Fary: o senegalês goleador que se tornou Presidente

farypresidente(Fary é desde a última terça-feira o novo presidente da SAD do Boavista.)

Jogador, diretor desportivo, administrador e agora presidente da SAD: aos 49 anos, o senegalês Fary Faye assume um novo desafio no Boavista, sucedendo a Vítor Murta na liderança do emblema axadrezado, que desportivamente ainda não tem a sua situação definida na I Liga e luta diariamente contra um grande passivo.

Chegado a Portugal em 1996, Fary rapidamente se apaixonou pelo nosso País e não mais daqui saiu, tendo ganho o seu espaço de duas formas: pelos golos que marcava e pela simpatia e comportamento exemplar que sempre demonstrou dentro e fora de campo, motivos que fazem dele uma figura acarinhada por adeptos de todos os clubes.

Nascido na capital senegalesa, Dakar, a 24 de Dezembro de 1974, o antigo ponta de lança começou a sua carreira no ASC Diaraf e mudou-se depois para o Jeanne d’Arc, tendo aí sido descoberto, como o próprio contou, por Luís Miguel, treinador português que o trouxe para o União de Montemor, então a disputar a II Divisão B, no início da temporada 96/97.

(Entrevista de Fary ao jornal “OJOGO” em Maio de 1998. Créditos de imagem: Rui Miguel Tovar.)

Após fazer 16 golos na sua época de estreia (15 no Campeonato mais 1 na Taça), Fary afirmou-se definitivamente na temporada seguinte, marcando 24 golos na Zona Sul do terceiro escalão que fizeram dele o melhor marcador da prova e que ajudaram os unionistas, já orientados por Ricardo Formosinho, a terminarem num honroso 3º lugar com 59 pontos.

Os 40 golos nesses 2 anos em Montemor valeram-lhe abordagens de clubes de maior nomeada, com o Beira-Mar a bater a concorrência e a assegurar a sua contratação no Verão de 1998. Em Aveiro, o avançado africano permaneceu durante 5 épocas consecutivas, esteve nos momentos mais altos da história dos “auri-negros” e também por isso, claro, criou uma relação especial com o clube e seus adeptos.

Logo na primeira temporada no Mário Duarte viveu momentos para a eternidade: a sua estreia a marcar na I Divisão fez-se logo num triunfo diante do FC Porto que era Tetra Campeão em título (2-1); os 10 golos no Campeonato de nada valeram para evitar a descida dos aveirenses; mas os 3 tentos que fez na Taça de Portugal contribuiram para a conquista inédita do troféu.

(Fary deixou marca no Beira-Mar na sua primeira passagem pelo clube.)

Na época seguinte, 99/00, foi dele o primeiro golo da história do Beira-Mar tanto na discussão de uma Supertaça (vs. FC Porto) como numa competição Europeia (vs. Vitesse na Taça UEFA); em 01/02, de novo na I Liga, apontou 18 tentos que muito ajudaram na permanência; e em 02/03, voltou a faturar por 18 ocasiões no Campeonato, tendo ganho o prémio de melhor marcador da competição, feito extraordinário se tivermos em conta que nessa temporada tinhamos por cá jogadores como Simão Sabrosa, Derlei e ainda Mário Jardel.

A veia goleadora demonstrada em Aveiro levou o Boavista a avançar para a sua contratação em 2003, no entanto, Fary não conseguiu manter o mesmo nível no Bessa: após 6 golos na primeira época, sofreu uma grave lesão que praticamente o impediu de ser opção em 04/05, e quando regressou em pleno o máximo que conseguiu foram mais 6 tentos em 05/06 – 5 na Liga e 1 na Taça.

Em 2008, com a queda administrativa dos axadrezados à II Liga, deixou o clube e regressou ao Beira-Mar que estava também no segundo escalão, cumprindo mais duas temporadas de amarelo e preto que se traduziram em apenas 6 golos, todas na primeira época, sendo que, curiosamente, 2 deles foram precisamente contra o Boavista, e em 10/11 manteve-se na mesma divisão mas ao serviço do Desportivo das Aves, onde só alinhou por 9 vezes, todas como suplente utilizado, e marcou 1 golo.

(O Boavista tornou-se na “casa” de Fary em Portugal.)

No Verão de 2011, já com 36 anos, regressou ao Boavista que se encontrava “mergulhado” no terceiro escalão, e ao longo de 3 temporadas foi demonstrando que quem sabe nunca esquece, apontando 30 golos no Campeonato (mais 1 na Taça de Portugal) até 2014, ano em que o clube portuense recebeu a notícia de que iria voltar à I Liga por via administrativa.

Dessa forma, “Farygol” foi um dos futebolistas que transitaram diretamente do terceiro para o primeiro escalão com os axadrezados, e depois de participar somente em 4 jogos ao longo da época 14/15, pôde então terminar a sua carreira já com 40 anos no topo do nosso futebol, encerrando assim um bonito percurso no qual constam também 33 internacionalizações A e 7 golos pelo Senegal.

Após deixar de jogar, tornou-se diretor desportivo do Boavista, cargo que exerceu durante 8 épocas, e em Maio do ano passado passou a ser um dos administradores da SAD, tendo agora sido escolhido por Gerard López, acionista maioritário, para ser o líder máximo do Conselho de Administração que gere o futebol profissional do clube, naquele que será, com toda a certeza, um desafio muito exigente para o antigo jogador.

André Villas-Boas: o caminho até às cadeiras de sonho começou nas Ilhas Virgens

avbfcp(13 anos depois de ter guiado o FC Porto à conquista do seu último troféu europeu até à data, André Villas-Boas assumiu hoje formalmente a presidência dos “dragões”.)

Agora é oficial: 42 anos depois, a presidência do FC Porto mudou de mãos. André Villas-Boas tomou posse esta terça-feira (no clube, que a SAD é outro tema “completamente” diferente) após mais de 4 décadas de Jorge Nuno Pinto da Costa ao comando do clube que tornou no emblema de toda uma região – e a quem deu a projecção internacional que ansiava até então. A transição não foi pacífica, acontecendo após uma afluência recorde dos sócios portistas às urnas, com o antigo treinador a vencer em larga escala: 80,3 por cento dos votos, contra apenas 19,5 do mais titulado presidente da História do futebol mundial.

Sim, toda a gente se lembra do Villas-Boas treinador do FC Porto, tal como seguramente recordarão as passagens que se seguiram pelo futebol inglês. Mais difusas se tornarão as memórias das estadias na Rússia, China e França, seja pela duração, seja pelo menor impacto mediático. Aquilo de que muito poucos terão conhecimento é da primeira experiência internacional do agora presidente portista enquanto técnico: aconteceu na já longínqua década de 90, pouco depois de celebrar o 22º aniversário, e enquanto… seleccionador.

avbrobson(Bobby Robson foi o “mentor” de André Villas-Boas.)

É verdade: Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas, crescido na zona nobre do Porto, oriundo de família aristocrática (bisneto do 1.º Visconde de Guilhomil, José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Vilas-Boas) e de origens inglesas (o avô, Dom Gonçalo Manuel Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto e Sousa de Villas-Boas, casou-se com a inglesa Margaret Neville Kendall, que vivia em Portugal depois da mudança da mãe para o nosso país para começar um negócio de vinhos), foi seleccionador das Ilhas Virgens Britânicas por um curto período entre 1999 e 2000, numa altura em que a experiência como treinador se cingia ao cargo de adjunto dos juvenis dos dragões, a convite de Bobby Robson, de quem havia sido vizinho na passagem do reputado técnico inglês pelo emblema portuense, de 1993 a 1996.

Foi, de resto, essa a sua porta de entrada no mundo do futebol profissional: ainda adolescente, o agora presidente portista teve a coragem para, num encontro casual no edifício onde ambos viviam, expor as suas ideias ao antigo seleccionador de Inglaterra, com Bobby Robson a ficar de tal forma impressionado que o convidou para ir assistir ao treino da equipa principal no dia a seguir. Seria também por essa via que viria a tirar o curso de treinador nas Associações de Futebol de Inglaterra e da Escócia, seguindo-se então uma aventura só ao alcance dos maiores entusiastas do célebre jogo Championship Manager (mais tarde Football Manager): via fax, o jovem Villas-Boas decidiu candidatar-se a um emprego na Federação de Futebol das Ilhas Virgens Britânicas, acabando por ser contratado inicialmente para o cargo de coordenador técnico de todos os escalões.

avbbriosa(Foi durante a temporada 09/10 que o portuense teve a sua primeira experiência “a sério” enquanto treinador principal, ajudando a Académica a fazer uma época tranquila.)

“Fui às escuras, pensei que ia encontrar algo minimamente estruturado. Mas foi curioso, que eu chego e depois é que me vou adaptando à realidade do que era aquela vida. Na altura fiquei horrorizado. Eu chego de fato, todo bonito, e sou recebido pelo Charlie Cook [diretor da Federação] de chinelos e calção de banho. Tinha feito Porto-Paris, Paris-São Martinho, São Martinho-Ilhas Virgens. E chego lá de noite, com o fato da viagem… Mas parti à aventura e estava a achar piada. Levou-me para a casa que ambos partilhávamos, e depois de pousar as malas, levou-me para ver um jogo. Era a polícia contra os bombeiros, um jogo de topo. Foi assim que me deparei com aquele cenário”, contava em entrevista ao Expresso em 2019, lembrando contudo as “praias excelentes” de “um dos grandes paraísos do mundo”.

A ambição intrínseca de Villas-Boas rapidamente o levou a assumir o comando técnico da selecção principal, numa passagem fugaz e de resultados nefastos – participou, inclusivamente, no apuramento para o Mundial 2002, caindo logo na primeira ronda frente à selecção de Bermuda, após 2 derrotas pesadas: 5-1 em casa e 9-0 fora. “Não me arrependi de o contratar. Logo ao início, fez um plano completo para todas as selecções, um manual com planos de jogo e de treino, cheio de informação. Mexia muito bem nos computadores e era soberbo na observação. Deixou trabalho feito, meteu os seniores a treinar os miúdos e muitos desses jovens chegaram depois à selecção principal. O único problema que tive com ele foi a sua ambição. Percebi que estava aqui pelo currículo e que não iria ficar muito tempo. Então, acabámos por nos despedir”, contou ao Maisfutebol Kenrick Grant, presidente da Federação do território caribenho ainda hoje sob alçada da Grã-Bretanha.

avbchelsea(Contratado pelo Chelsea ao FC Porto em 2011 por 15 milhões de euros, verba recorde naquela altura, AVB não foi feliz ao serviço dos “blues”.)

Após a curta (mas muito enriquecedora) aventura pelo Caribe, André Villas-Boas regressou ao FC Porto, integrando posteriormente a equipa técnica de José Mourinho na função de observador – que desempenharia até ao verão de 2009. Então, decidiu pôr fim à ligação de quase uma década com o Special One para cumprir o desejo de ser treinador principal, que se tornaria real pouco depois: em Outubro, prestes a festejar o 32º aniversário, foi oficializado na Académica após a demissão de Rogério Gonçalves.

O trabalho na Briosa foi muito positivo (conduziu-a a um tranquilo 11º lugar final, alcançando também as meias-finais da Taça da Liga) e de imediato surgiram notícias do interesse de emblemas de maior nomeada – chegou a ser dado como certo no Sporting. Acabaria, contudo, por ser o escolhido de Pinto da Costa para suceder a Jesualdo Ferreira no comando técnico dos dragões, no que descreveu então como a sua “cadeira de sonho”, e com os resultados que se conhecem: ganhou 4 competições em 2010/11, entre as quais o campeonato (onde se tornou no primeiro treinador português campeão sem qualquer derrota) e a Liga Europa (passando a ser o treinador mais jovem de sempre a vencer a prova), só faltando mesmo a Taça da Liga.

avbzenit(Em duas épocas e meia ao serviço do Zenit, o agora presidente venceu um Campeonato, uma Taça e uma Supertaça na Rússia.)

De imediato foi contratado pelo Chelsea, que deixou 15 milhões de euros nos cofres portistas (quantia recorde no que respeitava a “transferências” de treinadores até então), mas nos Blues, já se sabe, a estadia foi mais curta e com muito menos sucesso. Villas-Boas foi demitido a 4 de Março, após perder por 3-1 em Nápoles na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, numa altura em que se encontrava fora dos 4 primeiros lugares na Premier League e já tinha sido afastado da Taça da Liga – o Chelsea acabaria por conquistar a Taça e a própria Liga dos Campeões no fim da época, já sob o comando do seu ex-adjunto Roberto Di Matteo.

Viria, ainda assim, a dispor de nova oportunidade no país de onde é originária a sua mãe na época seguinte, e novamente na capital, agora ao comando do Tottenham, por quem assinou por 3 temporadas. Nos Spurs, fez uma primeira época muito bem sucedida, terminando no 5º lugar e batendo o recorde de pontos do clube na Premier League (72), no que era até então o melhor registo de qualquer equipa na prova a terminar fora do top-4; na segunda, porém, não apresentou o mesmo rendimento e acabaria despedido a meio de Dezembro, depois de ser goleado em casa pelo Liverpool (0-5) e numa altura em que seguia no 7º lugar no campeonato.

avbmou(Villas-Boas, que já conhecia José Mourinho desde o tempo em que este coadjuvou Bobby Robson no FC Porto, trabalhou depois com o técnico luso precisamente nos azuis e brancos, no Chelsea e no Inter.)

Saiu, ainda assim, com a maior percentagem de vitórias de qualquer treinador na História do clube na era da Premier League, mantendo assim um estatuto que lhe permitia ter mercado na Europa do futebol. Acto contínuo, em Março de 2014 seria oficializado no Zenit (onde voltou a orientar Hulk), festejando a conquista do campeonato russo na época seguinte – a que juntou a Taça e a Supertaça em 2015/16 –, optando por não permanecer no clube após o verão de 2016.

Em Novembro desse ano foi contratado pelo Shanghai SIPG, onde reencontrou Ricardo Carvalho e… Hulk, levando o emblema da capital ao 2º lugar na Superliga chinesa na época de 2017 (na China é disputada em ano civil), bem como à final da Taça e às meias-finais da Liga dos Campeões asiática (ainda hoje a melhor prestação de sempre do clube na prova). Finda a temporada, decidiu não continuar no futebol asiático e tirar um período sabático para se dedicar à sua outra grande paixão: os ralis, com o ponto alto dessa “carreira” a registar-se com a participação no Dakar 2018 – no qual cumpriu 4 etapas ao volante de um Toyota Hilux, abandonando após um acidente no Peru.

avbmarseille(O Olympique de Marselha pode muito bem ter sido o último clube de André Villas-Boas enquanto treinador.)

O regresso ao futebol – no que haveria de se tornar, para já, na sua última aventura como treinador – deu-se em Maio de 2019, quando foi anunciado como o treinador do Marselha para a temporada seguinte. No emblema gaulês voltou a não celebrar a conquista de títulos, mas levou o clube ao 2º lugar da Ligue 1 pela primeira vez em 7 anos (numa prova encurtada em 10 jornadas devido ao eclodir da pandemia do coronavírus), abandonando o cargo em Fevereiro de 2021, na sequência de uma decisão directiva que considerou inaceitável: a contratação de um jogador (Jules-Olivier Ntcham) contra a sua vontade.

Daí para cá, não mais voltou a treinar uma equipa de futebol. Preparou-se, inclusivamente a nível de formação (obteve uma pós-graduação em Gestão Executiva nos Estados Unidos), de modo a poder estar à altura caso houvesse a possibilidade de vir a assumir o papel que vai desempenhar a partir de agora. “Não quero ficar muito tempo no futebol a treinar. Uns 15 anos, no máximo”, dizia em 2011. Na prática, foram 10 para já, num percurso agora interrompido – só o futuro dirá se de forma provisória ou permanente.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

25 de Abril: como era o nosso futebol há 50 anos

MagdeburgoSporting(Magdeburgo – Sporting, disputado a 24 de Abril de 1974. Este foi o último jogo que uma equipa portuguesa disputou debaixo do regime ditatorial.)

Há precisamente 50 anos, Portugal acordou em plena revolução, com o Movimento das Forças Armadas a comandar uma operação que colocou um ponto final no regime ditatorial que vigorou durante décadas no nosso País.
Ora, nesse dia 25 de Abril de 1974, o Sporting, então líder da I Divisão, regressava a casa após ser eliminado na então República Democrática da Alemanha, pelo Magdeburgo, nas Meias-Finais da Taça das Taças, e ficou retido numa das fronteiras que ligam Espanha a Portugal, recebendo apenas autorização para entrar em solo luso no dia seguinte.
Hoje, 50 anos depois da revolução, é tempo de recordarmos, ou ficarmos a conhecer, como era o nosso futebol em 1974.
E, curiosidades à parte, o dia 25/04/1974 foi uma… quinta-feira, tal e qual como hoje.

I Divisão

Num campeonato composto por 16 equipas, o primeiro campeão nacional em “liberdade” foi o Sporting, com 2 pontos de avanço para o Benfica, 2º classificado – curiosamente, os “leões” têm o título deste ano bem encaminhado e podem repetir o “feito” 50 anos depois.
O FC Porto foi 4º, 2 pontos atrás do Vitória FC, numa prova que também contava com Boavista, Belenenses, Farense, Vitória SC e Leixões, entre outros emblemas. Barreirense e Montijo foram os despromovidos ao segundo escalão.
Dos 16 emblemas que figuravam na I Divisão em 1973/1974, só 6 estão na nossa atual I Liga: Sporting, Benfica, FC Porto, Vitória SC, Boavista e Farense; 2 andam pela II Liga: Belenenses e Leixões; a Académica é a única participante na Liga 3; no Campeonato de Portugal estão Vitória FC, Barreirense, Beira-Mar, Oriental e Fabril do Barreiro, que naquela altura ainda tinha a designação original de CUF; enquanto que Olhanense e Montijo encerraram a sua atividade apesar de terem “sucessores”.

II Divisão – Zona Norte 

A II Divisão, então dividida pelas Zonas Norte e Sul com 20 clubes em cada série, tinha equipas que, mais tarde, vieram a construir uma bonita história no futebol português – algumas ainda constroem.
Vencida pelo Sporting de Espinho, a Zona Norte tinha também emblemas como Sp. Braga, Varzim, Chaves, Salgueiros, Gil Vicente ou Feirense.
Dessas 20 equipas, 4 estão, atualmente, na I Liga: Sp. Braga, Chaves, Famalicão e Gil Vicente. Feirense, Penafiel, Oliveirense disputam a II Liga, continuando, por isso, no mesmo escalão 50 anos depois; Varzim, Fafe, Sanjoanense e Lusitânia de Lourosa competem na Liga 3; Tirsense, Salgueiros e Gouveia acabaram recentemente mais uma temporada no Campeonato de Portugal; o Sp. Espinho é o único que está nos Distritais; e por fim, Aves, União de Lamas, União de Coimbra, Riopele e Vilanovense foram extintos, pese embora a grande maioria tenha voltado ao futebol praticamente com a mesma designação.

II Divisão – Zona Sul

A Zona Sul da II Divisão foi vencida pelo União de Tomar, campeão com 3 pontos a maior sobre o Atlético.
Num campeonato que contava com Portimonense, Marítimo e União de Leiria, o destaque vai para as presenças do Alhandra e do Tramagal, clubes que hoje em dia não têm grande “expressão” no panorama nacional futebolístico.
Portanto, das 20 equipas que disputavam o segundo escalão mais a Sul, apenas uma está na I Liga: o já referido Portimonense. Marítimo, União de Leiria e Torreense “habitam” na II Liga; Caldas e Atlético estão na Liga 3; Peniche, Sintrense, U. Tomar e Marinhense disputaram o Campeonato de Portugal em 23/24; nos Distritais estão Cova da Piedade, Sacavenense, Sesimbra, Torres Novas, Almada, União de Montemor e Tramagal; e já sem atividade estão 3 clubes: Alhandra, Lusitano de Évora e Odivelas, sendo que destes somente os alentejanos foram refundados.

III Divisão – Série A 

Em 1973/1974, a III Divisão era composta por 4 séries, A, B, C e D, e, curiosamente ou inexplicavelmente, não tinham todas o mesmo número de equipas: a Série A tinha 19 emblemas; as Séries B e C estavam “mais completas”, com 20 clubes participantes; e na Série D competiam 18 equipas.
Na Série A, destaque para as presenças de Paços de Ferreira – Campeão nesse ano – e Rio Ave, mas também nota para as participações de Leça e Vizela.
Desses 19 participantes nesta série, 2 estão atualmente na I Liga: Rio Ave e Vizela; na II Liga encontra-se somente o Paços de Ferreira; o Vianense é o único clube que disputa a Liga 3; Limianos e Vila Real foram esta época adversários no Campeonato de Portugal; Leça, Régua, Avintes, Freamunde, Esposende, Monção, Lamego, Paços de Brandão, Bragança, Vieira, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar militam nos respetivos Campeonatos Distritais; e apenas o São Pedro da Cova já não tem futebol sénior.

PortoBenfica7374(A 10 de Março de 1974, o FC Porto venceu o Benfica nas Antas, por 2-1, em jogo válido pela 23ª Jornada da I Liga.)

III Divisão – Série B

Vencida pelo Alba, que hoje em dia disputa a Elite da AF Aveiro, a Série B da III Divisão continha emblemas como Covilhã, Naval, Ovarense e Académico Viseu.
Das 20 equipas que participaram neste campeonato, não há nenhuma que esteja, nos dias de hoje, na I Liga, e apenas uma disputa o segundo escalão: Académico de Viseu; Covilhã e Anadia estão na Liga 3; somente o Mortágua disputou esta temporada o Campeonato de Portugal; Alba, Penalva do Castelo, Cucujães, Mangualde, Oliveira do Bairro, Marialvas, Febres, Valecambrense, Lousanense, Vilar Formoso, Tabuense e Ala-Arriba encontram-se nos Distritais; e dos restantes 4 clubes, 3 foram extintos e mais tarde refundados, Naval, Ovarense e Guarda, e o Covilhã e Benfica encerrou a sua atividade há largos anos.

III Divisão – Série C

A Série C da III Divisão teve como vencedor o Estrela de Portalegre, mas olhando hoje para a classificação, saltam à vista os nomes dos ex-primodivisionários Alverca, Campomaiorense e Elvas.
Fazendo uma comparação entre 1974 e os tempos atuais, a Série C é o único campeonato nacional que, 50 anos depois, não tem nenhum representante nos campeonatos profissionais: o máximo que consegue é ter uma equipa a disputar a Liga 3, o Alverca; e duas o Campeonato de Portugal, União de Santarém e Elvas. Nos Distritais estão 14 clubes: Estrela de Portalegre, União de Almeirim, Leiria e Marrazes, Vilafranquense, Cartaxo, Bombarralense, Ginásio de Alcobaça, Sp. Pombal, Nazarenos, Olivais, Povoense, Amiense, Calipolense e Alferrarede; enquanto que Campomaiorense, Portalegrense e Desportivo de Castelo Branco não têm equipa sénior.

III Divisão – Série D

Série mais pequena da III Divisão em 1973/1974, com apenas 18 equipas, a Série D teve como seu primeiro classificado o Estoril, que, em termos históricos e desportivos, será o nome mais “sonante” deste campeonato, que também contava com emblemas como Casa Pia, Seixal, Amora, Lusitano VRSA e Desportivo de Beja.
Desses 18 clubes que figuraram na Série D da III Divisão há 45 anos, só 2 estão nos campeonatos profissionais e ambos na I Liga, Casa Pia e Estoril; o Amora encontra-se na Liga 3; a Juventude de Évora é a única formação que militou no Campeonato de Portugal desta época; 11 disputam os Distritais: Moura, Esperança de Lagos, Pescadores, Lusitano VRSA, Vasco da Gama de Sines, Alcochetense, Aljustrelense, Silves, Sambrasense, Estrela de Vendas Novas e Paio Pires; Desportivo de Beja e Luso do Barreiro não têm seniores; e o Seixal já foi refundado.

Taça de Portugal

A Taça de Portugal de 1973/1974 teve um Sporting – Benfica na final, com os leões a vencerem por 2-1 e a fazerem a dobradinha na temporada – algo que podem repetir esta temporada caso sejam Campeões, visto que discutirão também a final da “prova rainha” com o FC Porto.
Naquela altura, a Taça de Portugal “albergava” equipas das colónias portuguesas em África, com Moxico (Angola), Textáfrica (Moçambique) e Sp. Bissau (Guiné-Bissau) a ficarem todas pelo caminho na 5ª eliminatória.
Dos Distritais, Nacional e Lusitânia, que só fizeram um jogo, na 5ª eliminatória, acabaram logo eliminados, com os madeirenses a não resistirem ao poderio do Barreirense, então primodivisionário, que venceu na Madeira por 3-0; e com os açorianos a serem goleados nas Antas, pelo FC Porto, por uns expressivos 8-0.
Numa competição composta por 8 eliminatórias antes do jogo decisivo, a equipa a chegar mais longe do último escalão nacional, foi o Avintes, que disputava a Série A da III Divisão, e só caiu nos Oitavos-de-Final, aos pés do União de Tomar (0-3), que haveria de vencer a Zona Sul da II Divisão. Os gaienses causaram alguma surpresa na prova, visto que afastaram 3 equipas da II Divisão: Varzim, Chaves e Portimonense.
O União de Tomar foi a única equipa da II Divisão a conseguir chegar aos Quartos-de-Final da Taça, acabando eliminado em Olhão, pelo Olhanense, com um resultado final de 4-2. Num percurso que foi todo ele feito a golear (4-0, 5-0, 5-2, 6-1 e 3-0), os tomarenses afastaram duas equipas do seu campeonato: Almada e Alhandra.
O Sporting, vencedor da competição, disputou 4 eliminatórias até chegar à final, e ultrapassou sempre adversários da I Divisão: Vitória FC, Belenenses, Boavista e Olhanense.

Distritais

Pelos respetivos campeonatos Distritais andavam clubes que anos mais tarde viriam a atingir o patamar mais alto do nosso futebol, casos de Nacional, Santa Clara, Moreirense, Estrela da Amadora, União da Madeira, Arouca ou Felgueiras.
Curiosamente, nessa temporada de 1973/1974, nenhum deles conseguiu deixar os Distritais, sendo caso de maior destaque o do Recreio de Águeda, Campeão Distrital de Aveiro logo no pós 25 de Abril, e que 9 anos depois, em 1983, já estava a disputar a I Divisão, naquela que foi, aliás, a sua primeira e única participação de sempre no escalão maior do futebol português.

Competições Europeias

Último clube a ser Campeão Nacional sob o domínio do regime ditatorial, em 1973, o Benfica não foi feliz na Taça dos Campeões Europeus de 73/74, tendo sido afastado logo na 2ª Eliminatória pelos húngaros do Ujpest após ter eliminado os gregos do Olympiacos na ronda inaugural – o Bayern Munique venceu a competição.
Vencedor da Taça das Taças em 1964, o Sporting apostava em ganhar novamente a prova 10 anos depois e foi deixando pelo caminho os galeses do Cardiff, os ingleses do Sunderland e os suíços do Zurique, até ser derrotado, como já foi referenciado, pelos germânicos do Magdeburgo, que viriam mesmo a conquistar o troféu graças a um triunfo por 2-0 sobre o AC Milan na final.
Naquela que foi apenas a sua terceira edição, a Taça UEFA de 73/74 contou com o brilho de uma equipa portuguesa: eliminado nos Quartos-de-Final pelos alemães do Estugarda, o Vitória FC superou os belgas do Beerschot e do Molenbeek e ainda os ingleses do Leeds United. Além dos sadinos, também o Belenenses participou nesta competição, mas foi “arrumado” logo na ronda inaugural pelo Wolverhampton de Inglaterra.

Farense e Boavista: caminhos desavindos desde as “deserções” de 94/95

434050082_655592790013103_9122191605316752561_n(Raúl Barbosa, Sérgio Duarte e Miguel Serôdio trocaram o Farense pelo Boavista no Verão de 1995, mas apenas o brasileiro se deu bem no Bessa.)

A Jornada 28 do campeonato português inicia-se esta noite no Algarve, com o Farense a receber o Boavista no mítico Estádio São Luís, 4 dias depois de celebrar 114 anos de existência. Frente a frente estarão 2 emblemas históricos do futebol nacional, cada um nas respectivas dimensões, e com um episódio que os une (e divide) de forma indelével há quase 30 anos.

Em 94/95, os Leões de Faro viveram a melhor época da sua História, coroada com um inédito 5º lugar no campeonato nacional – e com o lendário Hassan a conquistar o troféu de melhor marcador da prova (21 golos). A memorável campanha dos homens às ordens do inesquecível Paco Fortes, porém, não significou um amenizar dos problemas financeiros que assolaram o clube algarvio em toda a década de 90 – e que se viriam a agudizar ainda mais com o virar do século/milénio, com as consequências que se conhecem.

BoavistaFarense2324(Robert Bozeník tenta fugir à marcação de Zach Muscat durante o Boavista 1-3 Farense jogado a 12 de Novembro do ano passado.)

O flagelo dos salários em atraso, uma constante nessa década, acabou por ter efeitos directos no seio do plantel. A apenas 3 jornadas do fim do campeonato, e não obstante a luta pelo sonho de terminar num lugar europeu, 4 dos titulares indiscutíveis desse Farense decidiram rescindir com justa causa… e 3 dos quais seguiram directamente para o Boavista: o lateral-direito Raul Barbosa, o central Miguel Serôdio e o médio defensivo Sérgio Duarte; Hugo, outra das peças-chave do meio-campo, rumou à União de Leiria, logo depois de fazer o golo que abriu o triunfo caseiro por 3-0 sobre o Vitória SC na Jornada 31 – o último jogo do quarteto no clube algarvio.

Contra todas as previsões, o Farense viria a vencer 2 dos 3 jogos que faltavam (4-0 ao Marítimo e 2-0 ao Estrela da Amadora, com uma derrota por 1-0 no reduto do Belenenses pelo meio) e garantir assim o tão desejado 5º posto. Nessa época, apesar do incomparavelmente superior fulgor financeiro, o Boavista terminou num modesto 10º lugar, precipitando uma mini-revolução no plantel que passava também pelos reforços conseguidos a custo zero provenientes de Faro.

farense9495(Onze utilizado por Paco Fortes em 94/95, no qual constam os 4 futebolistas que saíram ainda antes do fim da temporada. Em cima, da esquerda para a direita: Portela, Rufai, Sérgio Duarte, Hassan, Miguel Serôdio e King; em baixo, pela mesma ordem: Helcinho, Raúl Barbosa, Paulo Pilar, Hugo e Paixão.)

E de facto, em 95/96 inverteram-se mesmo os papéis. Os Axadrezados acabaram a época num 4º lugar muito mais consentâneo com as suas prestações nas temporadas anteriores, enquanto que o Farense ficou em 10º, mas com apenas três pontos de vantagem sobre o 16º (primeiro despromovido). Não se pode dizer, porém, que a boa prestação do Boavista se tenha devido em grande parte aos ex-jogadores do Farense: se Sérgio Duarte foi de facto um reforço na verdadeira acepção da palavra (33 jogos, 5 golos), o mesmo não se pode dizer de Raul Barbosa (apenas 14 jogos, e só 5 como titular) e Miguel Serôdio (19 jogos, 13 como titular).

Os 2 últimos, de resto, viriam a voltar ao Farense logo na temporada seguinte: Raul Barbosa chegou logo no início, somando 22 partidas (e 1 golo), enquanto Miguel Serôdio foi reforço de inverno, depois de uma experiência infrutífera nos espanhóis do Salamanca, cumprindo 17 partidas no que faltava jogar da temporada. O lateral-direito internacional por Angola viria a sair definitivamente no verão de 1997, representando depois Felgueiras, União da Madeira e Santa Clara, onde se viria a retirar com apenas 27 anos devido a problemas físicos, enquanto o central natural de Albufeira (hoje treinador do renascido Olhanense, a lutar pela subida na segunda divisão distrital do Algarve) faria mais 3 temporadas em Faro, jogando ainda no Imortal, Padernense e Guia.

talocha(A cumprir a segunda temporada consecutiva no Farense, Talocha representou o Boavista entre 2016 e 2019, sendo o único jogador dos atuais plantéis que já vestiu a camisola de ambos os clubes.)

Sérgio Duarte, por seu lado, cumpriu mais uma época a bom nível no Bessa, mudando-se depois para o futebol escocês, onde representou Dunfermline e Hibernian. Já prestes a completar 33 anos, regressou a Portugal pela porta do União de Lamas, então na II Liga, jogando ainda no Vizela, na Ovarense e no Vilanovense antes de voltar ao Brasil para encerrar a carreira no Manaus, do seu estado-natal Amazonas, já com 40 primaveras. Já Hugo jogou na I Liga por União de Leiria e Beira-Mar, representando ainda Salgueiros, Louletano, Beira-Mar de Monte Gordo, Lusitano VRSA e Sambrasense antes de pendurar as botas com 35 anos.

Na época em curso, a diferença entre os dois clubes é quase residual: apenas 2 pontos separam Boavista, 10º classificado, de Farense, 13º. Curiosamente, e contrariando uma tendência quase secular do clube, os algarvios venceram fora na primeira mão: 1-3, com 2 golaços de Fabrício Isidoro e de Rafael Barbosa já nos descontos após Bozenik ter empatado aos 86 minutos (Elves Baldé tinha aberto o marcador aos 28).

ricardovelho(Ricardo Velho tem-se afirmado como um dos melhores guarda-redes da I Liga, ajudando o Farense a realizar uma época tranquila e conquistando vários prémios de melhor em campo.)

No lote de jogadores que mais têm dado nas vistas nos dois clubes, destacam-se os dois guarda-redes, ambos portugueses e de tenra idade. João Gonçalves, de 23 anos, é internacional sub-21 por Portugal desde 2021 e ganhou esta época a titularidade indiscutível no Boavista, aproveitando da melhor forma o adeus de Bracali aos relvados e também a lesão grave de César, o habitual suplente na temporada passada. Já Ricardo Velho (25 anos) foi paulatinamente ganhando o lugar a Rafael Defendi em 2022/23, acabando a época já como o guarda-redes titular na subida de divisão, e manteve o estatuto na I Liga, mesmo com a concorrência do reforço Luiz Felipe, tendo vindo a cotar-se indiscutivelmente como um dos melhores guarda-redes do campeonato – certamente o segundo melhor português, só atrás de Diogo Costa, “apenas” o titular da selecção nacional, tendo já sido eleito o Melhor Guarda-redes do Mês por duas ocasiões (Dezembro e Fevereiro) e 9 vezes Melhor em Campo.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Goleadores: Rui Pedro já mudou de campeonato mas segue líder

433482654_2219765515035184_4568812467554317098_n(Rui Pedro, Diogo Jota, Pedro Marques e Daniel Podence são, até ao momento, os portugueses com mais golos nas Ligas Europeias desta temporada.)

Aproveitando a primeira paragem para as selecções em 2024, fazemos esta semana novo ponto de situação em relação aos goleadores portugueses pela Europa em 2023/24, decorridos que estão dois terços das referidas Ligas e 5 meses depois de o termos feito pela primeira vez nesta temporada. Curiosamente, passado todo este tempo, o líder… continua a ser o mesmo: apesar de até já ter mudado de campeonato (transferiu-se para os turcos do Hatayspor no mercado de Janeiro, procurando ainda o primeiro golo), Rui Pedro permanece no topo da lista devido aos 10 tentos apontados na Liga da Eslovénia pelo Olimpija até Novembro – 12 no somatório de todas as competições.

Os nomes que se seguem vêm de dois campeonatos diametralmente opostos em termos de dimensão e mediatismo, sendo até a própria conjuntura individual totalmente diferente. Diogo Jota soma 9 golos na Premier League, apesar das várias lesões com que se tem visto a braços na temporada, e 14 no total das competições – exactamente os mesmos números de Pedro Marques nos cipriotas do Apollon Limassol, onde se encontra por empréstimo do NEC (Países Baixos).

goncalogregorio(Gonçalo Gregório soma 8 golos pelos romenos do Dinamo Bucareste entre Campeonato e Taça.)

Na Grécia, Podence vive a melhor temporada da carreira no regresso ao Olympiacos: 8 golos no campeonato, 12 no total das competições. O mesmo acontece com Pedro Nuno, que soma 7 tentos no Azerbaijão, ao serviço do Sabail – tantos quanto Josué na Polónia (mais 2 na Liga da Conferência) e Gonçalo Gregório na Roménia (mais 1 na Taça).

Com 6 golos em ligas europeias surgem 5 jogadores, 3 dos quais em campeonatos de topo: João Félix em Espanha (Barcelona) e Vitinha e Gonçalo Ramos em França (PSG). Os 2 avançados internacionais portugueses, no entanto, já festejaram por 9 vezes no total das competições, tal como Diogo Gonçalves pelos dinamarqueses do Kobenhavn. Aylton Boa Morte, pelos turcos do Kayserispor, fecha o lote dos lusos com meia dúzia de tentos nos campeonatos europeus.

Em Israel, o português com mais golos é… um defesa. Aos 35 anos, Hélder Lopes tem pisado terrenos mais adiantados e assumiu-se como o marcador de penaltys do Hapoel Beer Sheva, somando já 5 golos na temporada – o melhor registo da sua carreira. A viver uma temporada uns furos abaixo da anterior, Rafael Leão tem 4 golos na Serie A, tal como Dany Mota; o atacante do AC Milan, porém, soma mais 6 tentos nas outras competições.

helderlopes(Hélder Lopes está a viver a melhor época da carreira no que a golos diz respeito: já são 5 pelos israelitas do Hapoel Beer Sheva em 23/24.)

A fechar o universo do top-5 europeu, Gonçalo Paciência leva 3 golos pelo Bochum, onde tem tido utilização residual. Refira-se ainda que nesta contabilização não foram tidos em conta atletas a actuar na Liga portuguesa: nesse caso, o melhor marcador português em campeonatos europeus seria Rafa, do Benfica, com 12 golos (18 no total das competições), logo seguido de Paulinho, do Sporting, com 11 (16 em todas as provas) – curiosamente, nenhum dos dois consegue sequer entrar no pódio dos maiores artilheiros, liderado pelo sueco Gyokeres, já com 22 golos.

Uma referência ainda para Fábio Silva, que já soma 4 golos pelo Rangers (2 no campeonato escocês, tantos como Paulo Bernardo, do Celtic, e Jair Tavares, do Hibernian), onde só chegou em Janeiro, a juntar ao tento que havia apontado pelo Wolverhampton na Taça da Liga inglesa na primeira metade da temporada.

Alargando a análise às segundas divisões, um nome salta especialmente à vista: Pedro Mendes, que já leva 11 golos pelo Ascoli na Serie B italiana – a sua melhor marca em campeonatos seniores. Com menos 1 golo surge o eterno Marco Paixão, de 39 anos, que em Janeiro mudou do Altay para o Sanliurfaspor, também na II Liga da Turquia, e já leva os mesmos 5 tentos que havia marcado na primeira metade da temporada; depois, só mesmo Dyego Sousa (Alcorcón, Espanha) e André Vidigal (Stoke, Inglaterra) atingem a mão cheia de golos na época – se tivermos em conta o futebol português, Bruno Almeida, do Santa Clara, e Roberto, do Tondela, levam 10 (este último soma 13 no total das competições).

pedromendesascoli(Pedro Mendes já apontou 11 golos pelo Ascoli na Série B italiana.)

Em Novembro, dizíamos que o cenário não era muito animador, ainda mais se a análise se restringisse a avançados puros. Agora, já melhorou ligeiramente, com alguns nomes a consolidar-se e outros a surgirem com maior destaque, mas a conjuntura geral continua a não ser estrondosa no que ao futebol europeu diz respeito – o caso já muda de figura tendo em conta o continente asiático, num mercado que vai crescendo paulatinamente mas que ainda se encontra longe do nível considerado de topo em termos mundiais.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Zahovič: o melhor esloveno de sempre brilhou em Portugal

433842338_433488169352881_7259058898896695780_n(No nosso País, Zahovič representou Vitória SC, FC Porto e Benfica.)

Considerado o melhor jogador da história da Eslovénia – ainda hoje detém o recorde de mais jogos e golos pela principal Seleção -, Zlatko Zahovič é também o esloveno que maior marca deixou no futebol português até hoje.
O antigo médio ofensivo fez grande parte da sua carreira no nosso País – esteve cá durante 9 temporadas e meia -, e foi sempre um elemento importante nos três clubes que representou, somando um total de 272 jogos, 63 golos e muitas assistências nas competições nacionais entre Vitória SC, FC Porto e Benfica.
Chegado a Guimarães proveniente do Partizan Belgrado em 1993 por indicação de José Romão, que havia estado na Jugoslávia em observação de jovens talentos, Zahovič estreou-se pelos vimaranenses num derby com o Sp. Braga e rapidamente se impôs na equipa então orientada por Bernardino Pedroto, acabando por realizar 3 épocas de excelente nível no Dom Afonso Henriques, nas quais fez 14 golos em 86 partidas.
A sua qualidade já não passava despercebida a ninguém e no Verão de 1996 rumou ao FC Porto, estreando-se logo com duas assistências para Jardel na célebre vitória em San Siro, diante do AC Milan, na abertura da fase de grupos da Liga dos Campeões (3-2). Os passes para Jardel, diga-se, foram uma constante ao longo das 3 temporadas que passou nas Antas, pese embora também tenha afinado a sua veia goleadora, especialmente em 98/99: autor de 22 golos, foi o melhor marcador de toda a fase de grupos da Champions com 6 tentos em 5 jogos.
Após ajudar os portistas a serem Tri, Tetra e Penta Campeões com 42 golos e inúmeras assistências em 118 partidas – mais uma Taça e duas Supertaças -, foi vendido ao Olympiacos em 1999, representou o Valencia em 2000/01, e voltou a Portugal na temporada 01/02 para vestir a camisola do Benfica, assumindo-se como um dos protagonistas da equipa especiamente nas duas primeiras épocas, deixando o clube em Janeiro de 2005 com um total de 102 jogos e 20 golos que contribuíram para a conquista de uma Taça e de um Campeonato.
Atualmente com 53 anos, Zlatko Zahovič foi, sem dúvida, um dos melhores jogadores que passaram pela nossa I Divisão na década de 90 e princípios dos anos 2000, período no qual liderou também a Seleção Eslovena nos apuramentos inéditos para o Europeu de 2000 e para o Mundial de 2002.

Pacheco: a mágoa de uma troca que nunca sarou

pachecoslb(Em 6 épocas no Benfica, Pacheco venceu 2 Campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça, apontando 48 golos em 220 jogos.)

Fulminante, inesperado, rápido e imprevisível. Assim foi Pacheco enquanto jogador; assim foi a decisão que marcou irremediavelmente a sua carreira; e assim foi o seu adeus ao mundo dos vivos, aos 57 anos, na sequência de uma paragem cardíaca que o deixaria em morte cerebral até à confirmação oficial, por parte da família, do falecimento na passada quarta-feira.

Pacheco fez 213 jogos, abrilhantados com 32 golos e muitas assistências, no escalão principal do futebol português. Disputou duas finais da Taça dos Campeões Europeus, conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e uma Supertaça e foi ainda internacional A por Portugal (o primeiro natural de Portimão a fazê-lo) em 6 ocasiões.

pachecoantonio(Na época 86/87, o extremo chegou à I Divisão “pela mão” do Portimonense.)

Registos assinaláveis, sem sombra de dúvida. Mas nada que se possa escrever sobre o antigo extremo dirá mais aos adeptos de futebol nacional do que a mudança, oficializada a 1 de Julho de 1993, do Benfica para o Sporting, ao lado de Paulo Sousa e de um Sousa Cintra radiante pela bicada dada ao maior rival. Para trás ficavam 6 épocas de águia ao peito, numa ligação terminada por vontade do próprio jogador, descontente com a sua situação no clube – os salários em atraso que motivaram a rescisão por justa causa foram apenas o pretexto legal para a oficialização da troca de lado na Segunda Circular.

Para a generalidade dos adeptos dos encarnados, Pacheco (e Paulo Sousa, obviamente) tornou-se persona non grata, e esse “estatuto” permaneceu praticamente inalterado até agora – isto, apesar do “perdão oficial” do clube através de um anúncio promovido no seu canal de televisão em 2018, no qual Pacheco é abraçado por vários antigos colegas do período em que representou o Benfica e onde se pode ler a mensagem “Que nenhuma família se volte a separar por dinheiro”.

pachecopt(Internacional jovem nos escalões de Sub-16, Sub-18 e Sub-21, o algarvio alinhou ainda numa ocasião pela Seleção Olímpica e 6 vezes pela nossa principal Seleção – 4 golos em 25 jogos no total.)

“Tinha a consciência de que seria uma mudança polémica, mas enquanto profissionais deixamos a parte da paixão um pouco de lado. Apesar da minha decisão, senti-me sempre benfiquista, sou sócio há 31 anos, mantive-me sempre como sócio. Os meus filhos são sócios desde que nasceram. Não tenho como intenção abrir portas para voltar ao Benfica, não sinto necessidade de voltar porque já sou do Benfica, não quero tachos. Não me foi proposto pelo clube qualquer tipo de pagamento por este maravilhoso anúncio, apenas me pediram as despesas e eu recusei, o Benfica não tem de me pagar nada, vim porque gosto. Fiz esta campanha para fazer as pazes comigo próprio. Só pelas pessoas que participaram já viria, são colegas meus com quem passei mais horas do que com elementos da minha família”, referiu na altura Pacheco ao canal de televisão do clube.

Formado essencialmente no Torralta, extinto emblema algarvio que marcou o panorama da formação em Portugal na década de 80, Pacheco fez a primeira temporada na I Liga pelo Portimonense, em 1986/87, sob o comando do também já falecido Vítor Oliveira. Uma época bastou para dar o salto para o Benfica, onde seria vice-campeão europeu logo nesse ano, repetindo o feito em 1989/90. Pelas Águias sagrar-se-ia duas vezes campeão nacional (88/89 e 90/91), conquistando ainda uma Taça (92/93) e uma Supertaça (89/90).

pachecoscp2(No Verão de 1993, Pacheco trocou o Benfica pelo Sporting, mas a sua passagem pelos “leões” não foi muito feliz apesar de ter conquistado uma Taça de Portugal – 35 jogos/3 golos em duas épocas.)

A segunda Taça do seu palmarés foi (pouco) festejada, em 94/95, já na segunda época no Sporting, onde fez apenas 3 jogos, devido a divergências com o treinador Carlos Queiroz que já vinham de longe e que se arrastaram por ano e meio. No verão de 1995, precisamente 2 anos depois do outro, bem mais “quente”, Pacheco rescindiu com os leões e ficou alguns meses sem clube, não tendo podido ser inscrito por Aston Villa e Nottingham Forest, onde jogou pelos reservas, devido às restritas regras de contratação de estrangeiros na Premier League na altura, passando os últimos meses da temporada no Belenenses, em mais uma experiência para esquecer – numa entrevista ao Expresso, em 2020, confessou não ter recebido um único ordenado nos azuis do Restelo, aludindo ainda a práticas menos próprias nas quais rejeitou alinhar, o que lhe terá prejudicado em relação às opções do treinador João Alves.

Teria na temporada seguinte a primeira (e única) experiência da carreira no estrangeiro em termos oficiais, assinando com os italianos da Reggiana. A descida de divisão, porém, levou-o a sair no fim de 96/97, passando depois uma temporada inteira sem jogar, até que no verão de 1998, já com quase 32 anos, aceitou o convite de Manuel Fernandes para rumar ao Santa Clara, recém-promovido à II Liga.

pachecotorralta(Foi no GD Torralta que o esquerdino iniciou o seu trajeto como federado, estreando-se como sénior pelo mesmo emblema na antiga II Divisão.)

As dificuldades físicas inerentes ao período de inactividade e um desentendimento com o treinador, todavia, levaram-no a rescindir o contrato e descer um patamar, rumando ao Atlético, na então denominada II Divisão B, a pedido do antigo colega António Veloso. No mesmo escalão, representou em 99/00 o Estoril, onde também foi orientado por um antigo colega (no caso, Rui Águas), e na época seguinte regressou ao histórico da Tapadinha com a promessa de ali iniciar a carreira de treinador após pendurar as botas – o que aconteceu ainda a meio da temporada, com 34 anos.

Curiosamente, estrear-se-ia como técnico em… Portimão, para onde voltou em 2003, assumindo o cargo de adjunto de Dito no clube da sua cidade. No decorrer dessa época, passou para treinador principal e aí se manteve para 2004/05, apesar da descida ao terceiro escalão (que seria revertida devido à queda do Salgueiros na secretaria), sendo substituído pelo antigo colega Diamantino Miranda a 5 jogos do fim da temporada, ainda que recebendo elogios do presidente João Sintra, que lhe augurava mesmo um grande futuro: “Reúne todas as condições para se afirmar como um grande técnico, pois possui um potencial enorme”.

pachecoreggiana(Na temporada 96/97, o extremo viveu a sua única experiência em termos oficiais fora de Portugal, alinhando pelos italianos da Reggiana na Série A – 1 golo em 15 partidas.)

As previsões do então líder máximo do Portimonense, porém, não se viriam a concretizar. Pacheco não mais voltou a trabalhar no futebol, tendo-se dedicado às alegrias da paternidade e ao bar-restaurante que mantinha até agora em Lagos. Nunca escondeu o benfiquismo (apesar de em criança ser adepto do Sporting, puxado pelo pai) nem tão pouco a mágoa pela forma como a generalidade dos adeptos dos encarnados nunca conseguiu perdoar a opção que tomou no verão de 1993 o algarvio rápido, fulgurante e de pé esquerdo desconcertante que, de uma maneira ou de outra, ficará para sempre marcado na História do futebol português.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Seleção para Jota Silva é uma questão de Paciência

(Jota Silva está a fazer uma época fantástica: 12 golos e 7 assistências em 31 jogos.)

Tem sido tema recorrente na actualidade do futebol nacional: com Roberto Martínez a anunciar a convocatória da selecção nacional para os particulares com Suécia e Escócia na sexta-feira, dia 15, muitas são as vozes a pedir a chamada de Jota Silva. O atacante de Melres, Gondomar, tem estado intratável ao serviço do Vitória SC de Álvaro Pacheco, somando já 12 golos e 7 assistências na temporada, e consta mesmo da lista de pré-convocados do técnico espanhol, havendo por isso natural curiosidade para ver se o seu nome estará na penúltima convocatória antes do Europeu.

Jota Silva, é certo, tem todas as razões para poder sonhar, quer pela belíssima época que vem a realizar, quer por todo o seu percurso, iniciado nos patamares mais baixos do futebol português – jogou nos campeonatos distritais pelo Sousense no primeiro ano como sénior. Daí seguiu para o Sp. Espinho, dando nas vistas de tal modo no Campeonato de Portugal que viria a ser contratado pelo secundário Leixões no verão de 2020. Não conseguiu pegar de estaca nos Bebés de Matosinhos e a meio da época mudou-se para o Casa Pia, onde se deu verdadeiramente a explosão: depois de um primeiro período de adaptação, fez uma temporada de 2021/22 estrondosa (14 golos e 4 assistências), sendo a grande figura da equipa que garantiu a subida ao escalão principal pela primeira vez em 83 anos.

(André André, na foto em ação diante do Luxemburgo num amigável em que até marcou, é, até à data, o último jogador do Vitória SC a ser convocado para a nossa Seleção A.)

Há, no entanto, uma realidade absolutamente indesmentível que o jogador dos vimaranenses terá de conseguir contornar: é que muito dificilmente um futebolista de campo a actuar numa equipa portuguesa fora do espectro dos “grandes” (e aqui inclui-se o Braga, pelos desempenhos e resultados obtidos nas últimas duas décadas) consegue ser chamado à principal selecção nacional. Com Roberto Martínez, de resto, ainda nunca aconteceu.

É preciso recuar até Novembro de 2017 para encontrar a última vez que tal ocorreu. Era, obviamente, ainda Fernando Santos o seleccionador, e o contexto foi também o de uma convocatória para jogos de preparação, no caso para o Mundial 2018, onde constaram várias novidades. Todas elas, porém, actuavam no estrangeiro ou, lá está, nos 4 maiores clubes nacionais da actualidade. Com uma excepção: Gonçalo Paciência.

(Há mais de 6 anos que um jogador que alinha na nossa I Liga sem ser nos “grandes” ou no Sp. Braga não é chamado à principal Seleção: Gonçalo Paciência, que na primeira metade da época 17/18 representou o Vitória FC, foi o último.)

O ponta-de-lança de uma linhagem famosa, é certo, pertencia ainda nessa altura aos quadros do FC Porto, mas nesse início de 2017/18 encontrava-se cedido ao Vitória FC, e foram precisamente os registos com a camisola dos sadinos (somou 4 golos e 2 assistências nos primeiros 13 jogos da temporada) que convenceram Fernando Santos a conceder-lhe uma oportunidade para a lista de convocados para os particulares com Arábia Saudita (não entrou) e Estados Unidos (substituiu Gelson Martins ao intervalo). Essa foi a primeira de apenas 2 internacionalizações A do actual avançado do Bochum – e até marcou na segunda, ocorrida curiosamente nesse preciso dia 2 anos depois, num 6-0 à Lituânia (na altura jogava já nos alemães do Eintracht Frankfurt).

Já no que respeita a jogadores do Vitória SC (de campo, é preciso relembrar), tem de se ir ainda mais atrás: o último foi André André, numa convocatória divulgada por Fernando Santos em Junho de 2015, na altura para uma partida oficial ante a Arménia, de apuramento para o Europeu que Portugal viria a ganhar no verão seguinte, e para um particular frente a Itália três dias depois. O médio natural de Vila do Conde acabou por ficar de fora da lista final para o jogo “a doer”, sendo depois suplente não utilizado diante dos italianos.

(No espaço de 5 anos, Jota pode passar dos Distritais à Seleção: na época 18/19, então a cumprir o primeiro ano de sénior, representou o Sousense, clube onde fez praticamente toda a formação, na Divisão de Elite da AF Porto.)

André André, curiosamente hoje novamente atleta do Vitória minhoto, depois de passagens por Porto e Al Ittihad (Arábia Saudita), já era, todavia, internacional A por essa altura, fruto dos 23 minutos de que dispôs “naquele” particular realizado 3 meses antes com Cabo Verde, aproveitado por Fernando Santos para dar oportunidades a vários elementos “novos” na selecção. Viria a somar depois mais 3 internacionalizações (na última das quais até marcou o seu único golo pela selecção principal, num triunfo por 2-0 sobre o Luxemburgo), mas aí já como jogador dos Dragões, que o contrataram nesse verão de 2015.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Athletic Bilbau: o triunfo de uma ideologia vale mais que tudo

nicoinaki(Nico e Iñaki Williams voltaram a ter um papel decisivo no triunfo de ontem do Athletic sobre o Atlético de Madrid por 3-0.)

Sem apelo nem agravo. A qualificação do Athletic Bilbau para a final da Copa do Rei de Espanha foi absolutamente incontestável, tal a superioridade exibida no duelo a duas mãos com o Atlético de Madrid: depois de vencer por 1-0 em pleno recinto dos Colchoneros, o emblema estandarte do País Basco ganhou ontem na Catedral de San Mamés por concludentes 3-0 e garantiu assim a presença no jogo decisivo pela sexta vez neste século/milénio.

É verdade que não venceu nenhuma das anteriores 5 finais que disputou nesta prova. Para encontrar o seu último triunfo, de resto, é preciso recuar precisamente 40 anos, numa final que ficou para sempre lembrada mais pelos confrontos entre os jogadores das duas equipas do que propriamente pelo seu desfecho. O Athletic venceu por 1-0, alcançando assim a 23ª conquista na prova e a quinta dobradinha do seu historial – neste capítulo, dá-se a curiosidade dos “leões” terem conquistado a Taça de Espanha de 40 em 40 anos – 1904, 1944 e 1984 -, podendo manter o ciclo esta temporada.

(Os anos passam, mas Óscar de Marcos continua a ser uma das principais figuras do Athletic.)

Depois disso, só voltaria a festejar a conquista de 3 troféus – e sempre o mesmo: a Supertaça, em 1984 (edição que nem sequer se disputou, visto o mesmo clube ter vencido campeonato e Taça), 2015/16 e 2020/21. A força do clube de Bilbau, porém, vai muito além dos títulos, como é sobejamente conhecido: ali, o que conta é chegar o mais longe possível com a matéria-prima existente, que como se sabe é produzida única e exclusivamente na região basca.

Dentro desse pressuposto, pode dizer-se que o Athletic se transcende praticamente época após época. É, ainda hoje, um de apenas três clubes que nunca desceram de divisão em Espanha, juntamente com os todo-poderosos Real Madrid e Barcelona, somando ainda um total de 8 campeonatos e as já referidas 23 Taças e 3 Supertaças. Além dos feitos internos, conseguiu já por duas ocasiões levar a sua filosofia mais além em contexto europeu, marcando presença na final da Taça UEFA/Liga Europa e 1976/77 e 2011/12.

(“Tapado” por Unai Simón, Julen Agirrezabala tem sido o titular da baliza basca na Taça do Rei e consentiu apenas 3 golos em 7 jogos.)

Essa última terá sido, porventura, “a” grande temporada do conjunto basco neste século/milénio. Sob o comando do louco/genial Marcelo Bielsa (a fronteira é sempre muito ténue nesses casos), o Athletic maravilhou a Espanha e a Europa com o futebol de altíssimo nível que apresentou, premiado com a presença na final da Copa do Rei e da Liga Europa. Em ambas as ocasiões acabaria por ser derrotado por 3-0 – internamente contra o Barcelona e na final europeia pelo Atlético de Madrid –, mas as brilhantes exibições ao longo de ambas as caminhadas, e em toda a época a nível global, ficaram na retina dos adeptos do jogo bonito – o Sporting que o diga, eliminado nas meias-finais da prova europeia após perder por 3-1 em Bilbau depois de ter ganho 2-1 em Alvalade, mas também o Manchester United, derrotado nas 2 partidas (2-3 em casa e 2-1 no País Basco), com os resultados a nem sequer fazerem justiça ao verdadeiro baile de futebol que os Red Devils de Alex Ferguson levaram em ambos os jogos.

O onze-tipo, de resto, permanece na memória coletiva: Iraizoz na baliza, à frente de um quarteto defensivo composto por Iraola, Amorebieta, San José e Aurtenetxe; no meio-campo, uns tais de Javi Martínez e Ander Herrera, com Iturraspe a fazer a ligação ao trio atacante, formado pelos excitantes De Marcos (ou Susaeta) e Muniain nas alas e o prolífico Llorente, que fez aí a melhor temporada da carreira (28 tentos), como jogador mais adiantado. Dessa equipa de sonho, sobram 3 atletas: De Marcos, hoje com 34 anos e convertido a lateral-direito; Muniain, com 31, que driblou todas as projecções que o colocavam desde muito cedo no radar de tubarões europeus, optando por permanecer durante toda a carreira no clube de sempre; e ainda Herrera, que cumpre a segunda temporada após regressar ao clube depois de 5 anos no Manchester United e 3 no PSG.

(Matías Fernández tenta escapar a um jogador basco durante o Athletic 3-1 Sporting da 2ª mão das Meias-Finais da Liga Europa 2011/12.)

Hoje orientado por Ernesto Valverde, na sua terceira passagem pelo clube enquanto treinador (além das 6 épocas como jogador), o Athletic apresenta agora como equipa-tipo Unai Simón na baliza (titular da selecção espanhola desde 2020), ainda que na Taça a mesma esteja entregue ao suplente Agirrezabala, também internacional por Espanha, ainda que apenas nos escalões jovens; De Marcos, Lekue, Vivian, Paredes e Berchiche, que apresenta no currículo uma época (recheada de troféus) no PSG, em 2017/18; Sancet, internacional espanhol desde Outubro, e De Galarreta; e os irmãos Nico e Iñaki Williams, os grandes craques da equipa, acompanhados de Guruzeta, que está a rebentar esta temporada (goleador máximo, com 12 golos), relegando Muniain para o banco. O mesmo acontece, de resto, com Ander Herrera ou Raúl García, outros pesos-pesados do plantel que têm vindo gradualmente a dar o seu lugar a jogadores mais jovens, num rito de passagem necessário em qualquer clube – mas que se torna ainda mais premente no caso do Bilbau.

Nico e Iñaki, de resto, foram novamente os grandes destaques no arrebatador triunfo de ontem, trocando “favores” nos 2 primeiros golos do encontro: se o mais novo (21 anos) assistiu o mais velho (29) para tento inaugural, aos 13 minutos, os papéis viriam a inverter-se para o segundo, apontado aos 42. À passagem da hora de jogo, Guruzeta aproveitou uma defesa incompleta de Oblak a tentativa inicial de Sancet e fechou as contas.

(Ernesto Valverde é já um nome importante na história do Athletic Club: além de ter representado o clube durante 6 temporadas enquanto jogador, vive agora a terceira passagem pelo San Mamés na função de treinador.)

O Athletic marcou assim encontro no jogo de todas as decisões com o surpreendente Mallorca (onde actua o médio português Samuel Costa), carrasco do arqui-rival do Bilbau, a Real Sociedad. Numa final, já se sabe, tudo pode acontecer, mas em teoria é o conjunto basco, também em grande no campeonato (quinto, a apenas 3 pontos do quarto, que garante o acesso à Liga dos Campeões da próxima temporada e é ocupado agora pelo… Atlético de Madrid), o favorito à vitória; se há coisa que este clube já fez perceber, todavia, é que conquistar uma competição é o mais importante das coisas secundárias: o essencial é manter a identidade e o rumo definido há mais de um século e que claramente continua a dar os seus frutos.

*Artigo redigido por Bruno Venâncio, jornalista com passagens pelos jornais “OJOGO”, “Sol” e “I”.

Cinco curiosidades de um… Sporting – Benfica para a Taça de Portugal

SportingBenfica1996(Dimas tenta ultrapassar Sá Pinto e Naybet durante a final da Taça de 95/96.)

Cinco anos depois, Sporting e Benfica voltam-se a encontrar na Taça de Portugal e novamente nas Meias-Finais, realizando esta noite em Alvalade, a partir das 20h45, o 38º jogo entre ambos na competição.
Ao longo da história, os eternos rivais já disputaram oito finais da “prova rainha” entre si, sendo que no total dos confrontos,a vantagem pende para o lado verde e branco: com 19 vitórias em 37 partidas, o emblema leonino tem mais 3 triunfos do que o seu “vizinho” – registaram-se ainda 2 empates.
Posto isto, ficam aqui cinco curiosidades dos clássicos já disputados entre “leões” e “águias” na Taça de Portugal:

➡️ A primeira vez que Sporting e Benfica se defrontaram na Taça de Portugal foi no dia 28 de Junho de 1942: há quase 82 anos, os rivais lisboetas mediram forças nos Quartos-de-Final e os “leões” deixaram a sua superioridade bem vincada ao triunfarem por expressivos 4-0 – João Cruz, Peyroteo, Soeiro e Pireza fizeram os golos.

➡️ 6 das 8 finais já realizadas entre ambos foram ganhas pelo Benfica: os encarnados ergueram o troféu diante do seu grande rival nas épocas 51/52, 54/55, 69/70, 71/72, 86/87 e 95/96; enquanto que os verde e brancos triunfaram somente em 70/71 e 73/74. Curiosamente, os dois clubes disputaram a conquista da “prova rainha” durante 3 temporadas consecutivas, entre 1970 e 1972, e depois da final de 1996, que ficou tragicamente marcada pelo lançamento de um “very light” que matou um adepto leonino, não mais se encontraram no jogo decisivo.

➡️ O jogo com mais golos foi justamente numa final: a 15 de Junho de 1952, Benfica e Sporting subiram ao relvado do Jamor para um verdadeiro espetáculo de futebol. O jogo terminou 5-4 a favor das “águias”, que marcaram por intermédio de Rogério Pipi (3), Corona e José Águas, sendo que para os “leões” faturaram Rola (2), Albano e João Martins. Pertence também ao Benfica a maior goleada entre os rivais na competição: 5-0 nos Quartos-de-Final de 85/86, com tentos de Wando (2), Álvaro Magalhães, Manniche e Rui Águas.

➡️ Só por uma vez na história é que os eternos rivais de Lisboa tiveram de recorrer ao desempate por penaltis para decidirem quem vencia: nos Oitavos-de-Final de 04/05, as duas equipas deram “show” na Luz, com o resultado a assinalar um fantástico 3-3 no final dos 120 minutos – Geovanni (2), Simão Sabrosa, Hugo Viana, Liedson e Paíto foram os marcadores. A partir da marca dos 11 metros, a turma da casa foi 100% eficaz e concretizou as 7 grandes penalidades, beneficiando do falhanço de Miguel Garcia, o único dos 14 jogadores que não marcou.

➡️ O melhor marcador dos duelos entre Benfica e Sporting na Taça de Portugal é Arsénio: o antigo avançado das “águias” marcou por 6 vezes em 8 partidas, com a particularidade de ter bisado nos dois derradeiros encontros que disputou, sendo que o último foi a final de 54/55. Pelo lado leonino o maior goleador é Peyroteo, com 5 golos em outros tantos jogos; e o último lugar do pódio pertence a Eusébio, que faturou por 4 ocasiões em 5 partidas.