Croácia: passar a fase de grupos é sinónimo de Meias-Finais

croacia98(Em 1998, a Croácia estreou-se em Mundiais e terminou no terceiro lugar.)

Seis presenças em Campeonatos do Mundo, três passagens à fase a eliminar, três chegadas às Meias-Finais: este registo, nada fácil de ser conseguido, pertence à Croácia, que pelo segundo Mundial consecutivo vai disputar a presença na final, feito que alcançou há quatro anos na Rússia.
Declarada independente em 1991, a Croácia participou pela primeira vez no Mundial em 1998, e de lá para cá só falhou o maior torneio de Seleções em 2010, mantendo, este ano, a tendência de chegar pelo menos às Meias-Finais sempre que passa da primeira fase, algo que não aconteceu em 2002, 2006 e 2014.
Logo na estreia em Mundiais, que ocorreu em França, os croatas começaram a dar cartas: emparelhados no Grupo H, derrotaram Jamaica (3-1) e Japão (1-0) e terminaram no segundo lugar atrás da Argentina, com quem perderam na derradeira jornada quando ambas já estavam apuradas (0-1). Depois, seguiu-se o triunfo sobre a Roménia nos Oitavos (1-0); e uma das maiores surpresas da prova nos Quartos: 3-0 à Alemanha.
Na meia-final, diante da Seleção da casa, os balcânicos ainda estiveram a vencer, mas acabaram por cair graças ao bis de Lilian Thuram, que vestiu a pele de “herói improvável” e apurou os gauleses para a final; mas a prova ainda não tinha terminado para a equipa liderada por Miroslav Blažević, que derrotou a Holanda no jogo de apuramento de 3º e 4º lugar (2-1) e fechou a competição no pódio – Davor Suker foi o melhor marcador com seis golos.
Vinte anos depois, em 2018, os croatas voltaram a conseguir passar da fase de grupos do Mundial, e dessa vez até conseguiram ir mais longe, atingindo, naturalmente, a final. Novamente com a Argentina – Nigéria e Islândia eram os outros “ocupantes” do Grupo D -, os comandados de Zlatko Dalić não só chegaram à fase a eliminar, como terminaram na liderança do grupo só com vitórias nos três jogos disputados.
No “mata mata”, “tombaram” Dinamarca e Rússia nos penaltis (1-1/3-2 e 2-2/4-3 respetivamente), e superiorizaram-se à Inglaterra na semi-final, com triunfo por 2-1 após prolongamento. Chegados à final, os croatas voltaram a ter na França o seu “carrasco”, já que os “bleus” não se deixaram cair em surpresas e averbaram uma vitória categórica (4-2).
E este ano, a formação que continua a mando de Zlatko Dalić tem feito um trajeto semelhante ao de há quatro anos: embora tenha terminado o Grupo F no segundo posto atrás de Marrocos e à frente de Bélgica e Canadá, já afastou dois Países nos penaltis – Japão e Brasil com 1-1/3-1 e 1-1/4-2 respetivamente – e prepara-se agora para defrontar a Argentina na meia-final, dando-se a curiosidade de sempre que chega a esta fase defrontar os sul-americanos, sendo que pode ainda repetir a final de 2018 com a França.
Independentemente do que aconteça na próxima terça-feira, a Croácia vai manter a tradição: sempre que ultrapassa a fase de grupos do Mundial, chega às Meias-Finais e está nas grandes decisões.

Taribo West: mais famoso pelo penteado do que pela carreira

west1(Tranças coloridas: a imagem de marca de Taribo West.)

Taribo West está na história do futebol Mundial como um dos jogadores mais excêntricos de todos os tempos: dono de um penteado diferente (outros termos se podiam usar), fez das tranças coloridas a sua imagem de marca, e esta é mesmo a principal razão pela qual é imensas vezes recordado, apesar da boa carreira que construiu.
Representou Inter, AC Milan, Derby County, Kaiserslautern ou Partizan Belgrado, conquistou títulos na Europa e foi uma referência na Nigéria: fez mais de 40 jogos pelas “Super Eagles”, foi Campeão Olímpico em 1996 e disputou os Mundiais de 1998 e 2002.
Revelado pelo Julius Berger, mudou-se para o “velho Continente” em 1993, para jogar no Auxerre, e em quatro anos em França venceu um Campeonato, duas Taças e uma Supertaça, transferindo-se daí para o Inter, onde integrou um verdadeiro “dream team” que conquistou a Taça UEFA em 97/98 – Simeone, Djorkaeff, Ronaldo, Pagliuca, Zanetti ou Zamorano só para citar alguns.
Em Janeiro de 2000, trocou de rival em Milão, porém, a sua “estadia” no AC Milan durou apenas seis meses – o próprio disse em 2019 que a máfia impôs a sua saída dos “rossoneri” – e na época seguinte foi emprestado aos ingleses do Derby County, ajudando a garantir a manutenção na Premier League.
As futuras passagens por Kaiserslautern e Partizan (por quem jogou na Champions e defrontou o FC Porto) seriam as últimas de West ao mais alto nível: depois disso, representou Al-Arabi (Qatar) e Plymouth (Inglaterra), regressou ao Julius Berger, e ainda assinou com os iranianos do Paykan, terminando aí a carreira em 2007.
A central ou a defesa esquerdo, Taribo West afirmou-se como um jogador durinho e não muito dotado tecnicamente, e marcou uma geração no futebol nigeriano, sobretudo porque integrou o plantel que foi Campeão Olímpico em Atlanta (1996) – no Mundial de França a Nigéria chegou aos Oitavos e no Coreia/Japão não passou a fase de grupos.
Em 2013, o seu antigo presidente no Partizan, afirmou que Taribo falsificou a idade em… doze anos! Ou seja, quando representou o clube de Belgrado, teria 40 anos e não 28 como constava nos seus documentos. Ainda assim, Žarko Zečević disse que apesar da descoberta, não se arrependeu da contratação porque o nigeriano jogava bem…
Nascido em Port Harcourt, a 26 de Março de 1974, Taribo West celebra hoje o seu 48º aniversário. Ou será 60º?

Omam-Biyik: o (outro) herói de Camarões no Mundial 90

omamvsarge(A imagem mais famosa da carreira de François Omam-Biyik: o golo que derrotou a Argentina na abertura do Mundial 1990.)

Falar do Mundial 90 é falar de Roger Milla, o vetusto avançado camaronês que chegou à maior competição de selecções do mundo já na pré-reforma (tinha 38 anos e jogava no campeonato das… Ilhas Reunião nessa altura) e que deliciou o mundo com dois bis (Roménia, na fase de grupos, e Colômbia, no prolongamento dos oitavos-de-final) e a forma colorida e festiva como os celebrou, dançando junto à bandeirola de canto. Milla, todavia, nem sequer era titular nessa formação dos Leões Indomáveis que espantou o mundo e foi apenas figurante no primeiro grande feito dos Camarões na prova – e que se tornaria uma das maiores surpresas da História dos Mundiais: a vitória por 1-0 sobre a Argentina de Maradona, campeã mundial em título, na abertura da competição.

Essa partida ficou marcada pela excessiva dureza dos impiedosos camaroneses para com os argentinos, que resultou inclusivamente em duas expulsões: na memória de todos os que assistiram à prova está até aos dias de hoje a entrada “a matar” de Benjamin Massing sobre Claudio Caniggia já nos instantes finais, mas já antes André Kana-Biyik havia visto igualmente o vermelho directo por falta sobre Caniggia (este bastante mais discutível). O grande momento do jogo, curiosamente, chegaria pouco depois dessa primeira expulsão e foi assinado pelo irmão de Kana-Biyik: François Omam-Biyik elevou-se ao terceiro andar e cabeceou para o golo (com muitas responsabilidades para o guardião argentino Nery Pumpido, é um facto) que ditaria o primeiro capítulo da incrível caminhada camaronesa em Itália.

omamrennes(A boa participação no Mundial disputado em Itália valeu a Omam-Biyik a mudança para a Ligue 1, tendo sido o terceiro melhor macador ao serviço do Rennes.)

Omam-Biyik era o titular absoluto na frente de ataque dos Camarões. No vigor dos 24 anos, tinha já experiência de Liga francesa (dois anos ao serviço do Laval, por quem alinhava no segundo escalão por altura do Mundial), e viria a ser totalista na prova italiana, disputando todos os minutos de todos os cinco jogos dos Leões Indomáveis – e ao golo heróico ante os argentinos somou ainda a assistência para o primeiro tento de Milla frente à Colômbia (a que se seguiria “aquele” onde roubou a bola ao também mítico guardião colombiano Higuita perto do círculo do meio-campo).

As belíssimas exibições no Campeonato do Mundo valeram-lhe o regresso à Ligue 1 pela mão do Rennes, onde se sagrou terceiro melhor marcador do campeonato logo em 90/91 (14 golos), apesar do último lugar e consequente despromoção. Mudou-se depois para o Cannes, que também viria a descer, e seria contratado no verão de 1992 pelo Marselha, marcando mesmo um golo na vitória por 3-0 sobre o Glentoran no início da caminhada do emblema marselhês rumo ao triunfo na Liga dos Campeões; esse seria, todavia, o seu último jogo no clube, pois em Outubro saiu e assinou pelo Lens, onde jogaria nas duas temporadas seguintes. Após três épocas no México, representando América – onde estabeleceu, por exemplo, os recordes de mais golos numa temporada (33) e de mais jogos consecutivos a marcar (11) – e Atlético Yucatán, voltou à Europa em 97/98, já com 32 anos, para jogar pelos italianos da Sampdoria; aí não teria o mesmo sucesso que vivenciara em França, com apenas seis jogos disputados como suplente utilizado. Depois disso ainda regressou ao México para alinhar pelo Puebla e no fim de 99/00 pendurou as botas após apenas três partidas efectuadas pelo Chateauroux na II Liga francesa.

omambiyik(Omam-Biyik é o jogador que mais jogos realizou pelos Camarões em Mundiais, tendo somado, no total, 26 golos em 73 jogos pelos “Leões Indomáveis”.)

Omam-Biyik foi um dos grandes avançados africanos das décadas de 80 e 90 (terminou duas vezes em terceiro na eleição de Melhor Africano do Ano) e é ainda hoje o atleta camaronês com mais jogos disputados em Mundiais: 11, distribuídos pelas edições de 90 (5), 94 (3 e 1 golo) e 98 (3), tendo ainda participado em quatro CAN (1988, 1990, 1992 e 1996), vencendo a primeira e ostentando um total de 73 jogos e 26 golos pelo seu país. No seu pecúlio mundialista, todavia, poderia ainda estar mais um golo que acrescentaria mais um feito heróico à sua história com a selecção camaronesa… mas que lhe foi negado por uma decisão incorrecta da equipa de arbitragem.

Aconteceu no Mundial 98, em França, no último jogo da fase de grupos. Os Camarões tinham empatado com a Áustria no primeiro jogo (1-1) e perdido por 3-0 com a Itália, pelo que precisavam desesperadamente de vencer o Chile para se poderem qualificar para os oitavos-de-final. Tudo na partida lhes foi desfavorável: viram-se a perder logo aos 20 minutos, num belíssimo livre directo apontado por Sierra, e ficaram reduzidos a dez unidades aos 51 por expulsão de Rigobert Song (que já tinha visto igualmente um vermelho directo no Mundial 94).

Mas entretanto conseguiram empatar, mercê de um belo cabeceamento de Patrick Mboma (assistido pelo capitão Omam-Biyik), e poucos minutos depois fizeram mesmo o segundo golo, pelo próprio Omam-Biyik. O tento salvador, todavia, viria a ser anulado pela equipa de arbitragem liderada pelo húngaro László Vagner por alegado fora-de-jogo (que em todas as imagens disponibilizadas pela transmissão da partida parece não existir); o 1-1 final apurou os chilenos, que assim se qualificaram com apenas três pontos (já tinham empatado 2-2 com a Itália e 1-1 com Áustria), e enviou os Camarões para casa, cortando pela raiz qualquer possibilidade de poder sonhar em repetir a heróica caminhada em Itália oito anos antes e negando o terceiro golo noutras tantas participações em Mundiais para o mítico Omam-Biyik – que hoje tem 55 anos e desempenha as funções de adjunto do técnico português António Conceição na selecção camaronesa.

omamamerica(Na passagem pelos mexicanos do América, na parte final da década de 90, Omam-Biyik estabeleceu alguns recordes.)

A família Biyik, de resto, já vem alimentando a sua tradição no futebol camaronês. François tinha, como já se disse acima, o seu irmão na selecção camaronesa no Mundial 90 e também em 94, o tal André Kana-Biyik, um defesa possante que também jogou em França (Metz e Le Havre), e o seu filho, Emilio Omam-Biyik, nascido durante a sua passagem pelo futebol mexicano, também foi futebolista, embora sem sucesso, jogando apenas em patamares semi-profissionais em França, México e Inglaterra. Melhor trajecto teve o seu sobrinho, filho de André: Jean Armel Kana-Biyik jogou vários anos na principal Liga francesa (Le Havre, Rennes e Toulouse) e está desde 2016/17 na Turquia, tendo representado daí para cá Kayserispor e Gaziantep, onde ainda se encontra aos 32 anos. Nascido em Metz, foi internacional francês nas camadas jovens mas em 2012 optou por representar a selecção principal do país do pai e do tio – ainda que tenha anunciado a retirada em 2014, depois de ter ficado de fora da convocatória para o Mundial 2014, acusando a federação local de corrupção; por essa razão rejeitou as chamadas para a CAN em 2015 e 2017, mas viria a reconsiderar e aceitar a convocatória para a edição de 2019, na qual foi utilizado em apenas uma partida. Pouco depois disse adeus à selecção camaronesa em definitivo, tendo somado apenas 7 internacionalizações pelos Leões Indomáveis.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Japão: a exótica passagem pelo França 98 que abriu as portas da Europa

japan11arge(Eis o primeiro onze da história do Japão em Mundiais: derrota frente à Argentina por 0-1. Créditos de imagem: Getty Images.)

Diz a sabedoria popular (nomeadamente o pessoal mais romântico) que não há amor como o primeiro – um conceito válido certamente para muita gente nos mais variados aspectos da sua vida. No caso deste que vos escreve, esse ditado assenta que nem uma luva no que respeita a Campeonatos do Mundo de futebol: para mim, não houve mesmo até agora algum que superasse o torneio de 1998, em França.

Tinha na altura 10 anos e seria provavelmente o maior fanático por futebol do mundo nessa faixa etária – ou, vá, pelo menos no código postal 8800 (Tavira). Coleccionava as revistas da especialidade, conhecia os nomes de todos os participantes no evento, em que clube jogavam e as suas idades: só não tinha a morada decorada porque essa informação não vinha nos tais almanaques (uma pena)! Sem Portugal para torcer a favor (curiosamente pela última vez até aos dias de hoje), já nessa altura me agarrava aos underdogs, aquelas equipas mais exóticas e em quem poucos apostam. Já era, então, um fervoroso consumidor de todo o universo Dragon Ball (pelo qual sou absolutamente fanático até aos dias de hoje) e por essa razão havia desenvolvido um fascínio pela cultura e forma de estar nipónica, pelo que na hora de me decidir por que selecção torcer, a escolha não foi complicada: Japão, pois claro.

japanargentina(Nakata em luta com Matías Almeyda. Os argentinos levaram a melhor sobre os estreantes japoneses.)

Tal como para mim, também o Mundial 98 era o primeiro de sempre da selecção japonesa, que havia ficado de fora do torneio quatro anos antes de forma traumática – ao permitir o 2-2 ao Iraque no último minuto do jogo disputado em Doha, no Qatar, cairia para fora dos lugares de apuramento devido ao saldo de golos desfavorável em relação à Coreia do Sul, numa partida ainda hoje recordada como a Agonia de Doha (ou Milagre de Doha, na versão sul-coreana). O bilhete para a fase final de França chegaria com um golo de ouro do suplente Masayuki Okano no minuto 118 do play-off com o Irão (3-2), tornando o Japão no décimo país asiático da História a estar presente num Mundial – depois de Indonésia, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Irão, Kuwait, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Israel, que em 1970, ano da sua única participação, ainda estava inserido na qualificação asiática.

A participação japonesa deu que falar logo a partir da convocatória, na qual não figurou precisamente o jogador nipónico mais conhecido a nível mundial na altura: Kazuyoshi Miura, cuja história já contámos e poderá recordar aqui. Nenhum dos 22 eleitos, de resto, jogava fora do campeonato japonês, então ainda a dar os primeiros passos na sua era “moderna” e contando para isso com o auxílio de futebolistas europeus e americanos em fim de carreira, como Zico, Dragan Stojkovic ou o nosso Paulo Futre, bem como treinadores renomados – Arsène Wenger, por exemplo, saíra do Nagoya Grampus para o Arsenal no verão de 1996 e Carlos Queiroz treinara a mesma equipa no ano seguinte.

JapaoJamaicaWC98(Shinji Ono, um dos japoneses presentes no Mundial ’98 que fez carreira na Europa, parece ser derrubado por um jamaicano.)

Para abertura das hostilidades, dificilmente o Japão poderia encontrar tarefa mais complicada: no seu grupo tinha apenas e só a toda-poderosa Argentina, já então bicampeã mundial, e uma Croácia que fazia igualmente a primeira aparição como estado independente mas que tinha uma verdadeira geração de ouro, com as suas maiores estrelas a ostentarem no palmarés o título mundial de sub-20 ganho em 1987 ainda em representação de uma Jugoslávia unificada; restava a Jamaica, outra estreante e provavelmente a única selecção da competição que poderia roubar o estatuto de mais exótica aos japoneses. Que se bateram bem – muito bem mesmo: os dois primeiros jogos foram logo diante de Argentina e Croácia e em ambos o Japão vendeu muito cara a derrota, perdendo por 1-0 nas duas partidas (contra os croatas aguentou até aos 77 minutos) e demonstrando qualidades desconhecidas do grande público até então, nomeadamente nos processos defensivos. Causou, por isso, alguma estranheza o resultado na despedida da prova: derrota por 2-1 contra uma Jamaica que havia registado números bem piores anteriormente (perdera 3-1 com a Croácia e 5-0 com a Argentina) e que daí para cá nunca mais conseguiu voltar ao certame, no que foi um dos únicos jogos do torneio que não consegui ver – a RTP transmitiu todas as partidas desse Mundial, com excepção da terceira ronda da fase de grupos: como os dois jogos de cada grupo se realizavam em simultâneo, só a partida mais cotada era transmitida, com o outro encontro a merecer apenas uma repetição dos golos num quadradinho no canto inferior direito do ecrã.

Para o comum adepto, o Japão ficou-se por aí no Mundial 98, podendo inclusivamente ser etiquetado como a segunda pior equipa do torneio – só os Estados Unidos fizeram os mesmos zero pontos, mas com uma diferença de golos ainda mais desfavorável (1-5 contra 1-4 dos nipónicos). Para mim, porém, aqueles 11 ou 12 nomes dos atletas mais utilizados por Takeshi Okada nunca me saíram da cabeça, a começar pelo guardião Yoshikatsu Kawaguchi (que fez grandes exibições ante Argentina e Croácia e que mais tarde se sagraria vencedor do Championship, o segundo escalão do futebol inglês, ao serviço do Portsmouth); Akira Narahashi, Naomi Soma, Masami Ihara, Yutaka Akita, Eisuke Nakanishi, Motohiro Yamaguchi e Masashi Nakayama (autor do único golo japonês na prova) fizeram toda a sua carreira no Japão, com Hiroshi Nanami e Shoji Jo a registarem curtas passagens por Itália (Veneza) e Espanha (Valladolid), respectivamente, logo após o França 98. Não esquecendo também o nipónico de raízes brasileiras (já uma tradição na selecção japonesa) Wagner Lopes, avançado que se mudara para o Japão em 1987 após iniciar a carreira no São Paulo e que ali cumpriu o resto da carreira, aparecendo em França como suplente utilizado nas três partidas disputadas pelos japoneses (e autor da assistência para o golo de Nakayama diante da Jamaica).

japaocroacia(Shoji Jo e Slaven Bilić lutam pela bola durante o Japão 0-1 Croácia da 2ª Jornada.)

E depois havia, obviamente, o nome que todos deverão ainda recordar por estes dias: Hidetoshi Nakata, na altura um médio ofensivo de apenas 21 anos que só conhecera na ainda curta carreira o Shonan Bellmare – por quem venceu a Taça das Taças Asiática ainda com 18 anos, marcando precisamente o golo que deu a vitória ao emblema japonês na final contra o Al-Talaba (2-1). As três derrotas japonesas no Mundial 98 não o impediram de dar nas vistas e de imediato foi contratado pelo Perugia, tornando-se o segundo atleta nipónico a competir na Serie A depois de, claro está, King Kazu Miura o ter feito quatro anos antes.

Na primeira época em Itália, Nakata apontou 10 golos em 33 jogos (recorde na carreira) e a meio de 99/00 chegaria à Roma em troca de cerca de 20 milhões de euros mais o passe de Alenitchev (esse mesmo), vencendo o campeonato com o emblema romano na temporada seguinte. Seria no verão de 2001 contratado pelo Parma por 28 milhões de euros, tornando-se o futebolista asiático mais caro de sempre (recorde que ostentou durante 14 anos, até Son Heung-min se transferir do Bayer Leverkusen para o Tottenham por 30 milhões em 2015), e ali ficou dois anos e meio, conquistando a Taça logo na primeira época (com um golo marcado ao minuto 90 na primeira mão da final, numa derrota por 2-1 com a Juventus que acabaria por se revelar decisiva para a vitória do troféu, dado o triunfo por 1-0 na segunda mão); foi depois cedido ao Bolonha e à Fiorentina e em 2005/06 experimentou o futebol inglês pela porta do Bolton – que acabaria por se revelar a sua última paragem: após a participação no Mundial 2006, na Alemanha (fez os três jogos da fase de grupos, sendo eleito o melhor em campo no 0-0 frente à Croácia), anunciou o adeus ao futebol com apenas 29 anos, justificando a decisão com o facto de já não desfrutar do jogo como antes e ter o desejo de “ver o que estava a acontecer pelo mundo”.

nakayama(Masashi Nakayama apontou o primeiro golo do Japão em Mundiais, por sinal, o único dos nipónicos no torneio realizado em França.)

Muitas vezes apelidado de “Beckham japonês”, por ter um alcance mediático que ia muito para além do que fazia dentro das quatro linhas, a verdade é que Nakata desbravou o caminho para dezenas (hoje já centenas) de futebolistas japoneses, que na actualidade se podem encontrar em todos os grandes campeonatos europeus. Nakata… e não só: pode mesmo dizer-se que foi graças à participação japonesa no Mundial 98 que as portas do futebol europeu se abriram de par em par para o atleta nipónico; vendo as coisas por este prisma, se calhar o Japão até se saiu bastante bem da curta mas excitante aventura em França.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Footix, o “culpado”

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Este é o Footix. O Footix, como se pode ver, foi a mascote do Mundial ’98, que, como também se percebe, se realizou em França, e teve como vencedor… a França.
Foi muito por influência deste bonequinho que começou a minha paixão pelo futebol: primeiro pelos cromos, e, depois, pelos jogos, pelos jogadores, pelas equipas, e, claro, pelo Mundial ’98, o primeiro que vi, do qual tenho poucas mas boas memórias e aquele que será sempre para mim o melhor da história. Porque foi o meu primeiro, e o primeiro, reza a história, nunca se esquece.
Hoje, num dia muito especial para mim, que celebro mais um aniversário, partilho assim convosco um dos grandes “culpados” por hoje, aos 28 anos, ter esta paixão “louca” pelo futebol.
Um bem-haja a todos vocês que acompanham a página e obrigado por “estarem desse lado”.
Raúl Paiva ✍️

Carlos Germano: um Mundialista em Penafiel

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Carlos Germano foi um dos Guarda-Redes brasileiros mais marcantes da sua geração: ídolo do Vasco da Gama na década de 90, o “goleiro” esteve no Mundial 1998 ao serviço do seu País, venceu a Copa América em 1997 e terminou a sua carreira ao serviço do Penafiel.
Naquela que foi a sua única experiência fora do Brasil, o guardião chegou a Portugal no Verão de 2005 para um Penafiel então treinado por Luís Castro e presidido por António Oliveira, mas nem sequer chegou a jogar oficialmente, acabando por sair em Dezembro.
Praticamente no início da sua aventura em Penafiel, o corpo médico do emblema duriense terá detetado uma lesão na coluna do guardião, que até terá sido convidado a abandonar o clube por dirigentes penafidelenses.
Sem jogar oficialmente e sem sequer se sentar no banco de suplentes até Dezembro, Carlos Germano acertou no último mês de 2005 a sua desvinculação com o Penafiel, encerrando, assim, a sua carreira de futebolista.
Atualmente, é treinador de Guarda-Redes do Vasco da Gama, por quem foi Campeão Brasileiro em 1997, e, justamente no dia de hoje, celebra o 50º aniversário.
Foi por pouco tempo, mas o que fica para a história é que, um dia, o FC Penafiel teve no seu plantel um Mundialista e um “goleiro” muito bem cotado no seu País.