José Carlos: “Temos o objetivo de chegar aos campeonatos profissionais”

97092398_690016115090143_7594840190489722880_o(José Carlos é o mentor do Florgrade FC e fez quatro golos em dezanove jogos oficiais esta temporada.)

Chegar, ver e vencer: em época de estreia no futebol federado, o Florgrade FC venceu 17 e empatou 5 dos 22 jogos que fez na Zona Norte da II Divisão da AF Aveiro, alcançando a subida de divisão apesar do campeonato não ter chegado ao fim pelos motivos que são conhecidos.
Depois de uma experiência muito bem sucedida de cinco anos no futebol de 7, em que venceu títulos a nível nacional e internacional e deu jogadores à Seleção Nacional de MiniFootball, o emblema sediado em Rio Meão, concelho de Santa Maria da Feira, decidiu aventurar-se no futebol distrital e protagonizou uma temporada fantástica.
José Carlos, jogador, capitão e mentor do projeto Florgrade FC, esteve à conversa com o blog e começou precisamente por explicar a criação e a entrada do clube na Superliga de futebol de 7, corria o ano de 2014:
“O Florgrade FC é um projeto meu. O nome, Florgrade, é o nome da minha empresa, e a criação do clube surgiu porque comecei a sentir saudades do futebol. Tinha abandonado o futebol de onze há uns anos, comecei a fazer treinos de futebol de cinco com amigos, no “4 Linhas”, em Paços de Brandão, e um dia vi na internet que existia a Superliga de futebol de 7 e decidi criar uma equipa. Começámos a jogar na zona de Gaia porque ainda não havia campeonato aqui na nossa zona, as coisas felizmente correram bem e, em cinco anos, ganhámos cinco Campeonatos Nacionais, ganhámos os três Campeonatos Ibéricos que houve e ainda tivemos sete ou oito atletas na Seleção, alguns a disputar Campeonatos da Europa e Campeonatos do Mundo. Num desses campeonatos do Mundo, que foi em Lisboa, da nossa equipa, fui eu, o Capela e o Luís Belinha e terminámos em quarto lugar, sendo que eu era o capitão e o Capela foi eleito o terceiro melhor jogador. O nosso percurso no futebol de 7 acabou, inclusive, comigo a ser o melhor marcador da história da Seleção e o jogador com mais internacionalizações. Foi, sem dúvida, uma experiência fantástica, mas senti que precisávamos de evoluir”, contou o capitão do Florgrade, que explicou, de seguida, o que realmente fez o clube dar o passo em direção ao futebol federado:
“A passagem para o futebol distrital era algo que já estava no meu pensamento há algum tempo. Quando criámos a equipa no futebol de 7, tinhamos a expetativa que a modalidade se expandisse mais a sério, como aconteceu com o futebol de praia, mas sentimos que nunca ia passar de um campeonato empresarial, então, decidimos que estávamos “a mais” e foi isso que nos levou a querer dar o próximo passo. Naturalmente que primeiro quis criar alicerces, fui abordando os jogadores no sentido de transitarmos para o futebol de 11, e reuni pessoas com experiência no dirigismo, como é o meu caso, no Lourosa, e o caso do Vítor Manaia, que também esteve no Lourosa. Ou seja, já tinhamos tudo preparado para passarmos para o futebol de 11″, explicou.
Quando a AF Aveiro interrompeu a temporada devido ao Covid-19, a 10 de Março passado, o Florgrade até era segundo classificado a dois pontos do líder, AD Nogueira da Regedoura, algo que não tira brilho à temporada do clube que, além de não ter perdido no campeonato, também não perdeu na Taça – foi eliminado no desempate por grandes penalidades – , e fez, portanto, uma temporada de estreia sem derrotas no futebol federado.
Apesar do balanço da temporada 2019/2020 ser muito positivo – a subida foi confirmada pela AFA -, José Carlos lembra algumas dificuldades ao longo da época, principalmente a nível de treino, que fizeram com que a equipa caísse de forma durante algumas jornadas – quatro empates consecutivos entre as Jornadas 16 e 19:
“I
nternamente, tinhamos a plena consciência que se as coisas corressem naturalmente, íamos subir, pese embora algumas atenuantes. Agora que já passou, posso dizer que nós para cativarmos outros jogadores, tivemos que dar algum facilitismo a nível de treino, se não, eles não vinham. Só treinávamos duas vezes por semana, haviam treinos facultativos a alguns atletas que tinham atividades extra, e posso dizer que não chegámos a ter o plantel completo para treinar uma vez. Tivemos ali uma fase menos boa com quatro empates seguidos, em que estivemos a ganhar todos esses jogos, mas caímos fisicamente nas segundas partes precisamente porque nem todos treinavam a 100% e ressentimo-nos nessa altura. Mas claro que faço um balanço muito positivo da época, apesar de, dadas as circunstâncias, não termos podido lutar para sermos Campeões, algo que eu acredito que íamos conseguir. Muitas pessoas podem dizer que tinhamos uma grande equipa e que éramos obrigados a subir, mas muitos de nós não jogavámos futebol “a sério” há muitos anos e, mesmo assim, fizemos uma época excecional para época de estreia, com zero derrotas oficiais”, afirmou José Carlos que recorda o jogo para a Taça Distrital, com o Canedo, que estava duas divisões acima, como uma prova de que a sua equipa podia lutar contra adversários da Divisão de Elite:
“A Taça era um sonho, digamos assim. Sabiamos que tinhamos qualidade para nos batermos com equipas de divisões acima e, o que é certo, é que o jogo com o Canedo foi um bom exemplo disso. Foi um bom jogo por parte das duas equipas, chegámos a ter algum ascendente e, na segunda parte, caímos fisicamente porque se notou a diferença de andamento, o que é normal. Ainda assim, podíamos ter marcado e decidido a eliminatória ao minuto 90′, já depois de termos passado por algumas dificuldades. Penso que se tivéssemos ganho nos 90′ minutos não teria sido injusto, mas, fundamentalmente, provámos que nos conseguíamos bater com equipas de outras divisões”, apontou.

90150157_2529623467249544_2358472894213783552_o(Balneário do Florgrade FC, no Campo do Buçaquinho, em Cortegaça.)

Com um plantel maioritariamente composto por jogadores com passagens pelos campeonatos nacionais e até profissionais, o Florgrade “esmagou” a concorrência ao marcar 84 golos em 22 jogos no campeonato em 19/20, e é com a maior parte desses atletas – e com alguns reforços vindos de patamares superiores – que vai em busca de uma nova promoção.
Na opinião de José Carlos, a sua equipa enfrentará na próxima época um desafio mais exigente e equilibrado do que aquele que teve no ano transato, mas os objetivos do clube serão os mesmos – subir e proporcionar bons espetáculos de futebol:
“O nosso objetivo, e não vale a pena esconder, é subir. O nosso objetivo desde o início do projeto passa por chegarmos o mais rápido possível à Divisão de Elite e, depois de lá estarmos, logo veremos conforme os adversários que tivermos. Em relação à próxima época, espero um campeonato bastante equilibrado pelo que prevejo dos nossos adversários. Os adeptos que esqueçam as goleadas que demos na época passada, porque agora os jogos vão ser muito mais equilibrados e, acredito, vai ser um campeonato bem mais atrativo para nós, que gostámos de jogar “cara à cara” com os adversários e gostámos que nos defrontem assim, como foi o caso do Canedo. Também vamos aumentar os treinos, os jogadores já se comprometeram a treinar mais vezes e a 100% e acredito que com a continuação da maior parte do plantel e com os reforços que contratámos, vamos ter uma equipa espetacular, vamos continuar a proporcionar grandes espetáculos e manter a veia goleadora, tudo isto, sempre com o máximo respeito por todos os adversários”, salientou.
Apesar de estar sediado em Rio Meão, Santa Maria da Feira, o Florgrade, que joga sob o lema “we play cork”, tem a sua casa em Cortegaça, no vizinho concelho de Ovar, local onde já disputava os seus jogos caseiros na variante do futebol de 7.
José Carlos afirma que o Florgrade está feliz em Cortegaça e ressalva a ajuda que o clube tem recebido ao longo do tempo por parte das pessoas ligadas ao emblema local:
“No futebol de 7 nós já jogávamos em Cortegaça e 
sempre tivemos uma excelente relação com as pessoas, que nos ajudaram e ajudam bastante, pelo que decidimos continuar a jogar lá. As pessoas de Cortegaça estão nos a dar tudo e posso dizer que até celebrámos um protocolo recentemente com o FC Cortegaça, em que as suas camadas jovens serão filial do Florgrade e os Juniores e até os Juvenis vão poder jogar pela nossa equipa caso nós precisemos ou queiramos. É certo que, neste momento, as infra-estruturas são curtas para o que nós pretendemos ter um dia, mas temos matéria para crescer ali, há muito espaço livre em redor e vamos dar um passo de cada vez juntamente com a ajuda das pessoas e do clube. Estámos felizes em Cortegaça e gostávamos de lá continuar por muito tempo”, frisou.
Sendo a Florgrade uma empresa de compra e transformação de cortiça, seria impossível dissociarmos o setor corticeiro do lado desportivo: há adereços do clube em cortiça e até os próprios jogadores usam utensílios feitos em cortiça.
José Carlos assume que um dos objetivos do clube passa também por levar a cortiça a todo o lado, ressalvando que muitos jogadores e diretores têm uma forte ligação a este setor, como é, de resto, normal naquela zona do concelho de Santa Maria da Feira:
“A cortiça é algo que já está enraízado em muitos de nós. É uma coisa que, nesta zona, já vem de há muitas gerações, temos muitos jogadores e diretores ligados a este setor, portanto, nunca vamos abandonar essa “marca”. Queremos levar a cortiça a todo o lado e queremos promover ao máximo o setor corticeiro. Fazemos sempre questão de darmos lembranças em cortiça aos nossos adversários e aos árbitros, o nosso autocarro é decorado com cortiça, os nossos atletas, em dias de jogo, usam chapéus, mochilas e sapatilhas feitas com cortiça e até temos cachecóis feitos de cortiça. Tudo isto são formas de levarmos a cortiça a mais sítios e, quem sabe, projetarmos ainda mais o setor a nível nacional”, revelou.
À semelhança do que aconteceu, noutros tempos, com CUF e Riopele, o Florgrade é o mais recente exemplo de sucesso de um “clube empresa” no futebol português e, como já se percebeu, o projeto do Florgrade Football Club é um projeto que veio para ficar.
José Carlos, de 37 anos, assume a vontade de fazer chegar o clube aos campeonatos profissionais mas sempre com “cabeça, tronco e membros” num projeto que, diz, é muito familiar e, em primeiro lugar, estará sempre a parte humana dos atletas:
“Temos um projeto muito familiar, em que quem entra no clube não quer sair e até foi um problema para nós fazer o plantel da próxima época porque alguns jogadores tiveram de sair e não queriam porque gostam muito do clube e de estar aqui. Aqui, olhámos sempre, em primeiro lugar, para a vida pessoal e profissional dos jogadores, e só depois é que nos concentrámos na parte futebolística. Sinceramente, vejo o clube nas ligas profissionais porque foi para isso que o criámos. Mas, primeiro, queremos criar alicerces e escalar patamares conforme a estrutura nos permitir, sempre com os “pés bem assentes no chão”. Temos três objetivos muito grandes: chegar às ligas profissionais; continuar a aumentar a massa adepta, porque queremos ser um clube concelhio e do qual toda a gente goste; e orgulhar o setor corticeiro, levando a cortiça a mais sítios. Estámos muito felizes com a época que fizemos, pois além da subida tivemos um ano muito bom ao nível de dar a conhecer a Florgrade a quem não conhecia e isso também foi importante”, concluiu.
Com passagens na formação de Lusitânia de Lourosa, U. Lamas e FC Porto, José Carlos, que pode atuar como central ou médio, alinhou, como sénior, pelos eternos rivais, Lourosa e Lamas, até voltar ao futebol federado esta temporada ao serviço do “seu” Florgrade, por quem fez dezassete jogos e três golos no campeonato – dois jogos e um golo na Taça Distrital. 

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