Josué, médio-ofensivo que representa os polacos do Legia de Varsóvia, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:
Se há jogador que está a fazer jus à palavra “reforço” para o Legia de Varsóvia na temporada em curso, esse é Josué. Contratado no verão aos israelitas do Hapoel Beer Sheva, o criativo nascido há 31 anos em Ermesinde tem feito a diferença de forma superlativa essencialmente num dos capítulos onde sempre se destacou, as assistências: já são 12 esta temporada, a que se somam os dois golos apontados no último mês de Março, num registo assinalável para uma equipa que, inexplicavelmente, chegou a estar já… abaixo da linha de água há pouco mais de três meses.
Após ter protagonizado a melhor temporada da sua carreira (foram 13 golos e 6 assistências na segunda época em Israel), e no que é a fase de maior maturidade do seu percurso futebolístico, Josué aceitou o convite do crónico campeão polaco com a intenção de continuar a somar troféus ao seu currículo – e nomeadamente o de campeão nacional, algo que ainda nunca conseguiu alcançar. Os planos, porém, deram a ideia de sair furados logo desde muito cedo: além de ser afastado logo na terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, diante do Dínamo de Zagreb (empatou 1-1 na Croácia e perdeu 1-0 em casa), o Legia começou o campeonato a somar resultados negativos uns atrás dos outros, chegando a viver um período com sete derrotas consecutivas!!!, algo impensável para um emblema campeão nacional por 15 ocasiões (sete das quais nos últimos dez anos).
Josué, porém, foi sempre demonstrando estar um patamar acima dos restantes colegas: mesmo nessa fase mais negra fez três assistências. O clique definitivo, porém, parece ter chegado com o novo ano e após a paragem de inverno da Liga polaca: nos sete jogos feitos pelo Legia em 2022, o médio atacante luso soma um golo e quatro assistências, contribuindo decisivamente para quatro das cinco vitórias registadas pela sua equipa neste período – e consequente subida na tabela: depois de à jornada 22 se encontrar num humilhante 16º lugar, o conjunto de Varsóvia está agora no 11º posto, cenário menos alarmante mas ainda assim muito decepcionante (são 21 os pontos de distância em relação ao líder Pogon). Nesta fase, falta ainda referi-lo, o Legia garantiu também o apuramento para as meias-finais da Taça, vencendo por 2-0 o Leczna com um golo e uma assistência… de Josué, pois claro.
Que Josué tem um talento imenso, isso nunca foi motivo de dúvidas ou questões. Durante muito tempo, porém, terá sido porventura a vertente psicológica a fazer estagnar ou atrasar o crescimento futebolístico de um jogador desde sempre tido como uma grande promessa… mas também como um verdadeiro “bad boy”, com dificuldades em cumprir regras e lidar com figuras de autoridade. Assim se explicam os sucessivos anos de empréstimo, em Portugal e no estrangeiro (Covilhã, Penafiel e VVV-Venlo), e a saída em definitivo para o Paços de Ferreira em 2011/12 de um jogador que se estreou na equipa principal do Porto aos 19 anos, numa partida da Taça da Liga ante o Vitória FC (2-1) sob o comando de Jesualdo Ferreira em 2008/09.
A belíssima segunda temporada na Capital do Móvel (a tal que acabou com o Paços em terceiro e a apurar-se para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões) acabaria por proporcionar o regresso ao seu clube do coração, cumprindo um desejo expresso de Paulo Fonseca (e aproveitando o facto de o Porto ter mantido sempre 50 por cento do passe), e a temporada de 2013/14 foi mesmo a melhor da sua carreira até então, com 5 golos e 10 assistências em 35 jogos de dragão ao peito e a chegada à selecção nacional. Somou, de resto, quatro internacionalizações entre Outubro de 2013 e Março de 2014, tendo ficado “célebre” o gesto obsceno que dirigiu aos adeptos suecos aquando do hat-trick de Cristiano Ronaldo na segunda mão do play-off que ditou o apuramento de Portugal para o Mundial do Brasil.
A época positiva a nível individual, porém, contrastou com o desempenho abaixo do expectável em termos colectivos, que acabou por resultar na saída precoce de Paulo Fonseca do comando técnico dos dragões. Josué ainda foi sendo opção aqui e ali para Luís Castro, mas veio mesmo a fazer parte do lote de dispensáveis no fim da temporada, seguindo por empréstimo para o Bursaspor; após ano e meio na Turquia, relativamente bem sucedido (39 jogos e 9 golos em 2014/15, 17 partidas nos primeiros 6 meses de 2015/16), voltaria a Portugal pela mão do Braga… e novamente de Paulo Fonseca. E em boa hora – pelo menos para os bracarenses: ali totalizou 22 jogos e 5 golos, um dos quais na final da Taça de Portugal em que os Guerreiros do Minho venceram… o Porto (no desempate por grandes penalidades após o 2-2 registado no tempo regulamentar).
As excelentes prestações nessa segunda metade de temporada levá-lo-iam a ganhar nova vida no Porto… pelo menos em teoria: depois de ter sido anunciado oficialmente como integrante do plantel por nada mais nada menos que o próprio Pinto da Costa, Josué acabaria por ser cedido ao Galatasaray, envolvido no negócio que levou Alex Telles a fazer o caminho inverso. No gigante de Istambul faria 33 jogos e 4 golos, números que no entanto acabaram por não se revelar suficientes para o levar de volta ao Dragão ou rumar a um clube de nível pelo menos semelhante: no verão de 2017 seria oficializada a sua rescisão definitiva com os azuis-e-brancos e a assinatura por dois anos com o Osmanlispor, também da Turquia.
Os dois anos acabariam por se transformar apenas em seis meses: por motivos extra-futebol, Josué foi afastado da equipa no fim do ano e passou a segunda metade da temporada sem clube, num cenário que praticamente se repetiu em 2018/19, aí no Akhisarspor. Foi então que surgiu em cena o Hapoel Beer Sheva, uma força dominante em Israel (e já então capitaneado por Miguel Vítor) e um contexto favorável à demonstração de todas as qualidades do médio criativo luso, que logo na primeira época celebrou a conquista da Taça, com um golo e uma assistência na final (2-0), fazendo um total de 32 jogos e 6 golos, seguindo-se então os 13 golos e 6 assistências em 2020/21 já mencionados no início do texto – alguns de belíssimo efeito e só ao alcance de atletas com capacidade técnica superior.
Deu-se assim a possibilidade de rumar ao grande dominador do futebol polaco no último verão e Josué não enjeitou essa hipótese, até por ter também no plantel a presença dos compatriotas André Martins (entretanto já transferido… para o Hapoel Beer Sheva) e Rafael Lopes, aos quais se juntou entretanto também Yuri Ribeiro. Podia estar a correr melhor, já se percebeu; ainda assim, é factual dizer que, dentro das dificuldades colectivas, o criativo está a manter o registo a que habituou os adeptos de quase todos os clubes por onde passou e que garantidamente mantém todas as faculdades apuradíssimas. O comboio da selecção já partiu (diríamos que definitivamente, embora nunca o possamos obviamente afirmar com 100 por cento de certeza), mas é claro para todos os que semana após semana vêem os desempenhos de Josué que os seus préstimos ainda se coadunam com os de um futebolista que, no mínimo, tem de actuar numa equipa que jogue nas competições europeias – onde, já agora, ainda esta época se mostrou em pleno, fazendo a assistência para o golo que valeu a vitória do Legia sobre o Leicester na segunda jornada da fase de grupos da Liga Europa.
Os homens de Varsóvia têm agora mais oito jornadas para limpar o mais possível a má imagem deixada na temporada até ao momento e acima de tudo tentar conquistar a Taça, que talvez seja a possibilidade mais real para conseguirem garantir um lugar nas competições europeias em 2022/23. E, obviamente, contando com um super-Josué para os guiar nessa caminhada, ele que já venceu a prova em dois países diferentes, marcando em ambas as finais; e, lá diz o ditado, não há duas sem três…