Fary: o senegalês goleador que se tornou Presidente

farypresidente(Fary é desde a última terça-feira o novo presidente da SAD do Boavista.)

Jogador, diretor desportivo, administrador e agora presidente da SAD: aos 49 anos, o senegalês Fary Faye assume um novo desafio no Boavista, sucedendo a Vítor Murta na liderança do emblema axadrezado, que desportivamente ainda não tem a sua situação definida na I Liga e luta diariamente contra um grande passivo.

Chegado a Portugal em 1996, Fary rapidamente se apaixonou pelo nosso País e não mais daqui saiu, tendo ganho o seu espaço de duas formas: pelos golos que marcava e pela simpatia e comportamento exemplar que sempre demonstrou dentro e fora de campo, motivos que fazem dele uma figura acarinhada por adeptos de todos os clubes.

Nascido na capital senegalesa, Dakar, a 24 de Dezembro de 1974, o antigo ponta de lança começou a sua carreira no ASC Diaraf e mudou-se depois para o Jeanne d’Arc, tendo aí sido descoberto, como o próprio contou, por Luís Miguel, treinador português que o trouxe para o União de Montemor, então a disputar a II Divisão B, no início da temporada 96/97.

(Entrevista de Fary ao jornal “OJOGO” em Maio de 1998. Créditos de imagem: Rui Miguel Tovar.)

Após fazer 16 golos na sua época de estreia (15 no Campeonato mais 1 na Taça), Fary afirmou-se definitivamente na temporada seguinte, marcando 24 golos na Zona Sul do terceiro escalão que fizeram dele o melhor marcador da prova e que ajudaram os unionistas, já orientados por Ricardo Formosinho, a terminarem num honroso 3º lugar com 59 pontos.

Os 40 golos nesses 2 anos em Montemor valeram-lhe abordagens de clubes de maior nomeada, com o Beira-Mar a bater a concorrência e a assegurar a sua contratação no Verão de 1998. Em Aveiro, o avançado africano permaneceu durante 5 épocas consecutivas, esteve nos momentos mais altos da história dos “auri-negros” e também por isso, claro, criou uma relação especial com o clube e seus adeptos.

Logo na primeira temporada no Mário Duarte viveu momentos para a eternidade: a sua estreia a marcar na I Divisão fez-se logo num triunfo diante do FC Porto que era Tetra Campeão em título (2-1); os 10 golos no Campeonato de nada valeram para evitar a descida dos aveirenses; mas os 3 tentos que fez na Taça de Portugal contribuiram para a conquista inédita do troféu.

(Fary deixou marca no Beira-Mar na sua primeira passagem pelo clube.)

Na época seguinte, 99/00, foi dele o primeiro golo da história do Beira-Mar tanto na discussão de uma Supertaça (vs. FC Porto) como numa competição Europeia (vs. Vitesse na Taça UEFA); em 01/02, de novo na I Liga, apontou 18 tentos que muito ajudaram na permanência; e em 02/03, voltou a faturar por 18 ocasiões no Campeonato, tendo ganho o prémio de melhor marcador da competição, feito extraordinário se tivermos em conta que nessa temporada tinhamos por cá jogadores como Simão Sabrosa, Derlei e ainda Mário Jardel.

A veia goleadora demonstrada em Aveiro levou o Boavista a avançar para a sua contratação em 2003, no entanto, Fary não conseguiu manter o mesmo nível no Bessa: após 6 golos na primeira época, sofreu uma grave lesão que praticamente o impediu de ser opção em 04/05, e quando regressou em pleno o máximo que conseguiu foram mais 6 tentos em 05/06 – 5 na Liga e 1 na Taça.

Em 2008, com a queda administrativa dos axadrezados à II Liga, deixou o clube e regressou ao Beira-Mar que estava também no segundo escalão, cumprindo mais duas temporadas de amarelo e preto que se traduziram em apenas 6 golos, todas na primeira época, sendo que, curiosamente, 2 deles foram precisamente contra o Boavista, e em 10/11 manteve-se na mesma divisão mas ao serviço do Desportivo das Aves, onde só alinhou por 9 vezes, todas como suplente utilizado, e marcou 1 golo.

(O Boavista tornou-se na “casa” de Fary em Portugal.)

No Verão de 2011, já com 36 anos, regressou ao Boavista que se encontrava “mergulhado” no terceiro escalão, e ao longo de 3 temporadas foi demonstrando que quem sabe nunca esquece, apontando 30 golos no Campeonato (mais 1 na Taça de Portugal) até 2014, ano em que o clube portuense recebeu a notícia de que iria voltar à I Liga por via administrativa.

Dessa forma, “Farygol” foi um dos futebolistas que transitaram diretamente do terceiro para o primeiro escalão com os axadrezados, e depois de participar somente em 4 jogos ao longo da época 14/15, pôde então terminar a sua carreira já com 40 anos no topo do nosso futebol, encerrando assim um bonito percurso no qual constam também 33 internacionalizações A e 7 golos pelo Senegal.

Após deixar de jogar, tornou-se diretor desportivo do Boavista, cargo que exerceu durante 8 épocas, e em Maio do ano passado passou a ser um dos administradores da SAD, tendo agora sido escolhido por Gerard López, acionista maioritário, para ser o líder máximo do Conselho de Administração que gere o futebol profissional do clube, naquele que será, com toda a certeza, um desafio muito exigente para o antigo jogador.