25 de Abril: 45 anos depois, como era o nosso futebol?

MagdeburgoSporting(Magdeburgo – Sporting, disputado a 24 de Abril de 1974. Este foi o último jogo que uma equipa portuguesa disputou debaixo do regime ditatorial.)

Há precisamente quarenta e cinco anos, Portugal acordou em plena revolução, com o MFA a comandar uma operação que colocou um ponto final no regime ditatorial que vigorou durante décadas no nosso País.
Ora, nesse dia 25 de Abril de 1974, o Sporting, então líder da I Divisão, regressava a Portugal depois de ser eliminado na então República Democrática da Alemanha, pelo Magdeburgo, nas Meias-Finais da Taça UEFA, e ficou retido numa das fronteiras que ligam Espanha a Portugal.
Quarenta e cinco anos depois, é tempo de recordarmos, ou ficarmos a conhecer, como era o nosso futebol em 1974.
E, curiosidades à parte, o dia 25/04/1974 foi uma… quinta-feira, tal e qual como hoje.

I Divisão

Num campeonato composto por dezasseis equipas, o primeiro campeão nacional em “liberdade” foi o Sporting, com dois pontos de avanço para o Benfica, segundo classificado.
O FC Porto foi quarto, dois pontos atrás do V. Setúbal, numa prova que também contava com Boavista, Belenenses, Farense, V. Guimarães e Leixões, entre outros emblemas. Barreirense e Montijo foram os despromovidos ao segundo escalão.
Dos dezasseis emblemas que figuravam na I Divisão em 1973/1974, só sete ainda estão na nossa atual I Liga: Sporting, Benfica, V. Setúbal, FC Porto, Belenenses, V. Guimarães e Boavista; três andam pela II Liga: Farense, Académica e Leixões; Oriental e Olhanense disputam o atual CNS; Barreirense e Beira-Mar disputam os Distritais – os aveirenses festejaram hoje mesmo a subida ao CP; a CUF mudou de nome e passou a chamar-se Fabril do Barreiro; enquanto que o Montijo foi extinto.

II Divisão – Zona Norte 

A II Divisão, então dividida pelas Zonas Norte e Sul com vinte clubes em cada série, tinha equipas que, mais tarde, vieram a construir uma bonita história no futebol português – algumas ainda constroem.
Vencida pelo Sporting de Espinho, a Zona Norte da II Divisão tinha, ainda, emblemas como Sp. Braga, Varzim, Chaves, Salgueiros, Gil Vicente ou Feirense.
Dessas vinte equipas, quatro estão, atualmente, na I Liga: Sp. Braga, Chaves, Feirense e Aves; outras quatro formações disputam a atual II Liga, mantendo-se, por isso, 45 anos depois, no mesmo escalão: Penafiel, Varzim, Famalicão e Oliveirense; Sp. Espinho, Fafe, Sanjoanense, Lourosa e Gil Vicente jogam no atual Campeonato de Portugal; ao passo que Tirsense, Salgueiros, União de Lamas e Gouveia disputam os respetivos campeonatos Distritais; União de Coimbra, Riopele e Vilanovense já foram extintos, sendo que apenas os conimbricenses e os gaienses voltaram ao futebol com outra denominação.

II Divisão – Zona Sul

A Zona Sul da II Divisão foi vencida pelo União de Tomar, campeão com três pontos a maior sobre o Atlético.
Num campeonato que contava com Portimonense, Marítimo e União de Leiria, o destaque vai para as presenças do Alhandra e do Tramagal, clubes que hoje em dia não têm grande “expressão” no panorama nacional futebolístico.
Portanto, dessas vinte equipas que disputavam o segundo escalão mais a Sul, apenas duas estão na I Liga, os já referidos Portimonense e Marítimo; somente o Cova da Piedade milita na II Liga; e seis emblemas estão no Campeonato de Portugal: Peniche, U. Leiria, Torreense, Caldas, Sintrense e Sacavenense; o “grosso” das equipas disputa, hoje em dia, os Distritais: U. Tomar, Atlético, Lusitano Évora, Marinhense, Sesimbra, Torres Novas, Almada, União Montemor e Tramagal; já sem atividade estão Odivelas e Alhandra, curiosamente, duas equipas lisboetas.

III Divisão – Série A 

A III Divisão em 1973/1974 era composta por apenas quatro séries, A, B, C e D, e, curiosamente ou inexplicavelmente, não tinham todas o mesmo número de equipas: a Série A tinha apenas dezanove emblemas; as Séries B e C estavam “mais completas”, com vinte clubes participantes; e na Série D competiam dezoito equipas.
Na Série A, destaque para as presenças de Paços de Ferreira – Campeão nesse ano – e Rio Ave, mas também nota para as participações de Leça e Vizela.
Apenas um dos dezanove participantes nesta série disputa atualmente a I Liga, o já mencionado Rio Ave; e somente uma disputa a II Liga, o também mencionado Paços de Ferreira, que, curiosidades à parte, 45 anos depois, alcançou mais uma subida de divisão; só Leça, Vizela e Limianos disputam o Campeonato de Portugal; e todas as restantes equipas competem nos Distritais: Régua, Avintes, Freamunde, Vila Real, Vianense, Esposende, Monção, Lamego, Paços de Brandão, Bragança, Vieira, Valpaços, São Pedro da Cova e Vila Pouca de Aguiar.

III Divisão – Série B

Vencida pelo Alba, que hoje em dia disputa a Elite da AF Aveiro, a Série B da III Divisão continha emblemas como Covilhã, Naval, Ovarense e Académico Viseu.
Das vinte equipas que participaram neste campeonato, não há nenhuma que esteja, nos dias de hoje, na I Liga, mas existem duas na II Liga, os já mencionados Covilhã e Académico Viseu; só duas disputam o Campeonato de Portugal, Anadia e Penalva do Castelo; onze estão nos Distritais: Alba, Naval, Cucujães, Ovarense, Mangualde, Oliveira do Bairro, Marialvas, Febres, Valecambrense, Lousanense, Mortágua e Vilar Formoso; ao passo que Ala-Arriba, Guarda, Tabuense e Covilhã e Benfica cessaram a sua atividade.

III Divisão – Série C

A Série C da III Divisão teve como vencedor o Estrela de Portalegre, um emblema mítico que muita falta faz ao nosso futebol, mas olhando hoje para a classificação, saltam à vista os nomes dos ex-primodivisionários Alverca, Campomaiorense e Elvas.
Fazendo uma comparação de 1974 com os tempos atuais, a Série C é o único campeonato nacional que, quarenta e cinco anos depois, não tem nenhum “representante” nos campeonatos profissionais: o “máximo” que consegue é ter duas equipas a disputar o Campeonato de Portugal: Vilafranquense e Alverca, que, curiosamente, são vizinhos; treze equipas estão nos Distritais: U. Almeirim, Leiria e Marrazes, U. Santarém, Cartaxo, Bombarralense, Ginásio Alcobaça, Sp. Pombal, Portalegrense, Nazarenos, Olivais, Povoense, Amiense e Calipolense; sem atividade estão três históricos do Alentejo e de Portugal, Estrela de Portalegre, Campomaiorense e Elvas, algo que também acontece com Desportivo de Castelo Branco e Alferrarede.

III Divisão – Série D

Série mais pequena da III Divisão em 1973/1974, com apenas dezoito equipas, a Série D teve como seu primeiro classificado o Estoril, que, em termos históricos e desportivos, será o nome mais “sonante” deste campeonato, que também contava com emblemas como Seixal, Amora, Lusitano VRSA e Desportivo de Beja.
Destas dezoito equipas que figuraram na Série D da III Divisão há quarenta e cinco anos, não há nenhuma que esteja, atualmente, na I Liga, sendo o Estoril o único emblema a disputar a II Liga; no Campeonato de Portugal militam três formações: Casa Pia, Amora e Moura; sendo que onze equipas disputam os Distritais: Juventude Évora, Esperança de Lagos, Pescadores, Seixal, Lusitano VRSA, Vasco da Gama de Sines, Alcochetense, Aljustrelense, Silves, Sambrasense e Estrela de Vendas Novas; enquanto que os restantes três emblemas, Paio Pires, Desportivo Beja e Luso Barreiro, estão sem atividade.

Taça de Portugal

A Taça de Portugal de 1973/1974 teve um Sporting – Benfica na final, com os leões a vencerem por 2-1 e a fazerem a dobradinha na temporada.
Naquela altura, a Taça de Portugal “albergava” equipas das colónias portuguesas em África, com Moxico (Angola), Textáfrica (Moçambique) e Sp. Bissau (Guiné-Bissau) a ficarem todas pelo caminho na quinta eliminatória.
Dos Distritais, Nacional e Lusitânia, que só fizeram um jogo, na quinta eliminatória, acabaram logo eliminados, com os madeirenses a não resistirem ao poderio do Barreirense, então primodivisionário, que venceu na Madeira por 3-0; e com os açorianos a serem goleados nas Antas, pelo FC Porto, por uns expressivos 8-0.
Numa competição composta por oito eliminatórias antes do jogo decisivo, a equipa a chegar mais longe do último escalão nacional, foi o Avintes, que disputava a Série A da III Divisão, e só caiu nos Oitavos-de-Final, aos pés do União de Tomar (0-3), que haveria de vencer a Zona Sul da II Divisão. Os gaienses causaram alguma surpresa na prova, visto que afastaram três equipas da II Divisão: Varzim, Chaves e Portimonense.
O União de Tomar foi a única equipa da II Divisão a conseguir chegar aos Quartos-de-Final da Taça, acabando eliminando em Olhão, pelo Olhanense, com um resultado final de 4-2. Num percurso que foi todo ele feito a golear (4-0, 5-0, 5-2, 6-1 e 3-0), os tomarenses afastaram duas equipas do seu campeonato: Almada e Alhandra.
O Sporting, vencedor da competição, disputou quatro eliminatórias até chegar à final, e ultrapassou sempre adversários da I Divisão: Setúbal, Belenenses, Boavista e Olhanense.

Distritais

Pelos respetivos campeonatos Distritais andavam clubes que anos mais tarde viriam a atingir o patamar mais alto do nosso futebol, casos de Nacional, Santa Clara, Moreirense, Estrela da Amadora, União da Madeira, Arouca ou Felgueiras.
Curiosamente, nessa temporada de 1973/1974, nenhum deles conseguiu deixar os Distritais, sendo caso de maior destaque o do Recreio de Águeda, Campeão Distrital de Aveiro logo no pós 25 de Abril, e que nove anos depois, em 1983, já estava a disputar a I Divisão, naquela que foi, aliás, a sua primeira e única participação de sempre no escalão maior do futebol português.

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