Jorge Teixeira: um bastião na Bélgica sem prazo de validade

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O central Jorge Teixeira, que nas últimas quatro épocas representou os belgas do Sint-Truiden, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

21 jogos, um golo, a permanência garantida, os problemas físicos aparentemente debelados e a renovação de contrato para mais uma temporada assinada logo em Janeiro: a quarta época de Jorge Teixeira no St. Truiden revelou-se bastante positiva. O central natural de Lisboa tinha tido um ano difícil em 2019/20, com uma grave lesão que o afastou dos relvados durante grande parte da temporada (apenas oito jogos e um golo), mas deu a volta por cima e aos 34 anos mostrou que ainda tem muito para dar num país onde já havia sido feliz – representou o Standard Liège em 2014/15 e na primeira metade da temporada seguinte, na qual conquistou a Taça.

O defesa lisboeta, de resto, é já quase uma espécie de “Europatrotter”, somando já experiências em sete países diferentes no continente. Produto da formação do Sporting, onde durante oito anos compartilhou balneário com nomes como João Moutinho, Miguel Veloso, Yannick Djaló, Silvestre Varela ou Nani, acabou por ver encerrada a ligação aos Leões na transição para o futebol sénior (2005/06) e rumou então ao vizinho Casa Pia. Na época seguinte jogou no Odivelas, também na então II Divisão B, e em 2007/08 estreou-se no futebol profissional (II Liga) pela mão do Fátima treinado por Rui Vitória – estava em campo, por exemplo, no célebre dia em que os fatimenses eliminaram o Porto da Taça da Liga no desempate por grandes penalidades (4-2 após o 0-0 no tempo regulamentar), tendo na eliminatória seguinte defrontado também o “seu” Sporting… vencendo em Alvalade (1-2) antes de cair de forma dolorosa em Fátima na segunda mão (2-3) pela regra dos golos fora de casa (a tal que a FIFA acabou de abolir).

O Fátima viria a descer de divisão nessa temporada mas Jorge Teixeira não regressou ao terceiro escalão nacional, rumando ao invés para o futebol cipriota e encetando assim a sua história enquanto emigrante. Depois de uma época dividida entre Atromitos e Paphos, mudou-se para Israel e aí viria a sentir pela primeira vez o sabor de jogar nas competições europeias, somando 10 partidas na Liga dos Campeões (entre eliminatórias e fase de grupos) e sagrando-se vice-campeão nacional no Maccabi Haifa. Seguiu-se o Zurique, onde em dois anos e meio deu nas vistas de tal forma que no decorrer de 2012/13 seria contratado pelos italianos do Siena… curiosamente para substituir um compatriota: Luís Neto, que se transferiu nesse mercado de inverno para o Zenit.

O emblema italiano acabou por ser despromovido à Serie B e Jorge Teixeira regressou ao Zurique para vencer a Taça da Suíça, estabelecendo-se de imediato como um esteio da defesa – uma constante ao longo de toda a carreira. E foi daí que saltou depois para a já referida passagem bem sucedida pelo Standard Liège, apenas interrompida pelo surgimento de uma oportunidade para cumprir um sonho: jogar em Inglaterra. Em termos colectivos a aventura não viria a correr da forma mais desejada (o Charlton desceu no Championship em 2015/16 e terminou num modesto 13º lugar no terceiro escalão na época seguinte), mas o central luso foi sempre registando bons números – na segunda época marcou inclusive 4 golos nos 23 jogos que disputou – e no verão de 2017 assinou então pelo St. Truiden, num muito saudado regresso ao futebol belga.

O contrato inicial tinha a duração de três anos e os objectivos dos Canários passavam acima de tudo por fazer épocas tranquilas. Foi assim em 2017/18 (décimo lugar na fase regular e segundo no seu grupo na fase de apuramento para a Liga Europa, sonho que ficou a quatro pontos de distância, com Jorge Teixeira a somar 35 jogos, todos como titular, e 3 golos), voltou a ser assim em 2018/19 (sétimo na fase regular, a apenas dois pontos de se apurar para a fase de campeão, e novamente segundo no seu grupo no apuramento para a Liga Europa, desta vez a cinco pontos dessa meta, com o defesa luso a fazer 34 jogos) e também em 2019/20, a tal época em que os problemas físicos surgiram para apoquentar o jogador português, que ainda assim viu a sua ligação ao clube estender-se por mais um ano (o St. Truiden seguia num tranquilo 12º lugar quando a federação belga decidiu encerrar o campeonato de forma precoce devido ao eclodir da pandemia do coronavírus). 2020/21 acabou por ser o ano mais sofrido, mas também ele com final feliz: 15º lugar final, 7 pontos acima da equipa que foi ao play-out de permanência (Cercle Brugge) e também da que acabou despromovida (Mouscron, orientado por Jorge Simão).

Prestes a completar o 35º aniversário, Jorge Teixeira continua a um nível muito interessante, mantendo-se como peça fulcral numa equipa primodivisionária de um país com alguma relevância no contexto do futebol europeu. Acaba por ser curioso como, apesar de todo o seu background e desempenhos sólidos quer na formação, quer enquanto sénior, afirmando-se como titular indiscutível em todos os clubes por onde passou e com troféus ganhos e participações regulares nas competições europeias, nunca esteve no radar das selecções nacionais. Não será certamente agora que tal irá acontecer, como é facilmente perceptível, mas uma certeza existe – a qualidade que tem vindo a demonstrar ao longo de toda a carreira foi sempre como o algodão: nunca enganou.