Ricardo Santos: a velha história do ketchup chegou a Bolton

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Ricardo Santos, central que representa os ingleses do Bolton, é o destaque desta semana na rubrica/parceria entre a nossa página e a página À bola pelo Mundo:

A longa espera finalmente terminou – e, como quase sempre acontece nestas situações, não houve fome que não desse em fartura (a velha história do ketchup). Ao fim de duas temporadas e meia no Bolton, Ricardo Santos celebrou finalmente o primeiro golo… e também o segundo na goleada (0-5) em casa do Peterborough, curiosamente o clube onde o central luso se começou a destacar no futebol inglês; e como se não bastasse, apenas 3 dias depois voltou a faturar, abrindo nova goleada pelos mesmos números na recepção ao MK Dons.

Quase um completo desconhecido em Portugal, Ricardo Santos é uma das grandes figuras deste renovado Bolton. Depois de quase fecharem portas em 2019, época em que caiu para a League One, o terceiro escalão do futebol inglês, os Wanderers ainda desceram mais um patamar e no verão de 2020 promoveram um rejuvenescimento do plantel para atacar a League Two. Ricardo Santos, central nascido em Almada a 18 de Junho de 1995 mas que se mudou ainda muito jovem para Inglaterra, tinha vários anos de experiência no terceiro e quarto escalões do futebol inglês e foi um dos escolhidos para dar corpo ao sonho do regresso.

Pode dizer-se, sem sombra de dúvidas, que foi uma aposta mais que acertada para as duas partes. O central luso estava há 2 anos a jogar na quinta divisão inglesa, ao serviço do Barnet, e depressa se estabeleceu como titular indiscutível dos Wanderers, acabando a temporada 2020/21 com 48 jogos efectuados (todos como opção inicial) e a celebrar a promoção à League One e a constar na Equipa Ideal da prova, sendo ainda eleito o Jogador do Ano do clube.

Para a segunda época, e no seguimento da saída de Antoni Sarcevic, Ricardo Santos foi promovido a capitão de equipa; alguns meses depois prolongaria a ligação ao Bolton até ao verão de 2025, com o treinador Ian Evatt a considerá-lo “o melhor central da League One”. “Parece-me até difícil encontrar algum tão bom como ele fora da Premier League, para verem o quanto nós o valorizamos. É o nosso capitão, o nosso líder. A forma como defende, as suas qualidades com e sem bola são muito difíceis de encontrar e muito importantes para a nossa forma de jogar. É um jogador de topo. O verdadeiro valor dos jogadores define-se na facilidade em substituí-los, e para mim, nesta equipa ele é insubstituível”, dizia então o técnico sobre “Rico”, como Ricardo Santos é conhecido em Inglaterra.

Em 2021/22, o Bolton não conseguiu chegar aos lugares de acesso ao play-off de subida ao Championship – terminou no nono posto, a 10 pontos do sexto. Esta época, porém, ocupa um meritório quarto lugar com 33 jogos disputados (num campeonato a 46 jornadas), encontrando-se a 9 pontos dos primeiros dois classificados, Sheffield Wednesday e Plymouth Argyle (que sobem directamente), e tendo mais 6 pontos que o Wycombe Wanderers, sétimo (mas também mais 2 jogos realizados).

Ricardo Santos, que na época transacta somou 43 jogos (mais uma vez, todos como titular), leva 26 esta temporada, tendo sido suplente utilizado numa ocasião, numa altura em que se encontrava a regressar à competição após ter sido hospitalizado devido a uma pneumonia. Em Março passado, o central luso dizia-se “ansioso” para marcar o primeiro golo pelo Bolton; passado quase um ano, os tentos chegaram finalmente, ambos na sequência de ressaltos em bolas paradas (com o MK Dons foi igualmente num canto, mas aí num cabeceamento certeiro).

A carreira a nível profissional de Ricardo Santos começou ainda com 17 anos, quando foi integrado no plantel principal do Dag and Red, sendo suplente não utilizado num jogo da League Two nessa temporada 2012/13 antes de ser cedido ao Billericay Town, das distritais. Passaria depois por Dover Athletic e Thurrock, também nas divisões regionais, até que em Fevereiro de 2014 foi contratado pelo Peterborough, que lutava pela subida ao Championship e por ele pagou 8 mil libras (valor elevado para um atleta que jogava em escalões tão baixos).

Nessa época fez apenas 1 jogo, sendo mais utilizado nas 2 temporadas seguintes. Tal deixou de se verificar em 2016/17, e a meio da época mudou-se para o Barnet, então na League Two, assumindo-se de imediato como titular mas acabando por não conseguir impedir a despromoção em 2017/18. As suas exibições no quinto escalão, porém, chegariam para convencer os responsáveis do Bolton e assim potenciá-lo até ao patamar em que se encontra hoje.

Ainda na altura em que representava o Peterborough, o clube chegou a ser contactado por responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol tendo em conta uma possível chamada às selecções jovens – que acabou por nunca se concretizar. Entretanto, e aproveitando o facto de Ricardo Santos ter ascendência angolana, os responsáveis dos Palancas Negras também já terão feito contactos exploratórios no sentido de convencer o central a representar o país a nível internacional, o que também ainda não se verificou.

Rico continua assim a ser seleccionável por Portugal e garantidamente que ainda alimenta esse objectivo, especialmente se daqui a poucos meses, enquanto celebra o 28º aniversário, estiver a festejar também a tão desejada subida ao Championship – e, quiçá, a dar nas vistas de emblemas com outras ambições ou de outros patamares, nomeadamente da própria Premier League.

Sunderland – Bolton: um clássico longe dos grandes palcos

(Duelo intenso pela bola durante o Sunderland 2-2 Bolton da Premier League 11/12.)

A 9ª Jornada da League One, terceiro escalão do futebol inglês, disputou-se este sábado e teve como “cabeça de cartaz” o clássico entre Sunderland e Bolton, duas equipas que nos habituámos a ver na Premier League.
No total, antes de hoje, “blackcats” e “wonderers” já se tinham enfrentado por 148 vezes em partidas oficiais, 116 delas na Premier League, contudo, os últimos anos têm sido duros para os dois clubes que não “coabitam” no topo do seu futebol desde a época 11/12.
Nessa temporada, o Bolton acabou despromovido ao Championship por um mísero ponto e não levou de vencida o Sunderland em nenhum jogo: na primeira volta, no Reebok Stadium, derrota por 0-2; e na segunda metade, somente a duas rondas do fim, empate a dois no Stadium of Light.
Depois disso, cruzaram-se logo na época seguinte na Taça de Inglaterra e o Bolton até surpreendeu ao eliminar o Sunderland em casa deste no jogo de desempate da eliminatória; seguiu-se o duelo no Championship de 17/18 – espetacular empate a três no Stadium of Light; e duas épocas depois houve novo confronto, desta feita, na League One, com os dois jogos a terminarem empatados.
Convém salientar que os dois emblemas enfrentaram na última década sérios problemas financeiros e administrativos que os colocaram nos escalões inferiores de Inglaterra: o Sunderland caiu da Premier à League One em apenas duas épocas; e o Bolton tem-se dividido entre o Championship e a League One, exceção feita à época passada, quando disputou a League Two justamente devido aos problemas já referidos.
Voltando à atualidade, à entrada para a jornada de hoje, o Sunderland liderava a prova a par do Wigan – ambos com um jogo em atraso -, enquanto o Bolton era uma de cinco equipas que ocupavam o 7º lugar a somente um ponto dos lugares que dão acesso ao Play-Off de subida.
Esta tarde, no Stadium of Light, um golo solitário de Carl Winchester, ao minuto 17, bastou para que o Sunderland vencesse por 1-0, numa partida em que participou o português Ricardo Santos, central do Bolton, e ainda outros nomes conhecidos, como o irlandês Aiden McGeady, jogador da equipa da casa, ou o inglês Delfouneso, que, neste caso, nem sequer saiu do banco de suplentes dos “whites”.
Sunderland e Bolton reeditaram então um clássico que merecia outros palcos.

Bolton: uma subida que traz esperança

183798908_5691170227589941_2428146127566790841_n(A festa dos jogadores do Bolton após a promoção à League One.)

Nos anos 2000 e nos primórdios da década de 2010, o Bolton foi um habitué da Premier League e encantava pelos jogadores que tinha: com Jay-Jay Okocha como figura de cartaz, é justo falarmos de nomes como Pedersen, N’Gotty, Jääskeläinen, Gardner, Gary Speed, Iván Campo, Anelka, Djorkaeff ou Gary Cahill.
Entre 2001 e 2012, os “whites” estiveram onze temporadas consecutivas no topo do futebol inglês, fizeram um 6º e um 7º lugar, qualificaram-se duas vezes para a Taça UEFA – defrontaram o Vitória SC numa dessas ocasiões – e foram finalistas da Taça da Liga em 2004.
O clube começou a perder força nos últimos anos em que esteve entre os maiores e, depois da descida ao Championship em 2012, caiu num autêntico marasmo que teve consequências ainda piores nas últimas temporadas, somando duas descidas consecutivas que o colocaram na League Two.
Aliás, na época transata, os Wanderers estiveram à beira da extinção: mergulhado numa grave crise financeira, o emblema dos arredores de Manchester foi ameaçado pela English Football League e a salvação chegou a poucos dias do final do prazo, quando novos investidores compraram o clube.
A mudança de proprietário livrou o clube da expulsão das competições organizadas pela Liga Inglesa, evitou o mais do que provável fim do Bolton tal como o conhecemos, mas não impediu que a equipa iniciasse a League One praticamente sem jogadores – teve de recorrer aos Juniores numa fase inicial – e com uma dedução de doze pontos precisamente pelos problemas administrativos.
Penúltimo classificado à data da suspensão da temporada devido à pandemia, o Bolton não voltou a jogar em 19/20 e foi despromovido ao quarto escalão, onde já não competia desde 1988, algo que, provavelmente, já era esperado pela direção do clube e pelos próprios adeptos.
Esta época, o histórico clube onde jogaram, também, Mário Jardel, Makukula ou Vaz Tê, não começou o campeonato da melhor maneira – uma vitória nas primeiras oito jornadas – e fechou a primeira volta mais perto dos lugares de descida do que de subida – seis pontos de avanço e doze de atraso respetivamente.
Porém, na segunda volta, entre 24 equipas, o Bolton fez uma recuperação fantástica, somou onze vitórias em treze partidas, e foi “galgando” posições na tabela até confirmar na tarde de ontem a promoção à League One com uma goleada em casa do Crawley por 4-1.
Terceiro classificado com 79 pontos, o Bolton conseguiu a subida direta e evitou a ida aos sempre improváveis Play-Off’s. Mais do que uma simples subida, o feito obtido ontem devolve a esperança aos “whites” de, em poucos anos, estarem de novo na elite do futebol inglês.