Sérgio Conceição de volta à Bélgica: um regresso especial

conceicao(Sérgio Conceição foi jogador do Standard de Liège durante três épocas e voltou ao clube para ser treinador-adjunto.)

O jogo desta tarde entre Club Brugge e FC Porto marca o regresso oficial de Sérgio Conceição à Bélgica, País onde o atual técnico dos dragões iniciou o seu percurso na área do treino, estreando-se nessas lides como adjunto do Standard de Liège na temporada 10/11, já depois de ter representado o clube enquanto jogador.
Durante três épocas, entre 2004 e 2007, Conceição brilhou nos relvados com a camisola do Standard e rapidamente conquistou os adeptos de um dos principais clubes belgas, voltando posteriormente a Liège para auxiliar Dominique D´Onofrio e começar um novo ciclo na sua vida desportiva.
Reforço do FC Porto em Janeiro de 2004, a segunda passagem do antigo extremo pela equipa principal dos azuis e brancos durou muito menos tempo do que aquilo que o próprio esperava: livre para decidir o seu futuro no final de 03/04, decidiu rumar ao Standard e a sua primeira época foi estrondosa.
Autor de dez golos e seis assistências em vinte e sete jogos na estreia na Jupiler League, o futebolista natural de Coimbra foi eleito o melhor jogador do Campeonato numa campanha em que a sua equipa até terminou no terceiro lugar a nove pontos do Campeão, que foi o… Club Brugge, facto que enaltece ainda mais o impacto que o internacional luso teve no futebol belga.
Na temporada seguinte, apesar dos sete golos e três assistências em vinte e nove partidas entre Campeonato e Taça, protagonizou um episódio de indisciplina que resultaria num pesado castigo: na primeira mão da meia-final da Taça diante do Zulte-Waregem, foi expulso por cuspir um adversário e, de seguida, atirou a camisola ao árbitro, actos que lhe valeram quatro meses de suspensão – em 06/07, chegou às dez assistências e quatro golos em vinte e sete encontros entre Campeonato, Taça e Taça UEFA, despedindo-se do emblema de Liège no final dessa época.
Três anos depois, voltaria ao Standard, agora para desempenhar outras funções e dar início ao trajeto como treinador que hoje se conhece: após terminar a carreira de jogador nos gregos do PAOK e de lá ter sido diretor desportivo, tornou-se adjunto dos belgas durante uma época, contribuindo para o segundo lugar final na Liga – foi, de resto, naquele clube que conheceu Siramana Dembelé, seu ex-companheiro de equipa e colega de equipa técnica que é hoje um dos seus “braços direitos”.
Por tudo isto, regressar à Bélgica, seja de forma oficial ou não, será sempre especial para Sérgio Conceição, que, curiosamente, até tem o seu filho mais velho a jogar naquele País atualmente: Sérgio Conceição, de 25 anos, representa o Seraing na I Liga.

Club Brugge: surpresa… ou talvez não

clubbrugge(Os festejos dos jogadores do Brugge após o apuramento para os Oitavos-de-Final da Champions alcançado ontem em Madrid.)

Tido como sendo a equipa mais acessível do Grupo B da Liga dos Campeões da atual temporada, o Club Brugge contrariou todas as expetativas e apurou-se para os Oitavos-de-Final ainda com dois jogos pela frente, superando a concorrência de FC Porto, Atlético de Madrid e Bayer Leverkusen.
Se, à primeira vista, o desempenho dos belgas pode ser surpreendente, os números não deixam dúvidas quanto à sua qualidade: às incríveis três vitórias em quatro jogos, o Brugge junta ainda um registo defensivo imaculado, visto que não sofreu qualquer golo até ao momento – é, de resto, a única equipa sem golos sofridos na prova!
Tri Campeão Nacional em título, o Club Brugge até já foi vice-campeão europeu – perdeu a final de 1978 com o Liverpool (0-1) -, mas desde que a principal prova europeia de clubes mudou de nome e formato, nunca tinha conseguido passar da fase de grupos, tradição que foi quebrada ontem graças ao empate sem golos em Madrid.
Inseridos no mesmo grupo de três clubes muito experientes nestas andanças, os belgas começaram por cometer a primeira “maldade” logo na ronda inaugural, ao derrotarem em casa o Leverkusen (1-0), mas a grande surpresa seria o resultado alcançado na semana seguinte em pleno Dragão: a formação comandada por Carl Hoefkens, como se sabe, goleou o FC Porto por 4-0 e era líder ao fim de duas partidas.
A dupla jornada com o Atlético poderia trazer o primeiro dissabor aos belgas, mas quem apostou tudo nesse desfecho, cometeu um grande erro: no Jan-Breydel-Stadion, o Brugge fez dois golos e somou a terceira vitória em outros tantos jogos, e esta quarta-feira conseguiu suster o resultado de início ao fim, garantindo assim um apuramento inédito.
Já se percebeu, portanto, que o percurso europeu que o Club Brugge tem realizado esta época, só é uma surpresa no papel: dentro de campo, que é onde se provam os tais favoritismos, os “blauw-zwart” têm sido extremamente competentes a todos os níveis, eles que até ocupam o terceiro lugar da Liga Belga a oito pontos do líder.

Trossard: hat-trick da confirmação

trossard(Leandro Trossard brilhou esta tarde com um hat-trick em casa do Liverpool.)

O “estado de graça” do Brighton & Hove na Premier League continua: os “seagulls” chegaram à jornada deste fim-de-semana com quatro vitórias em seis jogos, uma delas em pleno Old Trafford (2-1), e hoje impuseram um sensacional empate a três golos em Anfield Road diante, claro está, do Liverpool.
E esta tarde, tal como vem acontecendo nos últimos tempos, a grande figura dos azuis e brancos foi Leandro Trossard: o extremo belga apontou os três golos (!) da sua equipa contra os “reds” e, mais do que fazer uma exibição memorável, confirmou mais uma vez que é jogador para outros patamares.
A cumprir a quarta temporada no Brighton, o futebolista, de 27 anos, é, inequivocamente, um dos jogadores mais valiosos do campeonato naquilo que diz respeito ao rendimento dentro de campo e até podemos dizê-lo sem recorrer às estatísticas desta época: nos últimos três anos, apontou dezoito golos e fez onze assistências em cem jogos.
Já no que diz respeito à atual temporada, Trossard soma agora cinco golos e uma assistência em sete partidas e não será, por isso, de estranhar que saia já no próximo “mercado de transferências”, ele que até tem sido ligado nos últimos dias a uma eventual transferência para o Chelsea, onde poderá reencontrar o ex-técnico Graham Potter, que deixou o Brighton há pouco menos de um mês – Roberto De Zerbi estreou-se hoje no banco “seagull”.
Formado no Genk, Leandro Trossard somou sucessivos empréstimos a Lommel, Westerlo e Leuven antes de se afirmar nos “blauw-wit”, por quem “explodiu” em definitivo na época 18/19 com vinte e dois golos e dezanove assistências em quarenta e sete partidas que lhe valeram a transferência para o Brighton & Hove – pela Seleção A da Bélgica tem cinco golos em vinte e uma internacionalizações.

Antuérpia: escola neerlandesa ajuda a fazer furor

antuerpia(Antuérpia está a relizar um excelente início de campeonato e conta com a ajuda dos seus adeptos.)

Antigas figuras do futebol neerlandês, Marc Overmars e Van Bommel são, por estes dias, dois dos grandes responsáveis pelo sucesso que está a ser a atual temporada do Antuérpia: os ex-internacionais desempenham, respetivamente, os cargos de diretor desportivo e treinador no clube que lidera a Jupiler League com nove vitórias em igual número de jogos.
Tudo começou com a chegada de Overmars: anunciado em Março deste ano, depois da polémica saída do Ajax devido a suspeitas de assédio sexual e comportamento impróprio para com mulheres que trabalhavam no clube, a primeira “jogada” do antigo craque foi contratar o ex-colega Van Bommel para assumir o comando da equipa.
No que diz respeito à constituição do plantel, o mesmo já contava com caras conhecidas como Radja Nainggolan e Ritchie De Laet, e recebeu mais dois “pesos pesados”: o central Toby Alderweireld, que dispensa apresentações, e o ponta de lança neerlandês Vincent Janssen, que depois de uma passagem fugaz pelo Tottenham rumou ao… México, e soma já seis golos em catorze jogos neste regresso à Europa.
Quarto classificado na última edição do Campeonato Belga, o Antuérpia garantiu um lugar na pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga Conferência, e foi justamente a contar para essa competição que disputou o primeiro jogo oficial em 22/23: apesar de não ter conseguido ganhar em casa aos kosovares do Ditra (0-0), superou esse adversário na segunda mão e ainda afastou os noruegueses do Lillestrom antes de ser eliminado pelos turcos do Basaksehir no play-off.
Por essa altura, os “reds” já somavam quatro vitórias na sua Liga, e o facto de terem ficado pelo caminho nas provas europeias numa fase ainda precoce da época, parece ter dado “embalo” à equipa para se focar no campeonato: desde a eliminação, os comandados de Van Bommel venceram os cinco jogos que tiveram pela frente e, neste momento, lideram a Jupiler League com cinco pontos de avanço para o Genk – 27 contra 22.
Quatro vezes Campeão Belga, a última das quais em… 1957, o Royal Antuérpia, que tem no seu plantel o central português Dinis Almeida, ex-jogador de clubes como Varzim, Belenenses ou Braga B, pode quebrar esse “jejum” esta temporada, e, se o fizer, muito terá que agradecer à “escola neerlandesa”.

Leonardo Rocha: o gigante português voltou a aterrorizar a II Liga Belga

leonardorocha

Leonardo Rocha, ponta de lança que representa os belgas do Lierse, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

Três jogos, cinco golos. Este é o pecúlio incrível de Leonardo Rocha neste início de temporada na II Liga belga, para onde o gigante avançado natural de Almada (2 metros certos) regressou esta época após passagem pouco feliz pelo escalão principal. Após o golo na primeira jornada diante da equipa secundária do Genk, que acabou por se revelar insuficiente para evitar o pesado desaire do Lierse (1-4), Leonardo Rocha bisou na segunda ronda, frente aos sub-23 do Club Brugge, revelando-se decisivo para a primeira vitória da sua equipa na prova (3-1), e nesta jornada 3 repetiu a dose na visita ao reduto do Beerschot com duas cabeçadas fulminantes, revelando-se mais uma vez fulcral para o triunfo (no caso por 3-2) e subida à liderança do campeonato (ainda que partilhada com o Lommel).

Curiosamente, o Lommel foi a primeira equipa do ponta-de-lança português na Bélgica – e aquele onde foi melhor sucedido. Em 2018/19, com apenas 21 anos e na segunda época de sénior, Leonardo Rocha apontou 21 golos (16 no segundo escalão do futebol belga, sagrando-se melhor marcador do campeonato) e fez quatro assistências, contribuindo decisivamente para a permanência da equipa. Foram esses números que levaram o primodivisionário Eupen a avançar para a sua contratação, oferecendo-lhe um contrato de três anos; o azar, todavia, acabaria por bater à porta do avançado luso logo em Setembro de 2019, sofrendo uma lesão gravíssima num joelho que fez com que realizasse apenas sete jogos nessa primeira temporada, todos como suplente utilizado (zero golos).

Em 2020/21 nem sequer viria a actuar pelo Eupen, sendo cedido no início da temporada ao secundário Molenbeek, onde registou uma entrada de rompante: sete golos nos primeiros cinco jogos (ainda que três deles tenham sido marcados logo na estreia perante os amadores do Union Rochefort, na primeira eliminatória da Taça, com a sua equipa a vencer por claros 8-1). Após três meses sem marcar, facturou em três jogos consecutivos no fim de Fevereiro e início de Março, mas uma apendicite viria a tirá-lo dos relvados no último mês de competição, acabando assim a época com 15 jogos e 10 golos (mais duas assistências).

O Eupen decidiu então dar-lhe nova oportunidade no escalão principal em 2021/22, mas mais uma vez não seria uma experiência bem sucedida: Leonardo Rocha foi utilizado em 15 partidas (só duas vezes titular, ambas na Taça), num total de apenas 302 minutos de jogo, e não conseguiu marcar qualquer golo. Desse modo, e dado o fim da ligação contratual com o clube primodivisionário, o avançado ficou livre para decidir o seu futuro e resolveu aceitar o convite do Lierse Kempenzonen, o clube que assumiu o lugar do Lierse após a bancarrota do histórico emblema em 2018, numa decisão que para já vai dando frutos.

Nascido em Almada a 23 de Maio de 1997, filho de pais brasileiros, Leonardo Rocha tem traçado um percurso muito curioso no futebol, nomeadamente na sua formação. Depois de dividir os primeiros anos de federado por Amora, Colégio Guadalupe, Belenenses, Vitória de Setúbal e Boavista, rumou com 14 anos para Itália a convite do Pescara; passou depois pelos brasileiros do Ituano e Barra, antes do regresso ao Amora no primeiro ano de júnior. Depois… surgiu o surpreendente contrato profissional com o Mónaco, por quem assinou com 17 anos e onde se iniciou no futebol sénior (ainda que pela equipa B, pela qual fez um jogo na quarta divisão francesa em 2016/17); pouco antes de completar 20 anos desvinculou-se do conjunto monegasco e assinou pelos italianos do Vicenza, mas apenas duas semanas (e zero jogos) depois viajou para Espanha, juntando-se ao Leganés, onde foi suplente não utilizado em duas ocasiões na Liga espanhola – acabaria por fazer 3 golos em 13 jogos no Ontinyent (II Divisão B), para onde foi cedido na segunda metade da temporada, rumando depois à Bélgica e ao Lommel.

Aos 25 anos, Leonardo Rocha está assim a tentar recuperar o tempo perdido, nomeadamente nas últimas três temporadas, de modo a conseguir vir ainda a afirmar-se como um dos bons avançados portugueses da actualidade. O talento existe, bem como a especificidade das suas características: além da valia óbvia nas bolas paradas e jogo aéreo, possui ainda uma assinalável capacidade técnica (muito longe do estereótipo dos altos e toscos do passado); resta esperar para ver se irá manter a veia goleadora ao longo da temporada (porventura conseguindo sagrar-se melhor marcador da II Liga belga pela segunda vez na carreira) e assim voltar a patamares mais altos, quiçá até com o próprio Lierse, candidato declarado à subida e com o qual assinou até ao fim de 2023/24.

Mertens: o adeus napolitano a mais uma referência

mertens(Uma imagem que faz a legenda: Mertens diz adeus ao Nápoles.)

Depois das saídas de Insigne e Koulibaly, dois grandes nomes do seu plantel e mesmo da sua história, o Nápoles confirmou este domingo a partida de outra referência: Mertens não chegou a acordo para renovar contrato e é mais uma figura emblemática que deixa o clube este Verão.
Segundo explicou o presidente napolitano, Aurelio De Laurentis, o avançado belga recebeu uma proposta para prolongar a ligação por mais uma temporada, mas declinou a oferta, alegadamente, por divergências financeiras, o que faz com que deixe o emblema “partenopei” nove anos após a sua contratação.
Ao contrário do que aconteceu com Lorenzo Insigne, que no princípio da última época “abriu a porta” a saída e em Janeiro foi oficializado nos canadianos do Toronto, Dries Mertens, atualmente com 35 anos, nunca adiantou pormenores sobre o seu futuro, alimentando assim a esperança dos adeptos na sua continuidade.
Contratado pelo Nápoles em 2013, o belga deixou o PSV a troco de quase dez milhões de euros, e cedo se assumiu como um elemento preponderante na formação do Sul de Itália, importância essa que nunca perdeu em nove temporadas: no total das várias competições que disputou, somou 397 jogos, 148 golos e 90 assistências pelos “gli azzurri”.
Em termos de títulos, Mertens contribuiu para a conquista de duas Taças de Itália e uma Supertaça, e a nível pessoal estabeleceu um recorde histórico no clube: em Junho de 2020, quando marcou ao Inter para a Taça, tornou-se no melhor marcador da história do Nápoles, ultrapassando Hamšík numa lista que conta ainda com Maradona, Cavani ou Higuaín.
Internacional A pelo seu País em 107 ocasiões (21 golos), o futebolista natural de Leuven faz parte da “geração de ouro” belga e é muito provável que esteja no Mundial que se realizará no Qatar no final deste ano, embora, para isso, claro está, tenha de encontrar um clube que lhe permita continuar a jogar ao mais alto nível.
Para já, apenas é certo que este “mercado de transferências” não está a ser nada meigo para com os “tifosi” napolitanos, que num curto espaço de tempo perderam três ídolos do clube, dois deles a custo zero…