leme, Portugal esteve duas vezes em vantagem, com bis de Cristiano Ronaldo, mas acabaria por sofrer três golos e chegar aos minutos finais a perder; aí, o capitão da selecção nacional chegou-se à frente e assinaria um golaço de livre directo com o qual selou o seu hat-trick e garantiu o celebrado empate final. Este foi de longe o momento mais alto de Portugal na Rússia: seguiram-se uma vitória magra sobre Marrocos (1-0), um empate tardio com o Irão de Carlos Queiroz (1-1) que resultou na perda do 1º lugar do grupo e depois a derrota por 2-1 com o Uruguai nos quartos-de-final, cortesia do bicho-papão Cavani (que por sorte é hoje já um veterano e deverá começar no banco na partida da segunda ronda da fase de grupos no Qatar).

2018(Cristiano Ronaldo já bateu o livre que assinou o seu hat-trick e respetivo 3-3 diante da Espanha em 2018.)

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Mundial 2010: vuvuzelas e show de Tshabalala na abertura

South Africa v Mexico: Group A - 2010 FIFA World Cup(Tshabalala já deixou Osorio para trás e rematou para o primeiro golo do Mundial 2010.)

Com o Mundial prestes a começar, aproveitamos a oportunidade para recordar o jogo de abertura do torneio de 2010, que, por sinal, também teve um anfitrião em estreia, África do Sul, à semelhança do que acontece este ano com o Qatar.
Naquela que era a sua terceira presença em Mundiais depois de 1998 e 2002, a África do Sul encarava o “seu” Campeonato do Mundo com alegria e com alguma expetativa, pese embora o sorteio da fase de grupos não lhe tenha sido propriamente favorável, já que teria como adversários, por esta ordem, México, Uruguai e França.
Numa competição que ficou inevitavelmente marcada pela presença de (demasiadas) vuvuzelas nos estádios sul-africanos, que causavam um ruído tão intenso quanto dispensável, a Seleção da casa era orientada por Carlos Alberto Parreira, Campeão com o Brasil em 1994, e tinha no médio-ofensivo Steven Pienaar a sua grande referência dentro de campo, ele que, na altura, era um dos principais jogadores do Everton.
Olhando ao leque de jogadores que compunham o elenco mexicano, a tarefa dos anfitriões para o jogo de abertura não se adivinhava fácil: sob o comando de Javier Aguirre, os norte-americanos tinham Carlos Vela, Rafa Márquez, Giovanni dos Santos, Andrés Guardado, Carlos Salcido, Guillermo Franco, Guillermo Ochoa ou Cuauhtémoc Blanco e tinha legítimas aspirações em ultrapassar a fase de grupos.
Mas dentro de campo as coisas foram diferentes: após 45 minutos sem grandes motivos de interesse, o segundo tempo trouxe golos e emoção à partida, cabendo aos anfitriões a honra de inaugurarem o marcador e, consequentemente, fazerem o primeiro golo do Mundial. Aos 55′, Dikgacoi lançou Tshabalala na profundidade, e o extremo deixou para trás o central Ricardo Osorio com relativa facilidade, antes de rematar sem hipótese de defesa para Óscar Pérez, assinando o 1-0 com um bonito golo.
Como se previa, os mexicanos foram atrás do resultado, deram o primeiro “aviso” por Giovanni dos Santos, que obrigou Khune a uma espetacular defesa, e empataram à entrada para os últimos dez minutos, quando Guardado cruzou para a finalização de Rafa Márquez (79′) – ainda assim, a melhor oportunidade pertenceu à África do Sul, que viu Mphela enviar uma bola ao poste e desperdiçar a possibilidade de fazer o 2-1.
Posteriormente, os sul-africanos seriam derrotados pelo Uruguai na 2ª Jornada (0-3) e cometeriam uma das maiores surpresas da prova ao derrotarem a França na derradeira ronda da fase de grupos (2-1), terminando a sua participação no terceiro lugar em igualdade com o México, falhando a qualificação para os Oitavos-de-Final devido à diferença de golos.
Mais do que pelo barulho ensurdecedor das vuvuzelas, a partida de abertura do Mundial 2010 será sempre lembrada pelo golaço de Tshabalala, um africano que marcou o primeiro golo do primeiro Campeonato do Mundo realizado no seu Continente.